sexta-feira, outubro 29, 2004
Não desperte este vulcão que está quietinho em meu peito só pelo prazer de ver o brilho da lava.
O sul
Certa vez comentei com um amigo e ele discordou, mas continuo achando: já observaram como nós, gaúchos, raramente usamos a expressão "o sul"? Quase sempre os outros é que usam. Lembro em minha primeira viagem ao Rio de Janeiro, aos dez anos, quando me perguntaram quando eu iria voltar "pro sul". Claro que eu entendi, mas a frase me chamou a atenção. Nos cinco meses que passei em Brasília em 1990, muita gente ouvia o meu sotaque e perguntava: "'Cê é do sul?" Em geral eu costumo dizer que sou gaúcho ou que sou de Porto Alegre, mas nunca "do sul". Até mesmo "Rio Grande do Sul" é mais usado por quem é de fora.
Talvez os gaúchos não gostem de ser um mero ponto cardeal. "O sul" é muito vago. Inclui Paraná e Santa Catarina. Já incluiu São Paulo, há muito tempo. Na Copa de 1990, depois da primeira vitória do Brasil, a Globo mostrou a festa em várias cidades. Em Porto Alegre apareceu um sujeito dizendo: "Aqui no sul é tudo alegria!" Era o Carioca, proprietário de uma saudosa locadora de CDs. Se fosse gaúcho, provavelmente não falaria dessa forma. Assim também, o radialista Luís Antônio Mello tinha um programa na Rádio Ipanema FM que ele enviava do Rio de Janeiro por fita, MD ou CD. Na hora dos comerciais ele sempre alertava: "Atenção operador do sul..."
O gaúcho é bairrista assumido, tem orgulho de sua terra, mas se mostra refratário a uma identidade, digamos, sulista. Ah, eis outro termo pouco usado, também. O nordestino se diz nordestino, o nortista faz questão de dizer que é nortista (até para não ser confundido com nordestino), mas o sulista não se diz sulista. Aliás, sempre que lembro dessa palavra, "ouço-a" com chiado no segundo "s". Não é sulista, é "sulichta". Pois quase sempre é alguém de fora que a pronuncia. Kleiton & Kledir tentaram tornar-se porta-vozes da região sul ao gravar "Tudo Por Água Abaixo", sobre as enchentes em Santa Catarina. Mas foi um caso isolado.
Até mesmo ao falar-se o nome do estado a palavra "sul" é esquecida às vezes. Rio Grande é a cidade, mas "o" Rio Grande é o estado, o que alguns consideram um desrespeito ao Rio Grande do Norte. Será que os gaúchos se imaginam o centro do mundo? É um mistério a ser desvendado pelos antropólogos de plantão.
Talvez os gaúchos não gostem de ser um mero ponto cardeal. "O sul" é muito vago. Inclui Paraná e Santa Catarina. Já incluiu São Paulo, há muito tempo. Na Copa de 1990, depois da primeira vitória do Brasil, a Globo mostrou a festa em várias cidades. Em Porto Alegre apareceu um sujeito dizendo: "Aqui no sul é tudo alegria!" Era o Carioca, proprietário de uma saudosa locadora de CDs. Se fosse gaúcho, provavelmente não falaria dessa forma. Assim também, o radialista Luís Antônio Mello tinha um programa na Rádio Ipanema FM que ele enviava do Rio de Janeiro por fita, MD ou CD. Na hora dos comerciais ele sempre alertava: "Atenção operador do sul..."
O gaúcho é bairrista assumido, tem orgulho de sua terra, mas se mostra refratário a uma identidade, digamos, sulista. Ah, eis outro termo pouco usado, também. O nordestino se diz nordestino, o nortista faz questão de dizer que é nortista (até para não ser confundido com nordestino), mas o sulista não se diz sulista. Aliás, sempre que lembro dessa palavra, "ouço-a" com chiado no segundo "s". Não é sulista, é "sulichta". Pois quase sempre é alguém de fora que a pronuncia. Kleiton & Kledir tentaram tornar-se porta-vozes da região sul ao gravar "Tudo Por Água Abaixo", sobre as enchentes em Santa Catarina. Mas foi um caso isolado.
Até mesmo ao falar-se o nome do estado a palavra "sul" é esquecida às vezes. Rio Grande é a cidade, mas "o" Rio Grande é o estado, o que alguns consideram um desrespeito ao Rio Grande do Norte. Será que os gaúchos se imaginam o centro do mundo? É um mistério a ser desvendado pelos antropólogos de plantão.
quinta-feira, outubro 28, 2004
Saudades
De vez em quando a RBS mostra imagens do acervo da Leopoldis-Som. E roda um trecho da locução original. O que ninguém fica sabendo é que muitas dessas locuções foram feitas por meu irmão João Carlos Pacheco (Cau), que faleceu em 1993 com 46 anos. Agora mesmo apareceu uma imagem antiga da Feira do Livro e acho que a voz era dele.
Divagação
Tem gente que diz: "Não acredito em amizade entre homem e mulher." Eu não sou tão radical, acho que pode existir, sim. Tive e tenho muitas amigas. Mas só dá certo se os dois se enxergam como amigos. Se um dos dois quer mais, mesmo que tente aceitar menos, acaba sofrendo. Só prolonga a agonia do sentimento. Na prática, não funciona. Eu já estive dos dois lados da moeda e, em ambos os casos, tive a convicção de que o melhor era me afastar. Ou para não sofrer, ou para não fazer sofrer.
Apenas uma divagação de fim de tarde.
Apenas uma divagação de fim de tarde.
Simulação de voto facultativo
De vez em quando surge a discussão do voto facultativo. De que não haveria razão para se manter a obrigatoriedade do voto no Brasil. Na última vez em que ouvi uma autoridade se pronunciar sobre o assunto, a frase foi a clássica: "Não é hora de falarmos em voto facultativo". Já observaram como, sempre que um político não tem um argumento consistente para refutar uma idéia, sai-se com essa? Diz que "não é hora" e pronto! Mas voltando ao assunto...
Eu sou a favor do voto facultativo. Já fui mesário e presenciei pelo menos uma eleitora que, no tempo do preenchimento de cédula, perdeu quase quinze minutos sem saber onde colocar o X. A obrigatoriedade muitas vezes resulta em votos "sorteados". "Já que sou obrigado a escolher, vai esse mesmo." O voto em branco ou nulo, a meu ver, é bem mais consciente do que o "sorteado", pois o eleitor manifesta o seu descontentamento com as opções existentes. Já o voto "sorteado" é o voto do chute, do momento, da falta de convicção. Mas vem a ter o mesmo peso do voto consciente.
O segundo turno das eleições para Prefeito vai cair no meio de um feriadão. Especula-se que muitos deixarão de votar para viajar. Os candidatos, como é natural, estão preocupados com isso. Na prática o que vai acontecer é uma simulação de voto facultativo. Quem realmente deseja a vitória do seu candidato não vai deixar de comparecer às urnas. A turma do "tanto faz" é que vai pegar a estrada. Será uma boa oportunidade de avaliar o resultado de uma eleição com o menor número possível de votos brancos ou "sorteados". Podia ser sempre assim.
Eu sou a favor do voto facultativo. Já fui mesário e presenciei pelo menos uma eleitora que, no tempo do preenchimento de cédula, perdeu quase quinze minutos sem saber onde colocar o X. A obrigatoriedade muitas vezes resulta em votos "sorteados". "Já que sou obrigado a escolher, vai esse mesmo." O voto em branco ou nulo, a meu ver, é bem mais consciente do que o "sorteado", pois o eleitor manifesta o seu descontentamento com as opções existentes. Já o voto "sorteado" é o voto do chute, do momento, da falta de convicção. Mas vem a ter o mesmo peso do voto consciente.
O segundo turno das eleições para Prefeito vai cair no meio de um feriadão. Especula-se que muitos deixarão de votar para viajar. Os candidatos, como é natural, estão preocupados com isso. Na prática o que vai acontecer é uma simulação de voto facultativo. Quem realmente deseja a vitória do seu candidato não vai deixar de comparecer às urnas. A turma do "tanto faz" é que vai pegar a estrada. Será uma boa oportunidade de avaliar o resultado de uma eleição com o menor número possível de votos brancos ou "sorteados". Podia ser sempre assim.
Cor de lua
Eu vi a lua vermelha, e vocês? Às dez da noite ainda estava amarela, mas com aspecto de lua crescente (em forma de "C"), embora o calendário diga que foi noite de lua cheia. Mas à meia-noite estava exatamente como as previsões diziam, meio avermelhada, meio marrom, meio com cor de... solo lunar! Na minha rua não havia viv'alma. Até pensei em gritar: "acordem todos e venham ver a lua com cor de lua!" Quem viu, viu.
quarta-feira, outubro 27, 2004
A noite da lua vermelha
Hoje à noite, se as nuvens permitirem, veremos uma lua vermelha. Será esse o efeito do eclipse lunar. Jamais esquecerei do eclipse do sol em 1994, que por cerca de uma hora deixou a cidade com uma luminosidade esverdeada, como se houvesse diante do sol um enorme ray-ban. Eu gostaria de acreditar que eclipses são momentos mágicos, tipo "faça um pedido". Não custa tentar. No mínimo, aproveitem para viver a experiência única de se deixarem banhar pela luz avermelhada da lua. Aliás, a descrição é de que chegará a um tom de marrom. Será uma raríssima chance de enxergar a lua na sua verdadeira cor sem precisar chegar perto, com fizeram os astronautas.
Livros não lidos
Às vezes eu me pergunto se sou a única pessoa que compra mais livros do que consegue ler. Olho ao meu redor e me assusto com a quantidade de livros comprados e ainda não lidos. Porque eu quero ler todos. E a possibilidade de que não venha a conseguir me deixa preocupado. Começo a ter fantasias malucas que é bom nem verbalizar, mas que redundariam em eu ter que ficar um longo tempo de cama, em recuperação, sem poder fazer mais nada a não ser... ler! Aí eu inauguraria em grande estilo os meus "óculos para perto" e devoraria uns dez livros por semana. Duvidam?
A verdade é que a Internet me abriu possibilidades de consumo inimagináveis em outros tempos. Sites como a Amazon e a Abebooks me permitem encomendar livros dentro e fora de catálogo em questão de segundos. Edições raras que antigamente eu sonhava em varrer os sebos de Nova York para encontrar, acabei comprando sem sair de casa. E não adianta, que não paro de comprar. Posso dar uma pausa, mas logo volto à carga.
Engraçado que, até os 20 anos, eu lia muito pouco. Devorava, sim, os meus adorados gibis. E a Ebal tinha um estilo formal de redação que, consumido em grande quantidade, acabava compensando a falta de leitura de livros propriamente ditos. "O Homem da Máscara está aqui dentro! Matar-nos-á!" E assim, pela simples assimilação das histórias em quadrinhos, eu fui aprendendo a usar mesóclises, crases e palavras mais complicadas como "entrementes" e "doravante". Depois a Bloch e a Abril, sucessivamente, passaram a publicar os personagens que eu lia e resolveram adaptar a linguagem para um estilo mais jovem, com farto uso de gíria.
Foi minha paixão por música que me levou a gostar de livros. Quando (re)descobri os Beatles, aos 12 anos, meu sonho de consumo era a obra "A Vida dos Beatles", de Hunter Davies, que infelizmente estava fora de catálogo. Só muitos anos depois, já tendo aprendido inglês, fui encontrar uma edição de bolso americana na Livraria do Globo. Depois achei uma biografia de Stevie Wonder e comprei também. Assim, aos poucos, fui aprendendo a gostar de ler não-ficção. Se é coincidência ou não, não sei, mas era só o que o meu pai lia, também. A maioria de meus livros é sobre música, mas tenho também muita literatura sobre jornalismo, cinema, televisão e História do Brasil recente.
Se eu ganhasse na Mega Sena e não precisasse mais trabalhar, tiraria alguns meses para uma maratona de leitura. Mas vai ser difícil, porque eu não jogo. Minhas chances de ganhar são, digamos, um pouco menores do que as de quem joga. Então o jeito é reorganizar meu tempo, mesmo. Meu tempo, não: minha vida. Se pudesse falar com alguns de meus livros, diria a eles que posso não tê-los lido ainda, mas não os esqueci e penso neles todos os dias.
A verdade é que a Internet me abriu possibilidades de consumo inimagináveis em outros tempos. Sites como a Amazon e a Abebooks me permitem encomendar livros dentro e fora de catálogo em questão de segundos. Edições raras que antigamente eu sonhava em varrer os sebos de Nova York para encontrar, acabei comprando sem sair de casa. E não adianta, que não paro de comprar. Posso dar uma pausa, mas logo volto à carga.
Engraçado que, até os 20 anos, eu lia muito pouco. Devorava, sim, os meus adorados gibis. E a Ebal tinha um estilo formal de redação que, consumido em grande quantidade, acabava compensando a falta de leitura de livros propriamente ditos. "O Homem da Máscara está aqui dentro! Matar-nos-á!" E assim, pela simples assimilação das histórias em quadrinhos, eu fui aprendendo a usar mesóclises, crases e palavras mais complicadas como "entrementes" e "doravante". Depois a Bloch e a Abril, sucessivamente, passaram a publicar os personagens que eu lia e resolveram adaptar a linguagem para um estilo mais jovem, com farto uso de gíria.
Foi minha paixão por música que me levou a gostar de livros. Quando (re)descobri os Beatles, aos 12 anos, meu sonho de consumo era a obra "A Vida dos Beatles", de Hunter Davies, que infelizmente estava fora de catálogo. Só muitos anos depois, já tendo aprendido inglês, fui encontrar uma edição de bolso americana na Livraria do Globo. Depois achei uma biografia de Stevie Wonder e comprei também. Assim, aos poucos, fui aprendendo a gostar de ler não-ficção. Se é coincidência ou não, não sei, mas era só o que o meu pai lia, também. A maioria de meus livros é sobre música, mas tenho também muita literatura sobre jornalismo, cinema, televisão e História do Brasil recente.
Se eu ganhasse na Mega Sena e não precisasse mais trabalhar, tiraria alguns meses para uma maratona de leitura. Mas vai ser difícil, porque eu não jogo. Minhas chances de ganhar são, digamos, um pouco menores do que as de quem joga. Então o jeito é reorganizar meu tempo, mesmo. Meu tempo, não: minha vida. Se pudesse falar com alguns de meus livros, diria a eles que posso não tê-los lido ainda, mas não os esqueci e penso neles todos os dias.
terça-feira, outubro 26, 2004
Recomendação
Neste site aparece uma "locutora virtual" que fala o que você digitar. Você tem opção de dez línguas, inclusive português, e pode ser divertir fazendo com que ela diga frases com sotaque estrangeiro. Mas a pronúncia dentro de cada idioma é perfeita. Ela mexe os olhinhos para acompanhar o cursor, também. Agora, por favor, não use a coitadinha para liberar suas fantasias, né? Ela fala qualquer coisa que você digitar, mas não abuse!
Pensamento da hora
Não uso perfume para não permitir que qualquer um compre o meu cheiro na farmácia.
Eleição em reta final
Como eleitor do Raul Pont (tá, abri meu voto – já o tinha feito nos comentários), é claro que me preocupo com as chances que ele ainda possa ter de reverter a tendência das pesquisas. A menos de uma semana da eleição, é preciso, em primeiro lugar, que haja uma margem de erro nos números divulgados. Se o levantamento por amostragem espelhar fielmente a preferência do eleitorado, fica difícil dar uma virada em tão pouco tempo. Outra esperança seria algum fato novo, algum episódio especialmente favorável nos debates, por exemplo. Pelo que tenho visto, os dois candidatos batem nas mesmas teclas de uma forma até monótona para o espectador. E, na minha opinião, sempre terminam empatados.
Há algum tempo eu estava atravessando a Praia de Belas quando passou um carro agitando uma bandeira vermelha. Uma senhora que estava parada na esquina resmungou em voz alta: "Esse PT não é partido, é uma seita!" Detalhe: se a cidadã tivesse prestado atenção em vez de se deixar predispor pela antipatia, teria visto que a bandeira que tinha passado era do Internacional! Este é justamente o grande aliado de Fogaça: o antipetismo gratuito. Porque, se observarmos bem, sua plataforma de campanha não é muito diferente da do adversário. "Manter o que está bom e mudar o que está ruim." Ora, se é isso que o povo quer, Raul é quem está mais bem preparado para realizar. Mas Fogaça vende a idéia de que fará a mesma coisa, apenas sem a égide da bandeira vermelha com a estrela. Para alguns votantes, isso faz uma enorme diferença.
Mas, se nos debates os dois empatam, na propaganda eleitoral gratuita, Raul dá um baile. O candidato do PT tem o que mostrar em termos de realizações concretas. Fogaça, por razões óbvias, só pode se calcar em promessas. E nisso seu discurso ainda é muito vago. Devo admitir que gostei de ver o número musical recentemente apresentado, em que Kleiton & Kledir apareceram cantando "Deu Pra Ti" em um showmício. Se a eleição fosse para um show, daria meu voto a Kleiton & Kledir.
Não tenho nada contra a pessoa de José Fogaça. Fui aluno dele no IPV em 1978, bem na época em que ele se lançou na política, e votei nele quando se candidatou a Deputado Federal e Senador. Admiro seus poemas e composições. Mas, quando o assunto é Prefeitura de Porto Alegre, sou mais Raul Pont.
Há algum tempo eu estava atravessando a Praia de Belas quando passou um carro agitando uma bandeira vermelha. Uma senhora que estava parada na esquina resmungou em voz alta: "Esse PT não é partido, é uma seita!" Detalhe: se a cidadã tivesse prestado atenção em vez de se deixar predispor pela antipatia, teria visto que a bandeira que tinha passado era do Internacional! Este é justamente o grande aliado de Fogaça: o antipetismo gratuito. Porque, se observarmos bem, sua plataforma de campanha não é muito diferente da do adversário. "Manter o que está bom e mudar o que está ruim." Ora, se é isso que o povo quer, Raul é quem está mais bem preparado para realizar. Mas Fogaça vende a idéia de que fará a mesma coisa, apenas sem a égide da bandeira vermelha com a estrela. Para alguns votantes, isso faz uma enorme diferença.
Mas, se nos debates os dois empatam, na propaganda eleitoral gratuita, Raul dá um baile. O candidato do PT tem o que mostrar em termos de realizações concretas. Fogaça, por razões óbvias, só pode se calcar em promessas. E nisso seu discurso ainda é muito vago. Devo admitir que gostei de ver o número musical recentemente apresentado, em que Kleiton & Kledir apareceram cantando "Deu Pra Ti" em um showmício. Se a eleição fosse para um show, daria meu voto a Kleiton & Kledir.
Não tenho nada contra a pessoa de José Fogaça. Fui aluno dele no IPV em 1978, bem na época em que ele se lançou na política, e votei nele quando se candidatou a Deputado Federal e Senador. Admiro seus poemas e composições. Mas, quando o assunto é Prefeitura de Porto Alegre, sou mais Raul Pont.
segunda-feira, outubro 25, 2004
Sinal dos tempos
Se eu tinha alguma dúvida de que estou velho, deixei de ter agora. Em 1977, a cronista Evelyn Berg foi convidada para nos dar uma entrevista no Colégio Pio XII. Ela estava grávida. Pois agora, neste exato momento, o nenê que estava na barriga dela está dando uma entrevista para o Lasier Martins na TV Com. Ele é economista e já tem dois livros publicados. Gustavo Ioschpe. Cresceu rápido o garoto.
Legendas forçadas
Eu gostaria de fazer um protesto à Universal, especificamente em relação aos DVDs lançados pelo selo STUDIO CANAL. Já comprei dois: "Morte Sobre o Nilo" e "King Kong" (o remake de 1976). Embora o preço de ambos seja bastante competitivo, a configuração do menu não permite que se vejam os filmes em inglês, sem legendas. Para tirar as legendas, só optando por áudio em português. E para ver o filme em inglês, tem que escolher alguma legenda. Se nenhuma for escolhida, entram as em português. E não adianta usar as teclas "audio" e "subtitles" do controle remoto, que o DVD está configurado para não aceitar esses comandos. O sujeito que programou esse menu deve ter-se sentido um gênio. Claro! Pra que permitir configuração independente de áudio e legenda se um tem a ver com o outro? Para áudio em inglês, legenda em português. Para áudio em português, sem legendas. Pronto, tudo simplificado!
Só que tem um detalhe. Quem sabe inglês já se acostumou a olhar os filmes sem legenda. Essa opção, aliás, é um dos atrativos do formato DVD. Além de outra que a maioria dos DVDs de filme estrangeiro possui – mas não os da STUDIO CANAL – que é a de olhar o filme em inglês, com legenda em inglês. É um recurso útil para quem está num nível intermediário e ainda não tem o ouvido aguçado para o entendimento do inglês falado. Obviamente o "gênio" concluiu que seria desnecessário acrescentar legendas em inglês num DVD lançado no Brasil.
Os DVD players mais modernos conseguem sobrepor um menu próprio ao do DVD e permitir que se retirem as legendas, mantendo o áudio em inglês. Mas o meu DVD player da sala é antigo e obedece cegamente a configuração do disquinho que estiver tocando. Assim, nos DVDs da STUDIO CANAL, não consigo ver os filmes em inglês sem aquelas letrinhas intrusivas por cima. Só quem já se acostumou a ver um filme "limpo", treinando apenas a audição, sabe a diferença que faz. Protesto! Quero ter a opção de ver filmes estrangeiros em inglês, sem legendas! Aliás, este é mais um caso para a série "a cultura está em mãos erradas".
Só que tem um detalhe. Quem sabe inglês já se acostumou a olhar os filmes sem legenda. Essa opção, aliás, é um dos atrativos do formato DVD. Além de outra que a maioria dos DVDs de filme estrangeiro possui – mas não os da STUDIO CANAL – que é a de olhar o filme em inglês, com legenda em inglês. É um recurso útil para quem está num nível intermediário e ainda não tem o ouvido aguçado para o entendimento do inglês falado. Obviamente o "gênio" concluiu que seria desnecessário acrescentar legendas em inglês num DVD lançado no Brasil.
Os DVD players mais modernos conseguem sobrepor um menu próprio ao do DVD e permitir que se retirem as legendas, mantendo o áudio em inglês. Mas o meu DVD player da sala é antigo e obedece cegamente a configuração do disquinho que estiver tocando. Assim, nos DVDs da STUDIO CANAL, não consigo ver os filmes em inglês sem aquelas letrinhas intrusivas por cima. Só quem já se acostumou a ver um filme "limpo", treinando apenas a audição, sabe a diferença que faz. Protesto! Quero ter a opção de ver filmes estrangeiros em inglês, sem legendas! Aliás, este é mais um caso para a série "a cultura está em mãos erradas".
Gírias
Certa vez comentei com amigos na Internet sobre as gírias que surgiram depois que eu nasci. Já existiam muitas antes, é claro. "Legal", por exemplo, é mais antiga do que eu. Eu já nasci num mundo legal, filho de um pai legal e de uma mãe legal. Na Faculdade de Direito, sempre que algum professor falava em "remédio legal" eu lembrava do Biotônico Fontoura. Mas outros termos e expressões foram aparecendo aos poucos. E eu me recordo da primeira vez que ouvi a maioria deles.
Aqui no Rio Grande do Sul, temos a mania do "tri". Ouvi pela primeira vez em 1971. Nesse ano, o Internacional foi tri-campeão gaúcho. No ano anterior o Brasil havia sido tri-campeão mundial. Seria essa a origem? Tri, sem complemento, é adjetivo e tem o mesmo significado de legal. "Esse filme é muito tri." Já em combinação com adjetivo ou advérbio, passa a ser advérbio de intensidade, sinônimo de muito: "Fui tri bem na prova." "Essa guria é tri convencida". Nessa função, assemelha-se ao trés do francês. Nessa mesma época surgiu o "jóia", hoje em desuso, de forma que era comum ouvir-se "tri jóia". Mas bom mesmo é quando uma mulher diz: "Estou tri a fim..." Não precisa dizer mais nada!
Foi em minha histórica primeira viagem aos Estados Unidos, em 1974, que ouvi uma palavra que iria mudar minha vida para sempre. Uma colega de excursão havia perdido seus cheques de viagem (traveller's checks) e estava percorrendo o caminho para reaver o dinheiro. Dentro do banco, nervosa, ela se sentou e disse:
- Ai, que saco!
Pronto! Uma nova realidade se descortinou à minha frente! Uma série de coisas que antes me pareciam confusas passaram a fazer sentido! Não entendo como as pessoas podiam ser felizes e se comunicar eficazmente sem poder dizer "que saco" ou "isso é um saco"! Perguntem à minha ex-mulher, que certa vez me disse: "tudo pra ti é um saco!" Esse termo deu significado à minha vida!
A expressão "tudo bem" é paleozóica, mas em 1975 ela ganhou um novo sentido. Ou melhor: vários. Passou a valer o mesmo que "não tem problema", "deixa pra lá", "pois não", "então tá", dependendo do contexto. Lembro de um garçom argentino ou uruguaio que respondia "tudo bem" para qualquer pedido que lhe fizessem. "Pode trazer uma guaraná?" "Tudo bem." Era mais fácil para ele memorizar uma expressão em português que valia praticamente para tudo. "Ainda não consegui fazer o que você pediu." "Tudo bem." "Posso levar uma amiga na festa?" "Tudo bem." "Vou deixar assim mesmo." "Tudo bem." Mas se você perguntar - "Está tudo bem?" – a resposta provavelmente será "tudo jóia", "tudo legal", "beleza". Mas tudo bem. Apenas para registro, no filme "Pra Frente Brasil", de Roberto Farias, um personagem diz "tudo bem" num significado que ainda não se usava em 1970, que é quando se passa a trama.
"Caiu a ficha" é uma expressão interessante. Ouvi pela primeira vez em 1997. Depois descobri que muito antes já existia equivalente em inglês britânico, "the penny dropped". Já o verbo "combinar" como sinônimo de "convir" deve ter sido invenção da radialista Kátia Suman. A frase certa é "vamo combiná", assim mesmo, como se diz. "Vamo combiná que é um saco ir pra praia em dia de chuva." Aí você pensa em responder: "Então vamo combiná outra coisa, quem sabe?"
Depois de uma certa idade eu passei a não incorporar mais gírias a meu vocabulário. Minha quota estava preenchida. Eu vivia bem num mundo em que as coisas ou eram tri-legais, ou eram um saco. Algumas podiam não se enquadrar em nenhuma dessas categorias, mas tudo bem. Hoje ouço meus sobrinhos falando termos que eu até entendo, mas não uso. "Massa", pra mim, é um prato delicioso e calórico. "Da massa" são os temperos, como bolonhesa e alho e óleo. "Show" é uma apresentação musical. "Balada" é música lenta. Se eu resolver "ir pra balada", provavelmente verei gente dançando funk e hip-hop, que não têm nada a ver com o significado original da palavra. Já o verbo "bombar" eu ainda não consegui entender. Tenho pena é dos estrangeiros que ainda tentam aprender português. Conheci dois americanos que eram fluentes no nosso idioma. Imagino um deles aqui no Brasil, ouvindo um jovem dizer:
- As baladas estão bombando!
E ele olha, intrigado:
- O que isso quer dizer? Ballads are bombing? Como assim?
Em inglês existe o verbo "bomb", que quer dizer "fracassar". Já deu pra notar que as etimologias estão bombando. Mas tudo bem.
Aqui no Rio Grande do Sul, temos a mania do "tri". Ouvi pela primeira vez em 1971. Nesse ano, o Internacional foi tri-campeão gaúcho. No ano anterior o Brasil havia sido tri-campeão mundial. Seria essa a origem? Tri, sem complemento, é adjetivo e tem o mesmo significado de legal. "Esse filme é muito tri." Já em combinação com adjetivo ou advérbio, passa a ser advérbio de intensidade, sinônimo de muito: "Fui tri bem na prova." "Essa guria é tri convencida". Nessa função, assemelha-se ao trés do francês. Nessa mesma época surgiu o "jóia", hoje em desuso, de forma que era comum ouvir-se "tri jóia". Mas bom mesmo é quando uma mulher diz: "Estou tri a fim..." Não precisa dizer mais nada!
Foi em minha histórica primeira viagem aos Estados Unidos, em 1974, que ouvi uma palavra que iria mudar minha vida para sempre. Uma colega de excursão havia perdido seus cheques de viagem (traveller's checks) e estava percorrendo o caminho para reaver o dinheiro. Dentro do banco, nervosa, ela se sentou e disse:
- Ai, que saco!
Pronto! Uma nova realidade se descortinou à minha frente! Uma série de coisas que antes me pareciam confusas passaram a fazer sentido! Não entendo como as pessoas podiam ser felizes e se comunicar eficazmente sem poder dizer "que saco" ou "isso é um saco"! Perguntem à minha ex-mulher, que certa vez me disse: "tudo pra ti é um saco!" Esse termo deu significado à minha vida!
A expressão "tudo bem" é paleozóica, mas em 1975 ela ganhou um novo sentido. Ou melhor: vários. Passou a valer o mesmo que "não tem problema", "deixa pra lá", "pois não", "então tá", dependendo do contexto. Lembro de um garçom argentino ou uruguaio que respondia "tudo bem" para qualquer pedido que lhe fizessem. "Pode trazer uma guaraná?" "Tudo bem." Era mais fácil para ele memorizar uma expressão em português que valia praticamente para tudo. "Ainda não consegui fazer o que você pediu." "Tudo bem." "Posso levar uma amiga na festa?" "Tudo bem." "Vou deixar assim mesmo." "Tudo bem." Mas se você perguntar - "Está tudo bem?" – a resposta provavelmente será "tudo jóia", "tudo legal", "beleza". Mas tudo bem. Apenas para registro, no filme "Pra Frente Brasil", de Roberto Farias, um personagem diz "tudo bem" num significado que ainda não se usava em 1970, que é quando se passa a trama.
"Caiu a ficha" é uma expressão interessante. Ouvi pela primeira vez em 1997. Depois descobri que muito antes já existia equivalente em inglês britânico, "the penny dropped". Já o verbo "combinar" como sinônimo de "convir" deve ter sido invenção da radialista Kátia Suman. A frase certa é "vamo combiná", assim mesmo, como se diz. "Vamo combiná que é um saco ir pra praia em dia de chuva." Aí você pensa em responder: "Então vamo combiná outra coisa, quem sabe?"
Depois de uma certa idade eu passei a não incorporar mais gírias a meu vocabulário. Minha quota estava preenchida. Eu vivia bem num mundo em que as coisas ou eram tri-legais, ou eram um saco. Algumas podiam não se enquadrar em nenhuma dessas categorias, mas tudo bem. Hoje ouço meus sobrinhos falando termos que eu até entendo, mas não uso. "Massa", pra mim, é um prato delicioso e calórico. "Da massa" são os temperos, como bolonhesa e alho e óleo. "Show" é uma apresentação musical. "Balada" é música lenta. Se eu resolver "ir pra balada", provavelmente verei gente dançando funk e hip-hop, que não têm nada a ver com o significado original da palavra. Já o verbo "bombar" eu ainda não consegui entender. Tenho pena é dos estrangeiros que ainda tentam aprender português. Conheci dois americanos que eram fluentes no nosso idioma. Imagino um deles aqui no Brasil, ouvindo um jovem dizer:
- As baladas estão bombando!
E ele olha, intrigado:
- O que isso quer dizer? Ballads are bombing? Como assim?
Em inglês existe o verbo "bomb", que quer dizer "fracassar". Já deu pra notar que as etimologias estão bombando. Mas tudo bem.
domingo, outubro 24, 2004
O e-mail nosso de cada dia
Meu e-mail está sempre cheio de notícias boas ou interessantes.
Fui sorteado para ganhar uma viagem ao exterior.
Alguém se propõe a fazer minha monografia por preço módico.
Quem avisa amigo é: estou sendo traído!
Um herdeiro de milhões no exterior precisa de alguém para ajudá-lo a desembaraçar o dinheiro e escolheu justamente a mim. E me promete uma polpuda comissão pelo auxílio.
Todos os dias alguém me manda um cartão dizendo que me ama, mas não se identifica. Para saber quem enviou eu preciso clicar num link.
Farmácias no exterior me oferecem Viagra e Cialis sem receita médica.
O Citibank gentilmente me avisa que preciso recadastrar os dados da minha conta. O Banco do Brasil também.
Regularmente recebo retorno de minhas consultas e encomendas.
Pois é... Só que eu não estou fazendo monografia nenhuma. Estou sozinho, logo, não posso estar sendo traído. Se alguém me ama, com certeza não me enviará um cartão com link de vírus. Não tenho conta nem no Citibank, nem no Banco do Brasil. Não tenho nenhuma consulta ou encomenda pendente. Esse é o mundo maravilhoso do SPAM!
Fui sorteado para ganhar uma viagem ao exterior.
Alguém se propõe a fazer minha monografia por preço módico.
Quem avisa amigo é: estou sendo traído!
Um herdeiro de milhões no exterior precisa de alguém para ajudá-lo a desembaraçar o dinheiro e escolheu justamente a mim. E me promete uma polpuda comissão pelo auxílio.
Todos os dias alguém me manda um cartão dizendo que me ama, mas não se identifica. Para saber quem enviou eu preciso clicar num link.
Farmácias no exterior me oferecem Viagra e Cialis sem receita médica.
O Citibank gentilmente me avisa que preciso recadastrar os dados da minha conta. O Banco do Brasil também.
Regularmente recebo retorno de minhas consultas e encomendas.
Pois é... Só que eu não estou fazendo monografia nenhuma. Estou sozinho, logo, não posso estar sendo traído. Se alguém me ama, com certeza não me enviará um cartão com link de vírus. Não tenho conta nem no Citibank, nem no Banco do Brasil. Não tenho nenhuma consulta ou encomenda pendente. Esse é o mundo maravilhoso do SPAM!
sábado, outubro 23, 2004
Antes de dormir
Boa noite. Sonhem com a Florinda Bolkan no auge da beleza. Um dia ainda conto pra vocês por que sou fascinado por ela.
Formigas & Cia.
Todo o mundo sabe que, onde houver sujeira mal lavada de doce ou açúcar, aparecerão formigas. Eu só queria saber duas coisas: 1) De onde elas vêm? Mas o que mais me intriga: 2) Como elas ficam sabendo? Pode observar: sua casa pode estar limpinha, sem o menor sinal de formigas por perto. É só você deixar alguma superfície "melada", que logo elas aparecerão. Como se surgissem por geração espontânea.
Não acredito que elas tenham um olfato apuradíssimo. Deve ser outra coisa. Algum "formigo" mais esperto fica à espreita para ver quando você sai de casa. No momento em que você gira a chave na fechadura ele dá o sinal: "tá liberado!". Em seguida, dois ou mais "formigos" partem em missão para uma rigorosa prospecção de açúcar em sua casa. Quando encontram, um deles volta para avisar. O outro permanece no local para qualquer emergência. E logo surge o batalhão para alimentar-se do seu descuido.
Mas falta a outra pergunta: de onde elas vêm? Do formigueiro, é claro. Mas onde ele fica? Com certeza não é aquele mesmo em que você pisou por acidente no último verão. Elas devem ter um design bem mais complexo e adaptável de formigueiro sobre o qual nada se sabe ainda. Digamos, um posto avançado. Do contrário, não encontrariam o melado do seu apartamento tão depressa. Para descobrir esse moderno formigueiro, você teria que dar um jeito de seguir uma formiga sem que ela percebesse e conseguir entrar no mesmo buraco que ela. Eu, fora de forma como estou, não passaria. É melhor tentar subornar alguma delas para que revele a localização exata do esconderijo.
Outro problema que tenho no meu apartamento é traças, daquelas prateadas, que querem devorar meus livros antes de mim. Estou tentando uma técnica ecologicamente correta para eliminá-las. Tomara que funcione. Simplesmente, instruí a faxineira para que não mate as lagartixas que encontrar. Ontem mesmo vi uma no local exato em que esperaria que estivesse, atrás da prateleira dos livros. Só olhei pra ela e pensei: é isso aí, seja bem-vinda e coma todas as traças!
A propósito, qual é o predador natural das baratas? Se forem ratos, prefiro o velho e bom Detefon.
Não acredito que elas tenham um olfato apuradíssimo. Deve ser outra coisa. Algum "formigo" mais esperto fica à espreita para ver quando você sai de casa. No momento em que você gira a chave na fechadura ele dá o sinal: "tá liberado!". Em seguida, dois ou mais "formigos" partem em missão para uma rigorosa prospecção de açúcar em sua casa. Quando encontram, um deles volta para avisar. O outro permanece no local para qualquer emergência. E logo surge o batalhão para alimentar-se do seu descuido.
Mas falta a outra pergunta: de onde elas vêm? Do formigueiro, é claro. Mas onde ele fica? Com certeza não é aquele mesmo em que você pisou por acidente no último verão. Elas devem ter um design bem mais complexo e adaptável de formigueiro sobre o qual nada se sabe ainda. Digamos, um posto avançado. Do contrário, não encontrariam o melado do seu apartamento tão depressa. Para descobrir esse moderno formigueiro, você teria que dar um jeito de seguir uma formiga sem que ela percebesse e conseguir entrar no mesmo buraco que ela. Eu, fora de forma como estou, não passaria. É melhor tentar subornar alguma delas para que revele a localização exata do esconderijo.
Outro problema que tenho no meu apartamento é traças, daquelas prateadas, que querem devorar meus livros antes de mim. Estou tentando uma técnica ecologicamente correta para eliminá-las. Tomara que funcione. Simplesmente, instruí a faxineira para que não mate as lagartixas que encontrar. Ontem mesmo vi uma no local exato em que esperaria que estivesse, atrás da prateleira dos livros. Só olhei pra ela e pensei: é isso aí, seja bem-vinda e coma todas as traças!
A propósito, qual é o predador natural das baratas? Se forem ratos, prefiro o velho e bom Detefon.
Disco inédito dos Bee Gees para baixar
Para quem gosta dos Bee Gees, quero dar a dica que nesta página vocês encontram para baixar em mp3 todas as faixas do álbum A Kick in the Head is Worth Eight in the Pants, que os irmãos Gibb gravaram em 1973 mas acabaram não lançando. Foi o empresário Robert Stigwood quem decidiu engavetar o disco. E ele estava certo. Embora não possa ser considerado ruim, o LP era um retrocesso à desgastada fórmula de baladas melosas. Talvez o conjunto tenha feito essa opção pelo fato de o disco anterior, o interessante Life in a Tin Can, com sua sonoridade enxuta e nuances country, não ter sido bem recebido. O esperto Stigwood percebeu que havia um terceiro caminho a ser trilhado e chamou Arif Mardin para produzir os discos seguintes dos Bee Gees. O resto é história.
Mesmo assim, vale a pena prestar atenção em A Kick in the Head... (aliás, convenhamos, esse nome só podia ser provisório). "Dear Mr. Kissinger" é uma canção de protesto que deveria sair em single. "Lonely Violin" tem forte influência da "Ave Maria" de Gounod. "Harry's Gate" é uma balada de saudade da infância, cuja letra é reaproveitada no rock "Rocky L.A.". "Home Again Rivers" lembra country music dos velhos tempos. Felizmente o grupo não desperdiçou a melhor faixa das sessões de gravação e a lançou em compacto, na época: "Elisa", uma rara música dos Bee Gees com vocal solo dos três. No Brasil, essa e "It Doesn't Matter Much to Me" foram enxertadas no vinil Mr. Natural, embora não fizessem parte do álbum original americano (e obviamente não estão no CD).
No mesmo site vocês encontram também um show que os Bee Gees fizeram no Japão em 73, com ótima qualidade. É uma chance de saber como era uma apresentação do grupo numa época em que sua popularidade estava em baixa e o futuro era incerto. Musicalmente eles continuavam perfeitos. Ah, um aviso: a conexão é bem lenta. Mas vale a pena esperar.
sexta-feira, outubro 22, 2004
All you need is... Fogaça?????
Esta um amigo meu me contou ontem num churrasco. Um grupo instrumental foi confrontado por um petista: "Por que vocês tocaram a música do Fogaça?" Resposta: "Não é a música do Fogaça! É All You Need is Love, dos Beatles!"
Pensando bem, há mesmo uma semelhança naquela parte inicial: "Love, love, love..." "Fogaça – a – a – a – a..." O que acham?
Pensando bem, há mesmo uma semelhança naquela parte inicial: "Love, love, love..." "Fogaça – a – a – a – a..." O que acham?
O conhecimento inútil
Às vezes passo rapidamente nas livrarias pela seção de auto-ajuda e vejo títulos como "O Segredo de Um Relacionamento Bem-Sucedido", "Como Ter Sucesso em Seu Casamento" e afins. Os nomes não são exatamente esses, mas, enfim, são livros que prometem ensinar os segredos de um relacionamento feliz. E penso comigo mesmo que, na prática, essas obras não servem para nada.
Uma pessoa experiente, inteligente, com visão e capacidade de análise, acaba enxergando por si mesma como funciona uma relação. Depois de alguns fracassos e sucessos parciais, não existe mais mistério. Ficam claros e evidentes os fatores que contribuem para o sucesso de um convívio a dois. O principal deles é compatibilidade. Mas esse conhecimento não é de muita valia na prática. Porque, mesmo que se consigam enxergar de forma cristalina os elementos que constituiriam uma relação perfeita, não se tem controle sobre eles. De nada adianta saber o que faz com que um relacionamento dê certo se não podemos mudar o que está errado. Ou podemos?
Em primeiro lugar, somos apenas 50% de um casal. Os outros 50% estão totalmente fora de nosso comando. É outra cabeça, outros sentimentos, outros valores. O que é justo para um é injusto para outro. O que é certo para um é errado para outro. Podemos dialogar, negociar, argumentar, mas não podemos mudar a outra pessoa. Até porque já é difícil mudar a nós mesmos. Os indivíduos adultos estão prontos, não são como carros danificados que, com pequenos ajustes, corresponderão às expectativas. Há quem acredite na possibilidade de mudar para melhor. É uma chance. Se os dois lados estiverem dispostos, podem se esforçar para que dê certo, com pequenas concessões. Ainda mais se for para preservar uma família. Pode não ser o ideal, mas cabe a cada um pesar os prós e contras e decidir se vale a pena segurar uma relação conturbada.
Alguns podem argumentar: sabendo como se constitui um bom relacionamento, podemos escolher o par certo e evitar os errados. Parece simples, não? O problema é que amor, paixão, gostar, ou que outro nome se queira dar a essas variações sobre o mesmo sentimento, é algo não se escolhe. Simplesmente acontece. Quando você percebe, está apaixonado. E pode ser por alguém compatível ou não. Pode também não ser correspondido. Mas se for, cria-se um relacionamento. E se houver incompatibilidade, surgem os conflitos, as diferenças, os problemas. E por mais que os conheçamos e analisemos, pouco poderemos fazer para solucioná-los. Diferenças entre duas pessoas não se corrigem. Elas apenas existem. Podemos aprender a aceitá-las, mas até isso é mais complicado do que parece.
É por isso que, enquanto existir a humanidade, as pessoas continuarão sofrendo por amor. Seguirão vivendo o dilema de amar e não ser amado, de se entregar e não ser correspondido, de suplicar e não ser entendido. Tudo seria mais fácil se pudéssemos corrigir as diferenças de personalidade ou redirecionar nossos sentimentos. Mas não conseguimos fazer nem uma coisa, nem outra. Assim, de nada adianta conhecer a fórmula de um relacionamento perfeito se não podemos aplicá-la em um relacionamento imperfeito.
Uma pessoa experiente, inteligente, com visão e capacidade de análise, acaba enxergando por si mesma como funciona uma relação. Depois de alguns fracassos e sucessos parciais, não existe mais mistério. Ficam claros e evidentes os fatores que contribuem para o sucesso de um convívio a dois. O principal deles é compatibilidade. Mas esse conhecimento não é de muita valia na prática. Porque, mesmo que se consigam enxergar de forma cristalina os elementos que constituiriam uma relação perfeita, não se tem controle sobre eles. De nada adianta saber o que faz com que um relacionamento dê certo se não podemos mudar o que está errado. Ou podemos?
Em primeiro lugar, somos apenas 50% de um casal. Os outros 50% estão totalmente fora de nosso comando. É outra cabeça, outros sentimentos, outros valores. O que é justo para um é injusto para outro. O que é certo para um é errado para outro. Podemos dialogar, negociar, argumentar, mas não podemos mudar a outra pessoa. Até porque já é difícil mudar a nós mesmos. Os indivíduos adultos estão prontos, não são como carros danificados que, com pequenos ajustes, corresponderão às expectativas. Há quem acredite na possibilidade de mudar para melhor. É uma chance. Se os dois lados estiverem dispostos, podem se esforçar para que dê certo, com pequenas concessões. Ainda mais se for para preservar uma família. Pode não ser o ideal, mas cabe a cada um pesar os prós e contras e decidir se vale a pena segurar uma relação conturbada.
Alguns podem argumentar: sabendo como se constitui um bom relacionamento, podemos escolher o par certo e evitar os errados. Parece simples, não? O problema é que amor, paixão, gostar, ou que outro nome se queira dar a essas variações sobre o mesmo sentimento, é algo não se escolhe. Simplesmente acontece. Quando você percebe, está apaixonado. E pode ser por alguém compatível ou não. Pode também não ser correspondido. Mas se for, cria-se um relacionamento. E se houver incompatibilidade, surgem os conflitos, as diferenças, os problemas. E por mais que os conheçamos e analisemos, pouco poderemos fazer para solucioná-los. Diferenças entre duas pessoas não se corrigem. Elas apenas existem. Podemos aprender a aceitá-las, mas até isso é mais complicado do que parece.
É por isso que, enquanto existir a humanidade, as pessoas continuarão sofrendo por amor. Seguirão vivendo o dilema de amar e não ser amado, de se entregar e não ser correspondido, de suplicar e não ser entendido. Tudo seria mais fácil se pudéssemos corrigir as diferenças de personalidade ou redirecionar nossos sentimentos. Mas não conseguimos fazer nem uma coisa, nem outra. Assim, de nada adianta conhecer a fórmula de um relacionamento perfeito se não podemos aplicá-la em um relacionamento imperfeito.
quinta-feira, outubro 21, 2004
Com e-mail
Já estou com e-mail de novo. Mas tive que fazer tudo o que escrevi aí em baixo. Inclusive telefonar para cobrar o que o caixa, como da outra vez, me garantiu que seria feito "na hora". Mas tudo bem, já li meus e-mails. Mais uma vez, desculpem pelo silêncio.
Sem e-mail
Meu e-mail foi cortado. Vocês têm idéia do que isso significa? Estou desde ontem à noite sem saber quem me enviou mensagens. Claro que a maioria é SPAM, como sempre. Mas não importa. No emaranhado de propagandas indesejáveis pode haver uma, duas, talvez três mensagens particulares. E não posso lê-las. Fico aqui, angustiado, pensando: será que ela me escreveu hoje?
O motivo do corte? Simples: estou com o pagamento em atraso. Se tivesse pago no dia, seria um procedimento simples, via sistema. Assim, terei que me deslocar até a Procergs, cujo atendimento fecha ao meio-dia e encerra às 5 e meia da tarde, para pagar 19 reais. Ora, não deveria ser assim. Queria um provedor que me entendesse e me aceitasse como eu sou. Um relacionamento saudável tem que ser sem cobranças.
Não bastasse o horário incompatível, eta lugarzinho fora de mão essa Procergs! Indo a pé, tenho que caminhar por toda a Borges até o Viaduto dos Açorianos, atravessar a perimetral (de preferência na sinaleira para pedestres), dirigir-me até a entrada do prédio redondo (que, pra complicar, não coincide com a entrada do portão principal), me identificar na portaria, receber um crachá, subir dois lances de escada, caminhar um pouco no corredor para só então chegar no setor financeiro. Aí, feito o pagamento, eles prometem que em 15 minutos o acesso estará restabelecido. Na prática, quase sempre eu tenho que telefonar e reclamar para ter o e-mail restaurado. Isso, é claro, depois de percorrer o caminho inverso. Tá, eu sei, a caminhada faz bem. Pelo menos isso.
Se alguém me mandou e-mail hoje pela manhã e não teve resposta, já sabe por quê. Se me mandou outro sinal e não foi correspondido, aí nem eu sei explicar. Infelizmente existem outros tipos de conexões bem mais complicados, fora de nosso controle, que não se resolvem com o pagamento de uma dívida vencida.
O motivo do corte? Simples: estou com o pagamento em atraso. Se tivesse pago no dia, seria um procedimento simples, via sistema. Assim, terei que me deslocar até a Procergs, cujo atendimento fecha ao meio-dia e encerra às 5 e meia da tarde, para pagar 19 reais. Ora, não deveria ser assim. Queria um provedor que me entendesse e me aceitasse como eu sou. Um relacionamento saudável tem que ser sem cobranças.
Não bastasse o horário incompatível, eta lugarzinho fora de mão essa Procergs! Indo a pé, tenho que caminhar por toda a Borges até o Viaduto dos Açorianos, atravessar a perimetral (de preferência na sinaleira para pedestres), dirigir-me até a entrada do prédio redondo (que, pra complicar, não coincide com a entrada do portão principal), me identificar na portaria, receber um crachá, subir dois lances de escada, caminhar um pouco no corredor para só então chegar no setor financeiro. Aí, feito o pagamento, eles prometem que em 15 minutos o acesso estará restabelecido. Na prática, quase sempre eu tenho que telefonar e reclamar para ter o e-mail restaurado. Isso, é claro, depois de percorrer o caminho inverso. Tá, eu sei, a caminhada faz bem. Pelo menos isso.
Se alguém me mandou e-mail hoje pela manhã e não teve resposta, já sabe por quê. Se me mandou outro sinal e não foi correspondido, aí nem eu sei explicar. Infelizmente existem outros tipos de conexões bem mais complicados, fora de nosso controle, que não se resolvem com o pagamento de uma dívida vencida.
Nova embalagem
Será que os publicitários de plantão poderiam me explicar por que um produto, quando troca de embalagem, apregoa isso como vantagem? Se for substituição do material por outro mais resistente eu até entendo. Mas não, geralmente é apenas uma renovação no visual. Lembro de um anúncio da minha infância, que aparecia na contracapa de revistas como "Bolinha" e "Luluzinha". Um garoto aparecia segurando uma barra de chocolate. A garota aponta para sua mão e diz: "Aposto que é Choco Preto e Branco". Ele responde: "E é... mas em sua nova embalagem!" Tá, e daí? Qual o benefício ao consumidor com essa alteração meramente estética?
Não questiono a medida em si de trocar a embalagem do produto. É uma forma de chamar a atenção e evitar o desgaste de uma marca. Mas pra que anunciar isso como algo que agrega valor? Nesta semana mesmo comprei uma lasanha congelada que anunciava na tampa: "nova embalagem". O sabor continuava o mesmo.
Quando eu comprasse roupas novas, poderia me anunciar em nova embalagem, também. Será que faria alguma diferença? Talvez não para melhor, se fosse para acomodar o novo tamanho do produto. Mas aí eu poderia fazer como algumas marcas que tentam mascarar o aumento de preço: "Agora em nova gramatura." Se eu conseguisse baixar de peso, mudaria o slogan: "Agora em versão light." E quando chegasse à terceira idade eu poderia dizer: "Safra 1960 - envelhecido em barris de carvalho".
Não questiono a medida em si de trocar a embalagem do produto. É uma forma de chamar a atenção e evitar o desgaste de uma marca. Mas pra que anunciar isso como algo que agrega valor? Nesta semana mesmo comprei uma lasanha congelada que anunciava na tampa: "nova embalagem". O sabor continuava o mesmo.
Quando eu comprasse roupas novas, poderia me anunciar em nova embalagem, também. Será que faria alguma diferença? Talvez não para melhor, se fosse para acomodar o novo tamanho do produto. Mas aí eu poderia fazer como algumas marcas que tentam mascarar o aumento de preço: "Agora em nova gramatura." Se eu conseguisse baixar de peso, mudaria o slogan: "Agora em versão light." E quando chegasse à terceira idade eu poderia dizer: "Safra 1960 - envelhecido em barris de carvalho".
quarta-feira, outubro 20, 2004
Fofoca, não!
Existe um princípio em que alguns acreditam piamente que é o de que não se deve falar mal de ninguém pelas costas. Tudo bem. Deve-se então falar pela frente? O que é pior?
A verdade é que todos nós, em algum momento, emitimos um comentário negativo sobre alguém. E não significa que não gostemos da pessoa ou que estejamos planejando uma conspiração contra ela. É apenas o nosso senso crítico se manifestando de forma sorrateira, num momento propício. Quem não tem defeitos? Eu seria capaz de perdoar e até já perdoei quem me criticou sem que eu soubesse. Por outro lado, é mais difícil de relevar a atitude de quem vem "entregar de bandeja" esses comentários. E o que é pior: sob o pretexto de amizade ou solidariedade. No meu vocabulário esse tipo de comportamento tem um nome inequívoco: fofoca.
Infelizmente, talvez por falta de visão, há quem estimule a fofoca. E existem muitas formas de fazer isso. Uma delas é demonstrar gratidão ao fofoqueiro. "Puxa, obrigado por me contar. O Fulano, quem diria, falando mal de mim então? Valeu, é bom saber." E assim o fofoqueiro ganha um selo de aprovação para continuar exercendo o seu maldoso ofício de intriga. Outra maneira de incentivar essa postura é fazer com que a fofoca surta exatamente o efeito desejado. Alguém vem lhe contar que falaram mal do seu namorado ou namorada. E você fica zangado não com quem falou mal, nem com quem veio contar, mas com o namorado ou namorada. "Que saco, falaram mal de você. O que você já andou fazendo?"
Outro exemplo. "Te cuida com o Fulano, ele não vai com a tua cara." Ora, será que você é tão ingênuo que ainda não notou? E depois, esse tipo de comentário diminui as chances de que o um dia você e o Fulano possam simplesmente esquecer as diferenças e venham a ser amigos. Ainda. "Como amigo eu me sinto no dever de te contar: vi tua mulher com o Beltrano num restaurante." E assim, "como amigo", o fofoqueiro ajuda a destruir mais depressa um casamento ou a trazer a infelicidade para uma pessoa que confia nele.
Por isso eu prefiro ser prático: se for pra falar mal, que seja pelas costas, mesmo. E que ninguém venha me contar depois. Assim cada um extravasa o veneno que tem dentro de si da forma menos nociva possível. Às vezes, por alguma razão, não posso ir almoçar com meus colegas. Eles brincam: "Quem não for será falado." Eu respondo: "Podem falar mal de mim à vontade – contanto que eu não fique sabendo." E assim vivemos todos em paz.
A verdade é que todos nós, em algum momento, emitimos um comentário negativo sobre alguém. E não significa que não gostemos da pessoa ou que estejamos planejando uma conspiração contra ela. É apenas o nosso senso crítico se manifestando de forma sorrateira, num momento propício. Quem não tem defeitos? Eu seria capaz de perdoar e até já perdoei quem me criticou sem que eu soubesse. Por outro lado, é mais difícil de relevar a atitude de quem vem "entregar de bandeja" esses comentários. E o que é pior: sob o pretexto de amizade ou solidariedade. No meu vocabulário esse tipo de comportamento tem um nome inequívoco: fofoca.
Infelizmente, talvez por falta de visão, há quem estimule a fofoca. E existem muitas formas de fazer isso. Uma delas é demonstrar gratidão ao fofoqueiro. "Puxa, obrigado por me contar. O Fulano, quem diria, falando mal de mim então? Valeu, é bom saber." E assim o fofoqueiro ganha um selo de aprovação para continuar exercendo o seu maldoso ofício de intriga. Outra maneira de incentivar essa postura é fazer com que a fofoca surta exatamente o efeito desejado. Alguém vem lhe contar que falaram mal do seu namorado ou namorada. E você fica zangado não com quem falou mal, nem com quem veio contar, mas com o namorado ou namorada. "Que saco, falaram mal de você. O que você já andou fazendo?"
Outro exemplo. "Te cuida com o Fulano, ele não vai com a tua cara." Ora, será que você é tão ingênuo que ainda não notou? E depois, esse tipo de comentário diminui as chances de que o um dia você e o Fulano possam simplesmente esquecer as diferenças e venham a ser amigos. Ainda. "Como amigo eu me sinto no dever de te contar: vi tua mulher com o Beltrano num restaurante." E assim, "como amigo", o fofoqueiro ajuda a destruir mais depressa um casamento ou a trazer a infelicidade para uma pessoa que confia nele.
Por isso eu prefiro ser prático: se for pra falar mal, que seja pelas costas, mesmo. E que ninguém venha me contar depois. Assim cada um extravasa o veneno que tem dentro de si da forma menos nociva possível. Às vezes, por alguma razão, não posso ir almoçar com meus colegas. Eles brincam: "Quem não for será falado." Eu respondo: "Podem falar mal de mim à vontade – contanto que eu não fique sabendo." E assim vivemos todos em paz.
terça-feira, outubro 19, 2004
Scheila Carvalho pra quê?
As Casas Bahia ingenuamente trouxeram a Scheila Carvalho para a inauguração em Porto Alegre. Eles não sabem que aqui já tem mulher bonita de sobra. Scheila Carvalho é fichinha. Tem uma cena do filme "O Último Grande Herói" que me lembra muito o Rio Grande do Sul. É aquela em que o garoto tenta provar ao herói que eles estão no universo da ficção. Ele diz: "Olhe bem para essa moça, você acha que no mundo real uma mulher bonita assim estaria trabalhando numa locadora de vídeo?" Pois no Rio Grande do Sul as mulheres bonitas estão por toda a parte, nas lojas, nos balcões de supermercado, nos escritórios, consultórios médicos, repartições públicas... E nas passarelas, também, por que não? Perfeita aquela crônica do Luís Fernando Verissimo que diz que as gaúchas do interior que se tornam top models são as que não se dão bem trabalhando na roça. Aqui não falta mulher bonita pra homem feio. Dispenso a Scheila Carvalho. A menos que a moça da locadora do meu bairro não esteja disponível hoje à noite. Aí eu saio com a Scheila, como prêmio de consolação.
Andando de ônibus
Na minha infância os cobradores de ônibus tinham a mania de ficar gritando: "Um passinho à frente, por favor! Um passinho à frente que lá no fundo tá folgado!" E eu tinha que achar graça, pois olhava aquelas pessoas amontoadas feito sardinhas em lata e não via espaço nenhum para onde pudessem se mexer.
Faz tempo que não ouço os cobradores gritando essas instruções. Devem ter sido orientados para serem mais discretos, por uma questão de bom atendimento. Mas às vezes acho que o berro do "passinho à frente" faz falta. Quem vai de pé dentro de um ônibus deveria se comportar como se estivesse em uma fila, sempre caminhando e ocupando os espaços em direção à porta de saída. Em vez disso, muitos se fixam no "seu" lugar, como se estivessem num show e tivessem encontrado uma boa visão para o palco. E parecem ter uma preferência toda especial por se aglomerarem logo após a roleta (ou "catraca", pra quem não é gaúcho), deixando espaços vazios ao fundo. Nessa hora nada me resta senão fazer da expressão "com licença" um eufemismo para "danem-se, pois vou passar de qualquer jeito!" Mas Deus, como sempre, é sábio. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas as barrigas têm uma certa flexibilidade. Nem que seja para espremer dois ou três ao mesmo tempo na passagem.
Outra situação chata é quando estou sentado ao lado da janela e tenho que pedir licença ao passageiro do meu lado para sair. Alguns se levantam, mas outros apenas viram os joelhos para o corredor. Estes geralmente levam uma "traseirada" no rosto, mas não é problema meu. Por fim, aprendi que a campainha para descer não é suficiente. Você tem que acioná-la e posicionar-se diante da porta de saída. Só um procedimento ou outro não sensibiliza o motorista. Já vi uma senhora não conseguir descer na parada desejada porque esperou o ônibus parar para se levantar. Ele simplesmente não parou.
Faz tempo que não ouço os cobradores gritando essas instruções. Devem ter sido orientados para serem mais discretos, por uma questão de bom atendimento. Mas às vezes acho que o berro do "passinho à frente" faz falta. Quem vai de pé dentro de um ônibus deveria se comportar como se estivesse em uma fila, sempre caminhando e ocupando os espaços em direção à porta de saída. Em vez disso, muitos se fixam no "seu" lugar, como se estivessem num show e tivessem encontrado uma boa visão para o palco. E parecem ter uma preferência toda especial por se aglomerarem logo após a roleta (ou "catraca", pra quem não é gaúcho), deixando espaços vazios ao fundo. Nessa hora nada me resta senão fazer da expressão "com licença" um eufemismo para "danem-se, pois vou passar de qualquer jeito!" Mas Deus, como sempre, é sábio. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas as barrigas têm uma certa flexibilidade. Nem que seja para espremer dois ou três ao mesmo tempo na passagem.
Outra situação chata é quando estou sentado ao lado da janela e tenho que pedir licença ao passageiro do meu lado para sair. Alguns se levantam, mas outros apenas viram os joelhos para o corredor. Estes geralmente levam uma "traseirada" no rosto, mas não é problema meu. Por fim, aprendi que a campainha para descer não é suficiente. Você tem que acioná-la e posicionar-se diante da porta de saída. Só um procedimento ou outro não sensibiliza o motorista. Já vi uma senhora não conseguir descer na parada desejada porque esperou o ônibus parar para se levantar. Ele simplesmente não parou.
segunda-feira, outubro 18, 2004
Sugestão de cartaz
Se não vai saber dizer onde colocou,
NÃO TIRE DO LUGAR!
(Para aqueles que pensam que "organização" é apenas asseio visual.)
NÃO TIRE DO LUGAR!
(Para aqueles que pensam que "organização" é apenas asseio visual.)
O estrondo
No domingo, perto do meio-dia, eu ainda estava dormindo (e continuaria por boa parte da tarde) quando fui acordado por um estrondo. Achei muito estranho, mas imaginei que fosse um transformador que tivesse estourado em uma rua próxima. Voltei a pegar no sono e sonhei que meu computador tinha se espatifado no chão, estilhaçando completamente o monitor. Presumi que a queda havia sido motivada por um desnível de peso sobre o rack. Na hora pensei que talvez a CPU ainda pudesse ser usada, de forma que eu instalaria o monitor do computador antigo para fazer um teste. Logo virei para o lado e percebi que nada daquilo tinha acontecido exceto o barulho, portanto eu podia dormir em paz, que o computador estava lá, inteiro e funcionando.
À noite ouço na TV uma referência ao "estrondo que assustou os gaúchos". Como assim? Então não fui só eu que ouvi? Ocorre que um caça Mirage F 103 da Força Aérea Brasileira estava realizando um teste em Tramandaí e rompeu a barreira do som. O barulho se fez ouvir num raio de 200 quilômetros. Até lamentei estar dormindo e não ter prestado mais atenção, pois esse é um fenômeno sobre o qual eu sempre tive curiosidade. Aparecia muito nas histórias em quadrinhos. Ontem aconteceu de verdade.
À noite ouço na TV uma referência ao "estrondo que assustou os gaúchos". Como assim? Então não fui só eu que ouvi? Ocorre que um caça Mirage F 103 da Força Aérea Brasileira estava realizando um teste em Tramandaí e rompeu a barreira do som. O barulho se fez ouvir num raio de 200 quilômetros. Até lamentei estar dormindo e não ter prestado mais atenção, pois esse é um fenômeno sobre o qual eu sempre tive curiosidade. Aparecia muito nas histórias em quadrinhos. Ontem aconteceu de verdade.
domingo, outubro 17, 2004
O reencontro de seqüestrador e seqüestrado
Até que está valendo a pena voltar a ver televisão. Acabei de assistir ao reencontro de Alexandre Moeller com um de seus seqüestradores, João Ubiratan, hoje proprietário de uma colônia de naturismo em Taquara. Alexandre, como não poderia deixar de ser, é empresário no ramo de motos, que sempre foi sua paixão.
Eu lembro bem de tudo o que foi noticiado há 30 anos. Fiquei bastante impressionado, entre outras coisas porque havia conhecido Alexandre pessoalmente no ano anterior. Meu irmão era amigo de seu pai, Getúlio Moeller, e um dia me levou junto para um churrasco na casa dele, na Avenida Bagé. Alexandre era um garoto bastante simples e sociável, me recebeu bem e logo eu estava brincando com ele e seus amigos. Tínhamos a mesma idade, 12 anos, e descobrimos que, por casualidade, eu fazia aniversário um dia antes dele. Ali poderia ter nascido uma amizade, já que ele próprio me convidou para que voltasse à sua casa. Mas morávamos longe e acabamos não nos falando mais. Chamou-me a atenção que estava presente ao churrasco também o jornalista Paulo San'tana, amigo da família Moeller. Por isso, não foi surpresa para mim que tenha sido ele a entrevistar Alexandre após o seqüestro.
A RBS preservou o nome dos seqüestradores em suas retrospectivas, mas eu me recordo de quase todos. Lembro também dos depoimentos de Alexandre e dos criminosos depois que foram capturados, das entrevistas na TV, Alexandre dizendo candidamente "eles me ofereciam comida, mas eu não me alimentava".
Não entendi bem por que João Ubiratan resolveu se desculpar 30 anos depois. Vejo que não há maldade em seus olhos, mas a forma descontraída com que se manifestou me faz desconfiar de que, junto com o pedido de desculpas, haja um pouquinho de autopromoção. Como se quisesse sair do anonimato e resgatar um pouco da notoriedade que o fato lhe trouxe, na época. De qualquer maneira, o modo tranqüilo e sereno com que Alexandre apertou sua mão, aceitou as desculpas e concluiu dizendo "que tu vivas em paz" me convenceu de que ao menos o perdão foi sincero. E como não seria, vindo de um sagitariano de boa safra.
Eu lembro bem de tudo o que foi noticiado há 30 anos. Fiquei bastante impressionado, entre outras coisas porque havia conhecido Alexandre pessoalmente no ano anterior. Meu irmão era amigo de seu pai, Getúlio Moeller, e um dia me levou junto para um churrasco na casa dele, na Avenida Bagé. Alexandre era um garoto bastante simples e sociável, me recebeu bem e logo eu estava brincando com ele e seus amigos. Tínhamos a mesma idade, 12 anos, e descobrimos que, por casualidade, eu fazia aniversário um dia antes dele. Ali poderia ter nascido uma amizade, já que ele próprio me convidou para que voltasse à sua casa. Mas morávamos longe e acabamos não nos falando mais. Chamou-me a atenção que estava presente ao churrasco também o jornalista Paulo San'tana, amigo da família Moeller. Por isso, não foi surpresa para mim que tenha sido ele a entrevistar Alexandre após o seqüestro.
A RBS preservou o nome dos seqüestradores em suas retrospectivas, mas eu me recordo de quase todos. Lembro também dos depoimentos de Alexandre e dos criminosos depois que foram capturados, das entrevistas na TV, Alexandre dizendo candidamente "eles me ofereciam comida, mas eu não me alimentava".
Não entendi bem por que João Ubiratan resolveu se desculpar 30 anos depois. Vejo que não há maldade em seus olhos, mas a forma descontraída com que se manifestou me faz desconfiar de que, junto com o pedido de desculpas, haja um pouquinho de autopromoção. Como se quisesse sair do anonimato e resgatar um pouco da notoriedade que o fato lhe trouxe, na época. De qualquer maneira, o modo tranqüilo e sereno com que Alexandre apertou sua mão, aceitou as desculpas e concluiu dizendo "que tu vivas em paz" me convenceu de que ao menos o perdão foi sincero. E como não seria, vindo de um sagitariano de boa safra.
O prazer de dormir
Já pararam pra questionar a quantidade de horas que uma pessoa precisa dormir? Sete horas por noite? Às vezes oito ou nove? É muito tempo. Se um filme tipo "E o Vento Levou" dura quatro horas, parece interminável. Mas se alguém o acorda depois de apenas quatro horas, você tem a impressão de que não dormiu nada. A gente dorme quase o equivalente a uma jornada inteira de trabalho.
E, no entanto, dormir é um prazer. O que não deixa de ser uma contradição. Afinal, quando ferramos no sono, "desligamos". E não deveríamos sentir mais nada. Mas sentimos, sim. Vamos mergulhando no sono aos poucos. Uma sensação relaxante e gostosa surge em nossa cabeça, como se o peso do cansaço começasse a baixar, até desaparecer. Se sonhamos, pode ser o sonho mais banal do mundo, mas nos transmite uma paz incrível, pois é naquele momento que estamos na fase mais profunda do sono. E nada como acordar no meio da noite, olhar para o relógio e ver que ainda temos mais duas ou três horas para cochilar.
Por outro lado, quantos de nós já tivemos vontade de dormir quando não podíamos? No meio de uma palestra? De uma aula? Ou mesmo de um filme, no cinema? Você começa a fantasiar que a sua cadeira é reclinável ou até mágica e irá se transformar numa cama bem confortável. Se acontece no trabalho, você gostaria de ter um quarto secreto – de preferência a prova de som, para quem ronca – com uma cama escondida para onde você escaparia para tirar uma meia-hora de sono, sem ninguém saber.
O sono é sagrado. Em muitos fins-de-semana aproveito pra dormir quando quiser, o quanto quiser. É bem verdade que às vezes o fuso horário fica desregulado. Mas volta ao normal forçosamente na segunda-feira, em que todos temos que acordar na hora.
E, no entanto, dormir é um prazer. O que não deixa de ser uma contradição. Afinal, quando ferramos no sono, "desligamos". E não deveríamos sentir mais nada. Mas sentimos, sim. Vamos mergulhando no sono aos poucos. Uma sensação relaxante e gostosa surge em nossa cabeça, como se o peso do cansaço começasse a baixar, até desaparecer. Se sonhamos, pode ser o sonho mais banal do mundo, mas nos transmite uma paz incrível, pois é naquele momento que estamos na fase mais profunda do sono. E nada como acordar no meio da noite, olhar para o relógio e ver que ainda temos mais duas ou três horas para cochilar.
Por outro lado, quantos de nós já tivemos vontade de dormir quando não podíamos? No meio de uma palestra? De uma aula? Ou mesmo de um filme, no cinema? Você começa a fantasiar que a sua cadeira é reclinável ou até mágica e irá se transformar numa cama bem confortável. Se acontece no trabalho, você gostaria de ter um quarto secreto – de preferência a prova de som, para quem ronca – com uma cama escondida para onde você escaparia para tirar uma meia-hora de sono, sem ninguém saber.
O sono é sagrado. Em muitos fins-de-semana aproveito pra dormir quando quiser, o quanto quiser. É bem verdade que às vezes o fuso horário fica desregulado. Mas volta ao normal forçosamente na segunda-feira, em que todos temos que acordar na hora.
sexta-feira, outubro 15, 2004
Hoje não tem aula
Quase ia me esquecendo que hoje é Dia do Professor. Claro, não estou tendo mais aulas. Mas confesso que sinto falta. E não entendo como uma profissão tão essencial para a formação do ser humano pode ser tão pouco valorizada no Brasil. Nossos professores são heróis. Ganham pouco, mas amam o que fazem. Cumprem a função especialíssima de transmitir a adultos e crianças o patrimônio vitalício do saber. Só consigo imaginar um ofício tão indispensável quanto o de um professor, que é o de médico. E médicos também precisam ser ensinados.
Gostaria de poder reencontrar todos os meus professores, ou pelo menos os mais marcantes, e agradecer pessoalmente o que significaram para mim e talvez nem saibam. Sem dúvida a minha maior riqueza está nas coisas que aprendi. O dia em que os governantes realmente enxergarem a importância do ofício de ensinar, talvez tenhamos um país mais próspero. Mas se não acontecer, ainda assim continuarão existindo os idealistas que se entregam por inteiro a essa tarefa árdua e pouco reconhecida. São pessoas como os professores que endireitam o mundo. De coração eu presto esta homenagem a todos os professores do Brasil, de ontem e hoje. Sem vocês, nada seria possível.
Gostaria de poder reencontrar todos os meus professores, ou pelo menos os mais marcantes, e agradecer pessoalmente o que significaram para mim e talvez nem saibam. Sem dúvida a minha maior riqueza está nas coisas que aprendi. O dia em que os governantes realmente enxergarem a importância do ofício de ensinar, talvez tenhamos um país mais próspero. Mas se não acontecer, ainda assim continuarão existindo os idealistas que se entregam por inteiro a essa tarefa árdua e pouco reconhecida. São pessoas como os professores que endireitam o mundo. De coração eu presto esta homenagem a todos os professores do Brasil, de ontem e hoje. Sem vocês, nada seria possível.
A hora certa Bahia
Na Revolução de 30 os gaúchos amarraram os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Pois agora as Casas Bahia penduraram seu "baianinho" no relógio da antiga Casa Masson, em Porto Alegre. Sim, aquele relógio que durante décadas informou a "hora certa Masson" aos transeuntes da Rua da Praia. É curioso ver aquele que já foi um dos prédios comerciais mais requintados da cidade, onde um dia funcionou a luxuosa e elitizada relojoaria e joalheria Masson, ser tomado pela logomarca das Casas Bahia. Mas garanto a vocês que eu provavelmente acharei mais produtos do meu interesse na nova loja do que encontrava na antiga.
Horário político
Aos poucos, estou me reconciliando com a televisão. Já coloquei um aparelho de TV na sala, para me fazer companhia enquanto estou no computador. O objetivo continuava sendo o mesmo, ou seja, usá-lo como monitor para o DVD player. Mas acabei catando uma antena velha que estava atirada num canto e, com ela, consegui sintonizar alguns canais. E vocês não vão acreditar no que me estimulou a fazer isso: o horário político!
Ao contrário da maioria, eu gosto de olhar a propaganda eleitoral gratuita. Acho muito melhor do que novela ou qualquer "reality show" da vida. Como jornalista, fico avaliando a produção e a edição. Como telespectador, aprecio as belas imagens que quase sempre aparecem, principalmente quando a campanha é para prefeito. Como eleitor, interesso-me em ouvir o que os candidatos têm a dizer, mesmo sabendo que o discurso é puro marketing (e até isso eu gosto de analisar). Por fim, como cidadão comum, divirto-me com as gafes e trocas de farpas. Política é um assunto sério, eu sei. Mas, felizmente, mantém o seu lado folclórico e pitoresco.
Ontem eu diria que Pont e Fogaça terminaram empatados. É curioso observar como cada um, procurando flexibilizar, acaba fazendo um discurso contraditório. Raul Pont, da situação, fala em mudar. José Fogaça, da oposição, fala em "manter o que está bom". Então quem quer mudança tem que votar no Raul? Não percam o próximo capítulo. Que novela, que nada!
Ao contrário da maioria, eu gosto de olhar a propaganda eleitoral gratuita. Acho muito melhor do que novela ou qualquer "reality show" da vida. Como jornalista, fico avaliando a produção e a edição. Como telespectador, aprecio as belas imagens que quase sempre aparecem, principalmente quando a campanha é para prefeito. Como eleitor, interesso-me em ouvir o que os candidatos têm a dizer, mesmo sabendo que o discurso é puro marketing (e até isso eu gosto de analisar). Por fim, como cidadão comum, divirto-me com as gafes e trocas de farpas. Política é um assunto sério, eu sei. Mas, felizmente, mantém o seu lado folclórico e pitoresco.
Ontem eu diria que Pont e Fogaça terminaram empatados. É curioso observar como cada um, procurando flexibilizar, acaba fazendo um discurso contraditório. Raul Pont, da situação, fala em mudar. José Fogaça, da oposição, fala em "manter o que está bom". Então quem quer mudança tem que votar no Raul? Não percam o próximo capítulo. Que novela, que nada!
quinta-feira, outubro 14, 2004
Pensamento da hora
Você nunca consegue falar com a pessoa certa sem antes contar a história toda pelo menos uma vez para a pessoa errada.
quarta-feira, outubro 13, 2004
Vida Urgente
Há duas semanas eu estava caminhando com meu filho no Shopping Praia de Belas quando avistei o quiosque da Fundação Thiago Gonzaga, da campanha Vida Urgente. Thiago era filho de Régis e Diza Gonzaga. Régis é um conhecido professor de cursinho em Porto Alegre. Nunca tive aula com ele, mas quem teve garante que é um dos melhores professores de Matemática do Rio Grande do Sul. No dia 20 de maio de 1995, Régis e Diza perderam seu filho Thiago em um acidente de carro. Thiago ia de carona. Tinha 18 anos.
Um ano após o acidente, o casal criou a Fundação Thiago Gonzaga. O objetivo é promover campanhas de conscientização para evitar que outros jovens sejam vítimas da mesma fatalidade. É um trabalho louvável que merece ser apoiado. Mas, infelizmente, a luta de Régis e Diza esbarra em uma cultura profundamente arraigada na mente do brasileiro. Basta responder bem rápido: o que significa, no Brasil, "bom motorista"? É o que dirige com mais velocidade. O motorista cauteloso, em geral, é visto como inseguro e sem destreza. Bom motorista é o que tem segurança para correr. Se algum carona reclama disso, recebe uma resposta tipo "tem que ver que eu dirijo desde os 13 anos", revelando outra irregularidade.
Existe uma mentalidade generalizada de que as regras de trânsito são apenas para os motoristas sem habilidade. Quem é ás do volante pode dirigir como quiser onde quiser, pois "se garante". Até acredito que haja condutores com perícia para andar em altas velocidades com um mínimo de risco. Mas, de qualquer forma, estão dando chance para o azar, além difundir um mau exemplo. Até hoje o brasileiro não entende a morte de Ayrton Senna. É difícil para o nosso povo aceitar a idéia de que a profissão dele era de risco e nem ele, com toda a sua capacidade, estava livre de um acidente. Pode ter sido um infortúnio, mas que a chance existia, existia. E aconteceu.
Nosso trânsito é hostil. Cada motorista encara o outro como um inimigo. Como alguém que não deveria estar ali, pois está ocupando espaço e impedindo a passagem livre. A irritação de quem vê seu avanço tolhido pelo carro da frente não é menor do que a quem leva luz alta e buzina por estar andando numa velocidade segura. É a "lei do Gérson" aplicada ao tráfego: cada um quer estar na pista que anda mais depressa e chegar primeiro.
A mensagem que Régis e Diza gostariam de passar a todos é a de que as chances de se perder um ente querido no trânsito são maiores do que se pensa. E seria muito fácil evitar se as pessoas não fossem tão burras (o termo sou eu quem está usando). Eles sentiram na pele as conseqüências e, com isso, adquiriram uma consciência que gostariam de partilhar. O problema é como fazer isso. Palavras às vezes não bastam. Mas o trabalho da Fundação Thiago Gonzaga se constitui principalmente de ações. Tentar mudar toda uma cultura é uma luta inglória, difícil, quase impossível. Mas eles não vão desistir.
Para saber mais sobre a Fundação, visitem o site na Internet.
(Este texto estava pronto há bastante tempo, mas eu o estava guardando para quando faltasse assunto. Os acidentes fatais da volta do feriadão me incentivaram a publicá-lo imediatamente, apenas atualizando a primeira frase.)
Leia também: Acidentes de Trânsito
Um ano após o acidente, o casal criou a Fundação Thiago Gonzaga. O objetivo é promover campanhas de conscientização para evitar que outros jovens sejam vítimas da mesma fatalidade. É um trabalho louvável que merece ser apoiado. Mas, infelizmente, a luta de Régis e Diza esbarra em uma cultura profundamente arraigada na mente do brasileiro. Basta responder bem rápido: o que significa, no Brasil, "bom motorista"? É o que dirige com mais velocidade. O motorista cauteloso, em geral, é visto como inseguro e sem destreza. Bom motorista é o que tem segurança para correr. Se algum carona reclama disso, recebe uma resposta tipo "tem que ver que eu dirijo desde os 13 anos", revelando outra irregularidade.
Existe uma mentalidade generalizada de que as regras de trânsito são apenas para os motoristas sem habilidade. Quem é ás do volante pode dirigir como quiser onde quiser, pois "se garante". Até acredito que haja condutores com perícia para andar em altas velocidades com um mínimo de risco. Mas, de qualquer forma, estão dando chance para o azar, além difundir um mau exemplo. Até hoje o brasileiro não entende a morte de Ayrton Senna. É difícil para o nosso povo aceitar a idéia de que a profissão dele era de risco e nem ele, com toda a sua capacidade, estava livre de um acidente. Pode ter sido um infortúnio, mas que a chance existia, existia. E aconteceu.
Nosso trânsito é hostil. Cada motorista encara o outro como um inimigo. Como alguém que não deveria estar ali, pois está ocupando espaço e impedindo a passagem livre. A irritação de quem vê seu avanço tolhido pelo carro da frente não é menor do que a quem leva luz alta e buzina por estar andando numa velocidade segura. É a "lei do Gérson" aplicada ao tráfego: cada um quer estar na pista que anda mais depressa e chegar primeiro.
A mensagem que Régis e Diza gostariam de passar a todos é a de que as chances de se perder um ente querido no trânsito são maiores do que se pensa. E seria muito fácil evitar se as pessoas não fossem tão burras (o termo sou eu quem está usando). Eles sentiram na pele as conseqüências e, com isso, adquiriram uma consciência que gostariam de partilhar. O problema é como fazer isso. Palavras às vezes não bastam. Mas o trabalho da Fundação Thiago Gonzaga se constitui principalmente de ações. Tentar mudar toda uma cultura é uma luta inglória, difícil, quase impossível. Mas eles não vão desistir.
Para saber mais sobre a Fundação, visitem o site na Internet.
(Este texto estava pronto há bastante tempo, mas eu o estava guardando para quando faltasse assunto. Os acidentes fatais da volta do feriadão me incentivaram a publicá-lo imediatamente, apenas atualizando a primeira frase.)
Leia também: Acidentes de Trânsito
Eleições
Vou dar pitaco numa seara que não é a minha, mas a impressão que eu tenho é que o bom marketeiro político não pode ser um apaixonado pelo partido. No máximo, simpatizante. O apaixonado não consegue ter distanciamento e cabeça fria para idealizar a melhor campanha. Para saber a forma mais ponderada de reagir a um ataque. E, principalmente, para saber colocar-se no lugar do não-simpatizante e descobrir a melhor maneira de conquistá-lo.
Ontem recebi um folheto da campanha de Raul Pont à prefeitura de Porto Alegre. O texto procurava demonstrar que o adversário José Fogaça e o ex-Governador Antônio Britto estão do mesmo lado. Isso suscita algumas perguntas. Primeira: alguma novidade? Segunda: quem já decidiu votar em Fogaça vai mudar de idéia por seu suposto alinhamento com Britto? Terceira: será que o PT acha que todos os eleitores, inclusive os antipetistas, têm a mesma imagem negativa do ex-Governador? Pelo contrário, eu não me surpreenderia se a divulgação de uma foto de Britto e Fogaça juntos angariasse ainda mais votos para o candidato do PPS. Acho que pisaram na bola. Ou, no mínimo, choveram no molhado.
De qualquer forma, este segundo turno promete. Vai ser uma bela disputa.
Ontem recebi um folheto da campanha de Raul Pont à prefeitura de Porto Alegre. O texto procurava demonstrar que o adversário José Fogaça e o ex-Governador Antônio Britto estão do mesmo lado. Isso suscita algumas perguntas. Primeira: alguma novidade? Segunda: quem já decidiu votar em Fogaça vai mudar de idéia por seu suposto alinhamento com Britto? Terceira: será que o PT acha que todos os eleitores, inclusive os antipetistas, têm a mesma imagem negativa do ex-Governador? Pelo contrário, eu não me surpreenderia se a divulgação de uma foto de Britto e Fogaça juntos angariasse ainda mais votos para o candidato do PPS. Acho que pisaram na bola. Ou, no mínimo, choveram no molhado.
De qualquer forma, este segundo turno promete. Vai ser uma bela disputa.
Transmitindo informações
Saber transmitir informações é um dom. Algumas pessoas conseguem explicar com tanta riqueza de detalhes que você passa a enxergar o que elas estão descrevendo. Já outras não têm a mesma facilidade. Enquanto falam, estão visualizando mentalmente o que querem comunicar, mas acabam omitindo alguma coisa. E o que não for verbalizado não se transmite por telepatia. Fazendo uma analogia, é como tentar copiar um desenho com carbono e depois perceber que faltaram alguns traços. A imagem esteve ali o tempo todo, visível, mas nem tudo foi repassado para o papel.
O exemplo típico é da pessoa que volta de viagem.
- E aí, como foi a viagem?
- Ah, muito legal, muito legal mesmo.
- Tá, mas conte mais, o que você viu?
- Ah, visitei vários países da Europa, Itália, França, Portugal, Espanha... Foi muito legal!
Em geral a conversa começa sempre assim. Mas você começa a ficar nervoso quando, depois de várias perguntas, não consegue arrancar do viajante algo mais do que o "muito legal, muito legal..." E fica nisso. Assim também é quando alguém vê um show que você gostaria de ter visto e não pôde. Você fica ansioso pelos detalhes e só o que a pessoa diz é:
- Ah, foi demais, afudê, muito legal!
- Tá, mas que músicas ele cantou?
- Ah, cantou várias, cantou os sucessos, tantou tal música... Foi muito legal!
Mas nada é mais crítico do que descrever um trajeto até algum lugar. Segunda-feira, véspera do feriado, fui buscar uma amiga em sua casa. Ela me deu o endereço e explicou:
- O prédio fica na rua Tal 706. É fácil achar, você dobra à direita na rua Tal e vai sempre reto. É o edifício mais alto e mais bonito da rua.
Chegar à rua Tal até que foi fácil. Mas os primeiros prédios que avistei eram todos de número muito baixo. E logo a seguir a via passava a ter um traçado irregular que me deixou inseguro. Como não tenho celular, fui até o orelhão mais próximo e liguei.
- Estou na tua rua, mas depois do número 300 ela é uma subida com curva à direita. Estou no caminho certo?
- Não tem que dobrar à direita, eu te falei: segue reto!
- Mas a rua faz uma curva, não faz?
- Segue reto, não tem como errar!
- Bom, vou tentar seguir adiante.
Voltei até o carro e prossegui. O trajeto sinuoso e ligeiramente íngreme me fez descrever uma curva à direita, depois à esquerda. O nome da rua em um dos edifícios me confirmou que eu estava no caminho certo. Mas quando cheguei no número 710, concluí que já tinha passado. Estacionei o carro e tentei achar o número 706 caminhando. Não apareceu. Liguei de outro orelhão. Ela disse que já estava me enxergando e viria me encontrar. Aí, para minha surpresa, ela surgiu do lado oposto ao que eu esperava! Percebi que, depois de um certo ponto, a numeração começava a decrescer. Ora, se eu morasse no mesmo endereço, teria o cuidado de avisar a quem viesse me visitar que a rua era em "S" e a numeração era incoerente. Mas ela achou que "vai sempre reto" fosse dica suficiente.
- Mas eu te disse que era o prédio mais alto e mais bonito da rua, não disse?
Disse. E para que essa informação me fosse de alguma valia, eu teria que fazer um reconhecimento visual de todos os prédios e ir até o fim da rua para ter certeza de que não apareceria outro mais alto ou mais bonito (e, convenhamos, este último critério é subjetivo como a fábula da raposa e da coruja). Isso me lembra o pai de um amigo meu viajando de carro pelo Brasil. Pediu informação a um morador local e ouviu:
- Quando o senhor chegar no último posto de gasolina, dobra à direita.
Ah, sim, o último posto. Não tem como errar. É o primeiro depois do penúltimo.
Em contrapartida a meus argumentos, existe o texto clássico "Uma Mensagem a Garcia", do americano Helbert Hubbard (leia aqui o texto em português comentado pelo autor e aqui o original em inglês), que é um elogio às pessoas que chegam onde têm que chegar com um mínimo de orientação. Sem dúvida, é um mérito conseguir executar uma tarefa com instruções incompletas ou falhas. Mas a minha admiração ainda é maior por aqueles que sabem transmitir uma informação de forma completa e precisa.
O exemplo típico é da pessoa que volta de viagem.
- E aí, como foi a viagem?
- Ah, muito legal, muito legal mesmo.
- Tá, mas conte mais, o que você viu?
- Ah, visitei vários países da Europa, Itália, França, Portugal, Espanha... Foi muito legal!
Em geral a conversa começa sempre assim. Mas você começa a ficar nervoso quando, depois de várias perguntas, não consegue arrancar do viajante algo mais do que o "muito legal, muito legal..." E fica nisso. Assim também é quando alguém vê um show que você gostaria de ter visto e não pôde. Você fica ansioso pelos detalhes e só o que a pessoa diz é:
- Ah, foi demais, afudê, muito legal!
- Tá, mas que músicas ele cantou?
- Ah, cantou várias, cantou os sucessos, tantou tal música... Foi muito legal!
Mas nada é mais crítico do que descrever um trajeto até algum lugar. Segunda-feira, véspera do feriado, fui buscar uma amiga em sua casa. Ela me deu o endereço e explicou:
- O prédio fica na rua Tal 706. É fácil achar, você dobra à direita na rua Tal e vai sempre reto. É o edifício mais alto e mais bonito da rua.
Chegar à rua Tal até que foi fácil. Mas os primeiros prédios que avistei eram todos de número muito baixo. E logo a seguir a via passava a ter um traçado irregular que me deixou inseguro. Como não tenho celular, fui até o orelhão mais próximo e liguei.
- Estou na tua rua, mas depois do número 300 ela é uma subida com curva à direita. Estou no caminho certo?
- Não tem que dobrar à direita, eu te falei: segue reto!
- Mas a rua faz uma curva, não faz?
- Segue reto, não tem como errar!
- Bom, vou tentar seguir adiante.
Voltei até o carro e prossegui. O trajeto sinuoso e ligeiramente íngreme me fez descrever uma curva à direita, depois à esquerda. O nome da rua em um dos edifícios me confirmou que eu estava no caminho certo. Mas quando cheguei no número 710, concluí que já tinha passado. Estacionei o carro e tentei achar o número 706 caminhando. Não apareceu. Liguei de outro orelhão. Ela disse que já estava me enxergando e viria me encontrar. Aí, para minha surpresa, ela surgiu do lado oposto ao que eu esperava! Percebi que, depois de um certo ponto, a numeração começava a decrescer. Ora, se eu morasse no mesmo endereço, teria o cuidado de avisar a quem viesse me visitar que a rua era em "S" e a numeração era incoerente. Mas ela achou que "vai sempre reto" fosse dica suficiente.
- Mas eu te disse que era o prédio mais alto e mais bonito da rua, não disse?
Disse. E para que essa informação me fosse de alguma valia, eu teria que fazer um reconhecimento visual de todos os prédios e ir até o fim da rua para ter certeza de que não apareceria outro mais alto ou mais bonito (e, convenhamos, este último critério é subjetivo como a fábula da raposa e da coruja). Isso me lembra o pai de um amigo meu viajando de carro pelo Brasil. Pediu informação a um morador local e ouviu:
- Quando o senhor chegar no último posto de gasolina, dobra à direita.
Ah, sim, o último posto. Não tem como errar. É o primeiro depois do penúltimo.
Em contrapartida a meus argumentos, existe o texto clássico "Uma Mensagem a Garcia", do americano Helbert Hubbard (leia aqui o texto em português comentado pelo autor e aqui o original em inglês), que é um elogio às pessoas que chegam onde têm que chegar com um mínimo de orientação. Sem dúvida, é um mérito conseguir executar uma tarefa com instruções incompletas ou falhas. Mas a minha admiração ainda é maior por aqueles que sabem transmitir uma informação de forma completa e precisa.
terça-feira, outubro 12, 2004
segunda-feira, outubro 11, 2004
A morte do Super-Homem
Christopher Reeve, o ator que se consagrou como Super-Homem no cinema, faleceu de ataque cardíaco. Sua condição, como todos sabem, era dramática. Desde o acidente que o deixou tetraplégico, Reeve usava de todos os recursos para tentar se recuperar. Uma matéria que li há algum tempo me chamou a atenção. Ele se indignava com o discurso dos pesquisadores de "ir com calma" e "ter cautela". O que é calma e cautela para quem está numa situação crítica, vendo a vida passar com os movimentos tolhidos, querendo uma solução o quanto antes? Infelizmente para Reeve, ela não chegou a tempo.
Eu tenho o filme "Super-Homem" em DVD. Duas cenas são de arrepiar. Uma é a primeira aparição do herói, em que Clark Kent escapa para um canto para trocar de roupa e a câmera dá um close em seu peito para mostrar o "S" surgindo por trás do paletó (por sinal, a cena foi copiada no primeiro "Homem-Aranha"). A outra, esta sim, é pra arrasar. Lois Lane acaba de morrer, mas Super-Homem não se conforma, vai fazer o tempo voltar para que ela viva. Mas antes de começar a voar alucinadamente em torno da terra para inverter o seu sentido, ele ouve as vozes de seus dois pais: o adotivo, dizendo, "você está aqui por um motivo", e o verdadeiro, Jor-el, lembrando-lhe que "é proibido interferir no destino da humanidade... é proibido... é proibido..." E com essa voz ecoando em sua mente, o Super-Homem reverte o destino e traz sua amada de volta à vida.
Apesar dos merecidos elogios a "Homem Aranha", eu ainda acho que o "Super-Homem" de Christopher Reeve continua sendo a melhor adaptação de quadrinhos para o cinema.
Já foi data móvel
Muitos de vocês (a maioria?) nem eram nascidos em 1971. Eu tinha dez anos. E uma das coisas que me chamaram a atenção naquele ano é que as peças publicitárias de brinquedos todas diziam que o Dia da Criança seria "o segundo domingo do mês de outubro". Na verdade, não foi a primeira vez que ouvi isso num comercial. Em ano anterior, lembro de um robô de brinquedo dizendo a mesma coisa. Mas naquele outro ano, casualmente, o segundo domingo do mês de outubro era justamente o dia 12. Já em 1971 era o dia 10, tal como neste ano. O calendário de 1971 era o mesmo de 2004.
Aparentemente, o comércio decidiu mudar a data do Dia da Criança por contra própria. Caindo num domingo, o dia ficava mais valorizado e com certeza aquecia as costumeiras vendas de sábado. O Brasil inteiro comemorou o Dia da Criança no dia 10 em 1971. Não lembro por quanto tempo perdurou a mudança. Tenho uma vaga lembrança de que a tradição prevaleceu e logo o dia voltou a ser o certo, ou seja, 12 de outubro. Até que o Papa veio ao Brasil em 1980 e a partir daí criou-se o feriado de Nossa Senhora Aparecida. Ficou resolvido o problema. O Dia da Criança passou a ser sempre feriado.
De qualquer forma, esse episódio mostra a força da publicidade e principalmente do comércio, quando decide se unir. Consegue mudar a data de uma comemoração tradicional. Ainda bem que a moda não pegou. Mas de vez em quando fazem de novo. Por exemplo: a mídia do mundo inteiro conseguiu antecipar em um ano a virada do milênio. Afinal, ficava mais interessante fazer a comemoração em 2000, que era um ano redondo, bonito e cheio de zeros. Pior foi ler em alguns jornais que "os astrônomos" diziam que o novo milênio só viria em 2001. Não eram os astrônomos, eram os matemáticos! O x da questão é o fato de não ter havido ano zero. Não tem nada a ver com a posição dos astros. A menos, é claro, que eles influam na capacidade das pessoas de fazer contas.
(P.S. - Quem sou eu pra falar? O texto que eu postei originalmente dizia "o primeiro domingo do mês de outubro". É óbvio que, se caiu no dia 10, só podia ser o segundo. Já fiz a correção. )
Aparentemente, o comércio decidiu mudar a data do Dia da Criança por contra própria. Caindo num domingo, o dia ficava mais valorizado e com certeza aquecia as costumeiras vendas de sábado. O Brasil inteiro comemorou o Dia da Criança no dia 10 em 1971. Não lembro por quanto tempo perdurou a mudança. Tenho uma vaga lembrança de que a tradição prevaleceu e logo o dia voltou a ser o certo, ou seja, 12 de outubro. Até que o Papa veio ao Brasil em 1980 e a partir daí criou-se o feriado de Nossa Senhora Aparecida. Ficou resolvido o problema. O Dia da Criança passou a ser sempre feriado.
De qualquer forma, esse episódio mostra a força da publicidade e principalmente do comércio, quando decide se unir. Consegue mudar a data de uma comemoração tradicional. Ainda bem que a moda não pegou. Mas de vez em quando fazem de novo. Por exemplo: a mídia do mundo inteiro conseguiu antecipar em um ano a virada do milênio. Afinal, ficava mais interessante fazer a comemoração em 2000, que era um ano redondo, bonito e cheio de zeros. Pior foi ler em alguns jornais que "os astrônomos" diziam que o novo milênio só viria em 2001. Não eram os astrônomos, eram os matemáticos! O x da questão é o fato de não ter havido ano zero. Não tem nada a ver com a posição dos astros. A menos, é claro, que eles influam na capacidade das pessoas de fazer contas.
(P.S. - Quem sou eu pra falar? O texto que eu postei originalmente dizia "o primeiro domingo do mês de outubro". É óbvio que, se caiu no dia 10, só podia ser o segundo. Já fiz a correção. )
sábado, outubro 09, 2004
Como assim, feriadão?
A imprensa está falando normalmente em feriadão, como se ninguém fosse trabalhar na segunda-feira. Várias pessoas já me desejaram bom feriadão. Pelo visto, a definição de feriadão é: feriado que caia em qualquer dia da semana exceto quarta-feira.
Na ZH de amanhã
A Zero Hora está anunciando para sua edição de domingo uma matéria intitulada "Os Sem-Celular". Pensei que fosse uma reportagem sobre aqueles que, como eu, vivem muito bem sem esse aparelho de aporrinhação 24 horas, tipo, "não importa onde você esteja, a incomodação vai até você!" Mas não, é sobre os "coitadinhos" que moram em áreas não cobertas por nenhuma operadora de telefonia móvel.
Acaba de me ocorrer um "pensamento da hora". Vai aqui mesmo:
Celular é o aparelho que lhe permite sair levando os problemas junto.
Acaba de me ocorrer um "pensamento da hora". Vai aqui mesmo:
Celular é o aparelho que lhe permite sair levando os problemas junto.
sexta-feira, outubro 08, 2004
Sonoplastia
Um candidato a Prefeito de Porto Alegre colocou um caminhão de som na Esquina Democrática hoje ao meio-dia tocando jingles de campanha. Entre uma música e outra, ouvia-se o som de uma multidão... gravado! Bem bolado, não?
Pensamento da hora
Nenhum caminho é longo demais para quem sabe onde quer chegar.
(Desculpem, é que eu sou um pensador frustrado. Essa era a profissão ideal, imaginem, ser pago só para pensar. E soltar umas frases de efeito de vez em quando.)
(Desculpem, é que eu sou um pensador frustrado. Essa era a profissão ideal, imaginem, ser pago só para pensar. E soltar umas frases de efeito de vez em quando.)
A digitalização do inútil
Hoje pela manhã, ao abrir a caixa de correspondência e ver aquele monte de papéis inúteis misturados aos poucos importantes, a primeira palavra que me veio à cabeça foi: SPAM! Porque o SPAM nada mais é do que a versão eletrônica do lixo postal. Mas, infelizmente, não acabou com a sua antiga encarnação física. Eu sei bem o que é isso porque não tenho o hábito de olhar a correspondência todos os dias. Tudo o que posso, mando entregar na caixa postal. Para contas bancárias e cartões de crédito, forneço o endereço da minha irmã, pois moro sozinho e sempre é preciso ter alguém em casa para receber cartões e talões. Sobram as tradicionais contas de luz e telefone, que pago sempre no mesmo dia do mês. Quando vou abrir a caixa, já levo uma sacola de supermercado para jogar tudo dentro e depois fazer a triagem. Fico catando as continhas no meio do aglomerado de anúncios e folhetos não solicitados.
Infelizmente o universo digital incorporou também as inutilidades do mundo real. As mensagens repassadas, por exemplo. Antes do e-mail, elas circulavam via xerox. Como era um procedimento mais trabalhoso do que simplesmente clicar no botão de "encaminhar", havia uma certa seletividade. Mesmo assim, recebíamos correntes, piadinhas, pensamentos e alertas falsos aos montes. Alguns até eram criativos, como aquele que dizia para enviar sua mulher pelo correio para depois certo tempo receber não sei quantas esposas, algumas das quais seriam verdadeiras beldades. Não quebre a corrente, Fulano quebrou e recebeu a própria esposa de volta. Outros eram em tom ameaçador para quem não obedecesse e beiravam o mau gosto. Em 1989 alastrou-se um aviso de que havia tabletes de LSD sendo distribuídos na forma de decalques infantis e deveríamos tomar cuidado para que não caíssem nas mãos de nossos filhos. As piadas em geral eram legais. Eu próprio repassei algumas, mas em mãos e para as pessoas certas.
Em alguns casos, a versão digital de coisas ruins pode ser benigna. É frustrante quando alguém ingenuamente aciona um programa tipo "Cavalo de Tróia" e detona o conteúdo do HD, mas muito pior seria ter uma carta-bomba explodindo nas mãos. O vírus que infecta o seu micro não causa o mesmo mal que alguns que podem atingir seu organismo. O problema é que nós nos acostumamos a ver o computador como uma síntese do mundo real e, quando percebemos, agimos como se vivêssemos dentro dele. Quando o sistema trava, você sente vontade de gritar: "Tô preso! Me tira daqui!" Mas nada se iguala à frustração de ouvir que você não poderá fazer a transação desejada porque "o sistema está fora".
Já digitalizaram o golpe. Aqueles e-mails que pedem atualização de dados em cadastros de contas correntes são mensagens falsas com objetivo de ter acesso a seu dinheiro. As propostas "sigilosas" para ajudar a desembaraçar dinheiro do exterior às vezes me deixam curioso: se eu aceitar, o que virá a seguir? Em que momento eu serei lesado? Mas acho melhor não tentar descobrir.
Menos mal que o uso de e-mail para propaganda política é ainda discreto. Os candidatos devem saber que SPAM nunca é bem recebido. Deveriam imaginar que o mesmo sentimento de hostilidade se dirige aos panfletos que entulham nossas caixas de correspondência. Agora com licença, que vou separar o joio do trigo. A propósito, Bertrand Kolecza, pode continuar enchendo a minha caixa com a Folha do Porto, que eu sempre leio com prazer, apesar de às vezes não concordar com seus editoriais. Quantos donos e editores de jornal a gente conhece que fazem pessoalmente a distribuição no bairro?
Infelizmente o universo digital incorporou também as inutilidades do mundo real. As mensagens repassadas, por exemplo. Antes do e-mail, elas circulavam via xerox. Como era um procedimento mais trabalhoso do que simplesmente clicar no botão de "encaminhar", havia uma certa seletividade. Mesmo assim, recebíamos correntes, piadinhas, pensamentos e alertas falsos aos montes. Alguns até eram criativos, como aquele que dizia para enviar sua mulher pelo correio para depois certo tempo receber não sei quantas esposas, algumas das quais seriam verdadeiras beldades. Não quebre a corrente, Fulano quebrou e recebeu a própria esposa de volta. Outros eram em tom ameaçador para quem não obedecesse e beiravam o mau gosto. Em 1989 alastrou-se um aviso de que havia tabletes de LSD sendo distribuídos na forma de decalques infantis e deveríamos tomar cuidado para que não caíssem nas mãos de nossos filhos. As piadas em geral eram legais. Eu próprio repassei algumas, mas em mãos e para as pessoas certas.
Em alguns casos, a versão digital de coisas ruins pode ser benigna. É frustrante quando alguém ingenuamente aciona um programa tipo "Cavalo de Tróia" e detona o conteúdo do HD, mas muito pior seria ter uma carta-bomba explodindo nas mãos. O vírus que infecta o seu micro não causa o mesmo mal que alguns que podem atingir seu organismo. O problema é que nós nos acostumamos a ver o computador como uma síntese do mundo real e, quando percebemos, agimos como se vivêssemos dentro dele. Quando o sistema trava, você sente vontade de gritar: "Tô preso! Me tira daqui!" Mas nada se iguala à frustração de ouvir que você não poderá fazer a transação desejada porque "o sistema está fora".
Já digitalizaram o golpe. Aqueles e-mails que pedem atualização de dados em cadastros de contas correntes são mensagens falsas com objetivo de ter acesso a seu dinheiro. As propostas "sigilosas" para ajudar a desembaraçar dinheiro do exterior às vezes me deixam curioso: se eu aceitar, o que virá a seguir? Em que momento eu serei lesado? Mas acho melhor não tentar descobrir.
Menos mal que o uso de e-mail para propaganda política é ainda discreto. Os candidatos devem saber que SPAM nunca é bem recebido. Deveriam imaginar que o mesmo sentimento de hostilidade se dirige aos panfletos que entulham nossas caixas de correspondência. Agora com licença, que vou separar o joio do trigo. A propósito, Bertrand Kolecza, pode continuar enchendo a minha caixa com a Folha do Porto, que eu sempre leio com prazer, apesar de às vezes não concordar com seus editoriais. Quantos donos e editores de jornal a gente conhece que fazem pessoalmente a distribuição no bairro?
quinta-feira, outubro 07, 2004
Colírio
Já que faz tempo que não coloco uma foto, aqui vai a Florinda Bolkan no auge da beleza:
O que foi? Não entenderam? Queriam uma foto dela pelada? Tão achando que este blog é o quê?
O que foi? Não entenderam? Queriam uma foto dela pelada? Tão achando que este blog é o quê?
Solucionando problemas
Quem já não passou por isto: um aparelho seu começa a dar problemas. Algo realmente estranho e inesperado. Aí, você pega o manual, vai na seção "Solucionando Problemas" e só encontra dicas bobas, risíveis. "O aparelho não liga – verifique se ligou na tomada." "Está sem som – veja se o botão de volume não está baixo." Às vezes você até encontra na lista o problema específico que está enfrentando, mas a dica para solucionar é quase sempre a primeira coisa que você tentou fazer. Da mesma forma, quando liga para algum suporte via telefone, o sujeito do outro lado começa mandando você fazer exatamente o que já tentou e não resolveu. É um saco.
Aí, você chama a assistência técnica. E passa pela agonia de ver o especialista fazer de novo tudo o que você já fez para se convencer de que o problema realmente existe. Dá até pra imaginar um fluxograma especificando os caminhos que ele tenta seguir. Ao final, há aquele losango de pergunta: solucionou? Se a resposta for sim, a última mensagem é: bom proveito. Mas se a resposta for não, por mais que você não sinta vontade nenhuma de rir, a palavra que se costuma ouvir nessas situações é: "Engraçado..." Não sei por que, mas "engraçado" resume tudo. Quando o técnico diz "engraçado", você sente vontade é de chorar, pois percebe que nem ele sabe resolver o problema. O fluxograma vai terminar em "engraçado" e estamos conversados.
Mas voltando aos manuais, eles têm lá suas razões de ser como são. Temos uma geladeira no ambiente de trabalho. Um dia cheguei e ela não estava funcionando. Imediatamente avisei à secretária, que por sua vez acionou a assistência técnica. Enquanto isso, tentei mexer no fio para ver se resolvia. Não adiantou. Logo em seguida, chegou o chefe para dar um aviso. Já falei sobre a geladeira e disse que o setor de assistência já tinha sido contactado. Ele casualmente perguntou:
- Será que não caiu a chave?
Adivinhem. Nunca mais ri do "Solucionando Problemas" dos manuais.
Aí, você chama a assistência técnica. E passa pela agonia de ver o especialista fazer de novo tudo o que você já fez para se convencer de que o problema realmente existe. Dá até pra imaginar um fluxograma especificando os caminhos que ele tenta seguir. Ao final, há aquele losango de pergunta: solucionou? Se a resposta for sim, a última mensagem é: bom proveito. Mas se a resposta for não, por mais que você não sinta vontade nenhuma de rir, a palavra que se costuma ouvir nessas situações é: "Engraçado..." Não sei por que, mas "engraçado" resume tudo. Quando o técnico diz "engraçado", você sente vontade é de chorar, pois percebe que nem ele sabe resolver o problema. O fluxograma vai terminar em "engraçado" e estamos conversados.
Mas voltando aos manuais, eles têm lá suas razões de ser como são. Temos uma geladeira no ambiente de trabalho. Um dia cheguei e ela não estava funcionando. Imediatamente avisei à secretária, que por sua vez acionou a assistência técnica. Enquanto isso, tentei mexer no fio para ver se resolvia. Não adiantou. Logo em seguida, chegou o chefe para dar um aviso. Já falei sobre a geladeira e disse que o setor de assistência já tinha sido contactado. Ele casualmente perguntou:
- Será que não caiu a chave?
Adivinhem. Nunca mais ri do "Solucionando Problemas" dos manuais.
quarta-feira, outubro 06, 2004
Piratas estrangeiros imitando brasileiros
A pirataria, no exterior, está cada vez mais sofisticada. Vocês já devem ter visto CDs "dois em um" com aspecto de lançamento russo. Até pode ser que os CDs venham da Rússia, mesmo. Mas a chance maior é a de que sejam relançamentos piratas fabricados para se assemelharem a discos russos. O visual desses CDs, admita-se, é caprichado.
Pois agora apareceram dois DVDs piratas de David Bowie lançados no exterior – provavelmente na Europa – que trazem na contracapa créditos da revista brasileira DVD Total, que já lançou muita coisa por conta própria por meio de brechas legais. Mas esses dois são piratas mesmo, não têm nada a ver com a revista. Tanto que nos dois aparece o nº 4, que foi na verdade o Ziggy Stardust, The Motion Picture. No caso, os DVDs piratas são Rare, Precious and Beautiful, uma coletânea de clips raros (vejam a capa em tamanho real aqui e observem a grosseira imitação da logomarca da Zona Franca de Manaus), e Cracked Actor, documentário realizado em 1974 por Alan Yentob. Nós, que moramos no Brasil, sabemos diferenciar bem. Mas lá fora ainda vão aparecer muitos DVDs piratas com crédito da DVD Total, pelo visto. E o mais frustrante para nós é que esses DVDs são superdifíceis de se conseguirem por aqui. A gente chega a desejar que eles fossem mesmo brasileiros.
Pois agora apareceram dois DVDs piratas de David Bowie lançados no exterior – provavelmente na Europa – que trazem na contracapa créditos da revista brasileira DVD Total, que já lançou muita coisa por conta própria por meio de brechas legais. Mas esses dois são piratas mesmo, não têm nada a ver com a revista. Tanto que nos dois aparece o nº 4, que foi na verdade o Ziggy Stardust, The Motion Picture. No caso, os DVDs piratas são Rare, Precious and Beautiful, uma coletânea de clips raros (vejam a capa em tamanho real aqui e observem a grosseira imitação da logomarca da Zona Franca de Manaus), e Cracked Actor, documentário realizado em 1974 por Alan Yentob. Nós, que moramos no Brasil, sabemos diferenciar bem. Mas lá fora ainda vão aparecer muitos DVDs piratas com crédito da DVD Total, pelo visto. E o mais frustrante para nós é que esses DVDs são superdifíceis de se conseguirem por aqui. A gente chega a desejar que eles fossem mesmo brasileiros.
Asmático unido...
Parece piada, mas está no jornal: em Santo Ângelo, no interior do Rio Grande do Sul, um grupo de asmáticos se reuniu para exigir corte de árvores cujo pólen lhes desencadeia as crises de falta de ar. Não sei se a situação da cidade é peculiar, se há nela uma concentração específica de um tipo arbóreo que cause essa reação. Só sei que não consigo decidir se estou contra ou a favor. Porque eu adoro árvores e tenho asma.
Tive minha primeira crise de falta de ar aos 25 anos. Fiz raio-X e tudo o mais e não apareceu nada. Passaram-se vários anos até que um médico me falou: "Olha, se nunca te disseram antes, tu tens asma." Fiquei surpreso. "Mas como? Nunca tive nada até os 25 anos?" Ele respondeu: "Mas é assim mesmo." Até que comecei a somar as coisas. Certa vez outro médico me descreveu como uma pessoa "atópica". Em outras palavras, alérgica. E sou mesmo. Tenho coceira na garganta, tendência a faringite (mais no meu passado de "atleta" – um dia escrevo sobre isso), rinite alérgica (tem gente que pensa que é cacoete, mas vocês não imaginam a coceira insuportável que dá às vezes), irritação nos olhos, coceira no ouvido – e falta de ar.
Agora lembro que eu tive crises fortes de asma nas primeiras vezes em que fui a Santa Clara do Sul, onde moravam os pais de uma ex-namorada minha. Na época, concluí que deveria ser da cortina do quarto onde dormíamos. Trocamos de quarto e, aparentemente, resolveu o problema. Mas havia árvores nas proximidades, sim. Por outro lado, que remédio? Quando fui a São Paulo, longe de qualquer área verde, o "ar puro" da maior cidade brasileira me causou o mesmo efeito. Fechem as fábricas! O asmático tem que aprender a conviver com isso, não adianta.
Mas não vou prejulgar os "companheiros" de Santo Ângelo, pois não conheço bem a região. E, depois dessa notícia, acho que nem quero conhecer.
Tive minha primeira crise de falta de ar aos 25 anos. Fiz raio-X e tudo o mais e não apareceu nada. Passaram-se vários anos até que um médico me falou: "Olha, se nunca te disseram antes, tu tens asma." Fiquei surpreso. "Mas como? Nunca tive nada até os 25 anos?" Ele respondeu: "Mas é assim mesmo." Até que comecei a somar as coisas. Certa vez outro médico me descreveu como uma pessoa "atópica". Em outras palavras, alérgica. E sou mesmo. Tenho coceira na garganta, tendência a faringite (mais no meu passado de "atleta" – um dia escrevo sobre isso), rinite alérgica (tem gente que pensa que é cacoete, mas vocês não imaginam a coceira insuportável que dá às vezes), irritação nos olhos, coceira no ouvido – e falta de ar.
Agora lembro que eu tive crises fortes de asma nas primeiras vezes em que fui a Santa Clara do Sul, onde moravam os pais de uma ex-namorada minha. Na época, concluí que deveria ser da cortina do quarto onde dormíamos. Trocamos de quarto e, aparentemente, resolveu o problema. Mas havia árvores nas proximidades, sim. Por outro lado, que remédio? Quando fui a São Paulo, longe de qualquer área verde, o "ar puro" da maior cidade brasileira me causou o mesmo efeito. Fechem as fábricas! O asmático tem que aprender a conviver com isso, não adianta.
Mas não vou prejulgar os "companheiros" de Santo Ângelo, pois não conheço bem a região. E, depois dessa notícia, acho que nem quero conhecer.
terça-feira, outubro 05, 2004
Eureka
Acho que descobri por que o Orkut faz mais sucesso no Brasil do que em outros países. É que o brasileiro tem mais paciência com coisas que não funcionam. Já está acostumado. Eta sitezinho chato esse! Tem a regularidade de uma superfície de queijo suíço. E funciona como pisca-pisca de português. O Orkut está no ar? 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá. 'Stá. Não 'stá...
Correção
Ibsen Pinheiro não teve 23 mil votos, como eu escrevi. Foram só 22.994. Bem que eu estava achando o número muito grande.
O estilo Luís Fernando Verissimo
Eu pensei em dar a este texto o título de "Quero Ser Luís Fernando Verissimo", parafraseando o nome do filme "Quero Ser John Malkovich", mas achei que ficaria muito forte. Há pessoas que lêem só títulos e imaginam o resto. Poderiam sair por aí dizendo coisas que não escrevi. Além disso, eu sempre quis ser eu mesmo, apenas com alguns retoques.
Mas a verdade é que todos os fãs de Luís Fernando Verissimo um dia sonharam em escrever como ele. Na minha adolescência eu lia "O Rei do Rock", ainda antes de ele estourar de verdade com "O Analista de Bagé", e me sentia desafiado a redigir textos com a mesma criatividade. Hoje acho que criei um estilo próprio com influências de todos os autores que admiro, passando pelo filtro do meu vocabulário mais simples e objetivo. Procuro não imitar ninguém, mas a verdade é que é impossível ter um estilo totalmente original. Tudo é síntese do que colhe aqui, ali e acolá.
Certa vez tive uma idéia de escrever sobre o Fulano. Quem ele foi realmente? Onde viveu? O que fez em sua vida para ficar tão famoso? Seu sobrenome era mesmo de Tal? Então, que fim levaram os Tais? E Beltrano e Cicrano eram seus irmãos? Por que não obtiveram a mesma notoriedade? Tinham complexo de inferioridade por isso? Aí percebi que, embora a idéia fosse boa, seria uma cópia descarada do estilo do Verissimo. Afinal, ele é que gosta de esmiuçar esses lugares comuns, como já fez em "A Coisa" (que "coisa" é essa de que tanto se fala?), "O Outro" (quem é esse "outro" que diz coisas tão sábias?) e "Aquele Lugar" (quando se manda alguém para "aquele lugar", isso é onde mesmo?). Se eu escrevesse sobre o Fulano, estaria roubando uma idéia do subconsciente do Verissimo. Em outras palavras, plagiando a crônica que ele ainda não escreveu.
Existe no Orkut uma comunidade sobre Luís Fernando Verissimo. Já tem mais de seis mil inscritos. No texto de apresentação há uma série de alertas bem interessantes sobre textos que circulam pela Internet como sendo dele, mas na verdade não são. Há pouco tempo um dos integrantes não resistiu e postou uma crônica própria que foi logo excluída pelo moderador. Infelizmente, a comunidade é para discutir a obra do Verissimo e não de seus admiradores. Imagine se todos os seis mil resolvessem mostrar seus escritos. A maioria deve ter uma veia literária.
Pensando bem, acho que a minha primeira idéia para o título estava correta. Todos queremos ser o Luís Fernando Verissimo. Só um pouquinho, mas queremos.
Mas a verdade é que todos os fãs de Luís Fernando Verissimo um dia sonharam em escrever como ele. Na minha adolescência eu lia "O Rei do Rock", ainda antes de ele estourar de verdade com "O Analista de Bagé", e me sentia desafiado a redigir textos com a mesma criatividade. Hoje acho que criei um estilo próprio com influências de todos os autores que admiro, passando pelo filtro do meu vocabulário mais simples e objetivo. Procuro não imitar ninguém, mas a verdade é que é impossível ter um estilo totalmente original. Tudo é síntese do que colhe aqui, ali e acolá.
Certa vez tive uma idéia de escrever sobre o Fulano. Quem ele foi realmente? Onde viveu? O que fez em sua vida para ficar tão famoso? Seu sobrenome era mesmo de Tal? Então, que fim levaram os Tais? E Beltrano e Cicrano eram seus irmãos? Por que não obtiveram a mesma notoriedade? Tinham complexo de inferioridade por isso? Aí percebi que, embora a idéia fosse boa, seria uma cópia descarada do estilo do Verissimo. Afinal, ele é que gosta de esmiuçar esses lugares comuns, como já fez em "A Coisa" (que "coisa" é essa de que tanto se fala?), "O Outro" (quem é esse "outro" que diz coisas tão sábias?) e "Aquele Lugar" (quando se manda alguém para "aquele lugar", isso é onde mesmo?). Se eu escrevesse sobre o Fulano, estaria roubando uma idéia do subconsciente do Verissimo. Em outras palavras, plagiando a crônica que ele ainda não escreveu.
Existe no Orkut uma comunidade sobre Luís Fernando Verissimo. Já tem mais de seis mil inscritos. No texto de apresentação há uma série de alertas bem interessantes sobre textos que circulam pela Internet como sendo dele, mas na verdade não são. Há pouco tempo um dos integrantes não resistiu e postou uma crônica própria que foi logo excluída pelo moderador. Infelizmente, a comunidade é para discutir a obra do Verissimo e não de seus admiradores. Imagine se todos os seis mil resolvessem mostrar seus escritos. A maioria deve ter uma veia literária.
Pensando bem, acho que a minha primeira idéia para o título estava correta. Todos queremos ser o Luís Fernando Verissimo. Só um pouquinho, mas queremos.
segunda-feira, outubro 04, 2004
Justiça
Ibsen Pinheiro foi o vereador mais votado em Porto Alegre, com nada menos do que 23 mil votos. O eleitor está dando uma resposta ao Brasil em geral e à Revista Veja em particular. Mesmo antes de virem à tona as denúncias que limparam seu nome, eu já tinha lido uma entrevista dele para a revista gaúcha Press que me convenceu de que ele havia sido injustiçado. Embora em escala bem menor, eu sei o que é ver um circo armado contra a sua pessoa de forma tão oportunista e covarde que você não tem espaço para se defender. Ninguém devolve a Ibsen os anos de angústia que ele viveu. Que ele possa desfrutar desta redenção da melhor forma possível.
Tu e outros gauchismos
Todos sabem que o gaúcho prefere usar o "tu" em vez de "você". Mas, na linguagem falada, é raríssimo alguém conjugar corretamente a segunda pessoa do singular. Em geral o que se ouve é "tu fez", "tu foi", "tu comprou" e por aí vai. Eu próprio falo assim informalmente e, quando mando um e-mail a um amigo, fico em dúvida se escrevo certo ou como falaria. Às vezes prefiro usar o "você" na escrita para não errar nem soar muito formal. "És", por exemplo, é uma palavra que eu tenho uma dificuldade enorme de escrever. Minha mãe usava até na fala. Só não lembro se ela era certinha também para dizer os demais verbos.
E assim os gaúchos têm outras manias. A moeda no Rio Grande do Sul é sempre o "pila". E é tão imutável que nem para o plural vai: é um pila, dois "pila", três "pila"... Aliás, o plural do gaúcho tem peculiaridades estranhas. A tendência é dizer um dólar, dois "dólar", três "dólar", mas cem dólares são sempre cem dólares. Talvez seja um fenômeno chamado limiar de pluralidade. Só é acionado a partir de uma certa quantia.
A imprensa costuma transcrever falas e entrevistas corrigindo esses pequenos erros. Se aparecer escrito que o gaúcho disse "tu foste", "tu és", pode apostar que o que ele realmente falou foi "tu foi" e "tu é". Certa vez um garoto foi flagrado tentando roubar um carro. Na delegacia, consta que teria dito: "E aí doutor? Vou ter mais um arreglo?" Garanto que ele disse "arrego". O "l" foi "cortesia do editor", só faltou o carimbo. Pior é quando transcrevem errado. Tatata Pimentel, que é professor de Português, deve ter tido chiliques quando a saudosa revista Wonderful escreveu que ele teria dito "fostes" e "dissestes". Essa é a conjugação do "vós", não do "tu".
Quem da minha faixa etária nunca soltou um "te fraga" na sua vida? Ou melhor: "ti fraga", mesmo, pra ficar coerente com a pronúncia. Essa frase consegue ter mais erros do que palavras: colocação de pronome, ortografia e palavra inexistente. O certo seria: "flagra-te". Mas quem no Brasil consegue falar assim? Seria o mesmo que olhar bem fundo nos olhos da namorada e dizer: "Amo-te!" Que romântico.
Lembrei de tudo isso porque ontem, depois de votar, dei uma caminhada até o Brique da Redenção. Aí, ouvi um vendedor falar "tu comprou". Ao meu lado uma senhora murmurou pra si mesma, mas alto o suficiente para que eu ouvisse:
- Com-pras-te. Tu... com-pras-te.
Eu olhei para ela e comentei:
- Ah, mas ninguém fala assim.
Ela respondeu:
- É, mas é horrível quando tu ouve.
Não resisti. Falei na hora:
- Tu ou-ves!
Acho que ela se convenceu.
E assim os gaúchos têm outras manias. A moeda no Rio Grande do Sul é sempre o "pila". E é tão imutável que nem para o plural vai: é um pila, dois "pila", três "pila"... Aliás, o plural do gaúcho tem peculiaridades estranhas. A tendência é dizer um dólar, dois "dólar", três "dólar", mas cem dólares são sempre cem dólares. Talvez seja um fenômeno chamado limiar de pluralidade. Só é acionado a partir de uma certa quantia.
A imprensa costuma transcrever falas e entrevistas corrigindo esses pequenos erros. Se aparecer escrito que o gaúcho disse "tu foste", "tu és", pode apostar que o que ele realmente falou foi "tu foi" e "tu é". Certa vez um garoto foi flagrado tentando roubar um carro. Na delegacia, consta que teria dito: "E aí doutor? Vou ter mais um arreglo?" Garanto que ele disse "arrego". O "l" foi "cortesia do editor", só faltou o carimbo. Pior é quando transcrevem errado. Tatata Pimentel, que é professor de Português, deve ter tido chiliques quando a saudosa revista Wonderful escreveu que ele teria dito "fostes" e "dissestes". Essa é a conjugação do "vós", não do "tu".
Quem da minha faixa etária nunca soltou um "te fraga" na sua vida? Ou melhor: "ti fraga", mesmo, pra ficar coerente com a pronúncia. Essa frase consegue ter mais erros do que palavras: colocação de pronome, ortografia e palavra inexistente. O certo seria: "flagra-te". Mas quem no Brasil consegue falar assim? Seria o mesmo que olhar bem fundo nos olhos da namorada e dizer: "Amo-te!" Que romântico.
Lembrei de tudo isso porque ontem, depois de votar, dei uma caminhada até o Brique da Redenção. Aí, ouvi um vendedor falar "tu comprou". Ao meu lado uma senhora murmurou pra si mesma, mas alto o suficiente para que eu ouvisse:
- Com-pras-te. Tu... com-pras-te.
Eu olhei para ela e comentei:
- Ah, mas ninguém fala assim.
Ela respondeu:
- É, mas é horrível quando tu ouve.
Não resisti. Falei na hora:
- Tu ou-ves!
Acho que ela se convenceu.
domingo, outubro 03, 2004
Eleições
Chega a ser engraçado ver Raul Pont e José Fogaça dando suas primeiras declarações agora que já estão no segundo turno. Os dois estão cortejando seus ex-adversários da primeira fase. Neste exato momento Fogaça está falando e já disse que gostou da idéia de Vieira da Cunha de reimplantar os CIEPS/CIEMS, que era algo que sempre lhe chamava a atenção nos debates. E fez menções cordiais também a Mendes Ribeiro Filho, de quem se disse amigo de longa data. Já Pont afirmou que o único dos adversários que se mostrou hostil a ele no primeiro turno foi Onyx Lorenzoni. Vamos lá, está aberta a temporada de composições.
sábado, outubro 02, 2004
Eu li!
"Se você não está vendo o guri, é porque ele não está!"
(Cartaz afixado junto ao xerox em um setor interno da Caixa Econômica Federal, em Porto Alegre. Alguém deve ter enchido o saco de responder sempre à mesma pergunta: "O guri não está?")
(Cartaz afixado junto ao xerox em um setor interno da Caixa Econômica Federal, em Porto Alegre. Alguém deve ter enchido o saco de responder sempre à mesma pergunta: "O guri não está?")
sexta-feira, outubro 01, 2004
Relax
Vamos relaxar, pois acabou setembro, está acabando o expediente, está acabando a tarde, está acabando a semana e está acabando o dinheiro, também!
Compromisso
Existe uma cultura no Brasil que eu tenho dificuldade de aceitar, embora admita já tê-la usada a meu favor algumas vezes. É a idéia de que compromisso é um conceito relativo. Por exemplo, se alguém diz que vai aparecer na sua casa a tal hora, é desnecessário fazer a ressalva: "mas não é certo que eu vá". Isso está implícito. Se não perceber, azar o seu, pois já faz parte de nossos usos e costumes e você deveria saber. O sujeito simplesmente não vem e nem se preocupa em dar uma desculpa razoável. "Não deu pra ir." Pronto, está justificado! Que outra explicação você ainda quereria?
A questão é que muitas vezes – na maioria delas – você planeja os seus afazeres considerando que a outra pessoa vai honrar o que prometeu. A empregada ficou de vir na sexta? Você corre para levar as roupas à lavanderia a tempo de trazê-las de volta na quinta para que ela as engome na sexta. E se ela não vem? Invalida todo o seu esforço. E assim existem muitos casos. Quantas histórias a gente conhece de pessoas que fizeram plantão em apartamentos ainda não ocupados para esperar a chegada de móveis, fogões e geladeiras. Em vão. "Não deu pra ir", é o que a loja diz depois. E não adianta resmungar, ranger dentes, dizer que eles haviam prometido a entrega para aquele local e horário. A resposta será: "Sim, eu sei. Mas já disse que não deu pra ir. O que o senhor quer que eu faça?" A lógica é simples assim.
É isto que o brasileiro teima em não aprender: se cada um fizer corretamente a sua parte, todos sairão ganhando. O sistema como um todo funcionará melhor. Não, cada engrenagem quer ser mais esperta do que a outra. Fiquei impressionado ao descobrir que, em livros sobre o Brasil para estrangeiros, ensina-se que a etiqueta brasileira manda chegar sempre depois do horário marcado. Lembro da surpresa de dois australianos especialistas em aparelhos para surdez que tinham uma palestra em Porto Alegre marcada para as sete da noite. Chegada a hora, o salão estava vazio. Levou pouco mais de meia-hora para encher, mesmo assim eles não entenderam. Se o horário era sete da noite, por que o público chegou às sete e meia? Para eles, não fazia sentido.
Mas há luz no fim do túnel. A criação do Código do Consumidor, que tanta polêmica causou em 1990, conseguiu mudar muita coisa para melhor. Também algumas leis e normas que antes só existiam pra bonito agora estão sendo realmente aplicadas. Ainda custo a crer que as pessoas estão mesmo deixando de fumar em shoppings. Aos poucos as coisas vão mudando. Mas eu não tenho muita paciência.
Antes de encerrar este texto, dei mais um telefonema para minha casa e constatei: a faxineira chegou! Espero que atenda o meu pedido de não deixar o ambiente com cheiro de cigarro.
A questão é que muitas vezes – na maioria delas – você planeja os seus afazeres considerando que a outra pessoa vai honrar o que prometeu. A empregada ficou de vir na sexta? Você corre para levar as roupas à lavanderia a tempo de trazê-las de volta na quinta para que ela as engome na sexta. E se ela não vem? Invalida todo o seu esforço. E assim existem muitos casos. Quantas histórias a gente conhece de pessoas que fizeram plantão em apartamentos ainda não ocupados para esperar a chegada de móveis, fogões e geladeiras. Em vão. "Não deu pra ir", é o que a loja diz depois. E não adianta resmungar, ranger dentes, dizer que eles haviam prometido a entrega para aquele local e horário. A resposta será: "Sim, eu sei. Mas já disse que não deu pra ir. O que o senhor quer que eu faça?" A lógica é simples assim.
É isto que o brasileiro teima em não aprender: se cada um fizer corretamente a sua parte, todos sairão ganhando. O sistema como um todo funcionará melhor. Não, cada engrenagem quer ser mais esperta do que a outra. Fiquei impressionado ao descobrir que, em livros sobre o Brasil para estrangeiros, ensina-se que a etiqueta brasileira manda chegar sempre depois do horário marcado. Lembro da surpresa de dois australianos especialistas em aparelhos para surdez que tinham uma palestra em Porto Alegre marcada para as sete da noite. Chegada a hora, o salão estava vazio. Levou pouco mais de meia-hora para encher, mesmo assim eles não entenderam. Se o horário era sete da noite, por que o público chegou às sete e meia? Para eles, não fazia sentido.
Mas há luz no fim do túnel. A criação do Código do Consumidor, que tanta polêmica causou em 1990, conseguiu mudar muita coisa para melhor. Também algumas leis e normas que antes só existiam pra bonito agora estão sendo realmente aplicadas. Ainda custo a crer que as pessoas estão mesmo deixando de fumar em shoppings. Aos poucos as coisas vão mudando. Mas eu não tenho muita paciência.
Antes de encerrar este texto, dei mais um telefonema para minha casa e constatei: a faxineira chegou! Espero que atenda o meu pedido de não deixar o ambiente com cheiro de cigarro.
Não quero celular!
As pessoas me perguntam quando vou ter celular. Se pelo telefone normal só me vem incomodação eu ainda vou permitir que me perturbem quando estou caminhando na rua? Andando de ônibus? Almoçando ou jantando com amigos? Na fila do cinema? Andando de carro? Viajando de férias? O celular roubou completamente dos indivíduos o direito de "não estar". Agora você sempre "está". Se não atender o celular, está sendo indelicado. Se desligá-lo, está evitando alguém propositalmente. Por tudo isso é que eu não uso celular, não quero usar e tenho raiva de quem usa!