O sul
Talvez os gaúchos não gostem de ser um mero ponto cardeal. "O sul" é muito vago. Inclui Paraná e Santa Catarina. Já incluiu São Paulo, há muito tempo. Na Copa de 1990, depois da primeira vitória do Brasil, a Globo mostrou a festa em várias cidades. Em Porto Alegre apareceu um sujeito dizendo: "Aqui no sul é tudo alegria!" Era o Carioca, proprietário de uma saudosa locadora de CDs. Se fosse gaúcho, provavelmente não falaria dessa forma. Assim também, o radialista Luís Antônio Mello tinha um programa na Rádio Ipanema FM que ele enviava do Rio de Janeiro por fita, MD ou CD. Na hora dos comerciais ele sempre alertava: "Atenção operador do sul..."
O gaúcho é bairrista assumido, tem orgulho de sua terra, mas se mostra refratário a uma identidade, digamos, sulista. Ah, eis outro termo pouco usado, também. O nordestino se diz nordestino, o nortista faz questão de dizer que é nortista (até para não ser confundido com nordestino), mas o sulista não se diz sulista. Aliás, sempre que lembro dessa palavra, "ouço-a" com chiado no segundo "s". Não é sulista, é "sulichta". Pois quase sempre é alguém de fora que a pronuncia. Kleiton & Kledir tentaram tornar-se porta-vozes da região sul ao gravar "Tudo Por Água Abaixo", sobre as enchentes em Santa Catarina. Mas foi um caso isolado.
Até mesmo ao falar-se o nome do estado a palavra "sul" é esquecida às vezes. Rio Grande é a cidade, mas "o" Rio Grande é o estado, o que alguns consideram um desrespeito ao Rio Grande do Norte. Será que os gaúchos se imaginam o centro do mundo? É um mistério a ser desvendado pelos antropólogos de plantão.
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