domingo, outubro 17, 2004

O reencontro de seqüestrador e seqüestrado

Até que está valendo a pena voltar a ver televisão. Acabei de assistir ao reencontro de Alexandre Moeller com um de seus seqüestradores, João Ubiratan, hoje proprietário de uma colônia de naturismo em Taquara. Alexandre, como não poderia deixar de ser, é empresário no ramo de motos, que sempre foi sua paixão.

Eu lembro bem de tudo o que foi noticiado há 30 anos. Fiquei bastante impressionado, entre outras coisas porque havia conhecido Alexandre pessoalmente no ano anterior. Meu irmão era amigo de seu pai, Getúlio Moeller, e um dia me levou junto para um churrasco na casa dele, na Avenida Bagé. Alexandre era um garoto bastante simples e sociável, me recebeu bem e logo eu estava brincando com ele e seus amigos. Tínhamos a mesma idade, 12 anos, e descobrimos que, por casualidade, eu fazia aniversário um dia antes dele. Ali poderia ter nascido uma amizade, já que ele próprio me convidou para que voltasse à sua casa. Mas morávamos longe e acabamos não nos falando mais. Chamou-me a atenção que estava presente ao churrasco também o jornalista Paulo San'tana, amigo da família Moeller. Por isso, não foi surpresa para mim que tenha sido ele a entrevistar Alexandre após o seqüestro.

A RBS preservou o nome dos seqüestradores em suas retrospectivas, mas eu me recordo de quase todos. Lembro também dos depoimentos de Alexandre e dos criminosos depois que foram capturados, das entrevistas na TV, Alexandre dizendo candidamente "eles me ofereciam comida, mas eu não me alimentava".


Não entendi bem por que João Ubiratan resolveu se desculpar 30 anos depois. Vejo que não há maldade em seus olhos, mas a forma descontraída com que se manifestou me faz desconfiar de que, junto com o pedido de desculpas, haja um pouquinho de autopromoção. Como se quisesse sair do anonimato e resgatar um pouco da notoriedade que o fato lhe trouxe, na época. De qualquer maneira, o modo tranqüilo e sereno com que Alexandre apertou sua mão, aceitou as desculpas e concluiu dizendo "que tu vivas em paz" me convenceu de que ao menos o perdão foi sincero. E como não seria, vindo de um sagitariano de boa safra.