Com os dois pés
Uma amiga de Facebook que é escritora em São Paulo e é uma das pessoas mais sensatas e ponderadas que já encontrei nas redes sociais entende que o comercial das Havaianas "não era contra a direita, mas contra a polarização", pregando "união, todo mundo junto". Afinal, ele diz que devemos entrar o ano novo "com os dois pés". Com o devido respeito, acho que não foi essa a intenção, mas esta postagem não é para contestar essa ou aquela interpretação. Digamos que ela tocou num assunto que eu abordo de vez em quando aqui no Blog: o meu sonho de que possamos voltar a ser eleitores civilizados, votando, respeitando o resultado da eleição e seguindo todos em paz.
Ao menos entre as pessoas com quem convivo, já foi assim. Hoje revejo fotos de encontros de amigos realizados antes de 2013 e lamento que os grupos estejam desfeitos. Naquele tempo, não conversávamos sobre política. Evitávamos o assunto não por autocensura, presumo, mas por respeito. O voto de cada um era algo muito pessoal. O problema foi quando o "vem pra rua" resolveu levar para as praças o que já estava decidido na urna. E aquilo foi só o começo. O Facebook fomentou as animosidades, seguiram-se acontecimentos questionáveis que alguns comemoraram, outros lamentaram, e o resultado é que o povo está dividido.
Para complicar as coisas, 2026 será um ano de eleição presidencial. Eu lembro que me entusiasmava com a perspectiva de votar e agora fico apreensivo. Acompanhei a luta pela volta das eleições diretas e hoje vejo que nem todos sabem aceitar a democracia. Talvez a direita argumente que o primeiro passo para um "tratado de paz" entre os dois lados seria anistiar os arruaceiros de 8 de janeiro de 2023. Não acho uma boa saída. O Brasil precisa acabar de uma vez por todas com sua tradição golpista e isso não se conseguirá com impunidade. Quanto à revisão das penas, é tarefa para os advogados de defesa.
Por fim, convido os leitores do Blog a reler (ou ler pela primeira vez, conforme o caso) o que publiquei aqui em 3 de outubro de 2023. Naquele texto, citei um trecho do livro "Democracia em Crise no Brasil", de Cláudio Pereira de Souza Neto, que foi escrito bem antes do episódio de 8 de janeiro. Em vez de transcrever novamente, darei o link ao final.
Sei que é difícil, mas seria ótimo se pudéssemos ao menos terminar o ano de 2026 com os dois pés. Feliz Ano Novo!
Aqui, o link: Democracia em crise


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