quinta-feira, novembro 30, 2006

Farta distribuição de amor

Uma amiga do Orkut acaba de enviar uma mensagem geral com o título "Amigos, olhem que decepção". Ela tem o hábito de, periodicamente, remeter aquelas mensagens de amor e carinho, de forma indiscriminada, a todos os perfis de sua lista. Não é só ela, como todos sabemos. Isso é uma mania do Orkut. Muitas vezes me perguntei se era só eu que achava isso totalmente desnecessário, um desperdício absoluto do potencial do Orkut e da Internet. As verdadeiras manifestações de apreço vêm de amigos da vida real, ou no mínimo alguém com quem já tenhamos um contato maior. E, de preferência, escritas especialmente para cada um. Isso, sim, é uma mensagem que dá aquele calorzinho no peito, aquela sensação de que alguém realmente gosta da gente.

No caso, o recado que tanto magoou a Orkuteira foi o seguinte:

Não seria melhor renovar? Palavras "bonitas" escritas pra todo mundo e chamando todo mundo de meu amigo querido e meu amor não seria um tanto estranho ?

Resumidamente, o comentário que ela acrescentou foi este:

Quanta indelicadeza! Não sei o que ele gostaria de receber. Preferiria ser ignorado, talvez? Fui na página dele e apaguei todos os scraps. E constatei que só recebia de mim, não existiam outros amigos diários. Sentirá minha falta, não acham?

De fato, a mensagem que ela recebeu foi num tom desnecessariamente grosseiro. Parece o desabafo de alguém que não agüenta mais ler textos escritos de forma totalmente impessoal, sem qualquer informação relevante. O que ele gostaria de receber? Isso eu sei: mensagens escritas só para ele. Em que cada palavra tenha sido escolhida para ele, pensando nele ou tratando de algum assunto que possa interessar a ele. Eu, por exemplo, já tive até que dar explicações por causa de um recado dizendo "obrigado por existir, você é especial na minha vida" vindo de alguém que nunca trocou sequer um e-mail particular comigo.

Então ele não tem outros "amigos diários". E ela parece dizer isso com desdém, como se ele fosse um cara desamado, solitário, rejeitado, só porque mais ninguém entope o mural dele com mensagens de amor tipo "metralhadora giratória". Talvez os outros amigos já o conheçam e saibam o que ele gosta de ler. E é possível, também, que a mesma mensagem que tanto magoou essa internauta em particular já tenha sido enviada a outros, que entenderam e pararam de mandar textos de auto-ajuda.

Por fim, será mesmo que ele vai sentir falta dela? Vai pensar que ela não o ama mais? "Foi alguma coisa que eu disse?" A verdade é que essas mensagens que "espalham amor" não acrescentam absolutamente nada. Amor de verdade não é um sentimento banal que se envie por carta circular. Por que, então, não passar os verdadeiros amigos em revista? Ligar para eles, ou mesmo enviar um e-mail personalizado? Aí, sim, estaríamos mantendo laços realmente válidos. "Amigos diários" são aqueles que nos conquistam por afinidade, não os que batem o ponto clicando no botão "enviar para todos" regularmente. A decepção dessa moça prova que ela ainda não percebeu isso. Tirando a agressividade, entendo perfeitamente a reação do rapaz. E concordo com ele.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Abismo cultural

Nos Estados Unidos, a edição especial do filme "The Abyss" traz um recurso interessantíssimo no DVD 1: a possibilidade de escolher entre a versão original de cinema, com 145 minutos, ou a edição estendida, com 28 minutos a mais. Já no DVD "O Segredo do Abismo", lançado no mercado nacional, algum "índio do Brasil" decidiu por mim que eu não iria me interessar em conhecer a edição mais curta, para poder comparar. Assim, só a edição mais longa pode ser reproduzida. O mais patético é o menu, que contém uma seta que teoricamente levaria a "mais opções", mas não consegue ser acessada. E se você clica em "Selecionar Áudio", a opção é uma só: inglês 5:1. É bom que os DVDs estrangeiros saiam no Brasil. Infelizmente, às vezes passam pelo gargalo das cabeças estreitas que resolvem por mim o que eu vou e o que eu não vou querer olhar. E não é o primeiro caso.


No menu da edição brasileira, a seta só aparece de enfeite

Que seleção de áudio você prefere, inglês 5.1 surround ou...?????

Ganhar bem é pecado

Eu sei que o Brasil é um país de injustiças sociais, disparidades, gente passando fome, blá blá blá. Mas sempre achei exagerada essa gana da imprensa contra quem ganha bem. No Brasil, ganhar bem é um acinte, é politicamente incorreto, é pecado, é falta de pudor. Onde já se viu, com tanta miséria por aí, um brasileiro ter dois carros? Morar numa mansão? Ter empregados? Comer do bom e do melhor, viajar para o exterior, comprar computadores e equipamentos de som e vídeo? Se for simpatizante do PT, então, aí mesmo é que ninguém perdoa. Petista tem que fazer voto de pobreza!

A questão dos supersalários do judiciário até é diferente, pois envolve teto salarial definido pela Constituição. Mesmo assim, há brechas legais. Mas isso me faz recordar de outras vezes em que o assunto dos "marajás" foi abordado com o mesmo estardalhaço. Lembro de um militar que estava entrando na Justiça para, segundo suas próprias palavras, "manter seu padrãozinho de vida". Mas como o "padrãozinho" era de dar inveja a qualquer assalariado brasileiro médio, claro que a reação do público foi de indignação. Pouco importa que tenha sido conquistado honestamente, com trabalho, dentro das regras normais de ascensão. Repito: ganhar bem, no Brasil, é pecado.

Certa revista de circulação nacional adora implicar com os abastados. Há muitos anos, fez uma matéria sobre os "novos ricos", debochando de empresários honestos, os quais ainda posaram sorridentes para a fotografia, sem saber o enfoque que a reportagem iria dar. Em outra ocasião, ironizou quem faz uso de helicóptero em São Paulo. Também já dedicou meia página para expor uma bancária que ganhava uma remuneração razoável só para cuidar de uma pinacoteca. Os donos da revista devem ser paupérrimos!

Meus pais não ganhavam mal, mas milionários, nunca foram. Passaram dificuldades financeiras no começo do casamento. Cresceram por méritos próprios. Eu ralo para pagar minhas contas, mas não abro mão de meus livros, CDs e DVDs. Moro num apartamento pequeno alugado. Mas não tenho nada contra os ricos. Pelo contrário: admiro-os tanto que um dia hei de ser como eles. Vou viver num palacete que terá um home theater instalado numa sala de projeção. Além do DVD, terei também projetores de cinema e filmes. Em outra sala, haverá uma biblioteca. Terei dois ou três computadores de última geração. Além de máquinas fotográficas dos mais diversos tipos, digitais ou analógicas. Uma enorme sala só para o meu filho, com tudo de que ele gosta. Viajarei ao exterior no mínimo uma vez por ano. E quando esse dia chegar, não quero saber da imprensa vindo me expor como marajá, como novo rico, como sei lá o quê. Deixem-me comer o meu caviar em paz!

terça-feira, novembro 28, 2006

Coerência nas informações

Hoje liguei para saber quando iria ficar pronta a minha carteira da FENAJ. A resposta do Sindicato dos Jornalistas do RS foi a mesma da última vez em que perguntei, há duas semanas. Que por sua vez foi a mesma da penúltima, há cerca de um mês. Não posso acusá-los de incoerência, pois em momento algum houve divergência nas informações. Estão apenas repassando o que lhes foi dito de Brasília.

A resposta é sempre a mesma: "quinta-feira".

sábado, novembro 25, 2006

Minha irmã na TV

Viram minha irmã na TV, no comercial do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS? Pois vejam aqui, via YouTube.

Os cata-ventos

Quem me conhece sabe o quanto eu sou obcecado por gramática e ortografia. Encontrar erros em textos alheios é algo que, dependendo do contexto, pode me irritar ou divertir. Achar erros em meus próprios textos é sempre frustrante, mas ninguém é perfeito.

No entanto, há certos tipos de erros que, conquanto não sejam necessariamente aceitáveis, seriam, digamos, perdoáveis. Ou no mínimo compreensíveis. Quantas pessoas sabem que "implicar" é verbo transitivo direto e não indireto? Em outras palavras, que não se diz "implica em", apenas "implica", sem preposição? Quem na prática observa a diferença entre "em vez de" (em substituição a) e "ao invés de" (ao contrário de)? A rigor, o singular de "caracteres" é "caráter", mas o uso já consagrou "caractere". "Visar" no sentido de "ter o objetivo de" é sucedido da preposição "a". Quantos a colocam? Quem pronuncia corretamente palavras como intuito e circuito, com ditongos decrescentes e não crescentes (que, se assim fossem, precisariam de acento agudo no "i")? Já me disseram que "buquê" só se usa para vinho tinto, enquanto o vinho branco tem "frutada", mas nunca pesquisei para confirmar.

Antes de prosseguir, quero reiterar que não considero nenhum desses erros aceitáveis. O que eu quero dizer é que, se alguém os comete, não me transmite necessariamente uma imagem de pessoa ignorante ou despreparada.

Em geral, a época em que começamos a atentar para esses detalhes é quando nos preparamos para o vestibular ou algum outro concurso. Comigo não foi diferente. Sempre gostei de português, mas foi no terceiro ano do segundo grau, tanto no colégio quanto no cursinho, que aproveitei para tirar todas as minhas dúvidas e "afiar" o meu uso da linguagem. Mas o aprendizado é constante. Faz pouco tempo que aprendi, por exemplo, que "ressuscitar" se escreve assim, com "sc".

Alguns alunos, quando descobrem certos detalhes de ortografia e gramática que desconheciam, ficam verdadeiramente fascinados. E aí, passam a observar quando encontram deslizes que antes lhes passavam despercebidos. Uma integrante do Orkut quis saber por que o primeiro livro de Mario Quintana se chamou "Rua dos Cataventos" e não "Cata-ventos", como seria o correto. "Por que será que ele colocou no poema sem hífen? Precisava saber se ele falou sobre isso em alguma entrevista", indagou, preocupadíssima, a jovem estudante. Aí, começaram as especulações. Reforma ortográfica, talvez? Não, não foi o caso. Um dos participantes da discussão sentenciou:

Gente! Na poesia a gramática está subvertida ao poeta. Se fosse um livro de prosa, seria um erro.

Ah, sim: a famosa licença poética. Por que não? Seria uma explicação tentadora para justificar o que parece ser um erro cometido pelo grande poeta. No entanto, não é o que me pareceu. E expus minha opinião:

Para Quintana, isso não representava nada, provavelmente. Deve ter morrido sem saber que errou a grafia da palavra. E se alguém lhe avisou, deve ter dito "ah, mas eu acho mais bonito assim" e esqueceu o assunto. Claro que, para quem estuda para vestibulares e concursos, é importante saber que palavras compostas em que a primeira é um verbo sempre têm hífen. Inclusive, há uma explicação bem divertida para "vaga-lume". É que esse "vaga" na verdade não vem de "vagar", vem de "*agar", mesmo, "*agar luz". Daí o hífen. Mas esse é um erro tão comum que provavelmente só é notado por professores de português e alunos mais aplicados. Sem querer iniciar uma discussão acadêmica, não acho que seja uma "licença poética". Quintana errou, mesmo. Mas foi um erro perdoável.

No fundo, quando escrevi que não queria iniciar uma discussão acadêmica, devia saber que era isso mesmo que iria provocar. Ora, Quintana errando? Quem sou eu para dizer isso? A resposta não tardou (acompanhada de um e-mail para que eu não deixasse de lê-la):

"Quintana errou" ? Caro Emílio, para algo que viria a ser o título de sua obra publicada em 1940 (escrito na capa do livro), duvido muito que tenha sido um erro. Ao contrário do que muitos pensam devido a simplicidade de seus versos, Quintana não era nenhum leigo em relação a gramática. Inclusive a partir de 1934, Quintana traduziu livros de diversos escritores estrangeiros como Fred Marsyat, Voltaire, Virginia Woolf, Papini, Maupassant e, até mesmo, Marcel Proust. Algumas dessas traduções obtiveram tanto sucesso que continuam sendo reeditadas. Ele trabalhou traduzindo obras para o português até perto de morrer. Sinceramente, prefiro ficar com a opção de licença poética.

Da forma como essa resposta foi redigida, até parece que eu não conheço a biografia de Quintana. Ou que não sei o que é licença poética. Quintana usou-a diversas vezes. Ele gostava, por exemplo, de subverter as normas de pontuação, iniciando palavra com letra minúscula após um ponto de exclamação:

"Ah! sim, um lepidóptero!"

"- Mas há as compreensivas...
- Ah! essas são muito piores!"

Já percebi que mexi com um vespeiro ao questionar a infalibilidade de Mario Quintana. E é, sim, uma discussão acadêmica. Mas já que eu a iniciei, não vou abandoná-la. A grafia correta de "cata-ventos" me parece um segredo tão bem guardado entre gramáticos e concorrentes ao vestibular que eu continuo achando que Quintana errou, mesmo. Aliás, o uso do hífen é o que mais confunde até mesmo os bons escritores. Enfim, fui sutilmente considerado ignorante por ousar dizer que o grande Quintana, o infalível Quintana, o perfeito Quintana, escreveu "Cataventos" por desconhecimento e não por licença poética. Mas é o que eu penso.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Visitantes

Hoje, como raramente faço, abri a janela e tive duas visitas inesperadas no meu apartamento. Passaram pelas quatro peças - sala, cozinha, quarto e banheiro, nessa ordem - e acabaram escapando pela saída mais difícil, que foi uma estreita fresta da janela do banheiro.






Isso me lembra uma letra que eu fiz aos 20 anos, meio de brincadeira, e que acabou sendo musicada por meu amigo Wylmar Netto. Até que ficou um rockzinho bem legal:

Mais belo que o vôo de um pássaro
Somente o vôo de dois pássaros
É a coisa mais linda que já se viu
Piu piu, piu piu

Vejam só a beleza da cena
Brilhante até a última pena
Se quiser esquecer coisa triste
Basta encher o seu quarto de alpiste

Pinta o tal do colibri
Pinta o som do bem-te-vi
Pinta o pinto, tri doidão
E até pintarroxo e azulão

terça-feira, novembro 21, 2006

Fotos

Hoje fui procurar umas fotos que pensei que encontraria fácil, mas não apareceram. Em compensação, aproveitei para digitalizar outras. Como será daqui para a frente, com fotos digitais? Será que elas se preservarão? Ou escutaremos conversas do tipo "eu tinha montes de fotos do meu filho, mas estavam no HD que deu problema e perdi tudo". Ou então: "Eu tenho fotos do meu casamento, mas sei lá onde foi parar o CD em que elas estavam salvas, outra hora eu vejo." Acho que vou virar um chato defensor da fotografia analógica. A digital realmente não está me seduzindo.

Houve uma época em que eu me punha a tirar fotos noturnas feito criança que descobriu um brinquedo novo. Estas não são as melhores (as melhores estão em slides, alguém ainda lembra o que é isso?), mas aí vão. As duas primeiras são de Capão da Canoa:




Esta é da parada de ônibus em frente ao prédio onde eu morava, na Avenida Erico Verissimo:


Por fim, duas fotos em preto e branco da Avenida Mauá, antes do muro, quando ainda tinha duas mãos. Muito antes de aprender números relativos, eu ficava na sacada contando os carros que seguiam num sentido e "descontando" os que vinham no sentido contrário.



Infelizmente, acho que não vou conseguir localizar a tempo as fotos que eu queria. Foram tiradas há 30 anos em Brasília, durante um desfile de gaúchos a cavalo na Capital Federal. Não lembro da data exata, mas breve deve aparecer na seção "Há 30 anos em ZH", da Zero Hora. Eu estava lá. Tinha 15 anos.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Aos amigos

Já faz algum tempo que venho recebendo mensagens via Orkut dizendo algo assim: "Quando receber esta mensagem, reenvie-a para todos com quem você quer manter sua amizade no Orkut. Se você não enviar para alguém, significa que não quer mais essa pessoa como sua amiga." Nunca repassei, nem vou repassar essa mensagem. Mas não porque não queira continuar amigo de A ou B. Simplesmente porque é a coisa mais ridícula que já recebi. Então não foi suficiente aceitar ou convidar alguém para amigo? Não basta o nome estar lá na minha lista? Eu tenho que reiterar minha intenção de amizade repassando uma mensagem inócua e imotivada? Pior é que tem gente que se sente desprezada se não receber piadinhas ou mensagens de auto-ajuda dos amigos do Orkut. Reclama, diz que "não adicionou só para fazer número". Já eu não adiciono só para fazer número na minha lista de e-mails inúteis.

Eu quero continuar amigo de todos vocês. Inclusive daqueles que sabem que são meus amigos mesmo não estando "adicionados" no Orkut. Mas não me peçam para repassar bobagens adiante, por favor.

Não-ficção escrita por prazer

É curioso que dois escritores brasileiros, quase ao mesmo tempo, tenham decidido abordar tragédias históricas acontecidas no estrangeiro. Por que Sérgio Faraco, com sua extensa obra de contos e romances, quis pesquisar justamente o repisado naufrágio do Titanic? E o que levou Ivan Sant'anna, autor do elogiado "Caixa Preta", sobre três incidentes aéreos no Brasil, a escrever sobre os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos? E, acima de tudo, o que esses dois autores nacionais têm a acrescentar sobre eventos que já foram exaustivamente esmiuçados por pesquisadores mais próximos das fontes? O que se conclui é que os livros foram escritos para satisfação pessoal. Não importa que os temas sejam batidos e o mercado esteja saturado de literatura a respeito: Faraco e Sant'anna se permitiram mergulhar em assuntos que os fascinavam, por puro prazer.

A assinatura de Sérgio Faraco levaria a supor que "O Crepúsculo da Arrogância" seria a história do Titanic contada em forma de romance. Errado. Pelo contrário, o escritor gaúcho apresenta uma cronologia bem objetiva, com horário e uma breve descrição dos principais acontecimentos. Não é o primeiro trabalho de pesquisa histórica de Faraco. Sua incursão mais polêmica nesse território foi "Tiradentes, a Alguma Verdade (Ainda Que Tardia)", cujo teor está hoje inserido em "Histórias Dentro da História". Mas o que surpreende em "O Crepúsculo da Arrogância", além do tema escolhido, é o formato simples e itemizado da narrativa. O resultado é um volume enxuto e rico em informações. O autor conseguiu condensar em pouco mais de duzentas páginas todos os dados disponíveis sobre o naufrágio, chegando a incluir uma lista dos sobreviventes por bote.

Já Ivan Sant'anna admite na introdução de "Plano de Ataque" que sua idéia para o livro foi recebida com mensagens desencorajadoras. Mas ele se confessa um entusiasta na pesquisa sobre desastres famosos, "talvez por um sadismo atávico". Seus leitores lhe pediam que voltasse a escrever sobre incidentes aéreos, mas ele não encontrava nenhum tão eletrizante quanto os que já havia narrado em "Caixa Preta". Até que aconteceu o 11 de setembro. A exemplo de Faraco, Sant'anna valeu-se de documentos e fontes preexistentes, embora tenha também feito diversas entrevistas nos Estados Unidos. "Plano de Ataque" vem a ser uma obra bastante esclarecedora não só sobre os atentados mas também sobre o planejamento que se estendeu durante anos até culminar em Washington e Nova York.

Dificilmente Sérgio Faraco e Ivan Sant'anna terão revelado algum fato ou aspecto inédito em seus livros. Mas conseguiram reunir num só lugar um conjunto de informações bem selecionadas, sem divagar ou emitir juízo de valor. Para quem nunca leu nada sobre os respectivos assuntos, são obras recomendadas, por sua abrangência e síntese.
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Em tempo: estou contando os dias para o lançamento de "Roberto Carlos em Detalhes", de Paulo César Araújo, em 30/11. Com 450 páginas, do mesmo autor do excelente "Eu Não Sou Cachorro Não", o livro promete.

domingo, novembro 19, 2006

A magia do cinema

Fui ao cinema pela primeira vez na praia de Arroio do Sal. Minha mãe tinha explicado que era como uma televisão bem grande. Lembro bem que entramos e nos sentamos nas cadeiras de palha. Antes de a sessão começar, eu apontei para o banheiro e perguntei: "É ali?" Ora, a porta era bem maior do que uma tela de TV! Eu estava procurando a "televisão bem grande" e não encontrava nada. Jamais iria adivinhar que o filme iria ser projetado naquela enorme parede à nossa frente. Era um filme de guerra, lembro de um jipe que aparecia em uma cena. Mas acabei saindo antes, com minha irmã. Meus pais ficaram.

Durante anos eu tentei entender como aquela imagem aparecia na tela. Minha mãe me explicou, mas o conceito de projeção através de transparência era complexo demais para mim. Às vezes eu olhava para o facho, via uns grãos de poeira e imaginava que era um "pozinho" que era jogado na tela para formar a imagem. Mais tarde eu teria meus próprios projetores Super-8 e entenderia bem o funcionamento.

No entanto, uma idéia errada que eu conservei por algum tempo é a de que os filmes eram produzidos artificialmente, sem necessidade de atores encenando. Ou seja, se alguém quisesse, poderia colocar a mim ou qualquer outra pessoa num filme sem que eu soubesse. Depois, de surpresa, a pessoa se veria na tela, representando cenas que nunca encenou na vida real. Não me preocupava em saber como essa "mágica" era feita, mas achava que era assim que acontecia.

Pois ontem, assistindo aos extras do DVD "Superman, o Retorno", lembrei de minha fantasia de infância. Um dos trechos mais interessantes é o que mostra como foram usadas imagens de Marlon Brando para reviver o papel de Jor-El, pai de Super-Homem. O processo por computador é bem complexo e meticuloso, mas ao final, Brando aparece dizendo coisas que nunca falou em vida. Sua imagem foi manipulada de uma forma mais ou menos parecida com a que eu imaginava que era usada para fazer filmes, quando criança. A rigor, não foi o primeiro caso: Richard Nixon e John Lennon ganharam novas falas em "Forrest Gump".

Talvez um dia os filmes possam ser feitos como eu pensava que fossem na infância, com imagens realistas, mas criadas artificialmente, sem envolvimento direto dos atores. Mais cedo ou mais tarde, com a devida autorização dos herdeiros, alguém há de juntar num mesmo filme vários atores já falecidos para uma superprodução.

sábado, novembro 18, 2006

Notícias atrasadas do Orkut

No fim, acabei não contando uma novidade que agora já está mais do que ultrapassada: o "moderador fantasma" foi excluído do Orkut. Isso aconteceu no dia 5 de outubro. Um sujeitinho com perfil de americano tinha-se apoderado de 77 comunidades abandonadas do Orkut, mas não fazia nada por elas. Dava pena ver gente entrando no mural dele para dizer apenas: "Parabéns por sua comunidade!" Eu só lia e pensava: qual das 77? Só que ele parecia estar afastado, totalmente omisso. Algumas pessoas não se davam conta da situação e pediam com educação: "Você deve estar ocupado, então se importaria de passar a comunidade tal para mim?" Eu tentei alertar uns e outros, mas era difícil convencer a turma.

O mais complicado para mim é ter que admitir que essa vitória contra o "moderador fantasma" se deve principalmente aos gremistas. Logo eles! Mas foi isso mesmo. O "moderador fantasma" ressurgiu das cinzas e se apoderou da maior comunidade do Grêmio no Orkut. E já saiu impondo a ditadura, expulsando membros a torto e a direito. Mais uma vez, houve quem não entendesse o que estava acontecendo e aparecesse no mural dele para pedir explicações: "Por que você me expulsou, eu não fiz nada!" Outros, com complexo de culpa, imploravam: "Me aceita de novo, por favor, prometo me comportar!" As primeiras mensagens de alerta de que a comunidade tinha sido roubada foram recebidas com desconfiança. Muitos acharam que fosse "intriga da oposição". Felizmente, dessa vez o trabalho de conscientização foi mais rápido. Ainda levou um tempo, mas no dia 5 de outubro o perfil dele foi excluído. E as comunidades que estavam sob o poder dele foram repassadas a uma equipe de "interventores".

Infelizmente, foi tarde para salvar a comunidade "Mario Quintana". Ela ainda está lá e com certeza os novos moderadores estão bem intencionados. Mas os jogos tomaram conta. Seria até falta de tato simplesmente apagar os tópicos que estão dando mais ibope. Um dos benefícios de recolocar a comunidade em boas mãos foi que o "O verdadeiro Mario Quintana" foi incluída nas relacionadas. E os mediadores são simpáticos à comunidade, mesmo sabendo que, de certa forma, é uma rival. Se a comunidade "Mario Quintana", hoje com mais de 100 mil integrantes, tivesse sido resgatada há um ou dois anos, talvez ainda houvesse tempo de recolocá-la no rumo certo. Hoje ela permanece como um espaço livre para jogos e amizades. Até Quintana se discute de vez em quando, mas sempre com aquele problema dos textos falsos.

Fica aqui mais uma vez o convite para os que gostam de Mario Quintana para que apareçam na comunidade "
O verdadeiro Mario Quintana". É um espaço sério onde só se discute Quintana. Textos que não sejam dele são apagados e o integrante que o postou é devidamente esclarecido em seu mural. Aproveito para lembrar também de outras comunidades que de vez em quando alguém descobre e reaviva seus tópicos. "Porto Alegre do passado", para matar a saudade de alguma coisa do passado da capital gaúcha. Pode ser até do ano passado, não importa. "Rádio Continental 1120 – Anos 70", para resgatar a história dessa rádio antológica e tão importante. "Colégio Estadual Pio XII –RS", para quem estudou no colégio que funcionava no mesmo prédio do Paula Soares até o começo dos anos 80. "Revista Pop", para quem lia essa publicação que marcou época entre os jovens dos anos 70. Por sinal, apareceu por lá a Samia, que foi modelo da Pop e hoje é avó (mas continua bonita). Que experiência incrível fazer contato virtual com ídolos de adolescência que pareciam inatingíveis. A televisão prometeu uma aldeia global, mas a Internet é que nos deu essa maravilha.

quarta-feira, novembro 15, 2006

De volta às ruas

Meu recesso de nove meses sem dirigir não foi premeditado. Primeiro venceu minha carteira. Depois o IPVA. E eu, que moro (relativamente) perto do meu trabalho, fui empurrando os compromissos com a barriga. Como não sou exatamente fanático pela direção, não senti nenhuma urgência de providenciar a renovação da carteira. Além disso, eu queria fazer a prova, mas nunca me considerava preparado. Quando me dei conta, o carro havia sido abandonado pelo período de uma gestação. Eu já estava me preparando psicologicamente para gastar com bateria nova e revisão do motor.

Uma noite dessas, sonhei que peguei o carro e saí andando normalmente, sem qualquer problema. Já contei aqui que resolvi fazer um teste e tentar ligá-lo. Para minha surpresa, o motor acabou pegando. Eu já sabia que conseguiria pelo menos descer a rampa com ele. Minha idéia era mandar lavá-lo, trocar o óleo e o filtro. Depois disso, levá-lo para uma revisão. Mas, depois de pôr em prática a primeira etapa, fiz novo teste e o acionamento foi tranqüilo. Escutei bem o motor e não notei qualquer alteração. Tudo indicava que o carro estava pronto para ser usado novamente, sem precisar de bateria nova ou mecânico.

Hoje foi a prova de fogo. Levei minha namorada em casa. Eu moro no Menino Deus e ela, pouco antes de Alvorada. Fui e voltei sem problemas. O motor apagou algumas poucas vezes na sinaleira ("semáforo" para quem não é gaúcho), mas isso já acontecia antes. O tanque pode estar sujo. Eu lembro que mandei o carro para a revisão no ano passado e, pelo visto, os consertos ainda estão funcionando. Meu sonho se realizou.

Por que será que o carro continua funcionando bem depois de nove meses de inatividade? Fico tentado a apostar numa hipótese. Talvez essa crença de que a gente tem que ligar o carro de tempos em tempos não passe de um mito. Não é o carro que não pode ficar muito tempo desligado, é o dono que não consegue ficar muito tempo sem ouvir o motor do seu carro. É a famosa paixão do brasileiro por automóveis. Se por algum motivo não pode dirigir, o motorista ainda assim precisa ver o seu carro, tocá-lo, entrar dentro dele e girar a chave. Se o motor responder, é porque não o esqueceu. "Ele ainda me ama." Outra possibilidade é que algum empregado da garagem tenha tirado uma cópia da chave para ligar o carro de vez em quando sem eu saber. Sabe como é, não resistiu e decidiu evitar que o pobre Golzinho abandonado morresse por falta de cuidados.

Eu sempre digo que carro, para mim, não é uma paixão. Pois hoje descobri: ele é na verdade um grande amigo. Pode ficar meses longe de mim, mas quando acontece o reencontro, é como se o tempo não tivesse passado. Tudo volta a ser como antes. Talvez agora eu volte a freqüentar shows e assistir às apresentações da Sunset Riders, com quem estou em dívida.

Cuidem-se: estou de volta às ruas!

segunda-feira, novembro 13, 2006

A faxineira

Quando me mudei para este apartamento, em setembro de 1998, foi uma experiência inédita para mim. Eu nunca tinha morado sozinho. Vinha de um relacionamento fracassado, então não era uma mudança para melhor, necessariamente. Levei vários anos para me acostumar com a solidão. Hoje até curto minha liberdade. Mas um aspecto que dificilmente vai mudar é minha desorganização. Sempre vou precisar, no mínimo, de uma faxineira.

Custo a acreditar quando lembro a bagunça de meus primeiros anos aqui. Demorei a combinar com a faxineira que viesse uma vez por semana. Acho que só comecei mesmo em 2001. Antes, ela vinha esporadicamente, quando eu marcava. A primeira vez em que entrou aqui ela disse: "Nossa!" Não vou descrever o que ela viu, mas digamos que eu sempre esperava para abrir a porta quando não houvesse vizinhos por perto. Se fosse à noite, só acendia a luz depois de entrar.

E assim, passei a ter o apartamento organizado uma vez por semana. No domingo, eu e meu filho virávamos tudo do avesso. Na segunda, a faxineira vinha e arrumava tudo. Mesmo assim, as poucas namoradas que tive nesse meio tempo (uma de cada vez, bem entendido) reclamavam da limpeza. Diziam que eu era tolerante, que havia poeira nos cantos e teias de aranha na parede. De fato, o que importava para mim é que a sujeira do chão fosse limpa, a cama arrumada, enfim, que os rastros do furacão fossem desfeitos. Nunca fui detalhista para poeirinhas ocultas. Eu sabia que ela poderia trabalhar melhor, mas entendia o quanto ela precisava do dinheiro e também confiava nela. Desde o começo, quando fosse necessário, ela aceitava cheques pré-datados sem problemas. Por tudo isso, eu não tinha coragem de mandá-la embora.

Continuo morando sozinho, mas minha namorada às vezes dorme aqui. E, quando pode, traz o cachorro, o "Mailow" (é assim que ela escreve o nome do Pinscher que foi batizado em homenagem ao cachorro do Máskara, o "Milo" – mas a pronúncia é a mesma). Certa vez o Mailow ficou aqui num dia em que a faxineira viria. Deixei um bilhete explicando e não houve problemas. Depois liguei e ela disse que o cachorro estava tranqüilo e que até o levaria a passear. Ótimo, pensei. Que bom contar com uma pessoa assim, de confiança.

Hoje, mais uma vez, o Mailow ficou aqui. Na nossa saída ele chorou muito, foi de partir o coração. Pensei comigo mesmo: menos mal que a faxineira vem à tarde e poderá atendê-lo. Como já havia feito da outra vez, minha namorada ligou para saber como ele estava e pediu que a faxineira saísse com ele. Ela respondeu que estava muito ocupada e não podia. Quando chegamos, ele estava solto no apartamento e não retido na cozinha, como o havíamos deixado. Mas a surpresa maior veio a seguir.

Em cima da mesa, a faxineira tinha deixado um bilhete. Não vou transcrevê-lo na íntegra, mas vejam alguns trechos:

"Como nós conversamos, têm coisas que nós não combinamos, entre elas não estão receber ordens de suas namoradas, cuidar de cachorro nem limpar os seus xixis e muito menos levar para c**** na rua. Já chega montanhas de lixos para tirar, um fogão todo queimado e uma pia cheia e sendo paga com cheques pré-datados. Se podem achar que podem dar ordens, também podem assumir as despesas disso e pagar."

Vivendo e aprendendo: eu não sabia que a faxineira recebia só para vir na minha casa e fazer o que bem entendesse! Como fui injusto com ela esse tempo todo, dando ordens e mandando limpar a sujeira do meu apartamento! Quando lembro quantas vezes ela esteve aqui e encontrou "montanhas de lixos para tirar, um fogão todo queimado e uma pia cheia", bate um enorme sentimento de culpa! Eu pensei que era para isso que eu a pagava! Como fui cruel com a pobrezinha, desde 1998!

Minha namorada começou a querer me pedir desculpas e eu disse que nem se preocupasse. Isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Alguém haveria de freqüentar o meu apartamento e cobrar um maior rigor na faxina. Em suma, apareceu uma pessoa para mandar a faxineira trabalhar e ela achou ruim. Eu era o patrão ideal, que fazia vistas grossas. Só que agora aquele problema de "não ter coragem de dispensá-la" foi resolvido da melhor forma possível. E eu aprendi uma lição: da próxima vez em que contratar uma faxineira, não serei tão abusado a ponto de querer que ela limpe a minha casa!

domingo, novembro 12, 2006

Conversa de surdo

É difícil conversar ao telefone quando o interlocutor não está ouvindo bem. Hoje isso é mais raro, pois as linhas telefônicas melhoraram bastante. Mesmo assim, de vez em quando, ainda pode acontecer. O aparelho pode não ser dos melhores, você pode estar afônico ou a pessoa com quem você dialoga se encontra num local de muito ruído. Ou é surda, mesmo. Nesses casos, se não for nada muito urgente ou importante, é melhor deixar o assunto para depois.

A verdade é que, quando você sabe que não está sendo bem ouvido, fica sem ação. Sua pretensão de usar da melhor forma possível o poder das palavras é imediatamente frustrada. Você não pode enfeitar, enrolar ou explicar muito. Fica limitado a uma linguagem telegráfica que nem sempre é eficaz. Por exemplo:

- Alô?
- Alô, Fulano? Escute, eu queria lhe dizer que...
- Fala mais alto! Não tô escutando direito!
- Alô, Fulano? Sobre sua festa, eu não lembrei que já tinha me comprometido com...
- Alô? Desculpe, não entendi!
- Eu sei que você vai ficar chateado, mas realmente não posso...
- Hein? Não ouvi nada!
- NÃO VOU À SUA FESTA!

Pronto, lá se foi por água abaixo toda a polidez, o tato e o cuidado que você pretendia ter ao dar a notícia. É incrível como nos sentimos tolhidos quando não podemos falar tudo o que queremos, nos mínimos detalhes. Nosso discurso é despido dos floreios e temos que ser objetivos. Em alguns casos, é constrangedor.

- Alô?
- Alô, aqui é o Fulano. Sobre essa correspondência que vocês me enviaram, será que poderíamos fazer um acordo? No mês que vem entra o 13º...
- Alô? A ligação está ruim, pode falar mais alto?
- Eu queria propor um acordo para a minha dívida...
- Alô? Quem está falando, por favor?
- É o Fulano...
- Ah, Fulano, tudo bem? Recebeu nossa correspondência?
- É sobre isso mesmo que eu estou ligando. No mês que vem eu vou...
- Fala de novo, a ligação está horrível!
- NÃO VOU PAGAR!

Talvez alguns pensem que assim é melhor, já que as duas partes são obrigadas a dizer apenas o essencial. Mas, para quem gosta de escolher bem as palavras e se orgulha de sua facilidade de expressão, uma situação dessas é péssima. E pode ser ainda pior:

- Alô?
- Alô, Fulano, aqui é o Beltrano. Escute, detesto ter que te dizer isso, mas...
- O quê? Fala mais alto!
- Queria não ter que ser eu a te dar esta notícia, mas infelizmente...
- Alô? Não entendi nada...
- Fulano, por favor, seja forte. Estou me sentindo péssimo, mas...
- Fala mais alto!
- Ah, Fulano, nem sei como te falar, mas aconteceu...
- Alô? Beltrano, não tô te ouvindo direito. Dá pra falar mais alto?
- TUA MÃE MORREU!


Felizmente os telefones estão cada vez melhores. Ainda bem.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Tietagem

Ontem teve show de Golden Boys e Renato e Seus Blue Caps no Teatro do Sesi, em Porto Alegre. As fotos da apresentação e talvez um comentário vocês encontrarão em breve no Portal da Jovem Guarda. Aqui no blog, fica esta foto que tirei com Renato Barros no camarim.

Ouvi Renato e Seus Blue Caps pela primeira vez aos 5 anos. A música era "O Escândalo" ("um capeta em forma de guri"), que eu já conhecia na versão original de Shawn Elliott. No lado B do compacto estava "Preciso Ser Feliz". Certa vez, alguém me convenceu de que meus irmãos, que trabalhavam em rádio e TV, poderiam fazer chegar uma carta minha até Renato e Seus Blue Caps. Lembro que a escrevi (eu já era alfabetizado) numa página do receituário de minha mãe, que era dentista. Não conhecia o nome de todos, mas perguntei para minha irmã e ela inventou os que não sabia. O recado que eu mandava para cada um era o mesmo: que cortasse o cabelo! Claro que essa inusitada missiva jamais foi encaminhada.

Depois, fiquei um tempo desinteressado de música, até que voltei com toda a força aos 11 anos. E nesse retorno à paixão de infância, imediatamente redescobri Renato e Seus Blue Caps. Comprei todos os LPs de 1965 a 1973. Em 74 eu comecei a ouvir David Bowie e Pink Floyd e tive uma fase de rejeição à Jovem Guarda. Até que, nos anos 80, deixei de frescura e mais uma vez assumi minha admiração por esse grupo fantástico. Assisti a várias apresentações de Renato e Seus Blue Caps no saudoso Le Club. Ontem, finalmente, tive uma conversa rápida com meu ídolo de infância Renato Barros. A foto acima registra o nosso encontro. Só esqueci de dizer para ele cortar o cabelo. Ah, pensando bem, deixa assim...

Teclas

Máquina digital

Só pra começar mais um texto com um ditado, "nunca diga dessa água não beberei". Eu tinha uma certa resistência a comprar máquina fotográfica digital. Estava esperando os modelos mais sofisticados baixarem de preço. Mas acabei sucumbindo à tentação e investindo numa máquina pequena, mesmo.

Minha primeira impressão? Por enquanto, uma pequena decepção. Eu imaginava que talvez as máquinas grandes só tivessem tamanho e as pequenas fossem quase tão boas quanto. Sobre as câmeras de 3 a 7 mil reais, ainda não posso opinar. Mas sobre as de menos de mil, observei duas deficiências graves para quem tem pretensões de fotógrafo profissional (no meu caso, só pretensões).

Primeira delas: ausência de instantaneidade. Momento é tudo numa fotografia. Me dá nos nervos ver pais pedindo, mandando, implorando a seus filhos para que fiquem quietos e parados para aparecerem numa foto. Em geral a criançada fica em posição de sentido fazendo uma cara séria para a câmera. Tira toda a espontaneidade. Bom mesmo é captar a petizada em pleno movimento, sorrindo, brincando, de preferência sem saber que está sendo fotografada. Aí é que vem o problema da máquina digital: há uma significativa defasagem entre o momento que o disparador é pressionado e a foto propriamente dita. Lembro que, aos 13 anos, com uma "Kodak Instamatic Pocket" (também conhecida como "Xereta"), fotografei uma baleia branca saltando uma corda em Sea World, nos Estados Unidos. Fiquei a postos e aguardei o momento exato do salto. Depois, todos perguntavam se "tinha sido eu mesmo" que batera a foto.

Para um trabalho da Faculdade de Jornalismo, fotografei a chegada da campeã feminina de um triatlon. Esse é mais um exemplo de foto em que o "click" na hora certa foi crucial. Com uma máquina digital pequena, se você for fotografar uma prova de 100 metros rasos, tem que dar o "click" no tiro de largada para conseguir fotografar a chegada. E aí vem outro problema: nenhum controle sobre a velocidade do obturador. Como fotografar algo em movimento sem borrar a imagem? Talvez as máquinas mais caras tenham solucionado tudo isso, mas por enquanto ainda não posso confirmar.

É uma pena que minha Minolta convencional esteja com fotômetro danificado. Do contrário, de bom grado eu a usaria. Sim, uma máquina digital permite centenas de fotos para se verem na hora. Se alguma não ficou boa, é só apagar e tirar de novo. E não precisa mandar revelar. Mas cadê os recursos de profundidade de campo, superexposição para fotos noturnas, foco manual, substituição de objetivas, controle de abertura e velocidade? E como fazer quando a oportunidade surge inesperadamente? "É agora..." E você fotografa apenas um rastro. Como brinquedo, é excelente. Mas para quem curte realmente fotografia, com todas as suas possibilidades, as máquinas pequenas deixam a desejar. Quando eu puder comprar uma top de linha, prometo voltar aqui para dar uma segunda opinião.

Ah, vocês querem fotos? Aguardem.

terça-feira, novembro 07, 2006

Pico de acesso

Há males que vêm para bem, diz o ditado. Eu não gostei nem um pouco quando o antigo contador deste blog foi desativado. Eu me orgulhava dos mais de 40 mil acessos que ele computava e, de repente, fui obrigado a recomeçar do zero. Talvez até houvesse alguma forma de programar o novo contador para iniciar a partir de um número qualquer, mas nem me preocupei com isso. Já fiquei satisfeito de encontrar um substituto e conseguir fazê-lo funcionar.

Só que, com isso, ganhei um benefício adicional: o Site Meter fornece estatísticas completas, com a média de acessos da semana e a quantidade hora a hora. E também diferencia "visitas" de "visualizações da página". Visitas são os internautas que aqui chegam diariamente. Visualizações de página é a quantidade de vezes em que a página foi acessada, computando acessos repetidos da mesma origem. A média de visitas diárias da última semana foi 97 e de visualizações, 174. Lembro que, na época em que divulguei o "vídeo da profecia", a média chegou quase a 200 por dia, mas naquele tempo eu próprio ainda tinha que fazer o cálculo. Posso ter errado para mais.

No entanto, o que me deixa intrigado é que ontem, dia 6, houve um inexplicável pico de acesso. Seria a volta do feriadão, pra quem enforcou a sexta? Realmente não entendi. Nem ao menos havia conteúdo novo. Não postei nada ontem. E ainda assim, entre 15 e 20 horas (pelo horário do contador – não sei se corresponde ao de Brasília), houve 77 visitas. O total do dia foi 157. Nos outros dias, a contagem ficou entre 60 e 97 visitas. Mas o número mais baixo aconteceu justamente no domingo, então pode ser "demanda represada", mesmo. Mas o que houve entre 15 e 20 horas (horário do contador) que chamou tanta gente para cá? Será que o blog foi citado em algum site dos mais concorridos? Isso eu vou ter que descobrir pelo Google.

Mudando de assunto, estou começando a mexer em meu arquivo de fitas VHS para passar as imagens mais interessantes para DVD. Ontem estava vendo um especial do programa "RBS Documento" sobre cinema gaúcho que foi ao ar em 1985. Está na minha primeiríssima fita VHS, uma Sharp, que logo saiu de linha. Comprei na Casa dos Gravadores da Galeria do Rosário. Minha segunda fita VHS foi de uma marca esquisitíssima, "Nagaoka". Eu a chamava de "nádega oca". O mais curioso é que, na época, quando acompanhava a gravação, eu sempre cuidava para cortar os comerciais. Não vou dizer que me arrependo, mas os comerciais que eu não cortei hoje têm valor histórico e farei questão de preservá-los em DVD juntamente com os programas. Ainda não disponho de equipamento para converter trechos de vídeo para disponibilizar no YouTube, mas pelo menos algumas fotos, com o tempo, irei postando aqui.

Desculpem não ter publicado nada ontem, mas pelo visto, meu "silêncio" deu até mais ibope. Vou testar mais vezes!

domingo, novembro 05, 2006

Pensamento da hora

A burrice é a ignorância com instinto de autopreservação.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Participações especiais

Conforme prometido aqui, eis a imagem do DVD "O Melhor do Brasil nas Copas - De 1950 ao Tetra", lançado em 2002, em que aparecem Ruy Carlos Ostermann (à esquerda) e Pedro Carneiro Pereira (à direita). Não sei quem está no meio, de bigode. Alguém o identifica? Os três aparecem apenas por dois segundos, logo após as cenas do jogo Brasil e Inglaterra na Copa de 1970 no México. É no capítulo 6, entre 19:52 e 19:54. Não há qualquer crédito ou referência, é somente uma amostra rápida dos radialistas brasileiros presentes ao estádio. Imagino que Ostermann logo tenha sido avisado de sua "ponta". Pedro, infelizmente, não está mais entre nós.

Valores

Não sei se é no mundo inteiro, mas no Brasil, com certeza, as pessoas têm dificuldade de entender quem não comunga dos valores da maioria. Se o sujeito desperdiça suas noites diante da TV, tudo bem, é um cara perfeitamente normal. Mas se alguém, como eu, gosta de ficar navegando em sites ou participando de grupos de discussão, é "viciado em Internet". Eu até gosto de televisão, mas não necessariamente do que mais dá ibope. Na minha infância, por exemplo, eu tinha meus desenhos preferidos. E ficava decepcionado quando minha mãe me obrigava a sair para "aproveitar o fim-de-semana, pegar sol, blá blá blá" e me privava de meus adorados super-heróis da TV. Ou dos gibis. Mas pergunte a um adulto se sairia bem na hora da novela. E isso que hoje existe videocassete, um aparelho que os usuários nunca chegaram realmente a entender.

Não sei por que existe essa idéia de que o conceito de "aproveitar" está atrelado a "sair". "Puxa, o Fulano nunca sai, não aproveita." Aproveitar o quê? Eu gosto de sair, contanto que seja para ir a shows, cinema ou algum evento de meu interesse. Ou então para me encontrar com gente com quem tenho afinidades. Se for para ficar numa mesa de bar assistindo a um bando de "bebedores sociais" se empanturrar de cerveja dizendo uma asneira atrás da outra, ou ainda agüentar fofoquinhas de comadre numa festa, prefiro mil vezes ficar em casa na companhia de meus livros, CDs e DVDs.

Não gosto de baile de Carnaval, nunca fui muito chegado em chopp, não me entusiasmo por futebol e não sou aficcionado por automóveis. Em geral o brasileiro é apaixonado por carros, um fato que já foi até explorado muito bem num comercial. Então talvez seja uma surpresa para vocês saber que meu carro está parado desde fevereiro. Minha carteira venceu e eu ainda não a renovei. Tem gente que enlouquece, tem síndrome de abstinência, se ficar uma semana sem dirigir. E eu já estou longe da direção há nove meses.

Aí vocês pensam: "Mas pelo menos você ligou seu carro de vez em quando e o manteve lavado." Não, nem isso. Ontem fui na garagem para ver se eu ainda tinha carro. Estava lá, com pneus cheios e tudo. Mas a sujeira, principalmente em cima, é algo como eu nunca tinha visto. Não, ninguém tinha escrito "lave-me" por cima. Provavelmente não tiveram coragem: o prejuízo maior seria dos dedos. Aproveitei para dar uma ligada e ver se a bateria ainda funcionava. Inacreditavelmente, depois de alguma insistência, o motor pegou. Pelo menos até a oficina vou conseguir levá-lo. Já consultei na garagem sobre lavagem. "Ah, o Golzinho? Já quiseram comprar aquele carro." Deve estar famoso entre os vizinhos de box, que querem adotar aquele pobre carrinho abandonado. O amor do brasileiro por automóveis é tanto que às vezes chego a ser censurado pelos "maus tratos" a meu carro. Se existisse uma Sociedade Protetora dos Automóveis eu já teria sido denunciado.

Breve farei o teste para renovação. Muitos me aconselharam a fazer as três aulas porque "se você for reprovado, só poderá fazer o novo teste 15 dias depois". Puxa, que risco! Mais 15 dias sem poder dirigir! O que é isso para quem já está longe do carro há nove meses? Mas as pessoas não entendem. Se a gente não tem os mesmos valores do brasileiro comum, é visto como um ET. Se você compra um carro novo e se endivida até a alma, todos dão os parabéns e dizem que "já estava na hora". Mas se você compra um gravador de DVD para pagar em 12 vezes sem juros, sempre tem alguém para perguntar: "Mas pra que você quer isso?"

Não imponho meus valores para ninguém. Mas não queiram me impor os seus. Cada um tem o direito de viver como quiser, contanto que não prejudique ninguém.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Estatística curiosa

Este gráfico, preparado pela Recording Industry Association of America e postado em um grupo de discussão, me deixou realmente surpreso. Nunca imaginei que em algum momento a venda de cassetes tivesse superado a de LPs, muito menos por uma margem tão larga. Isso, é claro, foi nos Estados Unidos, onde as fitinhas sempre tiveram um som bem melhor do que no Brasil. Embora o gráfico não mostre, foi em 1983 que os cassetes tomaram a dianteira. E o motivo foi a popularidade do Walkman e similares. Depois, como todos sabemos, o CD se tornou o formato predominante. Essa estatística não inclui fitas virgens, de forma que foi realmente uma surpresa para mim. No Brasil, que eu saiba, vinil sempre vendeu mais. Ou não? Nossas fitas pré-gravadas tinham péssima qualidade de som e lembro de uma época, nos anos 70, em que elas custavam mais caro do que os LPs.

Haja paciência!

Até quanto certas empresas complicarão as nossas vidas sem perceber que é preciso oferecer aos clientes um endereço alternativo para entregas de cartões, talões e documentos? A casa de quem mora sozinho e trabalha está sempre vazia em horário comercial. E no entanto, o correio é obrigado a insistir em sua missão impossível. Não somos poupados das três tentativas regulamentares de entrega no endereço residencial até sermos chamados a buscar a correspondência na agência do bairro. Além da demora e do esforço inútil dos carteiros, ainda temos que nos deslocar até um local que nem sempre está em nosso trajeto. Foi o que aconteceu com meu IPVA. No ano passado, a mesma coisa. No ano que vem, se não mudarem o sistema, tudo de novo. E assim por diante. Até alguém enxergar o óbvio. Até lá, soframos, pois.

Já sei, já sei, não tenho paciência. Querem saber uma coisa? Não tenho mesmo. Hoje literalmente tirei do ar um vendedor ao dar um comando para o qual ele não estava programado. Pedi para olhar um manual de uma máquina fotográfica digital. Ele zanzou um pouco, pegou uma chave e desapareceu. Eu esperei cinco minutos e fui embora. Nesse ínterim, apareceu uma cliente que também desistiu.

Aos 20 e poucos anos eu tinha no meu quarto um cartaz que dizia: "Senhor, por favor, dai-me paciência. Mas tem que ser JÁ!" (Dai-me paciência inclusive com a correção automática do Word, que insiste em transformar o "dai" em "daí".)