quinta-feira, junho 29, 2006

Leitura labial

Não vi o "Fantástico" onde dublaram Parreira e outros mediante leitura labial, mas achei a idéia genial. Ainda que o técnico não tenha gostado. Isso me lembra algo que aconteceu em 1974, uma época em que a televisão brasileira vivia sob forte censura e nem palavras como "bunda" podiam entrar. Casualmente, foi também na Alemanha. Depois que Valdomiro (do IIIIIIIInternacionaaaaaal...) marcou o terceiro gol contra o Zaire, completando o saldo de gols de que o Brasil precisava para se classificar, a câmera focou o técnico Zagalo de perto e não houve quem não notasse: ele ergueu os dois punhos no ar e exclamou "puta merda!" O programa humorístico "Satiricom", da Globo, debochou com uma musiquinha: "Zagalo / o que tu disse na TV saiu de estalo..."

quarta-feira, junho 28, 2006

Paul

No fim acabei não comentando nada sobre os 64 anos de Paul McCartney, completados no dia 18. Precisa explicar por que a data é tão importante e valorizada pelos fãs? Em 1967, quando o pai dele é que estava com essa idade (que casualmente foi a mesma com que o meu pai faleceu em 1984), Paul compôs "When I'm 64", lançada pelos Beatles no clássico LP "Sgt. Pepper's". Eis um trecho da letra:

Quando eu ficar mais velho,
Perdendo meu cabelo
Daqui a muitos anos
Você ainda vai me mandar cartão de Dia dos Namorados
Congratulações de aniversário
Garrafas de vinho
Se eu ficasse fora até as 15 para as 3
Você trancaria a porta?
Você ainda vai precisar de mim
Você ainda vai me alimentar
Quando eu tiver 64 anos?

O que todos comentam é a ironia de Paul estar agora em processo de divórcio. Ou seja, um momento tão aguardado acaba sendo marcado por um fato amargo. E vêm as especulações: por que não deu certo? "Ah, ela nunca me enganou." "Ela só queria o dinheiro dele." "Era uma chata." "Já vai tarde." Os quatro anos de casamento com Heather Mills renderam a Paul mais uma filha (Beatrice, agora com dois anos) e muita fofoca na imprensa. Mas se querem uma opinião sobre o que causou o fim, eu tenho.

Claro que a fama, a celebridade e até a diferença de idade atrapalharam. Mas não esqueçam que Paul McCartney viveu mais de 30 anos com a mesma esposa. Mulheres ele teve muitas. Esposa, uma só. E seu vínculo com Linda era tão forte que ele a colocou na banda para ficar de pé em frente ao teclado agitando as mãos ao ritmo da música para que pudesse estar sempre com ele, mesmo no palco. Ah, sim, ela cantava um pouco, também. E catava milho nos teclados. Mas provou ser a companheira ideal para o ex-Beatle. Tanto que ficaram juntos até que a morte os separou. Linda faleceu de câncer em 1998.

A despeito de tudo o que já viveu em sua carreira, Paul nunca tinha tido a experiência de um segundo casamento. Para ele, "esposa" era sinônimo de Linda McCartney. Imaginem como deve ter sido, depois de três décadas ao lado da alma gêmea, de repente dividir seu espaço com uma pessoa totalmente diferente. Isso acabou culminando em mais uma vivência inédita para ele: o primeiro divórcio.

Não estou preocupado com a generosa fatia que essa moça irá levar da fortuna de Paul McCartney. Como ex-esposa e mãe de sua filha, ela tem direito – ponto! Quanto a Paul não ter feito um pacto antenupcial, foi um erro, mas acho que ninguém começa um casamento já planejando o término. Os riscos são conhecidos pelos dois lados. Paul, como bom romântico, apostou no amor. Sua perda será significativa, mas não o desestabilizará financeiramente. Esperamos que seu espírito também se recupere.

(Uma curiosidade: Heather é também o nome de sua enteada, filha mais velha de Linda. Existe uma gravação que circula em bootlegs de uma música chamada "Heather", que Paul compôs no tempo dos Beatles, mas nunca foi lançada oficialmente.)

A Copa na Internet

Eu já disse mil vezes que sou apaixonado pela Internet e pela revolução que ela trouxe às comunicações. Mesmo com os efeitos colaterais – textos apócrifos e notícias falsas sendo repassadas sem o menor critério – a rede nos deu a tão anunciada "aldeia global" que a televisão apenas simulou. E uma das novidades da era da Internet é justamente poder comentar a Copa do Mundo com torcedores de outros países. Isso já foi feito na Copa de 98 e 2002 e está acontecendo agora de novo.

Na Copa anterior o assunto surgiu por acaso em um fórum de fãs de David Bowie. Vários países eram citados como possíveis candidatos ao título, mas ninguém lembrava do Brasil. Aí, como quem não quer nada, depois que a discussão já tinha avançado bastante, alguém perguntou: "E o Brasil, como se sairá nesta Copa?" Fiquei na minha.

A disputa começou. Parecia implicância: na véspera de cada jogo, os palpites eram sempre contra o Brasil. Mas continuei discreto em minhas participações. Tinha um plano em mente. E quando o Brasil chegou à final, decidi não esperar: postei uma mensagem com uma retrospectiva desde o começo de tudo o que havia sido dito e previsto sobre aquela Copa naquele fórum. Mostrei o quanto o Brasil estava desacreditado, o quanto os palpites todos tinham sido furados e que havíamos superado os obstáculos. Podíamos até perder, mas tínhamos vencido todos os adversários até então. E fomos campeões. Um dos que havia postado os comentários originais reconheceu com espírito esportivo as suas falhas de avaliação.

Agora os debates internacionais via Internet voltaram com toda a força. Os estrangeiros não acreditam que o Brasil consiga vencer a França. Alguns dizem descaradamente que vão torcer contra nós.

Então tá.

terça-feira, junho 27, 2006

Premonição

Parece que eu estava adivinhando o jogo de hoje. Leiam aqui o que escrevi no dia 5 de novembro de 2004.

35 mil

É a marca de hoje no contador. Voltem sempre.

segunda-feira, junho 26, 2006

Eu tenho um desses!

Vendo o DVD de Chico Buarque em que ele conta que, nos anos 70, os passaportes brasileiros traziam um carimbo dizendo "Não é válido para Cuba", lembrei que já tive um desses. Foi tirado quando viajei para os Estados Unidos em 1974, aos 13 anos.
Agora Chico está conversando com o letrista italiano Sergio Bardotti, que compôs "Canzone per Te" com Sergio Endrigo e verteu várias músicas de Chico para o italiano. Bardotti me deu um autógrafo em 1975 quando veio a Porto Alegre com Toquinho e Vinicius. Mas uma coisa de cada vez. Um dia faço uma exibição de meus autógrafos.

Sugestivo

Vejam que sugestivo esse quadrinho.

Alienígena:
"Não somente vocês estão condenados... mas todos aqueles em quem vocês tocaram!"

Elektron:
"Jean Loring... assinei sua sentença de morte!"

Flash:
"Dei um beijo de morte em Iris West!"

Lanterna Verde:
"Carol Ferris – em perigo mortal!"

Batman:
"ROBIN, o que fiz com você?"

Estava sem luvas, Batman?

Porteiro eletrônico

Tive o primeiro contato com porteiro eletrônico em 1975, aos 14 anos. Minha irmã tinha-se mudado para o Menino Deus e eu tive que aprender a usar a geringonça. Até então, eu nunca me preocupava em saber o número certo dos apartamentos. Achava os endereços pelo andar e pela localização da porta no corredor. A inovação me trouxe esse incômodo e, no começo, me atrapalhei um pouco. Lembro de um dia em que fui visitar um amigo que morava numa casa. A mãe dele me informou que ele estava no apartamento de um amigo comum que ficava na mesma rua. Eu perguntei:

- Qual é o apartamento?
- É o bem da frente.
- Sim, mas qual o número?
- É o bem da frente! – ela insistiu. Ainda não tinha assimilado a cultura do porteiro eletrônico.

Hoje porteiro eletrônico é algo tão comum quanto campainha ou telefone. Em tese, é um recurso que facilita bastante a vida do morador. O problema é a falta de cuidado de quem circula em nossos apartamentos. Crianças e empregadas, ansiosas por demonstrar conhecimento do uso do aparelho, acabam abrindo a porta para quem não devem. Sem contar os desleixados que entram com a chave, mas não se preocupam em verificar se a porta foi bem fechada. Aí acontecem os assaltos e arrombamentos. Como conseqüência, vários prédios adotam como norma manter as portas de entrada sempre chaveadas. Com isso, perde-se a finalidade precípua do porteiro eletrônico, que é a de permitir o acionamento remoto. Fica sendo apenas um intercomunicador. E até para isso ele poderia ser dispensado, considerando que hoje quase todo o mundo tem telefone celular. Quando alguém chegasse, bastaria telefonar e dizer: "Estou aqui em baixo."

Para mim essa prática criou um inconveniente tremendo. Às vezes estou com meu filho, que é uma criança autista, e tenho que deixá-lo no apartamento para descer e abrir a porta para uma visita. Ou para buscar algum "tele" que tenhamos pedido. Eu tento levá-lo junto, mas ele prefere ficar esperando. Como sou asmático, tenho Ecco Salva. Mas já sei que, se acontecer uma emergência, terei que dar um jeito de descer para receber a ambulância. Tive uma crise na semana passada e, como estava com meu filho, pedi ajuda de minha irmã. Meu sobrinho (irmão do que me ajudou no ano passado – é a família dos anjos da guarda) chegou de táxi mas não pôde subir porque a porta estava trancada. Só quem já teve uma crise de asma sabe o que é não ter fôlego nem para colocar os sapatos no filho. Descalço ele não quis vir comigo, nem eu teria forças para obrigá-lo. A solução foi eu descer bem devagar, chegar lá em baixo, entregar a chave para o sobrinho e dizer:

- Por favor, sobe lá no apartamento, põe os tênis no Iuri e desce com ele e a malinha dele, que eu não vou conseguir voltar.

E agora, o que posso fazer? Fornecer uma cópia das chaves para o Ecco Salva? Para minha irmã até não seria difícil, mas e se ela não estiver aí? No fim o desleixo, a imprudência e a falta de segurança tornaram o porteiro eletrônico totalmente inútil.

quinta-feira, junho 22, 2006

Contradição

A noção de que os jogadores de futebol jogam por dinh..., digo, por profissionalismo é algo que tive uma certa dificuldade de aceitar na infância. Tudo bem, eu entendia que era uma profissão. Mas guardava uma certa esperança de que houvesse um pouco de amor ao time também. Que cada atleta tivesse pelo menos começado no clube do seu coração. Claro que há jogadores que criam, sim, um vínculo com a equipe em que se destacaram. Eu quero acreditar que Valdomiro, Bráulio, Falcão, Figueroa, Claudiomiro, Jorge Andrade e tantos outros do "meu" tempo são colorados até hoje. Mesmo que tenham vestido outras camisetas em suas carreiras.

Mas nada embaralhou mais minha cabeça do que saber que, na Copa de 70, o técnico da seleção peruana era o brasileiro Didi. Aquilo realmente me deixou confuso. Para mim, torcer para o Brasil, desejar a vitória da nossa Seleção, era tão automático quanto ser brasileiro. Cada um pode ter sua paixão clubística ou seu contrato profissional, mas Copa do Mundo é guerra mundial. Não tem conversa, cada um tem que torcer pelo seu país. Por isso, a idéia de um brasileiro sendo treinador de um inimigo era como um dos nossos comandando um pelotão estrangeiro numa batalha contra o Brasil. E, num primeiro momento, eu não soube enxergar o que aquilo significava para Didi em termos de reconhecimento. Pelo contrário, tive pena do pobre ex-jogador que, em nome da sobrevivência, teve que se humilhar a aceitar emprego numa seleção estrangeira. Como deve ter sofrido, pensei eu.

Pois hoje é a vez de Zico comandar o Japão contra o Brasil. Como Didi, Zico é um ícone do futebol brasileiro. Foi um dos maiores jogadores da era pós-Pelé juntamente com Falcão. E vai estar lá, ajudando a equipe japonesa a combater a seleção que ele próprio tantas vezes defendeu. Como explicar isso às crianças?

- Pai, o Zico não é brasileiro?
- É, meu filho.
- Não foi jogador da Seleção Brasileira?
- Foi, sim, várias vezes.
- Então por que é técnico do Japão?
- Porque foi contratado.
- Mas por que não foi contratado pelo Brasil?
- Porque preferiram o Parreira.
- Ah, então o Zico ficou com raiva e resolveu ir pro Japão?
- Não, claro que não. Ele foi porque pagaram bem.
- Mas como ele pode ser técnico do Japão torcendo pelo Brasil?
- Muitos brasileiros já foram técnicos de outras seleções, isso é normal.
- Jogador também pode ser contratado por outra seleção?
- Não, jogador tem que ser do país.
- Então o Zico vai treinar o Japão para ganhar mas vai torcer pelo Brasil... Não entendi!

Acho que, no fundo, todos nós estamos nos sentindo um pouco traídos hoje. Mas tudo bem. Zico sempre foi um profissional correto e merece todo o prestígio que o futebol mundial pode lhe dar. Mas que fica meio estranho torcer contra o Zico numa Copa, fica.

quarta-feira, junho 21, 2006

Cuidado

Recebi hoje um e-mail intitulado "Caseta e Planeta" (sic) supostamente contendo "a última gravação de Bussunda". Nem cliquei no link. Só pode ser vírus.

terça-feira, junho 20, 2006

Newcomb

A propósito do jogo de "newcomb", citado em um post anterior, agradeço a "André P.", do Orkut, pela indicação deste link. É um arquivo em formato PDF (exige Acrobat Reader para leitura) contendo um artigo sobre a origem do jogo. Ele tem esse nome por ter sido criado em 1895 por Clara Gregory Baer no Sophie Newcomb College de New Orleans. O texto está em inglês, mas bem completo. Claro que é possível que, aqui no Brasil, algumas escolas se refiram ao jogo como "newcon" e outras corruptelas, mas o nome original é "newcomb".

segunda-feira, junho 19, 2006

Outro blog

Depois de algum tempo amadurecendo a idéia, finalmente criei um blog em inglês. Mas sem a pretensão de escrever lá com a mesma freqüência com que faço aqui. Também quero ver se terei assuntos de interesse geral que valham a pena postar lá. Por enquanto, está em caráter experimental, sem muita divulgação. Se engrenar, fica. Se eu achar que dei um passo maior do que as pernas, desativo e continuo só com este.

Cena incrível

Acabo de presenciar uma cena daquelas que, como infelizmente não pude fotografar, fica difícil até de imaginar. Estive agora no meu quarto e enxerguei três formigas caminhando ao longo de uma caixinha de DVD daquelas tipo inteira, em que a tampa é a própria capa de papelão plastificado. Pensei: "ih, tem formiga andando por ali". Quando abri a caixinha para olhar... simplesmente as formigas haviam se instalado ali dentro! A caixinha de DVD virou formigueiro! Além de centenas de formigas andando enlouquecidas de um lado para o outro, havia também pontinhos brancos indicando algum tipo de "condomínio horizontal" que elas tinham construído por ali! Imaginem uma caixinha de DVD forrada de formigas por dentro! Os outros DVD da pilha foram poupados. A casa delas era ali, naquele DVD. Sem o menor escrúpulo, coloquei a caixinha e o DVD em baixo do chuveiro. Isso é que dá comprar mais DVDs do que tenho tempo de olhar. Agora fico apreensivo: onde mais poderei encontrar formigueiros?

P.S.: Tive que separar o papelão da peça de plástico, pois havia ainda muitas formigas escondidas no vão. Agora tento lembrar se deixei cair algo com açúcar no DVD.

Lançamento interessante

É estranho que o CD comemorativo de 40 anos com a trilha sonora do filme "A Noviça Rebelde" (The Sound of Music) esteja saindo no Brasil com o mesmo título de Portugal, "Música no Coração". Pelo visto, houve algum acordo para que a parte gráfica fosse elaborada para o mercado lusobrasileiro, pois tanto no adesivo sobre o lacre quanto na contracapa o título "A Noviça Rebelde" aparece entre parênteses. Mas o CD que comprei por encomenda (atenção: procurem por "Noviça Rebelde", que foi como eu encontrei) mostra o logotipo da Zona Franca de Manaus, além do endereço do site da Sony BMG de extensão br.

Este CD traz muito mais músicas do que o vinil original, já que o LP que saiu em 1965 estava realmente incompleto. Mesmo assim, o CD que veio como parte do pacote especial de 30 anos em 1995, incluindo livreto e videodisco, tinha faixas que não aparecem aqui, como as valsas que se ouvem na festa enquanto a Baronesa ajuda Maria a ir embora e os temas instrumentais da fuga da família Trapp do festival para o convento. Por outro lado, o novo lançamento também inclui faixas que não apareciam no anterior. É estranho que não tenham atentado para esse detalhe antes de compilar as gravações, pois haveria espaço para todas. Bastaria deixar de fora as entrevistas que aparecem nas três últimas faixas com Robert Wise (diretor), Richard Rodgers (compositor) e Charmian Carr (atriz que interpretou Liesl). O fato de serem depoimentos colhidos na época lhes confere valor histórico, mas quem não entende inglês não aproveitará nada. Existem também pequenas diferenças em alguns detalhes, como a mixagem de "Maria", que começa uma pequena introdução instrumental que havia sido cortada no LP.

Mas vale a pena encomendar o CD. São 27 faixas no total (incluindo as entrevistas), entre elas a versão completa de "Sixteen Going on Seventeen (Reprise)" com um trecho inicial que não foi usado no filme, a música do intervalo ("Entr'acte"), o tema de encerramento ("Finale", 38 segundos) e as interpretações repetidas de "Edelweiss", "My Favorite Things", "Do Re Mi" e "So Long Farewell". Para quem comprá-lo, indico uma nova forma de interpretar os asteriscos que aparecem ao lado de algumas faixas:

* Faixa que não aparecia no LP original, mas não é inédita, pois saiu no CD especial do videodisco de 30 anos em 1995.

** Faixa totalmente inédita em qualquer formato fonográfico, só aparecia no filme e está saindo em CD pela primeira vez.

Bom divertimento.

Mais futebol

Eu nunca soube jogar futebol. Não praticava esportes na infância e era uma tortura psicológica ter que participar, no primário, de jogos de "newcomb", uma espécie de vôlei em que se pode segurar a bola. Era uma situação humilhante para mim, pois eu era obrigado a jogar embora meus colegas detestassem que eu estivesse ali e eu também.

Alguns anos mais tarde eu comecei a curtir o futebol nas aulas de Educação Física. Os dois times já sabiam que eu não iria fazer muita coisa, mesmo, então qualquer participação era lucro. Lembro de uma vez em que fui tentar tirar a bola de um jogador adversário e ele disse "sai, Emílio", como se eu fosse carta fora do baralho e não tivesse direito de intervir. Era assim mesmo que eu jogava, como uma arma secreta que, por um lado, deixava o time com um jogador a menos. Por outro, podia surgir de repente, na hora mais inesperada, e surpreender. E foi assim, na inusitada posição de "pescador", que consegui fazer três gols. Foram todos mais ou menos parecidos: a bola sobrou para mim, eu enfiei o pé e, sabe-se lá como, ela entrou. Em uma delas, a bola veio com efeito para o meu lado, foi só encostar o pé e ela encobriu o goleiro.

Longe de mim querer desmerecer os craques de nossa Seleção. Mas ontem, ao ver Fred empurrar a sobra de bola para o gol de forma meio desajeitada dois minutos depois de entrar em campo, lembrei do tempo em que eu gostava de estar em uma partida de futebol ("jogar" não seria o termo correto). Era assim que saíam os meus gols (todos os três, quero dizer).

Gostei do jogo. Aos "entendidos de futebol", sugiro deixar os Ronaldos em paz e ver o time como um todo. Fizemos 1 a 0 no primeiro e 2 a 0 no segundo. A dúvida agora é se o próximo será 3 a 0, indicando um incremento de um gol por partida, ou 4 a 0, significando o dobro a cada novo jogo. Não, dificilmente o time chegará a 8 ou 16 a zero.


P.S.: Agora lembrei de um dos grandes jogadores do Internacional dos anos 70: Carbone, meio-campista trazido de São Paulo pelo técnico Daltro Menezes. Chegou a jogar pela Seleção Brasileira. Mas tinha uma característica: não fazia gols. Quando por acaso marcou um tento num histórico jogo entre a Seleção Gaúcha e a Seleção Brasileira no Beira-Rio em 1972, um repórter da Guaíba perguntou a ele no intervalo se era aquele o seu primeiro gol como profissional. Ele respondeu que não, que tinha feito um em 1969 num jogo do interior (ele lembrava os detalhes, eu é que esqueci). Aquele jogo entre as Seleções terminou 3 a 3. Que eu saiba, Carbone nunca mais fez gols. Mas foi à Seleção. Moral da história: fiz mais gols no tempo de colégio do que um dos jogadores do Inter que jogou pela Seleção Brasileira.

sábado, junho 17, 2006

Vai entender...

Há alguns anos, encontrei na Internet um site da jornalista Ana Maria Bahiana, cujo trabalho admiro desde a adolescência. Lia o que ela escrevia no Alto Falante (jornal promocional gratuito da Odeon), Pop, Rock, a História e a Glória, Somtrês, Pipoca Moderna, Vídeo News, enfim, ela estava em todas as boas publicações de música e afins. Enviei uma mensagem para ela. Não lembro exatamente o que escrevi, mas claro que devo ter falado nas boas lembranças que o nome dela me trazia em razão desse material todo. Tempos depois, quando eu já tinha até esquecido o assunto, ela me respondeu agradecendo. Não recordo as palavras exatas, mas ela disse que não se prendia ao passado e encerrou com a frase: "Eu tenho saudade é do futuro!"

Agora ela lança o livro saudosista "Almanaque Anos 70". Então tá, né, Ana?

quarta-feira, junho 14, 2006

Lei do menor esforço

É comum os colecionadores de DVDs reclamarem - e com toda a razão - que os extras não são legendados. A trilha com comentários, por exemplo, nem sempre é traduzida, prejudicando a quem não entende inglês. Pois a empresa que lançou "Plano de Vôo" no Brasil achou uma solução bem simples para evitar esse tipo de queixa: simplesmente não incluiu a trilha de comentários. Aí ninguém vai reclamar que a tradução está incompleta.

Como fã de extras e trilhas de comentários em vídeo desde os tempos do videodisco, só tenho a dizer: muito obrigado!

Comentário esportivo

Mesmo no tempo em que eu me interessava por futebol, não sabia analisar um jogo. Tem gente que gosta de assistir à partida pela TV ou mesmo no estádio ao mesmo tempo em que ouve pelo rádio. Eu sempre fiz isso porque dependia do Ruy Carlos Ostermann para saber quem estava jogando melhor. Sem o comentário dele, eu não tinha a mínima idéia do desempenho nem dos times, nem dos jogadores. Lembro de uma partida a que fui assistir sem rádio na adolescência, depois fiquei perdido quando amigos me perguntaram sobre a atuação de Fulano ou Beltrano. Futebol para mim é acompanhar para que lado chutam a bola e torcer para que entre no gol do adversário. Sempre lembrando que os times trocam de lado no segundo tempo.

Se eu tivesse que escrever um comentário sobre o jogo de ontem, teria que apelar para clichês. Poderia dizer, por exemplo, que a Croácia fez uma "marcação homem a homem". Ninguém vai me acusar de sexismo por isso, né? Afinal, é futebol masculino – se fosse feminino seria "mulher a mulher". O time adversário "ocupou os espaços". O Brasil "decaiu de produção" no segundo tempo. O goleiro Dida teve "uma atuação correta", sempre "bem colocado" (pra mim ele teve sorte de terem chutado justamente onde ele estava, mas tudo bem). Mas um termo que eu acho sensacional quando é usado em futebol é "explosão". Faltou "explosão" ao Brasil no segundo tempo. Que fim levou a fogueteira, aquela que jogou um fogo de artifício no Maracanã em 1989 depois posou nua para a Playboy? Ela tinha que ser chamada para soltar umas bombas.

Até hoje não consigo entender o que significa uma "bola bisonha". Inclusive o meu pai usava essa expressão. Um dia ainda vou entrar numa loja de esportes e pedir que me mostrem uma. Rio muito quando ouço dizer que o juiz marcou "perigo de gol". Essa, sem dúvida, é uma das tiradas mais geniais criadas pelos jornalistas esportivos. Mas como os narradores conseguem identificar os jogadores? Os goleiros é fácil, porque usam camisetas de cor diferente (só por isso), mas os outros? Às vezes alguns ganham tempo, dizendo "passa para o jogador de número 4 que é..." e aí consultam sua planilha. Mesmo assim, tenho que admirar. Com a bola em jogo, não reconheço nem os jogadores do meu time.

Enfim, o Brasil ganhou. Isso é o que deveria importar. Mas a torcida está triste porque o time fez uma "atuação fraca". Teve "dificuldade de penetração" (epa!). Deixou o adversário "gostar do jogo" (essa também é ótima). Faltou "finalização". Por aí. Tenho que ouvir mais o Ruy para me atualizar.

terça-feira, junho 13, 2006

Ajuda

Se alguém usa filtro de tela Leadership, por favor, me ensine a colocá-lo! O asno que elaborou a embalagem não foi capaz de incluir nem mesmo aquelas mínimas instruções ilustradas de como montar. É a velha mentalidade do "não precisa explicar, todo o mundo já sabe" (vide nossas ruas mal sinalizadas e números de logradouros escondidos). Já tentei encaixar os suportes de várias maneiras e sempre soltam. Ou estou fazendo alguma coisa errada, ou esse troço é uma porcaria, mesmo. Por favor, me orientem!

segunda-feira, junho 12, 2006

Copa do Mundo

Minha lembrança mais longínqua de Copa do Mundo é de 1966. Eu nem sabia que estava havendo uma Copa, mas lembro do "Canarinho do Tri", um canarinho de plástico que era vendido como parte do marketing. Claro que eu quis um e ganhei. Lembro minha irmã me levando na casa de minha vó. Quando ela atendeu, minha irmã disse: "Hoje viemos ouvir o jogo de Canarinho do Tri."

Já da Copa de 70, lembro de um jingle que terminava assim: "Sem pagar um tostão, pra ver as feras do João". Isso, claro, antes de João Saldanha ser substituído por Zagalo. No dia do primeiro jogo, meus colegas estavam entusiasmados: "Hoje tem Brasil e Tchecoeslováquiaaaaa!" Só assim eu fiquei sabendo quem era o adversário. Havia também boatos de que sairíamos mais cedo por causa da partida, mas uma colega ouviu uma funcionária do colégio dizer que "aqui não é uma repartição". E eu não entendi o que significava "repartição" naquele contexto.

Não acompanhei aquela Copa toda. Eu não gostava de futebol. Quando a Tchecoeslováquia inaugurou o placar, minha mãe comentou que quem faz o primeiro gol perde e que isso iria acontecer com ela. Dito e feito. Em outras partidas, eu queria brincar e a gritaria a cada gol do Brasil me incomodava. Minha mãe me dizia: "Não fica contra, essa Copa é importante." Até que veio a semifinal contra o Uruguai. Com o jogo já começado, minha mãe me chamou para assistir. "Vem, ajuda a torcer. O Brasil já ganhou duas Copas. Se ganhar mais esta, fica com a taça Jules Rimet em definitivo." E assim comecei a olhar a partida. Meu desconhecimento de futebol era tanto que, no segundo tempo, comentei:

- Eles trocaram as câmeras!

Meu então cunhado me explicou:

- Os times trocam de lado!

- Ah, bom.

O resto da história todos sabem. Mas, ao me convidar para ver o que restava da Copa, minha mãe deu início a uma transformação radical em mim. Eu virei fanático por futebol. Entre o segundo semestre de 1970 (eu tinha nove anos) até o final de 1971, eu não conseguia ficar meia-hora sem tocar no assunto. Meu lado colorado se despertou. Eu vivia e respirava o Internacional. Eu não saberia precisar até quando exatamente durou o meu fanatismo. Ele foi diminuindo devagar e sempre a partir de 1972, à medida que crescia o meu interesse por música. Quando o Inter foi Campeão Nacional em 1975, vibrei bastante, mas minha paixão já não era a mesma. Fui ao Beira-Rio pela última vez em 1979, para ver Inter e Palmeiras pela semifinal do Brasileirão.

Depois da despedida de Pelé, ganhar uma nova Copa era uma questão de honra para a Seleção Brasileira. Era preciso mostrar que, mesmo sem nosso craque maior, continuávamos sendo uma potência nesse esporte. Além disso, havia o risco de que outros países conseguissem chegar ao tetra antes do Brasil. Por isso, quando houve a vitória na Copa de 94, cheguei até a chorar. Como disse um amigo, "você chorou porque lembrou de 1970". Deve ser. O capitão do tri, Carlos Alberto, "desmoronou" em frente às câmeras do SBT. Era uma emoção aguardada por 24 anos.

Hoje é diferente. Não só o Brasil foi tetra como também penta. Está com dois títulos de vantagem sobre os demais tris. Não existe a ansiedade nem a cobrança dos outros tempos. Mas existe, isto sim, um grande time. Talvez no sangue doce o Brasil vença. É preciso observar também que as "forças ocultas" vão tentar impedir de qualquer maneira que isso aconteça. Mais um desafio para o jogo ter graça. Agora, se a vitória realmente vier, corremos o risco de virar o Clóvis Bornay da competição.

quinta-feira, junho 08, 2006

A vida sexual dos heróis

Existe um aspecto do universo dos super-heróis que ninguém comenta, mas em algum instante todo o fã de quadrinhos com certeza imagina: a vida sexual. É um assunto muito rico para piadas, como aquela da Mulher Maravilha, do Super-Homem e do Homem Invisível. Mas a imaginação pode ir mais longe.

Ter superpoderes nem sempre é uma vantagem. A pobre Supermoça, por exemplo, por sua invulnerabilidade, só pode namorar kryptonianos. Eles são os únicos que podem tirar-lhe a virgindade e não serem esmagados por seu, digamos, superpompoarismo. Já a Mulher Invisível não tem nenhum atrativo a mais a oferecer a seu marido, o Senhor Fantástico. Que graça tem ir para a cama com uma mulher que desaparece? No máximo, facilitar uma fantasia, se ela topar colocar uma Playboy por trás da cabeça. Em troca, o Senhor Fantástico usará seu poder de esticar-se para envolvê-la por inteiro e depois fará misérias com a língua.

O Flash é outro que deve levar às mulheres à loucura com seu poder de vibração a supervelocidade. Mas sua esposa Iris Allen deve reclamar de vez em quando: "você é muito rápido..." Elektron, que pode diminuir de tamanho à vontade, deve brincar percorrendo o corpo de sua companheira como se fosse uma cordilheira. Infelizmente ele não pode ficar maior, apenas menor. Essa vantagem quem tem é Gigante, marido de Wilma Vespa. Ele aumenta e ela diminui. É até um desperdício que os dois estejam juntos, pois o poder de cada um poderia ser aproveitado com um parceiro comum. Já pensaram que beleza poder variar de tamanho a cada vez? É o sonho erótico de qualquer mortal. Mas, no ardor do clímax, é preciso muito controle para evitar acidentes. Esses mesmos poderes citados também se encontram respectivamente em Rapaz Colossal e Violeta Encolhedora, da Legião dos Super-Heróis do Século XXX. Mas a legionária mais cobiçada deve ser Dama Dupla, que um dia já foi Moça Tríplice. Sim, ela pode virar duas.

O Homem-Aranha consegue prender mãos e pés na parede ou no teto, além de poder usar sua teia para criar ninhos de amor bem originais. Se sua esposa for sadomasoquista, pode querer ficar presa na teia, também. O Super-Homem, ao contrário de sua prima Supermoça, não precisa namorar somente kryptonianas, mas precisa ter cuidado para não ferir as mulheres com sua superforça. Imagina-se que tenha superpotência sexual, o que faz dele um incansável amante. Mas bom mesmo deve ser praticar supervoyeurismo com a superaudição e a visão de raio X.

Mandrake é apenas um ilusionista, mas leva Narda ao delírio com as fantasias que inventa. "Hoje você se superou, querido!" "Não foi nada, eu só fiz você imaginar enquanto descansava." Já o Fantasma, o Batman e Arqueiro Verde, esses são humanos comuns como nós. Talvez o Arqueiro Verde tenha um conjunto de flechas eróticas para apimentar seus encontros. Também é possível que Batman traga alguns acessórios bem sugestivos em seu cinto de utilidades ("vou lhe mostrar o bat-massageador"). Mas o grande segredo é o do Fantasma. Todos sabem que ele tem dois anéis: a marca da caveira, que ele usa para golpear os bandidos e a marca não sai nunca, e a marca do bem. Mas ele tem uma terceira marca que nem sua esposa Diana conhece: a do "já comi".

terça-feira, junho 06, 2006

Billy Preston

Meu sobrinho Ricardo, que está em Londres, me lembra nos comentários que hoje morreu Billy Preston. Eu o respeitava muito, mas nunca fui profundo conhecedor da obra dele. O que todos sabem é que ele tocou com os Beatles em "Let it Be" (o disco e o filme). Nesta hora lembro da cena do filme "Sgt. Pepper's" em que ele aparece no final cantando "Get Back" e desfaz todo mal causado pelos vilões da trama, inclusive trazendo de volta à vida a personagem Strawberry Fields com um passe de mágica. Agora muita gente gostaria de poder fazer como ele no filme e dizer: "get back, Billy Preston!" Mas era ele quem sabia fazer o truque.

Golpe de filme

Questões éticas, legais e morais à parte, há que se admirar a criatividade de certos golpes. Mas, em alguns casos, ainda mais impressionante é a credulidade de quem cai neles. A Internet já revelou a que ponto chega a inocência da população, repassando em massa alertas e relatos totalmente inverossímeis. Mas o mundo concreto consegue ser ainda mais incrível.

Essa artimanha montada por uma quadrilha no interior do Rio Grande do Sul parece enredo de série policial americana daquelas que a gente olha e comenta: "só em filme, mesmo". Os vigaristas diziam poder desviar dinheiro da Casa da Moeda. Mas a parte mais surreal era a afirmação de que as cédulas saíam de lá recobertas por uma tinta preta, para segurança. Munidos de um solvente que diziam também ter sido surrupiado da Casa da Moeda, demonstravam, com luz negra e fumacinha, como a tinta era removida. A cédula ressurgia novinha em folha.

Agora pensemos: a Casa da Moeda produz cédulas em lotes de que quantidade? Centenas? Milhares? Imaginem uma sala nas próprias dependências da instituição, ou várias salas espalhadas por pontos de distribuição, onde haveria funcionários especializados em aplicar o tal solvente em cada nota, com fumacinha e tudo. Uma por uma. Trabalho artesanal. Ah, não, talvez não fosse assim. Haveria máquinas para esse fim. Cada leva de papel-moeda seria alimentada de um lado e ressurgiria do outro completamente limpa. O serviço seria tão bem feito que nunca aparecia nenhuma nota manchada em circulação.

Mas não termina aqui. Logo vem a cena de ação do filme policial: a vítima, depois de pagar uma quantia em dólares, era instruída a seguir um carro da quadrilha até uma chácara onde iria receber um valor cerca de 30% maior nas cédulas de reais supostamente roubadas. No meio do trajeto, os bandidos eram abordados por policiais, com tiroteio e tudo. No desespero, o motorista do carro de trás, sabendo-se parte de um negócio ilícito, tratava de escapar e ainda rezava para não ser delatado pelos ofertantes da barganha. Só quando estivesse são e salvo ele iria lamentar o "azar" de ter tido o seu dinheiro perdido.

Não sei o que acontecerá com o empresário que, assumindo sua parte de culpa, denunciou os meliantes. Mas deveria existir uma forma de estimular esse tipo de atitude sem ferir a justiça. Afinal, os golpes mais maquiavélicos são aqueles em que a vítima também tenciona burlar a lei. Ao descobrir-se enganada, ela teme se expor por ter sido conivente com um pretenso ato ilícito.

De qualquer forma, ainda estou imaginando os funcionários da Casa da Moeda limpando as cédulas uma por uma. Ah, não, é uma máquina. Tinha esquecido. Com uma abertura para abastecimento do solvente especial. Com certeza deveria existir outra para aplicar o revestimento preto.

segunda-feira, junho 05, 2006

Histórias em quadrinhos

Quem hoje me conhece como um assumido "fanático por música" (aliás, o único tipo de fanatismo que eu admito que me atribuam) não imagina que, em certa época de minha vida, minha grande paixão foram as histórias em quadrinhos. Aprendi a ler cedo e logo estava folheando revistas como Tio Patinhas, Pato Donald, Bolinha e Luluzinha. (É bom frisar que eu não usava o termo "gibi". Até uma certa idade, nem o conhecia. Eu comprava, lia e colecionava revistas.) Mais adiante, motivado pela série de TV, comecei a ler Batman. E depois Super-Homem.
Em 1967, estreou na TV Gaúcha a série de desenhos precariamente animados "Super Heróis Shell" no espaço do programa Dozelândia, apresentado pelo Vovô Joaquim. Foi o começo da Marvel Comics no Brasil. Os heróis eram Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Namor e Thor. O lançamento foi concomitante com a publicação revistas de número zero que eram vendidas exclusivamente em postos Shell. Depois, passaram a sair regularmente nas bancas.
Quem me visse talvez lamentasse que aquele menino gordinho deveria sair mais e praticar esportes. Pois eu não me arrependo de ter vivido intensamente aquele mundo de fantasia. Gastava o dinheiro de minha mesada no Stand Vera Cruz da Praça da Alfândega, em Porto Alegre ou, em Capão da Canoa, na Praiana. Ou mesmo nas bancas de Atlântida. Na casa da praia, entrava na minha "cabana de índio" levando as revistas junto e mergulhava nos quadrinhos, acompanhando cada história com interesse. As revistas que eu comprava na praia, deixava lá, para reler nos veraneios seguintes. E assim aguardei com entusiasmo o lançamento do primeiro número totalmente a cores publicado pela Ebal, que foi o Super-Homem. Lembro da participação especial que o Homem-Aranha fez na revista do Thor para tempos depois ter seu próprio título lançado. Adorei o Demolidor. Virei fã do Judoka, que era um herói brasileiro. Surpreendi-me com a verdadeira identidade do Duende Verde.

Eu nunca deixei de gostar totalmente de quadrinhos, mas o meu auge como leitor assíduo foi entre 1967 e 1970. Depois disso, meus interesses começaram a se diversificar. Mas recordo de um fato que, para mim, ficou como última lembrança marcante dessa minha fase. O Almanaque do Homem-Aranha de 1971 trazia uma história completa de como o aracnídeo precisou enfrentar o Dr. Octopus para conseguir um soro para salvar sua Tia May. O suspense da trama me prendeu de tal forma que eu levei a revista para a mesa na hora da refeição, para não interromper a leitura! Eu nunca tinha feito isso.

Hoje não consigo me entusiasmar com heróis novos. Aproveito o meu inglês para reler as histórias do meu tempo, que são compiladas em séries em formato de livro como Essential, Masterworks (da Marvel) e Showcase (da DC), entre outras. Especialmente as tramas escritas por Stan Lee são caracterizadas por vários quadrinhos de luta entre o herói e um de seus inimigos. Na infância as "brigas" dos personagens me empolgavam. Eu me angustiava quando o herói era golpeado e vibrava quando ele reagia. Hoje eu vejo que o confronto é apenas uma forma de gastar páginas e mais páginas sem muita evolução sob pretexto de "ação". Geralmente passo batido nesses quadrinhos e vou direto ao que interessa: quem ganhou? A partir daí é que a história volta a se desenrolar.
Muitas das histórias do meu tempo estão sendo republicadas em português por editoras como a Mythos. Mas aí eu sou como os fãs de séries de TV: eles valorizam a dublagem original e eu a tradução da EBAL, com seu português castiço cheio de mesóclises, "doravantes" e "entrementes". Ótima também era a seção "Notícias em Quadrinhos", em que eram respondidas cartas dos leitores e anunciadas novidades da editora. A EBAL deixa saudades, sem dúvida. Assim como as antigas edições da Rio Gráfica (que comprou a Editora Globo, assumindo seu nome) e de O Cruzeiro. Hoje freqüento duas comunidades do Orkut que me levam de volta àqueles tempos: "Desenhos Desanimados Marvel" e "EBAL – Editora Brasil América". Aí lembro da emoção que era entrar em uma loja de revistas forradas de publicações da EBAL e tantas outras e sentir aquele cheiro que os gibis de hoje não exalam mais. Um dia disse para o meu pai: "Quando eu entro numa banca de revistas o meu coração se abre". Ele gostou tanto da frase que a repetiu para minha mãe.

Bons tempos. Não me arrependo de nada.

(Imagens gentilmente cedidas por Lenimar Andrade.)

sexta-feira, junho 02, 2006

Amostra


Eles estão cantando à capela, sem microfone, e o áudio foi captado pela câmera de vídeo. Há muito ruído de fundo, também. Em todo o caso, vale pela amostra. No ano passado, quando Robin Gibb se apresentou em São Paulo, uma turma de fãs dos Bee Gees de Porto Alegre fez uma caravana para ir assistir ao show. O que se vê neste vídeo é a dupla Selle e Lu Geiger improvisando uma interpretação de "Islands in The Stream" no Hotel Transamérica. Acho que a intenção era atrair a atenção de Robin para que saísse do camarim e viesse conhecê-los, mas infelizmente não deu certo. A dupla é formada por Luciene Geiger e seu marido Elizandro Leonan (o "Selle" faz parte do sobrenome, mas não sei se vem antes ou depois). Elizandro é também vocalista da Sunset Riders, de forma que aqui está, finalmente, uma amostra do cantor que "canta Bee Gees melhor que os Bee Gees". Podem observar: por trás do burburinho, não parece que é mesmo Robin quem está cantando? Até pode ser que a gravação original tenha o vocal de Barry, mas aqui o Elizandro "fez" o Robin (ele "faz" os dois com perfeição - imita, quero dizer). Infelizmente o áudio não está bem sincronizado com a imagem, mas dá pra ter uma idéia. Quem mora em Porto Alegre, fique de olho para não perder os shows da dupla Selle e Lu Geiger e também da banda Sunset Riders. (O vídeo foi captado por Shaw e disponibilizado no You Tube por Paulo Braz.)