sexta-feira, novembro 05, 2004

Idéias óbvias

Gente, já vi que paguei um mico – talvez um miquinho, mas paguei – ao intitular o meu texto sobre a eleição americana "Ô, raio!". Andei circulando pelos blogs e praticamente todo o mundo teve essa brilhante, genial e originalíssima idéia. É o tipo do trocadilho óbvio, que todos acabam fazendo. Mais ou menos como quando a seleção brasileira de qualquer esporte joga contra a de Gana e alguém diz: "o Brasil vai precisar de muita gana pra vencer".

As idéias óbvias, além da característica óbvia da obviedade (ai!), têm a propriedade de induzir o formulador a achar que está sendo original. Que teve um lampejo de genialidade e que nunca ninguém antes pensou naquela tirada. Um amigo meu veio me contar a resposta fantástica que deu na aula de História do professor César Mantelli, no cursinho pré-vestibular. Quando César pediu um exemplo de paixão, meu amigo disse na hora: "Paixão Cortes!" Mal sabia ele que essa piada sai todos os anos e o professor já a espera. Se ninguém disser, ele mesmo fala: "Que Paixão Cortes, nada!"

As idéias óbvias também se enquadram em outras modalidades que não piadas. Em 1981 a Gerência da Caixa Econômica Federal do Rio Grande do Sul criou um bonequinho para a Campanha do Bom Atendimento. E promoveu um concurso para escolha do nome do personagem. No fim, o que era para ter sido uma seleção do melhor nome acabou virando uma votação, pois mais de uma centena de empregados batizaram o mascote de "Cefinho" (de CEF). A solução foi sortear o prêmio entre os participantes. Assim também, quando o Papa João Paulo I faleceu em 1978, eu tinha certeza de qual seria o nome do seu sucessor. O dia em que eu cheguei em casa e minha mãe comentou que já tinha sido escolhido eu só perguntei: "João Paulo II"?

Certa vez um ex-colega meu de colégio estava se formando em Medicina e eu estava pensando num presente para lhe dar. Mas não poderia ser uma agenda, pois essa eu já sabia que ele receberia várias. Minha mãe e meu cunhado estavam na sala e eu pedi uma sugestão. Os dois pensaram um pouco e acabaram dizendo em uníssono: "Uma agenda!" E o curioso é que a minha mãe achou que o fato de os dois terem sugerido a mesma coisa só reforçava o quanto a idéia era válida. No fim escolhi outra coisa, mas contei o episódio ao formando. Ele disse: "Teria sido a terceira agenda". Aliás, presentes óbvios são um capítulo à parte. Meu pai ganhava vários perfumes diferentes em seu aniversário e não usava nenhum.

Outro caso de idéia óbvia é fazer piada do nome da pessoa. Pobres dos Barata, dos Fracasso, dos Grandi, dos Pertence e tantos outros nomes que se prestam a trocadilhos. Cada piadista sempre acha que foi o primeiro! Eu próprio tenho um nome do meio que confunde a todos: Dreyer. Já cansei de ouvir a pergunta se sou parente dos Dreher do conhaque. Basta olhar bem os nomes e ver a diferença na grafia. E como no Rio Grande do Sul existe café Pacheco, volta e meia aparece algum engraçadinho para dizer que o café Pacheco é para curar o porre de Dreher! Quanto a ser chamado de Milho, não me importo. É um apelido bem mais simpático do que outros que já tive.

Por tudo isso, desculpem pelo "Ô Raio". Em outro blog saiu "Ohio que o parta", que dá na mesma. E aproveito para perguntar: Para onde Steve Vai? Com quem Billy Ficca (baterista do Television)? E alguém já flagrou o Evan Dando?