Terry Knight e o Bloodrock
Que ironia. Eu já estava com um texto praticamente pronto para postar aqui sobre o Bloodrock quando chegou a notícia de que o ex-empresário e produtor do grupo, Terry Knight, foi morto a facadas pelo namorado de sua filha na noite de 1º de novembro. Terry era mais conhecido por ter lançado o Grand Funk Railroad. Na verdade meu interesse pelo Bloodrock tem outra motivação. Eu nem sabia que eles tinham sido apadrinhados por Terry Knight. Descobri pesquisando na Internet.
Mas vamos ao texto que eu queria publicar.
Mais um capítulo de minha histórica primeira viagem aos Estados Unidos, em 1974. Embora, aos 13 anos, eu já fosse fanático por música, estava recomendado por meus pais para que não trouxesse muitos discos. O motivo é que o preço em dólares, mesmo sem taxa de importação, acabava saindo mais caro do que o lançamento brasileiro. Então o combinado é que eu compraria apenas um LP. Por sorte eu mudei de idéia na última hora e trouxe três. Mesmo assim, me arrependi de não ter comprado mais. Eu ainda não havia adquirido a mentalidade de que não é o preço que importa e sim o valor que os discos teriam para mim, pelo ineditismo. E, naquela época, praticamente não havia discos importados para venda em Porto Alegre. Quem trouxesse algum do exterior que não tivesse sido lançado no Brasil realmente podia dizer que "só ele tinha". Caso estejam curiosos, os discos que eu trouxe foram Caribou, de Elton John, e Hunky Dory e The Man Who Sold The World, ambos de David Bowie.
Um de meus companheiros de quarto gostava tanto de música quanto eu, mas tinha um gosto menos eclético e mais restrito ao rock. Elton John, por exemplo, não era a praia dele. Mas ele gostava de David Bowie e aproveitou para comprar o recém-lançado Diamond Dogs. Eu não comprei porque imaginei que logo sairia no Brasil. No fim, Caribou, do Elton John, chegou às lojas uma semana depois da minha volta, enquanto Diamond Dogs ainda demorou uns dois meses para ser lançado. Lembro que meu amigo comprou ainda Quadrophenia, do Who, Deep Purple in Rock, do Deep Purple, e Wonderworld, do Uriah Heep. Por curiosidade, ele resolveu escolher também um disco de um grupo que fosse totalmente desconhecido no Brasil, para trazer algo realmente diferente e inédito. Ao ver a capa do LP abaixo na seção de discos do Burdine's, na Flagler Street, em Miami, imaginou que fosse o tipo de hard rock que lhe agradaria e resolveu arriscar.
Alguns meses depois eu e ele (e outros companheiros de viagem) nos reencontramos na praia de Atlântida. Ele me mostrou uma fita com algumas gravações, incluindo uma faixa do Bloodrock. Comentou que havia gostado do disco e que nunca havia sido lançado no Brasil. Depois disso, passei alguns verões sem ir a Atlântida e não nos falamos mais.
Na semana passada, enxerguei numa loja um CD do mesmo disco do grupo Bloodrock que meu amigo havia comprado há 30 anos. Eu nunca tinha esquecido nem do nome, nem da capa. Comprei na hora. Tinha curiosidade de conhecer o álbum que meu companheiro de quarto havia escolhido "no chute". De uma coisa eu já sabia por minhas leituras: não era um grupo muito valorizado pela crítica mais exigente. Numa audição rápida, parece uma cópia fraquinha do Deep Purple, com a tradicional dobradinha de guitarra e teclados em primeiro plano. O comentário do site da All Music diz que o álbum 2 (lançado em 1970) continha o hit "D.O.A." (dead on arrival - morto ao chegar), mas como um todo não era tão bom quanto o primeiro do grupo. Na verdade "D.O.A." não chama tanto a atenção assim. Talvez para quem a ouviu no rádio na época do sucesso, tenha criado um vínculo de familiaridade. É uma power ballad de mais de oito minutos, começando com duas notas alternadas de órgão que lembram vagamente uma sirene de ambulância (e caso alguém não perceba a semelhança, uma sirene de verdade entra de tempos em tempos) e ganhando mais força no refrão. Ao final há um solo de guitarra com um pouco mais de peso.
É curioso observar como qualquer artista, por mais obscuro que seja, sempre terá um "fã número um" (mesmo que seja parente...) para construir um site inteiramente dedicado a seu ídolo. Pois achei uma quantidade razoável de páginas na Internet dedicadas ao Bloodrock. A mais completa e interessante parece ser esta (em inglês, obviamente). Conta a história do grupo em capítulos, desde o surgimento em Fort Worth, Texas, até os atuais projetos dos ex-integrantes.
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