sexta-feira, julho 30, 2010

Então foi assim

Acho que foi no ano passado que o músico e pesquisador Ruy Godinho, que eu já conhecia de um grupo de discussão, me enviou um e-mail particular. Ele queria saber o contato de um compositor gaúcho autor de uma antiga música lembrada em todo o Brasil. Ruy pretendia entrevistá-lo para o segundo volume de sua série "Então foi assim", em que revela como surgiram diversas composições de sucesso nacional. Respondi que tentaria encontrá-lo, mas que de qualquer forma ele não era o único. Havia diversos outros gaúchos responsáveis por canções eternas que poderiam entrar no projeto. Sugeri alguns nomes, encaminhei mensagens e fiz chegar exemplares do primeiro volume às mãos dos indicados.

Ao receber finalmente o volume 2, fico gratificado de constatar que um dos compositores apontados por mim já está no livro: é Mauro Kwitko, autor de "Mal Necessário", gravada por Ney Matogrosso. Eu já havia contado a história da música aqui no Blog, mas o relato que Ruy colheu por telefone é mais detalhado e corrige alguns pormenores. Entre as demais composições abordadas, aparecem "BR-3" de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, "Meu Mundo e Nada Mais" de Guilherme Arantes, "Outra Vez" de Isolda, "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda" de Hyldon, "Sonho Meu" de Ivone Lara e Délcio Carvalho, "Romaria" de Renato Teixeira, "Rua Ramalhete" de Tavito e Ney Azambuja e muitas outras. O lançamento é da Abravídeo com patrocínio da Caixa Econômica Federal.

A propósito, Ruy pretende lançar ainda os volumes 3 e 4 e já está em contato com outros autores gaúchos recomendados por mim. Quem sai ganhando é a história da música brasileira.

Sorria, você está sendo filmado!


Faz tempo que não conto as novidades aqui no Blog, mas meus passos estão sendo vigiados. Não é difícil localizar a mim e à Janete neste vídeo da São Leopoldo Fest de terça-feira à noite. Ela está tirando os óculos enquanto Bebeto Alves canta "Paint it Black" com arranjo de milonga.

terça-feira, julho 20, 2010

Isto é incrível!

Alguém adivinha que idade eu tinha quando essa imagem foi capturada? Fácil: 49. Não parece? Pois olhem bem.

Tudo começou quando um colega meu veio me perguntar se um sujeito que aparecia num comercial da Fox era meu parente. Juntando as informações dele, consegui localizar o vídeo. E fiquei bem impressionado. Este aí não sou eu, é o cara do comercial. Mas, olhando rápido, realmente se parece comigo quando eu era mais jovem, com alguns quilos a menos e cabelo ainda escuro. Como a imagem é atual, é óbvio que eu tinha (e tenho) 49 anos quando ela foi capturada. Mas este não sou eu. Quem diria: depois de tanto publicar fotos de sósias aqui no Blog, tipo "separados ao nascer", agora chegou a minha vez. Sabe lá...

Vejam o comercial abaixo:

Dia do Amigo

Como hoje é Dia do Amigo, convido-os a clicar aqui e ler a crônica "Meus secretos amigos", do gaúcho Paulo Sant'ana, que muitos pensam ser de Vinicius de Moraes. A publicação original foi no jornal Zero Hora de 4 de novembro de 1990. No link acima vocês a encontram republicada no livro "Português para Estrangeiros", de Mercedes Marchant, via Google Books. Observem que o texto original tem algumas diferenças em relação à versão que circula na Internet. Para piorar as coisas, o próprio Sant'ana viria a publicar a versão adulterada, cheia de pontos de exclamação em sequência (!!!), para reivindicar a autoria. Mas esse e somente esse é o texto correto. E não termina com a frase "a gente não faz amigos, reconhece-os", que é na verdade de Garth Henrichs.

domingo, julho 11, 2010

Vem, vem me ajudar...

Lembram de "Vem Me Ajudar", dos Fevers? Na época, a "versão original" que se divulgou no Brasil, com lançamento em disco e tudo, era "Help, Get Me Some Help", de Tony Ronald. Com letra em inglês, lógico. Só que a primeira gravação de Tony era na verdade em espanhol. Quem fez a versão em português provavelmente não conhecia essa letra, pois do contrário teria escrito versos bem parecidos, como acontece nas adaptações entre esses dois idiomas.

Por que estou postando este vídeo que catei no YouTube? Porque Tony Ronald é holandês radicado na Espanha. É minha homenagem à final da Copa do Mundo de 2010. Pensando bem, como brasileiro, também "he de olvidarme de aquel fracaso, de aquel fracaso..." Mas fomos vingados pela Espanha.

quinta-feira, julho 08, 2010

Vinil e CD

Está surgindo uma nova tendência nas "edições especiais" de relançamentos no exterior: incluir vinil e CD num superpacote. Eu, mesmo sendo colecionador, acho que é exagero. O vinil de boa qualidade tem seus adeptos entre os chamados "audiófilos", mas dificilmente alguém vai querer os dois formatos. Sou totalmente a favor de caixas de CDs com farto material, mas incluir vinil junto é desnecessário. Poderiam então lançar duas edições e cada um escolheria o seu formato preferido. Acima está o conteúdo da caixa "Tubular Bells", reedição do clássico álbum progressivo de Mike Oldfield, de 1973. E aí está a overdose de itens no relançamento especialíssimo de "Station to Station", de David Bowie, original de 1976. Esse deve estar à venda em setembro. Vou pedir de presente para o Papai Noel.

P.S.: Já comprei os dois. Para lerem uma crítica à forma como os CDs estão sendo acondicionados nesses relançamentos de luxo (já saíram vários outros no mesmo formato), cliquem aqui.

quarta-feira, julho 07, 2010

Ringo chega aos 70

Eu tinha 5 anos quando assisti à estreia do filme "Help!" em Porto Alegre. Uma lembrança marcante é das garotas no cinema gritando "Ringoooo!" Foi o mais perto que o Brasil chegou da Beatlemania.

Richard Starkey, mais conhecido como Ringo Starr, está completando 70 anos hoje. Ele é o mais velho dos Beatles. Existe uma polêmica sobre ele ser ou não um bom baterista. Uns dizem "claro que é", enquanto outros respondem "claro que não". Minha opinião é a de que ele pode ser tecnicamente limitado - não sabe rufar, por exemplo - mas tem um estilo forte e pessoal de marcação. Assim como há cantores com poucos recursos de voz mas muita personalidade na interpretação, Ringo criou um estilo simples, mas eficaz, com uma batida seca e firme. Basta dizer que ele foi chamado por John Lennon para tocar nos dois álbuns da Plastic Ono Band, o dele e o de Yoko, depois do fim dos Beatles. E se é verdade que, em vários de seus discos, Ringo era complementado por outro baterista (geralmente Jim Keltner), isso se deveu muito mais a seus problemas com o álcool do que a suas eventuais limitações. Quando parou de beber, não só assumiu sozinho as baquetas de seus discos, como passou a excursionar em 1989 com sua "All Starr Band", uma ideia genial de reunir músicos famosos numa banda itinerante, variando as formações.

Por outro lado, ninguém nega que ele não é bom cantor. Mas, graças a "uma pequena ajuda de seus amigos", existem algumas maravilhas em sua discografia solo. "Ringo", de 1973, é considerado um clássico, além de ter reunido os ex-Beatles (embora não todos em uma mesma faixa). E assim vale a pena conferir também "Goodnight Vienna", "Rotogravure", "Stop and Smell The Roses", "Old Wave", além, é claro, dos CDs e DVDs da All Starr Band. Outra característica do baterista narigudo é ser uma espécie de unanimidade em simpatia. Como disse ao biógrafo Hunter Davies em 1967, "todas as fãs têm o seu Beatle preferido, mas gostam de mim também, então se você contasse votos do segundo lugar eu seria o mais querido". Foi o único que sempre se manteve amigo de todos os colegas ex-Beatles. E olhem que não faltariam motivos para animosidades (George teve um caso com sua esposa Maureen, por exemplo). Ringo entrou no grupo de última hora, às portas do megassucesso, mas soube assumir o seu papel. Engraçado, carismático, discreto, ele foi o elemento de equilíbrio na química dos Beatles.

Feliz aniversário, Ringo! E obrigado por tudo.

terça-feira, julho 06, 2010

Veranico de julho

Desde que comecei a observar, só não teve "veranico de julho" em 1984 e em 2007. Pois aí está ele, de novo. Sempre tem um período de calor em julho em Porto Alegre. Pena que só eu e os meteorologistas lembremos disso.

sábado, julho 03, 2010

Brasil fora da Copa

Quando o Brasil cai fora da Copa, a gente fica tão desolado que até esquece que isso acontece na maioria das vezes. Por exemplo, eu já assisti a onze Copas (já que eu era nenê em 1962 e a de 1966 não foi televisionada) e só vi a Seleção Brasileira vencer três delas. É um bom número, pensando bem, mas é menos de um terço. Então não adianta, temos que aprender a ser bons perdedores.

Algumas dessas derrotas ficaram marcadas. Na Copa de 82, eu já tinha combinado de assistir ao jogo do Brasil posterior ao confronto com a Itália na casa de amigos. Como se sabe, não houve esse jogo. Ainda assim, no dia da partida contra a Itália, eu fiz o que tinha planejado: aproveitei o horário de trabalho reduzido naquele dia de semana para sair e fazer compras depois do final. Era uma tarde chuvosa em Porto Alegre e ainda lembro de um camelô no centro, aparentemente bêbado, gritando repetidamente: "Acabô... acabô..."

Da Copa de 86, ficou na lembrança o personagem de Jô Soares falando no orelhão, depois do jogo contra a França: "Quem ensinou o Sócrates a bater pênalti daquele jeito?" Sempre lembro dessa frase quando revejo a decisão em pênaltis em DVD. Já a partida contra a Argentina em 1990 eu gravei em VHS, mas não estou conseguindo localizar a fita. Quando houve a revelação de que Branco havia sido dopado, revi todo o jogo, fazendo anotações. Depois publiquei aqui no Blog um comentário intitulado "
Branco e o vídeo-tape da polêmica". Recordo também de uma sátira que a Rádio Transamérica veiculou sobre o acompanhamento de "O Pulso", dos Titãs. Em vez de "e o pulso ainda pulsa (o pulso)", o refrão dizia: "viajaram às nossas custas (tô puto)". A letra era longa e bem elaborada, mas logo os Titãs pediram que ela fosse tirada do ar, já que foi feita sem autorização deles.

Houve quem achasse que a Seleção dos Estados Unidos tinha chance de ser campeã. Os americanos são muito aplicados em tudo o que fazem, mas futebol vem do berço. E a terra do Tio Sam, sem nenhuma tradição nesse esporte que a maioria de seu povo nem mesmo conhece, ainda está longe de chegar lá.

Apesar do sangue alemão pelo lado de minha mãe, acho que vou torcer pelo Uruguai.

Leia também:
Fim Amargo (sobre a Copa de 2006)
O detalhe no futebol

sexta-feira, julho 02, 2010

"...choram a morte do seu cantor..."

Só hoje fiquei sabendo que o cantor e compositor Abílio Manoel, português de nascimento radicado no Brasil, faleceu na terça-feira, aos 63 anos. Teve um enfarte enquanto assistia ao jogo Espanha e Portugal, vestindo a camiseta do seu país natal. Tive contato com ele pela Internet em 2004, no mesmo grupo de discussão onde também conheci Zé Rodrix e outros notáveis. Abílio ficou pouco tempo naquele fórum, mas suficiente para me satisfazer uma curiosidade: quem era a "Andréa" da música que fez sucesso bem na época em que comecei a ouvir música pra valer, em 1971? "Conheci-a nos anos 70 quando morei no México. Morenaça ao estilo latino-fatal", ele respondeu. Outra de suas revelações foi que o título de um de seus maiores sucessos, "Pena Verde", nasceu da expressão que as televisões já usavam bem antes das reprises das novelas da Globo, no slide que exibiam enquanto rebobinavam o vídeo-tape para repetir um lance: "vale a pena ver de novo".

Abílio Manoel fazia o gênero do cantor popular. Por isso, estranhei quando, em 1974, a Rádio Continental de Porto Alegre começou a tocar "Andina". A Continental era uma rádio alternativa, que não rodava nada que pudesse ser remotamente tachado de brega. Mas o diretor de programação, Marcus Aurélio Wesendonk, tinha consciência política e era muito atento às letras. Ele viria a programar duas músicas de Luiz Ayrão pelas mensagens nas entrelinhas e com "Andina" não foi diferente. Abílio a descreveu como "uma tentativa de promover uma identidade latino-americana no tempo da censura brava". Confiram os versos: "As morenas da cordilheira /as moradas do vale em flor / choram a morte do seu cantor / e é por isso que por todo o lado / há uma porta aberta e um corredor / toda a casa é bem ajeitada / que é pra chegada de outro cantor". Seria uma referência ao cantor Victor Jara, torturado e fuzilado pela ditadura chilena no golpe de 1973?