domingo, maio 31, 2009

O Batman falante

Já comentei aqui que, quando preciso dar presentes, se não for uma ocasião que exija algo muito caro, gosto de escolher CDs ou DVDs. Mesmo sabendo que o presenteado não tem o mesmo interesse que eu por esse tipo de material. Vale como uma indicação. Sempre que a pessoa ouvir o CD ou assistir o DVD, vai lembrar de mim. Mesmo que o faça uma vez só. Não importa.

Assim também, a minha irmã gosta dar bonecos de presente. Como ela coleciona bonecas, é um produto do ramo dela, digamos assim. Ela já me deu dois bonecos do Batman. Sim, isso foi há pouco tempo. Eu já estava com mais de 40 anos. Mas não importa. Ela sabe de minha admiração pelo Homem Morcego criado por Bob Kane e não tem o menor constrangimento de dar Batmans para o irmãozinho. E nem eu de recebê-los. Tanto que um deles estava sentado em minha prateleira de livros.

Ontem minha namorada entrou no meu apartamento e deu falta do Batman sentado. Onde estava ele? Deitado em cima da mesa. Lembro que, quando minha irmã me contou que tinha comprado o boneco, disse que ele falava japonês. Depois, os filhos dela corrigiram: era inglês. Apesar do meu relativo domínio do idioma, tive dificuldade de decifrar o que ele dizia. Só recentemente, procurando na Internet, é que fui descobrir que o "Batman" era na verdade um Power Ranger adaptado. Provavelmente alguém retocou-o para ficar com jeito de Batman. O resultado é bem convincente. Só que, ao menor ruído, ele respondia: "Time for time force!" "Power up!" "Chrono saber attack!" Geralmente era quando o meu filho fazia muito barulho. E as frases saíam na ordem.

Só que, nos últimos tempos, comecei a observar que o Batman/Power Ranger começou a falar sem qualquer estímulo. Eu estava normalmente teclando ao computador e ele soltava um "Time for time force!" Lá pelas tantas vinha um "Power up!" E depois "Chrono saber attack!" Com o tempo, a pilha começou a ficar fraca. E aí as frases eram ditas lentamente. Quem é do tempo do vinil e das "eletrolas" e já tentou tocar um disco na rotação 16 rpm conhece bem o efeito macabro.

Vai daí que, uma noite dessas, sem mais nem menos, o Batman começou a falar sem parar: "Tiiiime fooor tiiiiime foorce...Poooweeer uuup... Chrooonooo saaabeer attaaaack... Tiiiime fooor tiiiiime foorce...Poooweeer uuup... Chrooonooo saaabeer attaaaack... Tiiiime fooor tiiiiime foorce...Poooweeer uuup... Chrooonooo saaabeer attaaaack..." Imaginem uma voz sinistra no meio da noite se manifestando de forma ininterrupta! Não tive dúvidas. Tirei o boneco da prateleira, coloquei-o sobre a mesa e disse: "Cala a boca!" E ele silenciou. Está lá até agora, bem quietinho.

Vade retro...

segunda-feira, maio 25, 2009

Separados ao nascer?

Copiei a foto acima do excelente blog Velhidade, onde o colecionador Eduardo Menezes está postando matérias publicadas na saudosa revista Pop, dos anos 70. Ele promete que breve disponibilizará também outras publicações. O sujeito acima aparece numa matéria de 1975 sobre o Made in Brazil, quando o vocalista ainda era o Cornélius. Embora alguns discordem, eu achei o garotão aí a cara do Lulu Santos do tempo do Vímana. Vejam abaixo:

Lulu é o bem do centro, um pouco mais à frente (à sua esquerda está Lobão e à direita está Ritchie, quase irreconhecível de cabelos longos). Só que Lulu nunca tocou com o Made. Já me informaram que, na foto de cima, quem aparece é o baterista Rolando Castello Júnior, ou apenas Júnior, como é citado na matéria. Eu o continuo achando a cara do Lulu. Vai ver, o Júnior não pôde comparecer à sessão de fotos e acharam que o Lulu era parecido o suficiente para substituí-lo.

sábado, maio 23, 2009

Zé Rodrix sobre a morte


Lizoel Costa montou essa bonita homenagem em vídeo para Zé Rodrix. A música é "Sempre Que eu Vou Morrer", parceria de Rodrix com Alexandre Lemos, que fez a letra. Mas o próprio Rodrix já tocou nesse assunto, numa mensagem de 2 de junho de 2004 em uma lista de discussão:

Há alguns anos, gostaria de ter a causa-mortis preferida de meu pai: assassinado aos 98 anos de idade com um tiro dado por um marido ciumento que o tivesse pego em pleno ato... Mas hoje não mais. Pode ser de fulminante ataque cardíaco, dentro da minha biblioteca, perto o suficiente da família e dos amigos, mas afastado o bastante para que, alertados pelos cachorros da casa, já me encontrem morto, com um sorriso nos lábios.

Pode sepultar-me em pleno mar, sob a forma de cinzas, já que não poderei ser sepultado in totum no jardim da minha casa. Se conseguirem isso, no entanto, que não cobrem entradas para visitação, à moda do irmão da princesa: deixem que, além das pessoas, os passarinhos e os animais da casa se refestelem no lugar, renovando diariamente o eterno ciclo da Natureza.

Ao enterro devem, através de convite formal, comparecer todos que foram aos meus lançamentos de livro: nada mais parecido com um velório do que isso. Peço parcimônia nos eflúvios emocionais: já as risadas devem ser francas e sem limite. Creio, inclusive, que prepararei com antecedência uma fita de piadas gravadas para animar o velório e manter o pessoal na boa. Como dizia o Bozo, "sempre rir, sempre rir...."

Lá só deixarei a mim mesmo: mesmo os inimigos que comparecerem para ter certeza de que estou realmente morto podem voltar para casa em paz. Não pretendo puxar a perna de ninguém à noite e nem assombrá-los depois de morto.

Já os amigos podem contar comigo: havendo vida após a morte, volto para avisar, da maneira mais prática e menos assustadora que me for possível. A cremação deve ser feita depois que todos forem embora cuidar de seus proprios afazeres: enfrentar as chamas do forno terrestre já será um grande introito para a vida eterna.

Se conseguir, tentarei ser crooner da grande Orquestra de Jazz do Inferno, vulgarmente chamada de SATANAZZ ALL-STARS: como já vou chegar lá tenente ou capitão, dada a minha imensa taxa de maldades realizadas sobre a Terra, creio que não será dificil. Meu castigo certamente será cantar MPBdQ* por toda a eternidade, mas mesmo com isso ainda se pode encontrar algum prazer, assim na terra como no inferno.... É o que veremos a seguir.

No enterro podem tocar de tudo, menos as músicas que eu tenha feito. Minha morte servirá certamente para que se livrem não apenas de mim, mas também de minhas obras. Os herdeiros também nao merecem ouvi-las, sabendo que nada herdarão de minha lavra, porque, sendo eu adepto da política do VAI TRABALHAR, VAGABUNDO, como meu pai fez comigo, já tomei providências para que essas músicas não lhes rendam nem um tostão furado. Sendo um velório moderno, recomendo músicas de carnaval antigo, as indiscutíveis, claro, com algumas discretas serpentinas e confetes jogados sobre o caixão, fechado, naturalmente.

Morrer num sábado à tarde, ser enterrado num domingo antes do almoço e estar completamente esquecido na manhã de segunda, sem atrapalhar a vida profissional de ninguém: eis a perfeição que desejo na minha morte.

*MPBdQ era como Rodrix ironicamente chamava a "música popular brasileira de qualidade" na visão de alguns músicos e críticos.

CD-ROM da Zero Hora

Estou apenas começando a examinar o CD-ROM que acompanha o livro "45 Reportagens que Fizeram História", da Zero Hora. É ali que se encontram as matérias na íntegra. Mas a definição com que digitalizaram as reportagens sobre a Guerra do Vietnã em 1967 só serve mesmo para apreciar a diagramação. As páginas aparecem reduzidas na tela com 100% de zoom. Talvez tenha sido o melhor que puderam fazer com microfilme, por exemplo. Uma pena. As páginas de edições mais recentes estão bem legíveis.

sexta-feira, maio 22, 2009

A garotinha Maísa

Admiro Sílvio Santos como apresentador e empresário. Estar no ar há tanto tempo, sempre com prestígio e ibope, sem dúvida é um mérito. Mas foi preciso ele magoar a garotinha Maísa Silva, de 6 anos, para o público perceber algo que eu já noto há várias décadas: ele se diverte às custas das pessoas.

Há muitos anos existia um quadro em que o concorrente tinha que escolher entre uma quantia em dinheiro ou o prêmio que estava escrito dentro de um envelope. Uma senhora bastante simples estava em dúvida. Sílvio começou a puxar aos poucos o papel e mostrou que aparecia a palavra "casa". Perguntou a ela se tinha uma casa e ela começou a chorar, dizendo que era um barraquinho. Quando ela finalmente escolheu o envelope, a papeleta continha a expressão "tapete de casa". E Sílvio ainda ficou rindo enquanto ela, furiosa, levava o seu presente de grego. E assim havia vários prêmios com denominações que levavam a crer ser algo bem maior do que realmente era. Por exemplo: aparecia a palavra "Disneylândia" e o prêmio era uma "foto da Disneylândia". Claro que o participante estava ciente de que podia ser um engodo. Mas Sílvio se divertia.

Em outra ocasião, Sílvio ofereceu prêmio a quem tivesse o cabelo mais longo. Lembro que dois rapazes do grupo de rock Salário Mínimo foram contemplados. Mas, como de costume, apareceu uma senhora bastante simples. Foi premiada, mas ainda assim Sílvio ficou torturando-a psicologicamente, oferecendo um valor maior para que cortasse o cabelo. Ela ficou tensa, quase em lágrimas, enquanto a oferta ia aumentando. Quando o apresentador propôs uma quantia realmente significativa, ela topou na hora, sem titubear, dizendo que ia "terminar sua casa". Aí Sílvio disse: "mas esse valor a produção não deixa pagar" e dispensou-a, sempre com o mesmo sorriso.

Mas agora Sílivo pegou pesado. Magoou uma criança e ainda incitou o auditório inteiro a chamá-la de "me-dro-sa, me-dro-sa". O homem do baú sempre teve essa postura, mas antes suas vítimas eram adultos. A meu ver, o respeito é devido a pessoas de todas as idades. Mas, no caso de crianças, o abuso é ainda maior. Maísa foi proibida pela Justiça de participar do programa. Decisão corretíssima. Sílvio Santos pode ter e tem vários méritos, mas precisa aprender a respeitar os sentimentos de quem participa de seu programa, sejam adultos ou crianças.

Zé Rodrix no Succo

O baterista João Blattner que me desculpe, mas sem a menor cerimônia, estou publicando uma foto que há tempos copiei do Orkut dele. Aqui vemos a formação do grupo Succo em 1969. Da direita para a esquerda: Cláudio B., Zé Rodrix, Moca, João Blattner, Chaminé e Cláudio Vera Cruz. Zé Rodrix sempre guardou boas lembranças do curto período em que morou em Porto Alegre. Sobre Cláudio Vera Cruz, certa vez escreveu: "Ele é sem sombra de dúvida um dos três melhores guitarristas do mundo". E também: "Na época ele era o único cara que eu conheci que fazia frente ao Lanny Gordin".

Zé Rodrix

Conheci Zé Rodrix pela Internet. Era um bronqueiro assumido. Tinha um senso de humor impiedoso e não media palavras para expressar suas opiniões. Às vezes, se entediava do grupo de discussão e caía fora. Depois, voltava, cheio de amores. Hoje, quando num desses grupos, li uma mensagem intitulada "Adeus Zé Rodrix", pensei: qual foi a bronca que teve dessa vez, que ele já saiu de novo? Quando soube da notícia, mal pude acreditar. Ainda ontem, às 19:40, ele postou uma mensagem.

Sem mais palavras.

segunda-feira, maio 18, 2009

Abrindo uma exceção

Considerando que o CD da Carnaby Street Pop Orchestra and Choir praticamente "só eu tenho", decidi abrir uma exceção (já que sou contra a pirataria e não participo de trocas de mp3) e disponibilizar as músicas em mp3 via Rapidshare. É só clicar aqui para baixar o arquivo zip. Este disco foi relançado em CD pelo selo inglês Recur Records há alguns anos, mas ficou pouquíssimo tempo em catálogo. Eu tive sorte de encomendá-lo na hora certa. Tendo em vista o grande interesse do público brasileiro pelo CD, seria o caso de alguma gravadora brasileira relançá-lo. Ele saiu em vinil com uma capa diferente em 1972 pela Top Tape.

Mais informações sobre este CD aqui.

sábado, maio 16, 2009

Jogo das diferenças

Já comentei aqui sobre minha decepção com o DVD "O Mundo a Seus Pés", lançado no Brasil pela Europa Filmes, sobre o Cosmos de Nova York. Não pelo documentário em si, que é excelente, mas por não incluir os extras da edição original. Vai daí que acabei encomendando o DVD importado, mesmo, pois não estava tão caro. A falta de legendas não é problema para mim. O único contratempo é a região incompatível com os aparelhos nacionais. Mas tenho dois DVD players desbloqueados. E a unidade de DVD do computador permite um número limitado de troca de regiões. Usei desse recurso para capturar algumas imagens, como vocês veem abaixo:

A edição brasileira traz somente o filme em padrão DVD e em MP4. E lambam os beiços.

Já o DVD americano é farto em extras. Dos cinco títulos, dois deles são de interesse total para os brasileiros. "Stories of Pelé" é um trecho de 11 minutos em que várias personalidades internacionais do esporte rasgam elogios ao nosso craque. "Pelé's Farewell Game" mostra um compacto do jogo de despedida de Pelé em Nova Jérsei, em que ele jogou no primeiro tempo pelo Cosmos e o segundo pelo Santos. A partida de 1981 contra o Chicago Sting é interessante para observar a decisão em pênaltis à moda americana. O cobrador sai de fora da área e tem cinco segundos para marcar. O goleiro avança para cortar o ângulo do chute e o instante em que os dois se aproximam é crucial. Ao contrário do pênalti tradicional, a chance maior é de que o gol não aconteça.

Aqui estão algumas imagens da despedida de Pelé. O carinho dos americanos pelo brasileiro é comovente. O próprio narrador não mede palavras para expressar sua evidente admiração pelo jogador.

A exemplo do que fez no milésimo gol, Pelé pede atenção às crianças - não do Brasil, desta vez, mas do mundo. Emocionado, recebe um abraço de seu antigo colega Carlos Alberto, também jogando no Cosmos.

Sua então esposa Rose assiste à partida.

"Pelé fez 5 gols em uma partida 6 vezes e 8 gols uma vez." Ele faria um gol de falta neste jogo, pelo Cosmos.

No intervalo, Pelé se despede em definitivo da camisa do Cosmos e a presenteia a seu pai, Dondinho.

Ao final da partida (2 a 1 para o Cosmos), Pelé inicia uma volta olímpica segurando as bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos, mas mal corre alguns passos e já é carregado por seus companheiros.

O que teria impedido esse material suplementar de ser lançado justamente no país onde o interesse seria maior? Razões contratuais? Dificuldade de traduzir as narrações das partidas para legendar? Algum impedimento relacionado à primeira esposa de Pelé, que aparece por diversas vezes na transmissão do jogo de despedida? O fato de o ex-goleiro do Cosmos, Shep Messing, contar sobre a recomendação de Pelé de que andasse de carro blindado em São Paulo? É difícil entender. Considerando outros casos de DVDs capengas lançados no Brasil, a impressão que se tem é a de que nem todas as editoras brasileiras entendem o valor dos extras para colecionadores. Eu já comprei filme em duplicata apenas porque a segunda edição trazia bônus diferentes. Se o original já está assim, tudo bem. Mas saber que houve corte é muito decepcionante. Ainda mais nesse caso, em que o protagonista é o brasileiro mais famoso de todos os tempos.

O filme em si é muito interessante. Para nós, brasileiros, é mais ou menos como conhecer a história de Dom Pedro IV de Portugal - que não é outro senão o nosso Dom Pedro I quando voltou à sua pátria. Aqui, vemos a história do rei do futebol numa espécie de prorrogação de sua carreira. Para nós, seus melhores momentos já haviam passado. Para os americanos, estavam apenas começando.

O documentário fala da dificuldade que foi convencer as autoridades brasileiras a concordar com a ida de Pelé para os Estados Unidos. Até Henry Kissinger interveio. Mas o objetivo foi atingido: Pelé conseguiu fazer com que os americanos se interessassem pelo "soccer" (de "Association Footbal"), como eles chamam. O New York Cosmos pertencia à Warner Communications e recebeu o devido aporte para consagrar-se.

O italiano Giorgio Chinaglia foi o próximo craque a ser trazido. Mesmo tendo sido o maior goleador do time, não angariou muitos simpatizantes. Somente a altíssima cúpula da Warner parecia gostar dele. Os demais dirigentes não têm papas na língua para manifestar seu desgosto com a personalidade do italiano. Muitos o apontam como o responsável pela derrocada do time, ao envolver-se com a administração. É curioso que Chinaglia colaborou amplamente com o documentário, inclusive contribuindo com um depoimento para os extras em "Stories of Pelé", mas é apresentado como o vilão da história. O que ele deve ter achado disso?

A informação de que "Pelé negou-se a dar entrevistas" surge nos créditos ao som de uma máquina registradora, sugerindo que o problema deve ter sido dinheiro. Já Carlos Alberto aparece diversas vezes, inclusive comentando sobre a tentativa dos Estados Unidos de sediar a Copa de 86, depois da desistência da Colômbia. Se tivessem conseguido, talvez o futebol não tivesse morrido naqueles gramados, como veio a acontecer. Uma pergunta óbvia que se impõe é: merece ser o palco de uma Copa do Mundo um país que se candidata para tentar desesperadamente salvar o interesse pelo esporte em seu território? Depois, como se sabe, a história mudaria, com a Copa de 94. Mas no começo dos anos 80 o Cosmos viveu seus últimos momentos de glória. Atualmente, a marca pertence a Peppe Pinton, ex-empresário de Giorgio Chinaglia.

Por fim, há outra diferença entre as edições brasileira e americana. Quando assisti ao documentário pela primeira vez, achei sem sentido que fossem mostradas as fotos de nu frontal que o goleiro Shep Messing fez para a revista americana Viva no começo da carreira. Imagine você estar com sua família vendo um filme sobre futebol e, de repente, aparece um homem pelado, sem nenhuma censura? Desnecessário. Pois agora constato que, na versão lançada nos Estados Unidos, colocaram uma bola de futebol em frente, digamos, à parte mais ofensiva (ver imagem acima). Será que Messing sabe que o Brasil (e talvez outros países) o está vendo por inteiro?


O caso gaúcho

Embora o contexto e as proporções sejam bem diferentes, há semelhanças entre a história do Cosmos de Nova York e o Renner, de Porto Alegre. Até mesmo o título original do documentário sobre o time americano, "Uma Vez na Vida" (Once in a Lifetime), caberia para o clube portoalegrense. Afinal, na lista de campeões gaúchos de todos os tempos, em meio a incontáveis citações de Grêmio e Internacional, aparece o Renner em 1954. A Estação Elétrica Filme e Vídeo realizou um filme sobre esse episódio histórico: chamou-se "O Papão de 54".

Infelizmente, não há imagens em movimento do Renner jogando. Mas existem fotos e também os jogadores, que contam, emocionados, sobre os bons tempos do saudoso clube. O Grêmio Esportivo Renner foi criado entre os operários da fábrica A.J. Renner em 1931. Em 1945, profissionalizou-se. O entrosamento entre os jogadores, que também trabalhavam na empresa, criou um clima de cumplicidade entre eles. Jogavam por amor ao esporte. O Estádio Tiradentes, na Av. Sertório, era chamado de Waterloo. Ninguém ganhava do Renner em casa.

O time foi crescendo até que, em 1954, não teve pra ninguém. Sagrou-se campeão invicto com uma vitória de 9 a 2 sobre o Juventude. Mesmo com a hegemonia de Grêmio e Inter na capital gaúcha, o Renner tinha a simpatia dos moradores do bairro Navegantes e arredores. Não faltou torcida para comemorar o título. Entre os craques estava Breno Mello, que depois estrelaria o filme "Orfeu de Carnaval".

Em 1959, a Renner decidiu desativar o time para redirecionar a verba para publicidade. E assim encerrou-se um dos mais bonitos capítulos da história do futebol gaúcho. O documentário tem música de Hique Gomez, filho do jogador Léo. Ele lembra que sua mãe conheceu seu pai porque este passava em frente à casa dela quando ia treinar no IPA. "Se não fosse o Renner, talvez eu nem tivesse existido!"

"Papão de 54" tem narração de Ruy Carlos Ostermann e participação de vários ex-jogadores. É uma produção quase perfeita exceto por um detalhe mínimo: a forma como as fotos são mostradas. É comum em documentários acrescentar-se algum movimento às imagens paradas, como aproximação para destacar algum detalhe. Aqui, foi usado um efeito "giratório" que, além de nada acrescentar, acaba se tornando cansativo. Sugestão caso haja um relançamento: refaçam a parte das fotos e deixem-nas paradas na tela. Assim o espectador não fica tonto.

quarta-feira, maio 13, 2009

Caminhada do Trensurb

Como não usei o Trensurb anteontem, escapei da confusão causada pelo rompimento de um cabo. Mas confesso que gostaria de ter experimentado essa sensação ímpar de caminhar por cerca de um quilômetro sobre os trilhos até a estação Petrobrás. Sei que isso causou um incômodo tremendo aos passageiros, em especial aos idosos e pessoas carregando volumes pesados. Mas eu provavelmente adoraria estar entre eles. Sem chuva, a caminhada deve ter sido uma experiência interessante para quem não tinha problemas para se locomover.

A foto acima é de JD Peixoto. Peguei-a do site ClicRBS.

domingo, maio 10, 2009

Dia das Mães


Amor de mãe não morre. Feliz Dia das Mães!

sexta-feira, maio 08, 2009

Depois daquela googlada

Hoje pela manhã recebi um e-mail e um telefonema no meu celular (não sei como conseguiram o número, mas imagino). Uma moça me descobriu pelo Blog e me perguntava se eu não teria informações sobre a Videoteca ZH, uma série de fitas VHS que a Zero Hora lançou nos anos 90. Era uma tarefa de gincana. Respondi que até lembrava da série, mas não sabia detalhes a respeito. Imaginei que tivessem me encontrado pelo fato de eu ser colecionador. Já comentei aqui algumas vezes sobre meu interesse por videocassete e meu acervo de fitas. Sem contar os vídeos que já subi para o YouTube.

Depois, examinando no Site Meter, constatei como a internauta chegou até aqui. Ela digitou no Google:

videoteca ZH vhs

Como não usou aspas - o que deveria ter feito em "videoteca ZH", para amarrar a expressão - acabou chegando na página de
setembro de 2006, onde a primeira palavra e as siglas seguintes aparecem dispersas nas seguintes frases:

Tudo que hoje acontece na era do DVD – compra em vez de locação, formação de videoteca própria, filmes acompanhados de documentários e entrevistas, lançamento de shows, relançamento de temporadas completas de séries de TV, instalação de "home theater" – já podia estar sendo feito desde os velhos tempos do VHS.

E mais abaixo, em outro tópico sobre um assunto totalmente diverso:

Faz décadas que o Juarez saiu da ZH, mas o meu carinho pelo jornal de sábado continua.

Ou seja: como o Google indicou o meu Blog a partir da pesquisa que ela montou, ela presumiu que eu conhecesse o assunto. Não percebeu que em ponto algum do site havia qualquer referência à coleção que ela procurava. Casualmente ela chegou em alguém que se interessava pelo tema. Por isso eu não fiquei surpreso quando ela me questionou. Mas depois tive que achar graça. Já teve gente que descobriu o Blog no Google digitando fotos homens nuzinho grátis. A palavra "nuzinho" estava num poema de Mario Quintana. Outro escreveu blog especifico com fotos de suruba entre sexo masculino. Eu havia definido a Internet como uma "suruba comunicativa" e o termo acabou se somando aos outros que também apareciam dispersos na página. Agora imaginem se alguém resolve me procurar para tratar desses assuntos. E ainda pode insistir, dizendo que foi o Google que indicou!

O segredo de uma consulta bem montada está na escolha das palavras certas e na "amarração" das expressões com aspas. Mais detalhes no meu "
Curso rapidíssimo de Google".

Claudiomiro

Hoje, na saída do Tensurb, avistei um ídolo de infância e fui falar com ele: Claudiomiro, jogador do Internacional na virada da década de 60 para 70. Perguntei se ele lembrava de um Inter x Botafogo em 1971 no Maracanã em que o time saiu de lá para Vitória (e encontrou a derrota), mas ele teve que voltar a Porto Alegre de avião porque tinha levado um bolaço no rosto na partida. Sim, ele lembrava e ainda gesticulou para mostar onde havia sido atingido, próximo ao olho. "Pois naquele voo eu e meu irmão mais velho voltamos contigo, num avião da Sadia, que depois virou Transbrasil." Quando disse o nome do meu irmão ele sabia quem era, mas naturalmente não recordou da nossa companhia na viagem. Falei pra ele que o time do Inter do meu coração era o do tempo dele e que hoje nem acompanhava mais futebol. "Também, hoje o pessoal vai pro estádio pra brigar", ele comentou. "Antigamente os torcedores do Inter e do Grêmio iam juntos pro estádio, cada um com a camiseta do seu time. Isso acabou. Eu nem vou mais a jogo. Contratei um pacote da Sky e fico vendo em casa." Perguntei se ele ainda jogava futebol e ele respondeu que não. Falamos um pouco sobre Escurinho, que teve o mesmo infortúnio de Sérgio Galocha e perdeu uma perna em razão de diabetes. Ele se dirigiu à fila do ônibus Assunção que o levaria até o Beira-Rio, onde trabalha. Eu não poderia me despedir dele sem dizer o óbvio: que a torcida colorada não o esquece e que ele nos deu muitas alegrias. Grande Claudiomiro, que até na Seleção jogou em 1971, chegando a participar da despedida de Pelé.

Catei este vídeo no YouTube: Claudiomiro fazendo o primeiro gol do Beira-Rio, em 1969.

quarta-feira, maio 06, 2009

Ainda os abusos

Meu ex-colega da Faculdade de Jornalismo Eduardo, um dos leitores "de verdade" deste Blog (que vem aqui realmente para me ler e não porque digitou qualquer bobagem no Google e acabou chegando neste endereço), leu meu texto "Limites Tácitos" e fez um comentário. Segundo ele, como são recorrentes neste blog observações sobre a língua inglesa, "fatalmente és e serás consultado sobre o tema". Na verdade, não lembro de ter recebido uma única consulta de inglês por aqui. Aliás, as perguntas que chegam pelo Blog em geral são pertinentes e fáceis. Às vezes alguém posta um poema e me questiona se é mesmo de Mario Quintana e nem sempre eu sei responder. Nesses casos, indico algumas comunidades do Orkut em que as dúvidas podem ser tiradas.

Mas já aconteceu, há muitos anos, de eu entrar em um grupo de discussão sobre inglês do Yahoo. Meu objetivo era fazer amizades, então escolhi uma área que fosse do meu conhecimento. Eu poderia ter optado por algo relacionado a música, mas nesses fóruns a predominância é de adolescentes e jovens escrevendo em internetês. Não era bem isso que eu procurava. A turma do inglês era legal. Tinha gente de todas as idades e as mensagens eram algumas em português, outras em inglês. Até que um dia um sujeitinho enviou um texto enorme em inglês, algo assim de umas dez páginas do Word, dizendo que era uma tradução que ele havia feito e queria que alguém revisasse. Depois de insistir por cerca de uma semana, ele postou uma mensagem realmente agressiva, incluindo um palavrão, indignado pela "má vontade" do grupo por não ajudá-lo. Aí eu não resisti e respondi que a tradução dele estava tão ruim (o que era verdade) que era mais fácil refazer todo o trabalho do que tentar aproveitar alguma coisa do "estrago" que ele havia feito.

Muitos leigos se iludem com "revisão". Acham que estarão ganhando tempo e poupando dinheiro se tentarem eles mesmos iniciar a tradução - ou pior: usar um tradutor automático - e depois mandar para um tradutor "só revisar". Que o trabalho ao final será mínimo. Revisão só dá certo entre profissionais com níveis aproximados de conhecimento. Mas muitos não entendem isso. Acham que, se entregarem um trabalho mais ou menos começado, terão diminuído a tarefa do tradutor. Em muitos casos, se original não estiver junto, o profissional tem mesmo que adivinhar o que o amador tentou dizer em alguns trechos.

Mas a história mais incrível que conheço sobre abusos nos pedidos de consultoria sobre idiomas foi contada por Carol Alfaro, do blog A Arte da Tradução. Este depoimento, no caso, ela compartilhou na comunidade de tradutores do Orkut. A partir de seu trabalho como revisora para um laboratório de informática, ela decidiu criar uma página na Internet tirando dúvidas mais frequentes de português. Como o site tinha um link para contato, ela começou a receber consultas. A princípio, procurou atender a todas, embora algumas estivessem respondidas na própria página, que o consulente com certeza não leu até o fim. "Então fui descoberta por alunos de colégio. Comecei a receber mensagens do tipo: Por favor, me diga urgente quais são as funções dos pronomes relativos em orações adversativas (ou qualquer coisa que o valha, estou inventando)." Quando a situação fugiu de controle, com demandas "excessivas, rudes e repetitivas", ela tirou a página do ar e acabou com a consultoria gratuita on-line.

Tudo isto remete a um texto mais antigo do meu blog: "Sem noção". É o mesmo tema abordado sob outro ângulo. Tem gente que "se faz de bobo pra passar bem", mas muitos são bobos legítimos, mesmo, que não percebem que estão abusando. E a diferença se nota pela reação.

sexta-feira, maio 01, 2009

Fugindo do engarrafamento

Na maioria das vezes em que pego um ônibus ou táxi, meu objetivo é um só: ganhar tempo. Até existem casos em que recorro a esses transportes públicos por conforto. Um exemplo típico é um dia de chuva. Ou então, quando estou carregado de pacotes. Mas é raro eu precisar me deslocar dentro de Porto Alegre numa distância que não me animaria a percorrer a pé. Nunca tive preguiça de caminhar. O problema é que, atualmente, meu tempo livre é escasso. Já fiz longas caminhadas dentro da cidade, mas hoje em dia está difícil.

Vai daí que, se numa dessas situações de querer abreviar o deslocamento, encontro pela frente o trânsito engarrafado, desisto do veículo e sigo caminhando, mesmo. Certa vez, fiquei com pena de um motorista de táxi que eu tirei da fila para andar uma quadra e meia. Foi no final da tarde, no centro. Um grupo de manifestantes organizou uma caminhada bem no horário de fim de expediente. Se o objetivo era chamar a atenção, conseguiram, mas angariar simpatizantes, já não tenho tanta certeza. O trânsito simplesmente parou. Pedi desculpas ao motorista, paguei o valor indicado no taxímetro, desci e fui a pé até o Menino Deus. Quando acontece dentro de um ônibus, a parada mais próxima leva uma eternidade para chegar. Mas uma ocasião desci do Assunção ao lado da Procergs. Acho que foi um jogo no Beira-Rio que provocou a tranqueira na Borges.

Pois ontem aconteceu de novo. Eu peguei o Praia de Belas para ir até o centro. O fim da linha fica ao lado da Estação Mercado do Trensurb, onde eu embarcaria no trem para vir até São Leopoldo. Foi só o ônibus entrar na Siqueira Campos e parou tudo. Percebi que chegaria mais rápido se percorresse toda a extensão da rua a pé. Já havia um passageiro ansioso por desembarcar. No momento em que a porta se abriu, saltei junto. Como ontem era começo de feriadão, a saída da cidade estava congestionada já a partir dali. Mas caminhei rápido e entrei na estação pontualmente às 8. Quase o horário em que eu teria chegado se o ônibus tivesse andado normalmente. A partir dali, acabou o estresse. Esta é a vantagem do Trensurb: para ele, não existe engarrafamento. Se eu tivesse vindo de carro, teria me dado mal.

Na esquina com a Caldas Júnior, encontrei a Dona Marta e seu filho Caio Prates, meu amigo de infância. Foi bom revê-la. Percebendo que ela não havia me reconhecido, identifiquei-me. Continua querida e simpática como sempre. Eles estavam indo para casa no Edifício Marechal Trompowsky, onde morei dos 2 aos 26 anos. Foi criada no Orkut uma comunidade para os antigos moradores do prédio. Bons tempos.