sábado, dezembro 31, 2016

Final de ano

Vou tentar fazer como minha mãe faria e agradecer as coisas boas que aconteceram neste ano. No plano pessoal, foram muitas. A maior de todas as bênçãos foi eu ter conseguido me aposentar, ainda mais diante do quadro que avizinha. Finalmente minha parceria com Rogério Ratner foi lançada em CD. Também, depois de longa espera, minha participação no programa "A Trilha do Rock no Brasil" foi mostrada no Canal Brasil. Conheci uma mulher legal que hoje é minha namorada.

Mas não consigo esquecer o que houve de ruim, também.

O falecimento de David Bowie e outros ídolos meus da música não haverá de pesar tanto. A morte é algo natural, "a única coisa certa da vida", como diz o surrado clichê. Já perdi pessoas bem próximas e não me abalei. Além disso, a obra deles continuará conosco, como sempre esteve.

O Inter ter sido caído para a segundona é lamentável, mas faz parte do jogo. O time mereceu o rebaixamento. Tudo ocorreu dentro das normas e é dessa mesma forma que o Colorado terá a chance de voltar à série A em 2017.

O que definitivamente não aconteceu dentro das normas foi a punhalada nas costas que a democracia sofreu em 2016. E é ainda mais enojante que os manifestantes que foram às ruas apoiar esse golpe tentem dar um verniz de nobreza à sua atitude. Dizem que foram "fazer a sua parte". Conversa fiada. "Fazemos a nossa parte" quando votamos, quando trabalhamos, quando respeitamos o resultado das eleições. Quando fazemos o bem. Quem visa a jogar no lixo os votos vencedores está na verdade desfazendo o processo eleitoral.

Que eu lembre, nunca me indispus com ninguém por votar diferente de mim. Mas golpe não tem como relevar. Golpe é deslealdade. Golpe é traição. Essa manobra só vingou porque teve a conivência de pessoas em posições estratégicas para sua consecução. E o apoio da grande imprensa para criar um pano de fundo de normalidade.

Mas o julgamento da história será implacável.

Pela condição especial de meu filho, não terei netos. Mas já tenho sobrinhos-netos e, em 2017, pasmem, terei um sobrinho-bisneto. Independente da posição que cada um deles tenha ou venha a ter, eu faço questão que eles saibam de que lado o tio deles esteve em 2016. Que não pactuei com um conluio sórdido que jogou o país num retrocesso histórico. E tudo para contentar setores influentes que não aguentavam mais perder eleição. As consequências já estão aí, diante de nós. Só não vê quem não quer.

Repito: agradeço as bênçãos que tive em 2016. No plano pessoal, foi um ano maravilhoso. Mas eu vi o que muitos de vocês fizeram. E vai ser difícil esquecer. 

Feliz Ano Novo.

quarta-feira, dezembro 28, 2016

Novidades de João Ricardo

Leio na página oficial dos Secos e Molhados do Facebook que vêm aí duas novidades do criador do grupo, o português de nascimento e brasileiro por adoção João Ricardo. Primeiro, como anuncia a imagem acima, em fevereiro será lançado o disco ao vivo que ele e Daniel Iasbeck gravaram em 2012. Esse trabalho já está disponível no YouTube desde 2013, inclusive com a capa inicialmente projetada, mas acabou não saindo. Talvez o nome Secos e Molhados ao Vivo pudesse causar confusões para quem não acompanhou a carreira de João depois da fase áurea da banda. Pois desta vez o álbum vai se chamar Secos e Molhados ao Vivo 2012 e terá uma foto do show na fachada. João Ricardo é excelente compositor e aqui suas músicas - tanto as de maior sucesso quanto as menos conhecidas do grande público - ganharam belos arranjos acústicos a duas vozes. Destaque para "Ancoradouro", "Assim Assado" e "Flores Astrais".* É uma pena que ele e Daniel Iasbeck não estejam mais trabalhando juntos. Foi uma parceria que, ao menos musicalmente, deu certo enquanto durou. Daniel também tocou no disco Puto (2007), de João Ricardo, e Chato Boy (2011), creditado aos Secos e Molhados.
Por fim, 2017 também nos trará um álbum inédito de João sob a alcunha Secos e Molhados. O compositor já usou o nome do grupo em discos solo antes, de forma que não se sabe se haverá mais alguém com ele no estúdio. As notícias virão com o tempo. Mas o fato em si de ele estar voltando à ativa já é motivo de comemoração para seus fãs. Muitos culpam João Ricardo pelo fim da formação clássica da banda em 1974, mas se esquecem de lhe dar crédito por ter criado o projeto musical em primeiro lugar. Por ter composto a maioria das músicas e montado aquela obra maravilhosa. Uma obra que teve continuidade com ele e com outros músicos e cantores que o acompanharam. Bem vindo de volta, João Ricardo!

*P.S.: Se a lista de faixas no site da Amazon estiver correta, o lançamento oficial terá apenas 12 faixas, menos da metade das 28 que ainda estão disponíveis no YouTube no momento em que estes caracteres são teclados. Com isso, ficaram de fora duas das três que eu citei como destaque, no caso, "Assim Assado" e "Flores Astrais". Uma pena. Esse show merecia lançamento completo. E também o programa "Feira Moderna", que parece ter sido gravado na mesmíssima ocasião, poderia sair em DVD. Outra dúvida é se o álbum estará disponível em CD físico ou somente para download. Aguardemos.

sábado, dezembro 24, 2016

Trilha do rock gaúcho

Como eu imaginava (já que a descrição no site do Canal Brasil não dava informações específicas), o episódio de ontem à noite de "A Trilha do Rock no Brasil", intitulado "Longe Demais das Capitais", destacou o rock gaúcho. E aí constaram depoimentos dados por mim, por Rogério Ratner, Kátia Suman, Arthur de Faria, Humberto Gessinger e outros. Juarez Fonseca e Léo Felipe já haviam aparecido antes e retornaram. Léo em especial contribuiu com uma menção elogiosa à TVE por seu trabalho na divulgação do rock gaúcho. Essas gravações foram feitas em abril de 2015 e a edição concluída no mesmo ano, mas é um baita lance de sincronicidade que a citação à TVE tenha ido ao ar no momento em que a valiosa emissora gaúcha é extinta pelo Governo Sartori. Quem não viu ontem tem mais duas chances: hoje às 15: 30 e segunda-feira, dia 26, às 12:30.




Vejam aqui as fotos do dia em que eu concedi a entrevista.

sexta-feira, dezembro 23, 2016

Natal chegando, etc.

Aproveitando que a filha e as netas do meu irmão estão em Porto Alegre (a filha e uma neta moram em São Paulo, a outra neta reside no Canadá), ontem fizemos um encontrão de "Pachecos e agregados" em uma churrascaria. Não é sempre que se consegue reunir essa turma toda para uma foto.
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O episódio de "A Trilha do Rock no Brasil" de hoje à noite se intitula "Longe Demais das Capitais". Esse é também o título do primeiro LP dos Engenheiros do Hawaii, lançado em 1986. A descrição no site do Canal Brasil é muito vaga, mas será que chegou a vez de a série abordar o rock gaúcho? O líder dos Engenheiros, Humberto Gessinger, foi entrevistado quando a equipe do programa esteve em Porto Alegre em abril do ano passado. Dos demais gaúchos que gravaram depoimentos, ainda não aparecemos eu, Arthur de Faria, Kátia Suman e Rogério Ratner. E também não é certo que nossas imagens tenham sido aproveitadas. De qualquer forma, vale a pena conferir, pois todos os segmentos exibidos até agora foram interessantíssimos e muito bem editados. Dividir cada capítulo por critérios ao mesmo tempo cronológicos e temáticos deve ter sido uma tarefa bastante desafiadora. Sintonizem hoje, às 21 horas, no Canal Brasil.
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Sempre pensei que, se o ex-Kiss Ace Frehley viesse ao Brasil para um show solo, eu tentaria vê-lo, mesmo que não fosse em Porto Alegre. Pois ele tem apresentação marcada em São Paulo, no dia 5 de março de 2017, no Tom Brasil. Agora é decidir: vou ou não? Preciso resolver logo, antes que os ingressos se esgotem. 
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Tenho diversos livros, CDs, DVDs e Blu-rays para curtir e comentar aqui, mas acho que os textos vão ter que ficar para o ano que vem. Talvez algum eu ainda consiga escrever na próxima semana. Se não nos falarmos mais, Feliz Natal a todos!

domingo, dezembro 18, 2016

Fleetwood Mac em 1982

Em 1982, três dos cinco integrantes da formação de maior êxito do Fleetwood Mac vinham de projetos solo. Stevie Nicks havia inclusive excursionado para promover seu álbum Bella Donna. O baterista Mick Fleetwood tinha lançado The Visitor, disco creditado a ele, com a participação de músicos diversos e vocal de George Hawkins no sucesso "You Weren't in Love". Por fim, o guitarrista e vocalista Lindsay Buckingham emplacou com o irresistível hit "Trouble", de seu LP Law and Order.

Mas agora era o momento de reunir a banda - os três membros citados, mais o baixista John McVie e a pianista e ótima cantora Christine McVie. O último trabalho de estúdio do grupo havia sido o polêmico Tusk, de 1979, álbum duplo considerado ousado demais e pouco comercial. Então era de se esperar que os músicos tentassem voltar a uma fórmula mais acessível, com canções de apelo imediato. E, embora o resultado divida opiniões, Mirage foi disco que me tornou fã do Fleetwood Mac. Continua sendo meu preferido.

Como já havia acontecido com Rumours e Tusk, chegou a vez de Mirage ganhar sua edição de luxo. O pacote inclui o disco em vinil, três CDs e um DVD somente com áudio, no caso, as gravações originais remixadas em 5.1 (surround). Isso está sendo motivo de reclamação mais do que justificada dos fãs. Havia clips e até um show da Mirage Tour originalmente lançado em VHS que poderiam ter entrado. Estranhamente, um dos CDs traz essa apresentação. Mas por que não também em DVD? Uma pena.

Mas não se enganem: vale a pena ouvir a versão 5.1 do álbum. Não é apenas o áudio original redistribuído em cinco canais: a remixagem resgatou detalhes que haviam sido podados do LP de 1982. Os puristas podem chiar mas, enquanto tivermos a opção de escutar o som estéreo original, que está em um dos CDs, não há por que rejeitar essas pequenas mudanças em surround. Em "Love in Store", por exemplo, Christine McVie recomeça a cantar depois do solo a partir de "I can't fight it anymore, etc." e não somente mais adiante, no refrão. Ouve-se também a voz de Lindsay Buckingham cantando "oh oh oh" em outras faixas, durante execuções instrumentais. Não acho que tenha sido um erro cortar esses vocais na mixagem original. Mas que bom poder ouvi-los agora.

Por fim, a edição contém um interessantíssimo CD de versões embrionárias ou alternativas das músicas. "Hold Me" aparece numa gravação com vocal solo de Christine McVie e um refrão mais longo. A marcação de ritmo também está crua, lembrando o tradicional som de baixo e bateria de canções anteriores do grupo, como "Dreams" e "You Make Loving Fun". Percebe-se claramente a transformação que a composição sofreu nas mãos de Lindsay Buckingham, que acrescentou seu contracanto e deu à parte instrumental um clima mais próximo do seu hit solo "Trouble". Já "Wish You Were Here" arrisco dizer que ficou melhor do que a versão lançada em 1982. As vozes adicionais cantando o nome da música nos refrões são dispensáveis, mas as cordas deram um belo realce a esta balada de amor e saudade de Christine McVie. 

A lamentar ainda a "venda casada" que nos obriga a comprar um disco de vinil para ter todas essas maravilhas digitais em CD e DVD. O LP poderia ter sido relançado separadamente, para os fãs do som analógico. Ao menos, revive-se a emoção de pegar nas mãos uma capa de 12 polegadas, como a do disco que comprei em 1982, aos 21 anos.

sábado, dezembro 17, 2016

O tempo passa depressa. Parece que foi ontem que vi Jô Soares na programação especial de Réveillon da Globo no ano 2000 dizendo que estava de volta à sua antiga casa. Pois agora ele se despediu da emissora. Confesso que há tempos não assistia ao programa dele, pois perdi o hábito de ver televisão diariamente. Mas sou superfã do cara. Criativo, brilhante, culto, Jô Soares mostrou que é muito mais do que um humorista ao adotar o formato de entrevistas no SBT. Vi dois shows dele em Porto Alegre. Lembro dele no Faça Humor Não Faça Guerra, Satiricom, Planeta dos Homens, Viva o Gordo e, por um breve período no SBT, Veja o Gordo. A Família Trapo é uma vaga e longínqua recordação de infância. Seus quadros humorísticos eram impagáveis. Espero que ele volte em outro canal. Não se aposente, Jô. Não vai fazer bem nem para você, nem para o seu público. O Brasil precisa de Jô Soares.

terça-feira, dezembro 13, 2016

Blog citado em livro

Quando comentei minha rápida passagem pela Feira do Livro neste ano, citei os títulos que comprei. Entre eles estava "Nenhum de Nós, A Obra Inteira de uma Vida", de Marcelo Ferla (Belas Letras). Mas só hoje descobri que este Blog é citado no livro. O autor usou meu texto sobre o show de David Bowie no Olympia, em São Paulo, como fonte. Especificamente, o fato de Bowie ter dito "esta é uma música que vocês conhecem em português" antes de cantar "Starman". O sucesso da versão do Nenhum de Nós, "Astronauta de Mármore", era recente quando isso aconteceu (em 1990). O curioso é que o vocalista do grupo, Thedy Correa, estava na primeira fila da plateia e poderia ter dado esse testemunho. Talvez tenham achado que o depoimento de alguém "de fora" teria mais credibilidade em uma biografia da banda.

segunda-feira, dezembro 12, 2016

Bom dia

Por uma questão de isonomia, repito aqui a mesma saudação que fiz no dia 29 de novembro de 2004: boa SEGUNDA para todos!

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Greg Lake (1947-2016)

Mais um ídolo meu da música se vai neste ano: o baixista e vocalista inglês Greg Lake. Faleceu de câncer anteontem, no dia 7 de dezembro. Eu poderia escrever linhas e linhas sobre a contribuição dele para o trio Emerson, Lake & Palmer, um de meus grupos preferidos de rock progressivo ao lado de Pink Floyd, Genesis e Yes. Também foi marcante a passagem dele pelo King Crimson. Mas, apenas por curiosidade, vou lembrar dois momentos inusitados da carreira do músico.
Em dezembro de 1983, ele integrou rapidamente a banda Asia, que vinha de um sucesso estrondoso nas rádios com seus dois primeiros LPs. O cantor do grupo era John Wetton que, como ele, também tinha passado pelo King Crimson. Com a saída de Wetton, Lake entrou para substituí-lo, já que tinha uma voz muito parecida. E assim ele voltou a tocar com seu ex-colega, o baterista Carl Palmer (o bem da esquerda na foto acima, ao lado de Geoffrey Downes, Lake e Steve Howe). A passagem relâmpago de Greg Lake pelo Asia foi eternizada no vídeo "Asia in Asia", lançado em VHS e laserdisc mas ainda inédito em DVD. Logo Wetton estava de volta e, depois disso, a banda teve as mais variadas formações até a reunião dos integrantes originais em 2006. Se Lake tivesse ficado, teria sido interessante ver a química que traria ao grupo em seus novos rumos.
Imagem do vídeo "Asia in Asia"
Palmer ainda estava no Asia em 1986, quando Greg Lake e Keith Emerson resolveram voltar a tocar juntos. Então, juntou-se a eles o baterista Cozy Powell, mantendo a tradicional sigla ELP, agora significando Emerson, Lake & Powell (nessa ordem os três aparecem na foto acima). Abaixo, a capa do disco lançado pelo novo trio, que teve curta duração. Powell faleceu em 1998. Como Emerson também partiu em março, nenhum deles está mais entre nós.

quarta-feira, dezembro 07, 2016

Guilherme Arantes conta sua história

Vale a pena acompanhar o canal oficial de Guilherme Arantes no YouTube (cliquem aqui). Ele está contando a história dos seus 40 anos de carreira. Ao mesmo tempo, encontra-se nas lojas uma caixa com 22 CDs do músico paulistano, incluindo 21 álbuns originais e uma coletânea de raridades. Não entrou o disco do grupo Moto Perpétuo, de 1974, que foi efetivamente a estreia de Guilherme. Também ficaram de fora Meu Mundo e Nada Mais, álbum duplo ao vivo de 1990, e Clássicos, de 1994, com versões em português de canções conhecidas.

Uma curiosidade que só descobri hoje é que Guilherme pegou a imagem do festival MPB-81, em que ele canta "Planeta Água", do meu canal do YouTube. Eu tinha postado um trecho de um especial da RBS de 1988 sobre música, que imitava o programa "Guerra dos Sexos", da Globo. No time dos homens estava o saudoso radialista Glênio Reis, o discotecário Claudinho Pereira e o comunicador Cunha Jr., atualmente em São Paulo. O ator Zé Adão Barbosa fazia as vezes de apresentador. Tudo isso Guilherme incluiu na edição dele, que vocês podem ver aqui. Já o vídeo que eu divulguei eu prefiro que vocês confiram na postagem que fiz aqui mesmo, no Blog, em 2008, intitulada "Lembranças do MPB-Shell-81".

Visão do futuro

domingo, dezembro 04, 2016

Correndo riscos

Já falei aqui sobre o meu medo de avião. Não a ponto de deixar de viajar. Embarco, tomo meu lugar no assento e não consigo relaxar, por mais longa que seja a viagem. Dormir, nem pensar. Ler também é difícil. De alguma forma, fico acompanhando à distância o trabalho do piloto. Certa vez arranquei o braço da cadeira, sem querer. Acho que, instintivamente, tentava segurar a aeronave, para que não sacudisse. 

Em 1985, aos 24 anos, fiz minha segunda viagem aos Estados Unidos. Não consegui dormir nem na ida, nem na volta, mas não é isso que quero comentar. Em Washington, num passeio de ônibus, nosso guia local, um brasileiro, mostrou-nos a ponte onde um avião caíra em 1982, logo após a decolagem. Hoje, graças à Internet, é possível pesquisar detalhes sobre o acidente (quem souber inglês pode ler aqui). O aeroporto estivera temporariamente fechado em razão de uma forte queda de neve. Quando finalmente chegou o momento da decolagem, seria recomendável repetir um procedimento de degelo da aeronave. Aparentemente, o piloto dispensou, dizendo que apenas serviria para "dar uma falsa sensação de segurança". O que de fato aconteceu foi bem mais complexo, mas em essência, houve negligência por parte do comandante. Com resultado fatal.

Desde então, muitas vezes pensei: será que os pilotos às vezes não assumem riscos calculados? Confiando não apenas em sua perícia, mas também na sorte? "Ah, eu vou decolar. Não vai acontecer nada." E, em muitas vezes, dá tudo certo, mesmo. Por exemplo: o avião da LaMia que vitimou a delegação da Chapecoense e um grupo de jornalistas já havia voado quatro vezes no limite do combustível (leiam aqui). Quatro vezes! E sempre chegando bem.

Não é difícil imaginar o que ocorreu. É claro que o piloto não poderia ter tentado a façanha uma única vez. Mas, ao lograr êxito em sua empreitada de risco por nada menos que quatro tentativas, ele se sentiu justificado em sua ousadia. Na visão dele, estava mais do que provado que não havia necessidade de seguir a norma. Ele, pelo menos, se garantia. Passou a se considerar "um craque" na manobra. 

E quantas vezes isso se dá também em outras áreas? O eletricista que trabalha sem desligar a chave geral e ainda ri de quem se preocupa com isso. O motorista que anda em alta velocidade e ainda reclama da "indústria das multas". Gente que faz ultrapassagens arriscadas, muitas vezes em pontos proibidos, porque "se garante". Pessoas que nadam em águas perigosas, mesmo com farta sinalização de alerta. Vai tudo bem, até que um dia... acaba mal.

As normas de segurança não existem para atrapalhar nossas vidas. Pelo contrário: elas são criadas para nos proteger. Espero que ao menos alguma lição se tire da tragédia da Chapecoense.

Manifestações

Sobre as manifestações de hoje, o que tenho a dizer é: não pactuo com a hipocrisia. O empurrão que deixou o Brasil literalmente desgovernado foi dado pelas mesmas pessoas que agora protestam. Como escreveu Luis Fernando Verissimo em sua brilhante crônica "Cumplicidade" (que vocês podem ler aqui), "antes de entrar num coro, olhe em volta". Pelo estrago que ajudou a fazer no país com suas articulações golpistas, o movimento "Vem Pra Rua" jamais terá o meu apoio. Sou a favor do combate à corrupção, independente do partido, mas traidores da democracia não me representam.