Final de ano
Mas não consigo esquecer o que houve de ruim, também.
O falecimento de David Bowie e outros ídolos meus da música não haverá de pesar tanto. A morte é algo natural, "a única coisa certa da vida", como diz o surrado clichê. Já perdi pessoas bem próximas e não me abalei. Além disso, a obra deles continuará conosco, como sempre esteve.
O Inter ter sido caído para a segundona é lamentável, mas faz parte do jogo. O time mereceu o rebaixamento. Tudo ocorreu dentro das normas e é dessa mesma forma que o Colorado terá a chance de voltar à série A em 2017.
O que definitivamente não aconteceu dentro das normas foi a punhalada nas costas que a democracia sofreu em 2016. E é ainda mais enojante que os manifestantes que foram às ruas apoiar esse golpe tentem dar um verniz de nobreza à sua atitude. Dizem que foram "fazer a sua parte". Conversa fiada. "Fazemos a nossa parte" quando votamos, quando trabalhamos, quando respeitamos o resultado das eleições. Quando fazemos o bem. Quem visa a jogar no lixo os votos vencedores está na verdade desfazendo o processo eleitoral.
Que eu lembre, nunca me indispus com ninguém por votar diferente de mim. Mas golpe não tem como relevar. Golpe é deslealdade. Golpe é traição. Essa manobra só vingou porque teve a conivência de pessoas em posições estratégicas para sua consecução. E o apoio da grande imprensa para criar um pano de fundo de normalidade.
Mas o julgamento da história será implacável.
Pela condição especial de meu filho, não terei netos. Mas já tenho sobrinhos-netos e, em 2017, pasmem, terei um sobrinho-bisneto. Independente da posição que cada um deles tenha ou venha a ter, eu faço questão que eles saibam de que lado o tio deles esteve em 2016. Que não pactuei com um conluio sórdido que jogou o país num retrocesso histórico. E tudo para contentar setores influentes que não aguentavam mais perder eleição. As consequências já estão aí, diante de nós. Só não vê quem não quer.
Repito: agradeço as bênçãos que tive em 2016. No plano pessoal, foi um ano maravilhoso. Mas eu vi o que muitos de vocês fizeram. E vai ser difícil esquecer.
Feliz Ano Novo.
3 Comments:
Feliz Ano Novo, Emilio.
De fato, no plano institucional, para o país o ano foi de lascar. E continua de lascar.
Também tive bênçãos pessoais, mas mesmo assim, por conta do golpe, tenho o ano de 2016 como fundamentalmente negativo.
Mas vamos indo em frente enquanto pudermos.
Abraço.
Complicado, né? Os golpistas passaram o ano todo semeando ódio, discórdia, envenenando a democracia, "Fora Dilma", "Fora PT", "tchau querida" etc. Agora, no final de ano, posam de bons samaritanos, postando mensagens de paz, amor, felicidade, Jesus no coração e por aí vai. Hipocrisia é dose! Mas sigamos em frente.
Enquanto isso, os direitos dos trabalhadores vão sendo retirados em tempo recorde pelo governo golpista levado ao poder por esses "arautos da paz".
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