sábado, junho 29, 2019

Segurança máxima

Devo reconhecer que a operadora do meu cartão de crédito conseguiu implementar o máximo em termos de segurança: cartão que o cliente nunca consegue receber jamais será clonado! Nem informando outro endereço funcionou. O Spotify foi cancelado automaticamente, não há nada a fazer. A minha inscrição como sócio "Gold" da Audible eu mesmo cancelei. O Globo on-line passou para cobrança por boleto e o Clicrbs, para débito em conta. Que remédio? Nunca imaginei que enfrentaria uma situação tão estapafúrdia. Devo ser o único sujeito aposentado que mora sozinho num edifício sem portaria, para esse absurdo sistema de entrega nunca ter sido mudado.

terça-feira, junho 25, 2019

Entrevista minha para Consultoria do Rock

Lembram quando eu falei que tinha concedido uma entrevista como colecionador? Pois já está no ar. É no site Consultoria do Rock, como parte da série Na Caverna da Consultoria. Quem me entrevistou foi Mairon Machado, que também é leitor deste Blog. Fiquei bastante emocionado com o que ele escreveu a meu respeito no parágrafo de abertura. Afinal, por longos anos colaborei com o saudoso International Magazine, mas nem sempre tive retorno sobre se estavam lendo ou não o que eu escrevia e se estavam gostando ou não. É gratificante saber o que meus textos significaram para ele. Valeu mesmo, Mairon! Para ler, é só clicar aqui.

segunda-feira, junho 24, 2019

Lee Garrett citando David Bowie

Uma das muitas vantagens de não ser "fã de um ídolo só" é que a gente acaba descobrindo "citações cruzadas" nos muitos livros que se leem sobre nossos artistas preferidos. Lembro que, quando faleceu Maurice Gibb dos Bee Gees, escrevi um obituário dele para o International Magazine e citei a ocasião em que David Bowie foi experimentar uma peruca para usar no filme "Love You Till Tuesday" (ele tinha cortado o cabelo para uma ponta em "Soldados Virgens" e não queria aparecer com aquele corte) e viu o Bee Gee ao lado dele também complementando seu visual com melenas artificiais. Essa informação estava no livro "David Bowie, a Pitt Report", do ex-empresário Ken Pitt.
No dia 19 de julho de 1979, encontrei uma biografia de Stevie Wonder na saudosa Livraria do Globo da Rua da Praia. Meu domínio de inglês já era suficiente para conseguir lê-la, então comprei-a na hora. Uma das fontes da autora Constanze Elsner foi o cantor Lee Garrett que, como Stevie, era também negro e cego. Ele era mais conhecido como pareceiro de Stevie em músicas como "It's a Shame" (gravada pelos Spinners) e "Signed, Sealed, Delivered (I'm Yours)", mas também se lançou como cantor. Seu maior sucesso (único?) foi "You're My Everything", de 1976, que hoje aparece em coletâneas de soul/disco music. O livro tem um final inesperado em que Lee ameaça se matar e é dissuadido da ideia por Stevie.
Pois, na página 281, é citado um trecho da letra de "Sad, Sad Story", de Lee, em que ele diz que quer "ser rico como Stevie Wonder, David Bowie, Zowie Bowie". Zowie é o filho de David, hoje o conhecido cineasta Duncan Jones. Depois disso, li dezenas de livros sobre David Bowie, incluindo aqueles que listam outras músicas em que o cantor inglês é citado, e nunca encontrei qualquer referência a essa composição de Lee Garrett. Somente nesse fim de semana é que me dei conta de algo que já poderia ter feito há muito tempo: procurar a música no YouTube.
Bingo! Graças a um fã, essa obscura faixa foi disponibilizada para os internautas de todo o mundo. E a frase citada começa na marca de 4:04. Já fiz a divulgação no maior grupo de fãs de David Bowie do Facebook. Em especial, Nicholas Pegg, autor de "The Complete David Bowie", deveria tomar nota para incluir essa informação nas futuras edições do livro. Por que Lee Garrett resolveu citar justamente Bowie e seu filho na letra, depois de mencionar Stevie Wonder? Talvez ele seja fã do cantor inglês. Quem sabe alguém ainda venha a fazer essa pergunta a ele.

sábado, junho 22, 2019

Problemas com entregas

Eu estou aposentado e moro sozinho num prédio que não tem portaria. E podem estar certos que não me aposentei pensando em ficar o dia inteiro em casa. Às vezes até fico, quando tenho alguma tarefa a fazer no computador. Ou então para me dedicar a uma atividade que sempre me foi prazerosa, desde a tenra juventude: dormir. De resto, adoro sair para caminhar. Ainda mais no inverno, quando não chove, em que posso fazer isso ao meio-dia sem morrer de calor.

Só que isso me cria um problema: receber encomendas em casa. Desde 1996 tenho uma caixa postal que alugo exatamente para não ter que me preocupar com isso. Só que, cada vez mais, existem restrições ao que se pode ou não remeter para caixas postais. Os serviços especiais de entrega, que não passam pelo correio, só enviam para endereços particulares. Felizmente, para algumas coisas, ainda funciona o jeitinho brasileiro "do bem", aquele que existe não para burlar a lei, mas para facilitar a vida de todos. Quando chega algum pacote via DHL ou UPS originalmente endereçado para a caixa postal, eles me telefonam e eu busco na unidade deles, mesmo. Eles se prontificam a me entregar em casa, mas sem hora marcada. Prefiro então eu mesmo fazer a retirada.

Mas tem uma situação que eu considero verdadeiramente absurda, que é a entrega de cartões de crédito. Por razões que eu jamais entenderei, se você não estiver em casa na fração de segundo que o carteiro chegar com seu cartão, você simplesmente não o recebe. Seria tão fácil usar o mesmo sistema utilizado pelo DETRAN para remessa dos documentos do carro. Depois de três tentativas infrutíferas de entrega, chega um aviso do correio para ir retirar o envelope na unidade de distribuição. Pronto! Simples, seguro e indolor.

Antes de me aposentar, eu tinha dois cartões de crédito, de diferentes bancos e bandeiras. Se eventualmente um fosse clonado e precisasse ser cancelado, até a chegada do novo, eu podia usar o outro. Isso era particularmente útil em lojas de venda on-line. Ou serviços assinados via Internet, como sites de notícia. Recentemente comecei a assinar o Globo on-line com propósito exclusivo de fazer pesquisas. E eu pedia para receber tudo no meu local de trabalho.

Depois que me aposentei, acabou a moleza de usar a recepção do meu endereço profissional como "caixa postal". Aí, vivenciei uma situação inusitada. Um de meus cartões foi clonado e teve que ser cancelado. Quem diz que consegui receber o novo? Perdi a conta de quantos avisos chegaram dizendo que um novo cartão havia sido emitido e informando minha nova senha. Acho que foram quatro. Foi aí que descobri esse método "inteligente" que não entrega o cartão de nenhuma outra forma que não pelo carteiro. O resultado? Desisti do cartão. Achei absurda a limitação e concluí que não conseguiria conviver com esse sistema. E eles, aparentemente, não se importaram de perder o cliente. Devem ter visto que eu não movimentava altas quantias e pensado que não seria grande o prejuízo.

O cartão que me restou tinha uma forma mais racional de entrega. Embora eles dissessem que precisava ter alguém para receber e assinar, na prática, o envelope simplesmente aparecia na caixa de coleta do meu edifício. E eu preferia assim. Se o cartão caísse em mãos erradas, a pessoa em questão não teria a minha senha para desbloqueá-lo.

Só que, da última vez, não foi assim. Não só o cartão não apareceu, como recebi informações desencontradas pelo suporte por telefone. Até um "número de rastreamento" me foi fornecido. Depois vi que tinha um algarismo a mais do que o padrão do correio. Num telefonema posterior me foi dito que tal número não existia e que não havia rastreamento algum, nesse caso. Será mesmo que o "help desk" agiu de má fé só para me contentar momentaneamente? [P.S: Existe, sim, um número de rastreamento. Diferente do que me foi informado, mas existe. Só que não aparece no site de rastreamento do correio.] Enquanto isso, três prestadores de serviço on-line estão me cobrando que atualize meus dados para pagamento, sob pena de suspensão.

É preciso levar em consideração outra possibilidade. Eu detesto reuniões de condomínio mas, por não participar delas, acabo perdendo a chance de contestar certas decisões. Aqui no bloco, os números dos apartamentos indicados na caixa de correspondência foram alterados para espelhar o que se tem que digitar no porteiro eletrônico. O meu apartamento era 11 - aliás, continua sendo, é o que vejo na numeração em cima da porta e com certeza no registro da Prefeitura -, mas na caixa de coleta aparece 211. Dá pra imaginar a confusão que isso causou? Já recebi mais de uma vez envelopes endereçados ao apartamento 21. Então pode ser que o envelope com o cartão tenha sido deixado em caixa errada.

A solução que encontrei foi contar com a boa vontade de uma pessoa muito próxima que se prontificou a receber meu cartão em seu local de trabalho. Assim, fiz a alteração de endereço e pedi emissão de novo cartão. Agora é esperar. Mas acho que as operadoras de cartão de crédito deveriam rever seus procedimentos e usar o mesmo sistema de remessa do DETRAN, em que o destinatário, se não encontrado, tem a chance de buscar o envelope no correio. Ou então dar a opção de retirada em agência bancária. O método engessado que se usa atualmente prejudica a todos: ao cliente, porque não recebe o cartão. À operadora, porque fica gastando com emissões inúteis. Por fim, ao meio-ambiente, pelo aumento de dejetos plásticos.

terça-feira, junho 18, 2019

Relendo meu diário

Eu nem lembrava de um texto que escrevi aqui no Blog no dia 8 de novembro de 2005, portanto há mais de dez anos, em que falava no meu diário. Vocês podem ler a postagem aqui. Fazia pouco tempo que eu tinha trazido tudo o que faltava da casa de minha ex-esposa, incluindo os cadernos em que anotei meticulosamente tudo o que aconteceu comigo, dia após dia, entre 21 de julho de 1977 e um dia qualquer de 1981 ou 1982, em que parei com os registros.

Pois o que eu disse que faria um dia nesse tópico do meu Blog, estou fazendo agora: relendo tudo, anotando fatos relevantes num arquivo Word, e depois destruindo os cadernos. Fico com uma ponta de tristeza em apagar anotações tão detalhadas daqueles dias, a reta final de minha adolescência e o começo da vida adulta, mas é algo que eu sabia que teria que fazer em algum momento. Não pretendo legar para a posteridade os relatos íntimos e desabafos que eu fazia mais como uma terapia pessoal, mesmo.

A lembrança que eu tinha é de que foi um período de marasmo na minha vida. Não namorei ninguém, por exemplo. Meu último namoro havia sido no primeiro semestre de 1977 e o próximo em 1982, logo após eu ter abandonado os escritos pessoais. Ainda assim, aconteceram algumas coisinhas que valeram a pena registrar. Como as datas, que são bastante úteis para minhas pesquisas. Já consultei meu diário ao escrever o texto do encarte do CD "Santa Maria", de Hermes Aquino, para saber em que dia ele participou do "Ritmo 20" de Clóvis Dias Costa" para divulgar o LP original. E assim vão aparecendo informações como estas:

28/08/1977 - Parte local do Fantástico mostra uma pesquisa de conhecimentos gerais na PUC/RS. Um dos entrevistados (sem crédito) é o poeta Rossyr Berny, que cursava a FAMECOS.

16/09/1977 - Fui com meu irmão João Carlos na Rádio Continental, onde ele era locutor, à noite. Hermes Aquino apareceu por lá. Disse que sua música "Bola Louca e Colorida" estava estourando em Rio e São Paulo. Anunciou que iria participar do "Qual é a Música" no Sílvio Santos.

25/09/1977 - Hermes Aquino participa do "Qual é a Música" e perde para Sílvio Britto. No Fantástico, aparecem "Modern Love" com Peter Gabriel, Fábio Jr./Mark Davis ("It's Time For Us") e Joelho de Porco ("São Paulo By Day").

08/12/1977 - "Pedágio do Carinho" na Av. João Pessoa. Deve ter tido participação da TV Gaúcha e TV Difusora, pois o Júlio César e o Fernando Vieira apresentaram.

24/01/1978 - No Jornal Amanhã, apresentado por Sérgio Chapelin, uma das notícias foi a de que David Bowie pediu o divórcio a Angela, que então tentou o suicídio cortando os pulsos, ingerindo barbitúricos e deixando-se cair escada abaixo. David disse que ficava triste, mas se ela queria cair no ridículo, o problema era dela.

Além de dados como esses, anotei informações que são importantes para mim, como o dia em que comprei determinados discos. Eu não lembrava ao certo se tinha adquirido os LPs "Rock and Roll Over" e "Love Gun", do Kiss, no mesmo dia. Não, foram em datas diferentes. Também tenho o dia exato em que conheci amigos que estão comigo até hoje.

Mas, principalmente, a experiência de relembrar tudo o que aconteceu, na ordem em que aconteceu, chega a ser assustadora. Terminei de ler um caderno inteiro e, no dia seguinte, parecia que tudo aquilo havia ocorrido na véspera, de tão vivas que ficaram as recordações. 

Valeu a pena ter feito o diário. É verdade que nem tudo são flores. Breve reviverei alguns momentos de turbulência que não foram muito agradáveis. Mas fizeram parte da minha vida. Se os jovens de hoje quiserem dar esse presente aos velhos que serão amanhã, o conselho que eu daria é: façam diário, sim, mas não escrevam nada que outros não possam ler. Deixem a terapia para o consultório do analista e anotem apenas tópicos básicos, para registro. Aí vocês não precisarão se preocupar com o que fazer com esses apontamentos no futuro.

Aliás, nessa preocupação de que "os outros poderiam ler", houve um veraneio, na praia, em que eu fiz as anotações todas em inglês. Tinha gente demais circulando na casa e eu achei melhor tomar essa precaução. Se minha mãe lesse, entenderia, mas ela não mexia nos meus cadernos (que eu saiba).

Por fim, lembro que já publiquei um trecho do meu diário (com imagem e tudo) aqui.

quarta-feira, junho 12, 2019

Dia dos Namorados

Feliz Dia dos Namorados!

domingo, junho 09, 2019

André Matos e o rock brasileiro em inglês

Com o falecimento de André Matos, observam-se dois tipos de postagem no Facebook. Um deles, de fãs absolutos do vocalista e do estilo em que ele se enquadrava, no caso, heavy metal. Esses, como não poderia ser diferente, rendem as mais calorosas homenagens ao ídolo. De outro lado, surgem manifestações respeitosas de pessoas que dizem não serem exatamente apreciadoras do gênero de rock em que ele militava, mas reconhecem sua importância. Mais do que isso, entendem o significado de uma perda tão prematura. André tinha 47 anos.

Já estava nos meus planos retomar um tema que abordei algumas vezes: os grupos brasileiros de rock que cantam em inglês. Em seu livro "Nenhum de Nós, a Saga Inteira de Uma Vida", o jornalista Marcelo Ferla afirma ter tocado nesse assunto no começo dos anos 90, em matéria publicada na Zero Hora com o título "The Book is on the Table". Não lembro de ter lido esse texto. Se li, não o guardei em minha memória mas, talvez, no subconsciente. Pois escrevi um comentário com esse mesmíssimo título em 1996, o qual saiu no saudoso International Magazine, jornal de música do Rio de Janeiro. Na verdade eu me recordava de ter visto essa frase colocada de forma irônica antes de uma carta cheia de expressões em inglês publicada na revista Bizz. Mas, consultando o acervo que tenho em CD-ROM, não localizei a missiva em questão. Teria sido na Somtrês? Ou a ferramenta de busca respectiva não vasculha as seções de cartas?

Bem, o que importa é que não tive a intenção de roubar a ideia de Marcelo Ferla. Na época em que escrevi o meu "The Book is on the Table", eu estava em contato com o americano Steve Walden, que preparava uma tese de doutorado sobre rock brasileiro. Fiz uma matéria com ele, enviei-lhe uma série de perguntas e uma delas foi o que ele achava de artistas brasileiros que cantavam em inglês. Ele disse que não gostava, mas apontou duas exceções: "London London", de Caetano Veloso, e o grupo Angra. Angra? Senti-me envergonhado por ter apenas "ouvido falar" na banda, mas prometi a mim mesmo que iria conferir o trabalho dela.

Felizmente, não estipulei um prazo para cumprir a promessa. Porque apenas recentemente, com as facilidades que temos hoje - YouTube, Spotify, amostras do iTunes - é que comecei a escutar os álbuns do grupo brasileiro. E meu amigo americano estava certo. O heavy metal do Angra é diferenciado, criativo, original. E o inglês dos caras é bom. André Matos foi o primeiro vocalista do Angra. Ficou desde a fundação da banda, em 1991, até o ano 2000.

Na verdade eu acho que, se procurasse, se me desse ao trabalho de ouvir mais bandas brasileiras que cantam em inglês, encontraria outras boas. Num percentual ínfimo, talvez, mas encontraria. Quando digo "boas", estou incluindo a pronúncia do idioma, que para mim é um fator essencial. E até acabei descobrindo um ótimo grupo de forma totalmente casual. Há alguns anos, refiz contato com uma colega de Curitiba com quem eu não falava havia cerca de 25 anos. Trabalhamos juntos em Porto Alegre em 1987, 1988 e 1989. Pois nesse tempo em que não nos falamos, ela teve filhos. E um deles hoje faz parte de um grupo de heavy metal chamado Wild Child. Fui ouvir os álbuns deles apenas por curiosidade, sem esperar muito (ou talvez pensando: "mais uma turma achando que é fácil cantar em inglês"), e fui surpreendido por um excelente trabalho, tanto em termos de musicalidade quanto de pronúncia de inglês. Existe um grupo americano com o mesmo nome, então anote o nome dos álbuns da banda curitibana, para não haver confusão: "Inside My Mind", "Seven" e "The Long Walk". Vale a pena conferir.

Mas não mudei de opinião. Continuo achando que o ideal para qualquer grupo brasileiro é cantar em português. Tem muita gente potencialmente boa por aí estragando o próprio trabalho por insistir em compor e interpretar num idioma que não domina. Ou pelo menos não de forma plena. Aliás, existem outros argumentos para preferir a própria língua. Recentemente comprei o livro "Tudo é música", de Ricardo Alexandre, em versão e-book, e um dos textos que ali encontrei se intitula "Da importância de cantar em português". Ele começa citando três singles que recebeu para divulgação e um deles é "One way street", da Wannabe Jalva, de Porto Alegre (que citei rapidamente aqui). E faz uma breve mas sólida argumentação em favor do rock em português. Da relevância de se usar o idioma do público, para haver uma comunicação eficaz.

As exceções que se dão bem no mercado estrangeiro é que criam a ilusão de que é fácil chegar lá e que vale a pena insistir no inglês para virar astro internacional. Mas vocalistas como André Matos não se encontram com facilidade. O que torna sua perda ainda mais lamentável. 

segunda-feira, junho 03, 2019

Rocketman: uma realidade que virou fantasia

Como ávido leitor de biografias, o primeiro elemento que observo em qualquer filme sobre fatos reais é a fidedignidade. Isso, claro, nos casos em que já possuo conhecimento prévio sobre o tema. Não vejo sentido em reinventar a história de um personagem em nome do bom cinema. Gosto de relatos fiéis, encenações realistas e diálogos e acontecimentos bem pesquisados. 

"Rocketman" anuncia-se como uma cinebiografia de Elton John, mas está mais para um musical. Em alguns trechos, as letras de Bernie Taupin foram levemente adaptadas para corresponder ao objetivo das respectivas cenas. E, assim como em "Bohemian Rhapsody", sobre Freddie Mercury, o roteiro é apenas inspirado na vida de Elton, recorrendo a diversas licenças poéticas. Por exemplo, na parte em que o músico mostra suas canções no escritório de Dick James, ele apresenta algumas composições que só seriam criadas mais de dez anos depois. Tampouco "Crocodile Rock" já existia quando Elton fez seu primeiro show nos Estados Unidos. 

De resto, as cenas estão bem montadas, dentro da tradicional estética de videoclipe. Taron Egerton tem um ótimo desempenho no papel principal, embora sua fisionomia me lembre mais a do parceiro Bernie Taupin. Vá ver o filme, divirta-se, cante junto se os espectadores das cadeiras ao lado não reclamarem, mas se quiser realmente conhecer a história de Elton John, procure uma boa biografia. No Brasil, foi publicada a escrita por David Buckley, que é satisfatória. Mas, para quem puder ler em inglês, a melhor de todas é "Sir Elton", de Philip Norman, que acaba de ser relançada em edição atualizada, incluindo uma versão em audiobook.