terça-feira, junho 18, 2019

Relendo meu diário

Eu nem lembrava de um texto que escrevi aqui no Blog no dia 8 de novembro de 2005, portanto há mais de dez anos, em que falava no meu diário. Vocês podem ler a postagem aqui. Fazia pouco tempo que eu tinha trazido tudo o que faltava da casa de minha ex-esposa, incluindo os cadernos em que anotei meticulosamente tudo o que aconteceu comigo, dia após dia, entre 21 de julho de 1977 e um dia qualquer de 1981 ou 1982, em que parei com os registros.

Pois o que eu disse que faria um dia nesse tópico do meu Blog, estou fazendo agora: relendo tudo, anotando fatos relevantes num arquivo Word, e depois destruindo os cadernos. Fico com uma ponta de tristeza em apagar anotações tão detalhadas daqueles dias, a reta final de minha adolescência e o começo da vida adulta, mas é algo que eu sabia que teria que fazer em algum momento. Não pretendo legar para a posteridade os relatos íntimos e desabafos que eu fazia mais como uma terapia pessoal, mesmo.

A lembrança que eu tinha é de que foi um período de marasmo na minha vida. Não namorei ninguém, por exemplo. Meu último namoro havia sido no primeiro semestre de 1977 e o próximo em 1982, logo após eu ter abandonado os escritos pessoais. Ainda assim, aconteceram algumas coisinhas que valeram a pena registrar. Como as datas, que são bastante úteis para minhas pesquisas. Já consultei meu diário ao escrever o texto do encarte do CD "Santa Maria", de Hermes Aquino, para saber em que dia ele participou do "Ritmo 20" de Clóvis Dias Costa" para divulgar o LP original. E assim vão aparecendo informações como estas:

28/08/1977 - Parte local do Fantástico mostra uma pesquisa de conhecimentos gerais na PUC/RS. Um dos entrevistados (sem crédito) é o poeta Rossyr Berny, que cursava a FAMECOS.

16/09/1977 - Fui com meu irmão João Carlos na Rádio Continental, onde ele era locutor, à noite. Hermes Aquino apareceu por lá. Disse que sua música "Bola Louca e Colorida" estava estourando em Rio e São Paulo. Anunciou que iria participar do "Qual é a Música" no Sílvio Santos.

25/09/1977 - Hermes Aquino participa do "Qual é a Música" e perde para Sílvio Britto. No Fantástico, aparecem "Modern Love" com Peter Gabriel, Fábio Jr./Mark Davis ("It's Time For Us") e Joelho de Porco ("São Paulo By Day").

08/12/1977 - "Pedágio do Carinho" na Av. João Pessoa. Deve ter tido participação da TV Gaúcha e TV Difusora, pois o Júlio César e o Fernando Vieira apresentaram.

24/01/1978 - No Jornal Amanhã, apresentado por Sérgio Chapelin, uma das notícias foi a de que David Bowie pediu o divórcio a Angela, que então tentou o suicídio cortando os pulsos, ingerindo barbitúricos e deixando-se cair escada abaixo. David disse que ficava triste, mas se ela queria cair no ridículo, o problema era dela.

Além de dados como esses, anotei informações que são importantes para mim, como o dia em que comprei determinados discos. Eu não lembrava ao certo se tinha adquirido os LPs "Rock and Roll Over" e "Love Gun", do Kiss, no mesmo dia. Não, foram em datas diferentes. Também tenho o dia exato em que conheci amigos que estão comigo até hoje.

Mas, principalmente, a experiência de relembrar tudo o que aconteceu, na ordem em que aconteceu, chega a ser assustadora. Terminei de ler um caderno inteiro e, no dia seguinte, parecia que tudo aquilo havia ocorrido na véspera, de tão vivas que ficaram as recordações. 

Valeu a pena ter feito o diário. É verdade que nem tudo são flores. Breve reviverei alguns momentos de turbulência que não foram muito agradáveis. Mas fizeram parte da minha vida. Se os jovens de hoje quiserem dar esse presente aos velhos que serão amanhã, o conselho que eu daria é: façam diário, sim, mas não escrevam nada que outros não possam ler. Deixem a terapia para o consultório do analista e anotem apenas tópicos básicos, para registro. Aí vocês não precisarão se preocupar com o que fazer com esses apontamentos no futuro.

Aliás, nessa preocupação de que "os outros poderiam ler", houve um veraneio, na praia, em que eu fiz as anotações todas em inglês. Tinha gente demais circulando na casa e eu achei melhor tomar essa precaução. Se minha mãe lesse, entenderia, mas ela não mexia nos meus cadernos (que eu saiba).

Por fim, lembro que já publiquei um trecho do meu diário (com imagem e tudo) aqui.

2 Comments:

Blogger Jotabê said...

Como sou meio anárquico, nunca fiz um diário. Mas te (me) pergunto que mal há em que alguém leia no futuro o que você escreveu como desabafo, catarse ou sei lá o quê. Só os vivos ficam constrangidos (esta é uma verdade acaciana). E, ao contrário de críticas ou sentimentos negativos, o que você conseguiria é o (re)conhecimento de de sua verdadeira personalidade ou identidade, sem filtro e sem retoques. Que acha?

7:39 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Já pensei nisso, mas prefiro manter os filtros e os retoques. Obrigado pela visita.

8:43 PM  

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