sexta-feira, fevereiro 26, 2010

As ruas de Pelotas

Em 1972, na 5ª série, tive uma professora de Português – aliás, "Língua Nacional", que era o nome da disciplina no primeiro ano da Reforma do Ensino – que sentia um orgulho imenso de sua cidade natal. Era a Dona Constança. Acho que não havia uma só aula com ela em que não ouvíamos falar de Pelotas. O assunto podia ser pronomes, verbos, objetos diretos e/ou indiretos, que invariavelmente entrava Pelotas no meio.

Certa vez ela pediu que escrevêssemos sobre a localidade onde havíamos nascido, abrangendo vários itens. Um deles era se a cidade em questão era bem traçada. Uma colega que vinha de São Paulo comentou em voz alta que iria responder "sim" a essa pergunta. A professora contestou na hora. São Paulo não é bem traçada, imagina! Nem Porto Alegre é, que dirá a capital paulista. Cidade bem traçada é Pelotas! Aí ela falou uma frase que eu nunca esqueci: "Em Pelotas a gente olha para uma rua e enxerga o fim!"


Eu já tinha estado em Pelotas rapidamente no ano anterior, mas não observei essa característica. Voltei lá em 1974 e desta vez resolvi conferir. Espichei o olho em uma das ruas e, dito e feito, enxerguei o final. Não é possível! Dona Constança não exagerou! Guardei mais essa recordação por todos esses anos, mas prometi a mim mesmo que, se voltasse a Pelotas, faria mais uma verificação.

Pois no sábado passado, mais uma vez, pus-me a conferir o prumo das ruas de Pelotas. E constatei que elas não empenaram nem um milímetro. Continuam tão retas quanto em 1974. Quando estávamos para ir embora, pedimos orientação de como chegar à saída para a estrada. Disseram-nos que deveríamos pegar a mesma rua do nosso hotel e ir em frente "até o fim". Foi o que fizemos. Seguimos por várias quadras em linha reta. Quando terminou a rua, terminou Pelotas. Dona Constança tinha razão. É por isso que a letra de "Pelotas", de Kleiton e Kledir, diz: "O meu amor não tem fim / como uma rua infinita".

A propósito, Dona Constança não nos deu aula o ano todo. Foi substituída ainda no primeiro semestre. Mas devia estar bem de saúde, pois muitos anos depois eu a avistei na tradicional banca de revistas Vera Cruz, da Rua da Praia. Ouvi quando ela se aproximou e perguntou: "Já chegaram os jornais de Pelotas?" Continuava a mesma.

sábado, fevereiro 20, 2010

Homenagem a Kleiton e Kledir

Kleiton e Kledir foram homenageados pela Academia do Samba, no desfile de Carnaval em Pelotas, na madrugada de ontem para hoje. Aí estão eles, em frente à casa da família Ramil na Praia do Laranjal, prontos para sair para o grande evento.

Já no local de saída, Kleiton e família aguardam o momento do desfile.

Os ex-Almôndegas Gilnei Silveira, Quico Castro Neves (ao fundo) e Pery Souza.
A capa do primeiro LP em destaque em um dos carros alegóricos.
No camarote 38, o irmão Vitor e a mãe Dalva saúdam a dupla.
E aí estão eles!
Mais atrás, os ex-Almôndegas Gilnei, Pery e Quico.

A capa do segundo LP em destaque.
Aqui estou eu no meio de meus dois ídolos, os ex-Almôndegas Gilnei e Pery.

Reencontro

(Clique para ampliar)

Quem são os cinco senhores que posaram para a foto acima ontem à noite (ou hoje pela madrugada), após o desfile da escola Academia do Samba em Pelotas? Caso não lembre, veja como eles eram em 1975:
A escola em questão homenageou a dupla Kleiton e Kledir em sua terra natal. Os próprios participaram do desfile. Num carro mais atrás, vinham os demais ex-integrantes da primeira formação dos Almôndegas. Na foto atual, da esquerda para a direita: Quico Castro Neves, Pery Souza, Kledir Ramil, Gilnei Silveira e Kleiton Ramil. Agora tente identificá-los na capa do primeiro LP.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Cidadão Quem: comercial do primeiro disco

Nesse feriadão, Duca Leindecker apareceu rapidamente numa reportagem sobre o Carnaval de Porto Alegre, já que a esposa dele, Ingra Liberato, desfilou na avenida. Isso me fez lembrar que eu tenho esta relíquia em meu acervo de vídeo: um comercial de dez segundos do primeiro disco do Cidadão Quem, "Outras Caras", lançado "em LP, cassete e CD" em 1993. Aparece de relance o saudoso baterista Cau Hafner. Mesmo antes desse trabalho, Duca já tinha lançado um LP solo. Atualmente ele se dedica ao projeto Pouca Vogal, ao lado do Engenheiro do Hawaii Humberto Gessinger. O DVD da dupla já está nas lojas.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Entrevista rara de Kleiton e Kledir


Esta entrevista de Kleiton e Kledir não foi postada por mim, mas achei-a interessantíssima, então estou incorporando-a aqui. Foi realizada por Margot Ferreira em Natal, Rio Grande do Norte, para ser exibida em Portugal. Justamente por estarem falando para um público estrangeiro, eles contam resumidamente toda a história da dupla desde o tempo dos Almôndegas, com imagens bem colocadas na edição. É um depoimento diferente dos que se costumam achar na Internet, reunindo lembranças curiosas num espaço de menos de dez minutos. E um desfecho raro: eles terminam cantando "Tassy", composição em tupi-guarani de Giba Giba e Maria Betânia Ferreira que está no primeiro LP da dupla. Eles nunca cantaram essa música em nenhum dos shows a que assisti, mas já é a segunda vez que eu os vejo interpretá-la à capela, assim meio de improviso. A outra foi na entrevista que concederam a Ruy Carlos Ostermann no "Encontros com o Professor", depois que o próprio Giba Giba pediu um aparte para fazer uma pergunta (como comentei aqui).

Infelizmente a chuva ocasionou o cancelamento do desfile de Carnaval que homenagearia a dupla hoje em Pelotas. Mas ficou transferido para sexta-feira.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Um personagem polêmico

Não importa que opinião você tenha de Carlos Imperial. Se o assunto "música brasileira" lhe interessa, a biografia do compositor/teatrólogo/cineasta/apresentador capixaba é leitura obrigatória. "Dez! Nota dez! Eu sou Carlos Imperial", de Denilson Monteiro, é um relato ponderado de uma vida nada monótona.

Possivelmente nunca houve um personagem tão ambíguo no mundo artístico brasileiro. Apesar da fama de cafajeste e das vaias que recebia na TV, às quais respondia com beijos, Imperial surpreendia a quem o conhecia pessoalmente com sua educação e cordialidade. Era extremamente correto com os atores de suas peças. Pagava-os pontualmente e, se o dia do pagamento caísse num sábado, em dinheiro. Quando encenou "Viva a Nova República" em 1985, dobrou o salário do elenco depois de conseguir cobrir os custos de produção. Ao saber que Nina de Pádua era uma atriz global de sucesso, deu-lhe um aumento exclusivo. Seguiu pagando a equipe do "Programa Carlos Imperial" por um bom tempo após o cancelamento na TVS, na esperança de reestreá-lo em outra emissora (não conseguiu). Era um pai para as modelos e dançarinas que trabalhavam com ele, exceto aquelas que vinha a namorar. Não raro, apaixonava-se e parecia abandonar a vida de mulherengo para se dedicar à musa da hora. Mostrava-se radicalmente contra álcool, drogas e cigarros, chegando a policiar o irmão e o filho, que gostava de "contestar o mundo" (eufemismo para "fumar maconha"). Ajudava e era ajudado pelos amigos.
Por outro lado, tinha o péssimo hábito de nem sempre dar crédito a seus parceiros quando as músicas eram lançadas em disco. Passou o calote num motorista de táxi a quem escalou para atender a Chubby Checker durante a estada do rei do twist no Brasil. Descobriu que podia registrar em seu nome músicas de domínio público, como "Meu Limão, Meu Limoeiro", e passou a fazê-lo sem o menor escrúpulo. Já a acusação de que "A Praça" teria sido roubada de um autor desconhecido é apresentada no livro como uma de suas muitas armações para atrair publicidade. Só que o tiro saiu pela culatra, pois apareceu outro acusador para incomodá-lo. E também sua credibilidade ficou abalada. Quando compôs "Você Passa, Eu Acho Graça" em parceria com Ataulfo Alves, houve quem duvidasse da verdadeira contribuição de Imperial à música. Mas Ataulfo confirmou que era para valer.
Uma questão que o livro não responde, deixando para o leitor tirar suas próprias conclusões, é: teria sido Carlos Imperial o responsável pela notícia falsa que quase acabou com a carreira de Mário Gomes em 1977? Aquela da cenoura? A nota que saiu sem assinatura em "A Luta Democrática" foi imediatamente repercutida por Imperial em um depoimento para o mesmo veículo. A rixa entre os dois vinha de um processo movido pelo ator em razão da mudança do nome do filme de que participara de "Ele, ela e o etc" para "O Sexo das Bonecas". E, principalmente, pela elaboração de um cartaz com uma ilustração em que Gomes aparecia de batom e maquiagem feminina. O recolhimento e a substituição dos cartazes atrasaram em dois meses o lançamento do filme produzido por Imperial. A calúnia teria sido o troco por esse incômodo.
Mocinho ou vilão, Carlos Imperial foi importante no começo de muitas carreiras célebres: Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Renato e Seus Blue Caps, Ed Wilson, Wilson Simonal, Fábio, Guilherme Lamounier, Tony Tornado e Dudu França. A biografia conta ainda os 15 minutos de fama de sua filha Maria Luíza como jurada do programa Flávio Cavalcanti, onde se mostrou uma versão jovem e feminina do pai: impiedosa e sem papas na língua. Não poderia faltar também a incursão de Imperial na política como vereador do Rio de Janeiro e posteriormente na criação de um "Partido Tancredista Nacional", para valer-se da popularidade do Presidente que faleceu antes de assumir.
Denilson Monteiro realizou a pesquisa de texto e imagem do livro "Vale Tudo - o Som e a Fúria de Tim Maia", de Nélson Motta. Muito do material coletado serviu para este novo projeto que agora ele próprio assina. Aproveitando o embalo, bem que ele poderia focalizar outros personagens dessa história. Considerando que já saíram livros sobre Tim Maia, Simonal, Fábio, Erasmo Carlos e Roberto Carlos, que tal Renato e Seus Blue Caps?

O Gibb errado

A Janete está lendo "John Lennon - a Vida", de Philip Norman, edição em português, e veio comentar comigo sobre um trecho que cita Barry Gibb, dos Bee Gees. Fui ver e fiquei surpreso de constatar que ele é mencionado como marido da cantora Lulu. Ora, todos sabem que ela foi casada com o saudoso Maurice Gibb. Eu tinha lido a edição em inglês, mas tive que esperar nossa volta a Porto Alegre para conferir se também continha o erro. Não, o meu livro fala em Maurice e Lulu, com quem ele "estava saindo" (que, em inglês, é quase o mesmo que "namorando") na época do fato descrito. Duas divergências, portanto: marido e estado civil.

Não acredito que a falha seja do tradutor. Ele deve ter trabalhado em cima de um texto que depois teve correções. Se quiserem conferir, está no último parágrafo do capítulo 20.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Noite de shopping

Hoje a temperatura deu uma amenizada. Mas mantivemos o plano original e fomos conhecer o Iguatemi de Florianópolis.

Uma surpresa foi encontrar um trecho do "Quase" na Praça de Alimentação, com crédito à autora correta! Ou nem deveria surpreender, já que ela é daqui mesmo, de Florianópolis. Faltou o "h" de "Sarah", mas tudo bem. Pelo menos não atribuíram a... melhor nem falar. A autora é essa aí mesma, Sarah Westphal Batista da Silva.


sábado, fevereiro 06, 2010

Notas de rodapé

Nos livros de não-ficção, muitas vezes, as notas de rodapé contêm informações mais interessantes do que no restante da página. É como se o autor puxasse o leitor para um canto e dissesse, quase sussurrando: "Sobre isso, aliás, tem uma história curiosa, bzzz, bzzz..." Vale a pena ler com atenção.

Barrera de la lengua

Hoje cheguei a ficar com pena de um garçom aqui em Cachoeira do Bom Jesus: no tempo que ele levou para anotar os pedidos em uma mesa com oito argentinos, eu comecei e terminei minha refeição. Perdi a conta de quantas vezes ele repetiu informações como "este vinho só tem em garrafa pequena" e "este prato vem com fritas, arroz e salada".

Os vinis do Ed Motta

Hoje à tarde, na Globo, Angélica entrevistou Ed Motta sobre sua antológica coleção de discos de vinil. Poderia ter sido uma matéria perfeita, não fosse um detalhe: a edição. Os discos em si mal foram mostrados. Em certo momento, Ed puxou da prateleira uma coletânea de temas da Globo. Nesse ponto, foi inserido o trecho de uma antiga abertura do Fantástico, que deve ser facílima de encontrar no YouTube e foi lançada em DVD há poucos anos. A capa do LP, que seria o mais interessante de se ver, apareceu de longe, bem rápido. Foi mal, gente. Os colecionadores, que são o público-alvo da reportagem, querem ver capas, contracapas e rótulos dos discos. Fica para uma próxima.

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

De volta a Ingleses

(Clique para ampliar a foto)

Hoje eu e a Janete pretendíamos ir a um shopping em Florianópolis, para retomar o contato com o mundo consumista e também curtir um ar condicionado. Desistimos quando vimos na TV que tinha show da Beyoncé na capital catarinense, o que provavelmente ocasionaria um engarrafamento em nosso trajeto. Fomos então a Ingleses. Estive lá em janeiro de 2004. Fiquei poucos dias e peguei muita chuva. Só lembro de ter ido à praia uma vez, talvez duas. Mas os restaurantes à beira-mar deixaram saudades, então fomos em um deles e me deliciei com iscas de côngrio. Aliás, comer peixe é algo que estou aproveitando para fazer bastante aqui em Santa Catarina.

Também ficamos sabendo que Porto Alegre está enfrentando um calor sem precedentes. Mas não fugimos dele: aqui também está muito quente, como escrevi anteontem. Da próxima vez, vamos gastar um pouco mais, mas não dispensaremos o quarto com ar condicionado. Nem que seja para ficar menos tempo.

Nessa semana um lojista nos perguntou se éramos "do sul". Ora, em que região ele pensa que está?

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Praia Brava

Hoje, no final, da tarde, visitamos a Praia Brava. Faz jus ao nome. O mar é tão agitado e perigoso quanto o de Capão da Canoa. E também é gelado, o que é mais do que bem-vindo neste calor. Mas é limpo. Eu já tinha estado aqui na virada de 1995 para 96. Tem foto do Iuri, com pouco menos de dois anos, sentado nessa areia. Só que, daquela vez, não entrei na água. Desta vez não deu para resistir.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Calor catarinense

Os gaúchos que preferem as praias catarinenses costumam argumentar que, em Santa Catarina, não tem vento à beira-mar e a água é limpa e quentinha. Com certeza: em Cachoeira do Bom Jesus, o mar é quentinho, o ar é quentinho, a brisa, quando sopra, é quentinha e as ruas, à noite, são quentinhas. De dia, têm um sol terrível. Esta é a vantagem das praias gaúchas: lá realmente se foge do calor. Em Capão da Canoa, por exemplo, basta abrir a janela , que o mesmo vento que jogou areia nas canelas durante o dia se encarrega de trazer um friozinho gostoso à noite. E a água supostamente "gelada" do mar até cai bem num dia quente. A gente logo se acostuma. Aqui onde estamos, em Santa Catarina, abrir a janela à noite só serve para a entrada de mosquitos. Queria praia sem vento? Pois agora aguenta!

No centro de Canasvieiras, em cima do supermercado, achei um sebo. Aproveitei para comprar alguns livros, que é algo que está fazendo falta em minha casa.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Chegamos

Chegamos bem em Santa Catarina. O 3G da Claro está pegando bem aqui em Cachoeira do Bom Jesus, perto de Canasvieiras. Já tomei meu primeiro banho de mar.