terça-feira, novembro 29, 2011

Ken Russell e a cena proibida de "Tommy"

Como todos já sabem, faleceu anteontem o diretor Ken Russell, aos 84 anos. Pois aí está ele no cenário de um de seus filmes mais memoráveis: "Tommy", adaptado da ópera-rock da banda The Who. Nessa matéria da Zero Hora de 9 de abril de 1976, o crítico Goida mostra fotos da cena que seria proibida nos cinemas brasileiros: a adoração a Marilyn Monroe ao som de "Eyesight to The Blind", interpretada por Eric Clapton (com participação de Arthur Brown). O curioso é que tanto os cartazes impressos no Brasil quando as chamadas veiculadas no rádio anunciavam a participação de Clapton. Apesar da censura 18 anos, o controle de idade foi bastante relaxado na portaria do Cine Imperial, em Porto Alegre, e eu consegui assistir ao filme com apenas 15 (e aparentando bem menos).

"Tommy" foi o filme mais marcante da minha adolescência. Aproveitando um relançamento anos depois, vi-o novamente várias vezes no cinema, chegando a ficar na sala para assistir a duas sessões seguidas. (Cliquem na imagem acima para ampliar e ler a matéria.)

Tributo aos Bee Gees

Antes tarde do que nunca, quero registrar a apresentação feita por Sylvio Tavares e amigos na noite de quinta-feira, dia 24, no Sgt. Pepper's. Como já aconteceu outras vezes, Sylvio organizou um tributo aos Bee Gees. O interessante é que o repertório que ele costuma selecionar foge do convencional. Sim, ouvem-se alguns sucessos. Mas também aparecem canções pouco executadas, como "If I Only Had My Mind on Something Else" e "I.O.I.O.". Sylvio não é cantor profissional, mas já participou de coral e é apaixonado por música. Tudo é feito na base da diversão, uma legítima "ação entre amigos" e fãs dos Bee Gees. Ao fundo, à esquerda, aparece Renan Pilla, moderador da comunidade dos Bee Gees no Orkut. Normalmente ele participa nos teclados, mas dessa vez apenas fez backing vocal.

(Para ler sobre o tributo organizado em novembro de 2009, cliquem aqui.)

quarta-feira, novembro 23, 2011

Queen e Bowie para brasileiro ler

Para quem gosta de livros fartamente ilustrados de seus ídolos da música, mas não entende inglês, uma excelente notícia: duas obras fantásticas acabam de ser lançadas no Brasil com textos em português. Só conheço os originais, de forma que não tenho como avaliar as traduções ou as edições brasileiras. Mas, se a qualidade de impressão for a mesma, vale a pena investir nesses lançamentos. O livro de Phil Sutcliffe sobre o Queen é uma biografia cheia de imagens belíssimas da banda, além de capas de discos raros e outras preciosidades. Sai no Brasil pela editora Globo.

Já "Estilo Bowie", de Mark Paytress, é uma espécie de almanaque sobre David Bowie, dividido por assuntos. A edição original traz diversas fotos de página inteira e há até mesmo um capítulo sobre as marcas de cigarro preferidas pelo músico (antes de parar de fumar, é claro). Como vocês podem deduzir, é um livro somente para fãs já convertidos e não para novatos em busca de informações. Mas é uma ideia bem executada. O lançamento é da editora Madras.

domingo, novembro 20, 2011

Alerta de falso Jabor

Infelizmente as pessoas ainda não se convenceram de que não dá pra acreditar em nada que circule pela Internet com a assinatura de Arnaldo Jabor, Luis Fernando Verissimo ou Mario Quintana. Sim, é claro que há textos realmente escritos por eles em algum lugar por aí. Mas esses não "circulam". Estejam certos: a margem de erro será bem menor se vocês duvidarem de tudo.

Pois eu duvidei quando apareceu no Facebook uma crônica elogiando as mulheres mais velhas com assinatura do Jabor. E eu estava certo. Mas errei quando, supostamente, indiquei aqui o verdadeiro autor. Acontece que, assim como há pessoas atribuindo autorias incorretas a esse textos, também há outras que simplesmente os publicam em seus blogs sem qualquer referência, levando a crer que elas mesmas os escreveram. Por isso estou editando este tópico e retirando o nome que havia indicado antes. E também mudo a referência: confiram o blog da Rosângela Aliberti, pois ela aponta até mesmo um texto em inglês que seria o original.

Mais evoluções no mercado de vídeo

Quando comprei meu aparelho de videodisco (laserdisc) no final de 1990, meu plano era, com o tempo, adquirir um monitor para usar com ele. Eu tinha um televisor 16 polegadas que quebrava o galho, mas sabia que não estava aproveitando o melhor da qualidade de imagem. Como o som era alimentado diretamente no meu equipamento Technics e a programação da televisão era vista no televisor da sala, eu não teria uso nenhum para o sintonizador de canais, nem para o alto-falante. Logo, só precisaria mesmo de um tubo de imagem, nada mais. Mas um amigo me informou que, embora até existisse um modelo de monitor dedicado para equipamentos de vídeo, era tão caro que valia mais a pena comprar logo um televisor novo. E foi o que fiz. Hoje todos os televisores vendidos no Brasil vêm com sistema NTSC (e PAL-M também, claro), mas naquela época, só alguns. Fiz questão de achar um que tivesse, para não perder qualidade de cor com a transcodificação.

Lá se vão 21 anos. Na semana passada, vi um modelo de monitor para uso tanto com computador quanto com equipamentos de vídeo que me deixou bem interessado. Visualmente, ele se assemelha a esses televisores modernos de tela larga e plana que hoje estão se tornando o padrão. Mas é mais barato do que um televisor. Estou seriamente pensando em dar uma pesquisada e, talvez, comprar um desses. No Brasil, os sistemas de TV por assinatura funcionam com um decodificador de canais que alimenta som e imagem de forma direta. Não é como nos Estados Unidos em que os televisores são "cable-ready", isto é, eles próprios decodificam os canais da TV a cabo. E o som pode entrar direto no equipamento. Você mesmo pode estar usando o seu televisor apenas como monitor e nem ter percebido isso. Se você tem TV por assinatura e home theater, não está usando nem o sintonizador de canais, nem o alto-falante do seu televisor. Logo, ele foi relegado à condição de monitor.

Na verdade, antes de renovar meu equipamento de áudio e vídeo, eu tenho que me mudar para um apartamento mais espaçoso. Porque o meu sonho mesmo é investir num bom home theater e desfrutar dos recursos do áudio 5.1. Aí, claro, vou me render ao canto de sereia do formato Blu-ray. Inevitavelmente, isso me faz lembrar da péssima qualidade das fitas VHS que as locadoras ofereciam nos anos 80. E da fama de chato que eu tinha junto a meus amigos e "fornecedores de vídeo" por reclamar de qualquer mínima deterioração na imagem. Pois o tempo mostrou que eu estava certo. O gosto do consumidor evoluiu e hoje a maioria é até mais exigente do que eu era naquela época. Eu até dispensaria Blu-ray – a qualidade do DVD está mais do que satisfatória para mim – mas vou acabar acompanhando a tecnologia.

O que falta acontecer para que os meus sonhos relacionados ao mercado de vídeo se tornem todos realidade? Simples: a TV brasileira meter a mão de verdade em seus arquivos e resgatar material histórico para lançamento. Algumas emissoras já deram seus primeiros passos nessa direção, mas ainda há muito que pode ser feito. O fato de que o único lançamento em DVD de um vídeo-tape brasileiro em preto e branco foi feito nos Estados Unidos ("O Gênio", de Ray Charles) diz muito sobre o quanto a nossa mentalidade precisa evoluir. Aqui mesmo, no Rio Grande do Sul, existem imagens preciosas, tanto em filme quanto em vídeo, que não podem ficar mofando em um depósito qualquer. Mas isso também vai mudar para melhor. Tenho fé.

Leia também:

A evolução do mercado de vídeo
A polêmica da TV de plasma
Projetores e filmes
Videocassete bem utilizado

terça-feira, novembro 15, 2011

Fotos do perfil no Facebook e Orkut

Mesmo sendo uma observação óbvia, vou dar a dica: se quiser que sua foto do perfil do Facebook ou do Orkut não seja cortada nas mensagens e tópicos, deixe-a bem quadrada antes de postá-la. Se ela estiver retangular, ela terá a parte excedente cortada para ficar quadrada, na versão em miniatura. Pode sumir a boca ou algum detalhe importante. Foto quadrada não se alterará. Não é uma questão de tamanho, mas de proporção.

sexta-feira, novembro 11, 2011

Gilberto Travi e o Cálculo IV

Com o falecimento de Gilberto Travi, ocorrido anteontem, de câncer, todos estão lembrando da participação dele nos Discocuecas. Mas eu gostaria de resgatar uma fase anterior ao grupo humorístico, que são os tempos de Gilberto Travi e o Cálculo IV.

Foi no verão de 1976 que ouvi pela primeira vez na Rádio Continental um refrão que repetia: "Querem esconder os problemas do planeta, querem esconder os problemas do planeta..." Chamava-me a atenção que a música rodava praticamente todas as noites, no "Mr. Lee em Concerto". Isso fazia parte da estratégia do programa de divulgar o trabalho de músicos gaúchos que nem disco tinham, mas que gravavam suas composições no próprio estúdio da rádio. Depois vim a saber que a canção se chamava "Rota 75" e era interpretada por Gilberto Travi e o Cálculo IV. Na mesma época, Mr. Lee (Júlio Fürst) rodava também outra divertida criação do grupo, "Tubarão", aproveitando o sucesso do filme homônimo. "Saiu de Torres, foi pra Tramandaí... (...) Um tubarão, Deus do Céu, um tubarão..."

No dia 30 de abril de 1976, Gilberto Travi e o Cálculo VI se apresentaram na primeira de duas noites do concerto "Vivendo a Vida de Lee", no Teatro Leopoldina. Eu estava na plateia. Achei Gilberto muito divertido, uma figura, gordinho e bem humorado. Gostei também das três meninas que faziam vocal, que inclusive foram aplaudidas no trecho que cantaram sozinhas em "Operário Padrão". Mas o momento hilário da apresentação foi "Margô", que jamais poderia tocar no rádio, na época. Era o lado humorístico de Gilberto que sempre se manifestava.

Em função da divulgação do concerto, o programa de Mr. Lee abriu espaço nas segundas-feiras para um bate-papo com os músicos. E manteve essa prática por diversas semanas depois. Eu escrevi uma carta fazendo algumas perguntas a Gilberto Travi e elas foram respondidas no ar pelo próprio músico. Há alguns anos mencionei esse fato a ele no Orkut e ele disse que lembrava. Acredito mesmo que não tivesse esquecido, pois eu o coloquei numa saia justa: perguntei quem era a Margô do "djúbi djúbi". Ele começou dizendo que era uma moça com quem ele saiu e "djúbi djúbi djúbi", depois contou uma historinha. Minha segunda pergunta era sobre as moças do vocal do grupo. Ali fiquei sabendo que elas se chamavam Meg, Beth e Regina.

Em outro desses programas, um ouvinte mandou uma pergunta sobre como surgiu o Cálculo IV. Gilberto contou que havia participado sozinho de um Musipuc e, nessa mesma edição, Meg, Beth e Regina também concorriam com uma música de autoria da primeira. Ali eles se conheceram. Tempos depois ele recebeu uma carta delas perguntando se ele toparia cantar uma composição de autoria delas. Marcaram um encontro para acertar os detalhes, começaram a cantar juntos e viram que funcionava. Depois o músico e radialista Beto Roncaferro entraria no baixo.

Em 1976 a multinacional Warner chegava ao Brasil, garimpando novos talentos. Contratou, por exemplo, o grupo Impacto, que já tinha uma longa tradição nos bailes de Porto Alegre. Pois em um dos programas de Mr. Lee, Gilberto chegou a anunciar que ele e sua banda também estavam com a Warner. E isso foi amplamente divulgado na época. Mas não se concretizou basicamente por dois motivos. Primeiro: Gilberto não pretendia se mudar de Porto Alegre, como queria a gravadora. Segundo: a oferta era somente para o músico e ele não se via como um solista. Certa vez, num dos bate-papos do programa, ele informou que estaria fazendo show em um clube. Quando Júlio quis saber se era só ele ou o também o Cálculo IV, Gilberto foi bem enfático: "Não, todo mundo. Eu sem o Cálculo IV não sou ninguém."

No quarto e último "Vivendo a Vida de Lee", em dezembro de 1976, Gilberto mostrou um tema instrumental que a Continental já vinha tocando. Explicou que se chamava originalmente "Estrume Mental". Depois encurtaram para "Estrumental" e com esse nome foi divulgado pela primeira vez no programa de Mr. Lee. Mas a gravação era tão caprichada que todos acharam que não merecia um título satírico e sim um "nome mais científico". E assim foi rebatizada de "Rua da Praia". Essa, mais "Visão" e "Monumento à Poluição" foram apresentadas também em vídeo no programa de Fernando Vieira na TV Difusora canal 10. Essas fitas ainda existem?

Com o fim do "Mr. Lee em Concerto", os músicos que eram divulgados no programa perderam sua vitrine fixa, não só no rádio como nos shows coletivos. O que alguns tentaram fazer em 1977 foi "se promover" a artistas de show próprio. Hallai Hallai e Inconsciente Coletivo, por exemplo, realizaram apresentações antológicas, ambas com Fernando Pezão na bateria. Pois Gilberto Travi e o Cálculo IV também brindaram seus fãs com uma noite só deles, no dia 23 de abril, um sábado, na Assembleia Legislativa. Meg havia saído, mas o show teve a participação especial do então namorado de Beth, João Antônio Araújo (do Inconsciente Coletivo), na guitarra. Apesar do esmero na produção e dos elogios do público, o esforço não deve ter trazido os resultados esperados, pois os três grupos citados se desfizeram em questão de meses. E o surgimento dos Discocuecas, de certa forma, foi a pá de cal, pois deles faziam parte o próprio Gilberto Travi, Beto Roncaferro (ex-Cálculo VI), João Antônio Araújo (ex-Inconsciente Coletivo) e Júlio Fürst (ex-Mr. Lee). Hallai-Hallai e Inconsciente Coletivo voltariam com novas formações, mas os tempos eram outros. Uma curiosidade é que a semente dos Discocuecas foi plantada com as canções humorísticas de Travi. Nos tempos de Mr. Lee, ele pensava em montar um show que se chamaria "Gilberto Travi do Sério ao Infinito".

A única gravação de Gilberto Travi e o Cálculo IV lançada em disco é a faixa "Monumento à Poluição", que está no CD que acompanha o livro "Continental, a Rádio Rebelde de Roberto Marinho", de Lucio Haeser. Mas outras interpretações do grupo podem ser ouvidas no material captado diretamente do rádio pelo ouvinte Luiz Juarez Pinheiro, que hoje circula entre os colecionadores (acho que vou apelidar essas fitas de "The Juarez Tapes"). E com certeza devem existir mais preciosidades guardadas no arquivo do ex-técnico da Continental Francisco Anele Filho. Esperamos que sejam lançadas um dia. Existe ainda uma entrevista inédita com Gilberto Travi que foi realizada pelo músico e pesquisador Rogério Ratner, como subsídio para um futuro livro. Também torcemos para que seja divulgada oportunamente.


A foto acima é do blog do Necão Castilhos, ex-integrante do Hallai-Hallai. Ali vemos Gilberto Travi ao violão, à direita, juntamente com outros músicos dos shows de Mr. Lee, entre eles Zé Flávio e o próprio Necão.

quinta-feira, novembro 10, 2011

Caminhada até Ringo

Apesar da chuva ao meio-dia, o final de tarde foi de cartão postal para receber quem veio de fora ver o show de Ringo e sua banda. Essas fotos eu tirei no caminho para o Gigantinho. Como moro perto, fui a pé. Antes de sair, recebi um torpedinho no telefone. Já havia recebido vários durante o dia e não percebi que esse último não era da mesma pessoa. Quando me dei conta, era tarde: já tinha mandado um "beijo" para um amigo!
Parque Marinha do Brasil.


O Gigantinho.
Lá dentro, novo encontro com Marcelo Fróes, que veio do Rio a Porto Alegre pela segunda vez para ver um Beatle. Conversei também com o crítico Juarez Fonseca, que me apresentou ao baterista Fernando Pezão, e avistei o guitarrista Nei Van Sória. Ah, sim, reencontrei ainda o meu ex-colega de Paula Soares e Pio XII Paulo Urnau Pinheiro.
Desculpem, mas a máquina compacta Sony que levei junto é péssima para fotografar shows. Então deixo apenas esta imagem como registro. A pista premium para ver Ringo era um espaço bem menor e reservado do que a de Paul McCartney no ano passado, então pude ver bem de pertinho, mesmo sem me espremer contra o palco. Fora as participações de Ringo, meu momento preferido foi quando Edgar Winter apresentou "Frankenstein". Já o público se entusiasmou com "Hang on Sloopy" cantada por Rick Derringer, talvez por ser o original do "Pobre Menina", de Leno e Lílian. Mas todos pareciam conhecer a letra. Chamou-me a atenção também que a maioria gritava o nome de Ringo com sotaque inglês. O baterista foi simpaticíssimo, como era de se esperar. Enfim, não posso me queixar: com 50 anos, já tenho em minha "ficha" shows de David Bowie (quatro), Roger Waters, Genesis, Kiss, Alice Cooper, Paul McCartney e agora o grande Ringo. Confesso apenas que as duas músicas apresentadas por Edgar Winter me deixaram com gosto de quero mais. Quem sabe agora um show só dele?

RINGOOOOOO...

Quem hoje vê a fartura de filmes e vídeos dos Beatles disponíveis em DVD e no YouTube não imagina a escassez que os fãs brasileiros amargavam nos anos 60. Eu era criança e ainda assim lembro bem. E minha lembrança foi confirmada por Lizzie Bravo (a brasileira que fez backing vocal para os Beatles na primeira versão de "Across the Universe") em entrevista que deu a uma rádio americana. Ed Sullivan Show, Shea Stadium, Budokan, clips, nada disso chegava às emissoras do Brasil. Era como se não existisse. Então, como bem contou Lizzie, a única forma de os fãs brasileiros verem os Beatles "em movimento" era nos filmes.

Eu tinha cinco anos quando assisti a "Help!" na semana do lançamento em Porto Alegre. Foi o mais próximo que o Brasil chegou da Beatlemania. E algo de que nunca esqueci foram as garotas gritando: "RINGOOOOO..." Com que idade elas estarão hoje? Mais de 60, com certeza. Mas, se quiserem, poderão gritar novamente, desta vez ao vivo, no Gigantinho.

Ringo foi o primeiro (e, por algum tempo, o único) dos Beatles de quem aprendi o nome. Só quando saíram as figurinhas dos quatro integrantes na revista Intervalo é que eu fui saber que os outros eram John Lennon, Paul McCartney e George Harrison (chamado no Brasil de "Jorge Árrisson" pelos fãs da época). O baterista narigudo entrou para o grupo às portas do megassucesso. E criou um estilo. Assim como existem cantores de voz limitada, mas com uma interpretação marcante e pessoal, Ringo tem personalidade para tocar. Não sabe rufar, não faz grandes firulas nos tambores, mas sua batida firme e seca se tornou marca registrada dos Beatles. Não por acaso, John Lennon fez questão de chamá-lo para tocar nos discos solo dele e de Yoko em 1970, ambos chamados de Plastic Ono Band.

Com o fim dos Beatles, Ringo demorou algum tempo para se direcionar como solista. Apesar de ótimos singles, seus dois primeiros álbuns eram projetos especiais, o primeiro de standards (Sentimental Journey) e o segundo de country music (Beaucoup of Blues). Foi somente com o álbum Ringo em 1973 que o baterista achou sua fórmula ideal: canções pop produzidas por seus superamigos musicais. Nunca foi um grande cantor, mas os fãs se mantiveram simpáticos a seu timbre grave e nasal.

Shows, propriamente, Ringo não fazia. Limitava-se a gravar seus discos e fazer participações especiais em apresentações de outros. Os problemas com o álcool também atrapalhavam. Em 1989, finalmente, recuperou-se. E, como sempre se faz com alcoólatras em sobriedade, foi recomendado a ele que se dedicasse a uma atividade. Foi assim que ele decidiu cair na estrada como baterista. Para conhecer a história completa da All-Starr Band, que já teve diversas formações, confiram o excelente texto de Cláudio Teran clicando aqui.

Da banda atual, sou também fã de Edgar Winter. Descobri o trabalho dele em 1973, através de um amigo que havia comprado o antológico álbum They Only Come Out at Night. Esse LP, aliás, foi creditado a Edgar Winter Group, do qual fazia parte o guitarrista Dan Hartman – ele mesmo, que estourou em carreira-solo com sucessos disco como "Instant Replay" e "I Can Dream About You" e que viria a morrer de AIDS em 1994. Hartman dividia a linha de frente com Winter, tanto como vocalista quanto como compositor. Um dos clássicos de sua autoria é "Free Ride", que faz parte do álbum citado e Winter canta até hoje nos shows. Diz a lenda que Winter resolveu compor a instrumental "Frankenstein" porque achou que o material do disco não era comercial o bastante. Meu palpite é um pouco diferente: acho que ele percebeu que, sem uma composição de apelo mais forte, os sucessos seriam todos de autoria de Dan Hartman. Além de "Free Ride", a balada "Autumn" era um hit em potencial, mas não emplacou.

Enfim, o que teremos hoje à noite é uma superbanda apresentando um grande show, com a participação de um ex-Beatle. Boa diversão a todos nós!

A propósito...

Hoje meu foco está direcionado para o show de Ringo e sua All Starr Band no Gigantinho, mas prometo até o final da semana publicar um longo texto sobre Gilberto Travi, que faleceu ontem. Aguardem.

sexta-feira, novembro 04, 2011

Hermes Aquino e Fernando Ribeiro em CD

Durante os meses de junho e julho, fiz um certo suspense aqui no Blog, dizendo que breve teria uma novidade. Pois ela chegou em agosto: o relançamento de três discos gaúchos em CD pelo selo Discobertas, do carioca Marcelo Fróes. A convite dele, eu tive a honra de escrever os textos dos encartes. Só que, por motivos diversos, acabei não fazendo a divulgação como pretendia. Apenas indiquei dois links para o site do crítico Mauro Ferreira. Mas ainda é tempo. Os CDs estão em catálogo e algumas lojas físicas de Porto Alegre só recentemente os receberam. Então, antes tarde do que nunca, vamos a eles.

Desencontro de Primavera, de Hermes Aquino, e Em Mar Aberto, de Fernando Ribeiro, chegaram às lojas praticamente juntos, entre março e abril de 1977 (embora o rótulo do vinil original de Fernando indique 1976). Hermes vinha impulsionado pelo sucesso de "Nuvem Passageira" no ano anterior, incluída na trilha sonora de "O Casarão". Mas um fato que fiz questão de enfatizar em meu texto é que, mesmo antes da estreia da novela, o compacto com "Machu Picchu" no lado A e "Nuvem Passageira" no lado B já era êxito absoluto em Porto Alegre. Consegui datas e números mais ou menos exatos em minhas pesquisas, mas independente disso eu me lembrava do sucesso do disquinho. Como certa tarde em 1976 em que eu estava na saudosa Curtisom, na Avenida Borges de Medeiros, quando um vendedor disse para o outro: "Diz para o Fulano buscar mais Hermes Aquino lá no estoque." E complementou: "Não te falei que o guri ia vender?"

Fernando Ribeiro era desconhecido fora do Rio Grande do Sul, mas a EMI farejou nele um grande talento e apostou alto. O resultado é que Em Mar Aberto tornou-se uma obra-prima de MPB e um dos melhores discos já lançados por um artista gaúcho. Mas não esqueçamos que a riqueza da obra de Fernando devia muito à poesia de seu letrista Arnaldo Sisson. Por sinal, Arnaldo voltou a ter seus versos musicados, desta vez por Léo Ferlauto (Fernando, como se sabe, faleceu em 2006). Mas seu trabalho com Fernando dificilmente será superado. Os dois estavam no auge da inspiração, compondo maravilhas como "Não Demora", "Hora Imprópria", "Estado de Espírito" e "Aqui e Ali".

Em razão de minha colaboração com esses relançamentos (apenas com os textos, mesmo assim fico orgulhoso e agradecido ao Marcelo Fróes pela chance), não pretendo escrever aqui uma crítica aos CDs nos moldes convencionais. Estou apenas fazendo a divulgação prometida, ainda que tardia. E também não vejo necessidade de repetir aqui informações que já estão nos encartes. Vocês podem ler tudo lá. Mas talvez alguns fiquem curiosos em saber como obtive a data exata em que Hermes Aquino mostrou em primeira mão as faixas de seu segundo LP Santa Maria no Ritmo 20 de Clóvis Dias Costa. Simples: eu fiz diário de meados de 1977 a 1981 e ainda tenho os cadernos guardados. Naquela noite eu tinha ido à Rádio Continental com meu irmão João Carlos Pacheco, que era locutor da emissora. Quando eu saí de lá depois de termos ido à farmácia (acho que fui comprar um remédio para minha mãe, não tenho certeza), vi Hermes saindo do elevador quando eu estava entrando. Cheguei em casa e peguei a entrevista já começada, mesmo assim consegui ouvir um bom pedaço. E me lembro bem das faixas que foram rodadas, além da entrevista em si. Quem sabe um dia eu publique um livro só com esses detalhes, tipo "Memórias de um Ouvinte".

Por fim, cumpre lembrar que Marcelo Fróes é um dos mais conceituados produtores de relançamentos do Brasil. Antes mesmo de montar o seu próprio selo Discobertas, ele já havia feito diversos trabalhos para grandes gravadoras, incluindo, entre outros, as caixas de Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e, no caso de músicos gaúchos, os CDs de Almôndegas e Kleiton e Kledir relançados em 2003. Com o Discobertas ele está conseguindo fazer os encartes como sempre desejou: fartos em ilustrações. O CD de Fernando Ribeiro reproduz fielmente a ficha técnica, as fotos e as letras impressas na edição original. Os CDs de Hermes incluem fotos de compactos diversos das respectivas épocas (inclusive os dois contêm faixas-bônus originais desses disquinhos). E todos trazem os rótulos dos vinis originais. Com tanta pirataria rolando por aí, lançamentos caprichados como esses merecem ser prestigiados. Espero que saiam mais títulos de músicos gaúchos. E, se eu for convidado novamente a colaborar com textos, aceitarei com prazer.

quarta-feira, novembro 02, 2011

O Blog indicado

Agradeço ao Ulisses Wehby de Carvalho por ter indicado o meu Blog numa lista de 15 sugestões que publicou no Tecla SAP. "In no particular order", ele observou, mas casualmente citou o meu em primeiro lugar. E é claro que tem muita gente chegando aqui pelo link que ele postou. Agora estou com pouquíssimo tempo, mas até o final de semana vou decidir se participo da brincadeira. Mesmo que não o faça, no mínimo, comentarei a proposta com mais calma e talvez participe de forma "alternativa", sem necessariamente atender a todos os itens. A propósito do comentário que ele fez, se quiserem ler pelo menos algumas das "googladas incautas", cliquem aqui. Faz tempo que deixei de publicá-las mensalmente, como fiz por um bom tempo, mas estou pensando em trazê-las de volta com uma periodicidade mais espaçada.