A evolução do mercado de vídeo
Você já teve a sensação de estar à frente do seu tempo e ter que esperar a evolução alcançá-lo? Eu me senti assim quando comprei meu primeiro videocassete em 1985. Minha intenção era formar uma videoteca comprando minhas próprias fitas. O problema é que não havia quem vendesse em Porto Alegre. E sempre que eu perguntava a respeito, invariavelmente esbarrava em respostas como "mas pra que você vai querer comprar, se é mais barato alugar e você vai ver uma vez só e blá blá blá..." Sem contar a péssima qualidade das fitas piratas que as locadoras ofereciam. Mas, aparentemente, eu era um dos poucos que reclamavam. Os usuários em geral estavam satisfeitos.
Com o tempo, fui entrando em contato com fornecedores de cópias. Ainda assim, se pudesse, de bom grado compraria fitas originais. Até hoje valorizo o produto oficial e costumo usar o exemplo do filatelista, que não se contenta com xerox de selo. Mas também aí eu ouvia os mesmos argumentos: "Pra que pagar uma fortuna por uma fita original se uma cópia sai bem mais barata e fica boa, blá blá blá..." Tive a chance de fazer ótimas aquisições em duas vezes que estive nos Estados Unidos, em 1985 e 1990. Lá o mercado já estava com outra mentalidade (ao menos em Miami e Nova York, que foram as cidades que visitei) e havia várias lojas para venda de fitas VHS diretamente ao consumidor. As próprias lojas de discos ofereciam também fitas de música, antecipando uma prática que só bem mais tarde chegaria ao Brasil.
Em 1990, comprei um aparelho de videodisco. O formato não chegou realmente a pegar, mas teve boa penetração entre os videomaníacos mais exigentes. Aqui no Brasil não é difícil entender por que o videolaser não vingou: não havia títulos nacionais. Assim, quem não soubesse inglês não teria o menor interesse em comprar filmes. O nicho maior no mercado nacional foi mesmo o de shows. Eu importei alguns filmes e documentários, mas em quantidades racionadas, pois o preço era muito alto. Somente um videodisco chegou a ser produzido especialmente para o Brasil, que foi o de Chitãozinho e Chororó. Este, casualmente, não me interessou.
Hoje, finalmente, o mercado de vídeo chegou no estágio em que eu já queria que estivesse há quase 20 anos. As pessoas já não acham um absurdo a idéia de comprar um filme. Pelo contrário: cada vez mais consumidores estão montando suas próprias videotecas. É claro que o surgimento do DVD ajudou a cultivar essa mentalidade. Mas acho que a tecnologia e os hábitos de consumo evoluíram de forma independente. Se não fosse o DVD, seria o videodisco ou fita VHS, mesmo. Também os usuários já se dão conta de que os equipamentos de áudio e vídeo podem estar conjugados numa mesma instalação. E os preços caíram bastante. Já se encontram lançamentos luxuosíssimos em DVD por 30 reais ou menos. E muitos deles incluem material extra. No videodisco, só as edições especiais (e caras) traziam documentários e informações suplementares.
Outra mudança importante é que as produtoras estão mexendo no baú e relançando preciosidades históricas. Temporadas inteiras de séries de TV estão saindo em DVD em caixas belíssimas. No Brasil, a Globo começa a disponibilizar seu material de arquivo em séries com a do Fantástico e o DVD do Jornal Nacional. Mini-séries, documentários, filmes antigos, tudo está sendo lançado. Opções não faltam. E as mesmas pessoas que há 20 anos me perguntavam por que eu queria comprar minhas próprias fitas hoje compram seus próprios DVDs.
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