sábado, fevereiro 28, 2009

Camelódromo

A primeira vez em que ouvi falar no camelódromo, até pelo nome, imaginei que seria um espaço coberto onde os ambulantes se instalariam da mesma forma como já faziam na rua. Tive uma surpresa de ver que, a rigor, eles deixaram de ser camelôs. Agora estão realmente em espaços comerciais, como um shopping popular. O nome "camelódromo" é apenas uma referência ao que eles eram antes. Agora são lojistas de verdade. Há quem reclame da diminuição nas vendas, enquanto outros comemoram o conforto de não ficar todo o dia expostos ao sol. Tenho a impressão de que os que gostaram são os bem intencionados, que querem trabalhar de forma regularizada e honesta. Os descontentes são os que viam vantagens na informalidade.

De minha parte, achei uma evolução fantástica, talvez porque nunca simpatizei muito com camelôs. Roubam espaço da rua e fazem a venda de forma um tanto amadorística. Agora foram devidamente promovidos a comerciantes de verdade. Porto Alegre tem que prestigiar este passo à frente. Tomara que dê certo.

Apenas para registro, um dia desses eu estava atravessando a Júlio de Castilhos quando vi um sujeito cruzar a rua em tempo recorde - "The Flash"- e desaparecer na estação do Trensurb carregando um mostruário de óculos escuros. Sim, ainda há os insistentes.

Leia também:

Duplo sentido
A clandestinidade

Depois do Carnaval

No feriado de Carnaval, como era de se esperar, houve uma redução no número de visitas ao Blog (agora resolvi que vou escrever sempre com letra maiúscula quando me referir a "este" aqui). Em compensação, houve um aumento no número de comentários. Em suma, diminuiu a quantidade, mas aumentou a qualidade. Obrigado a quem ainda vem aqui bater ponto. Sei que não ando escrevendo muito, ultimamente. Na verdade, eu tenho que aprender a jogar conversa fora, como outros blogueiros fazem. Aí conseguirei postar com mais frequência.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Reações extremadas

Já comentei aqui que, no impeachment de Collor, não vi motivo para festa. Não votei nele e, quando ele foi eleito, fiquei bastante apreensivo com o que viria pela frente. Mesmo assim, quando ele caiu, achei que o momento não era para fazer carnaval. Levamos mais de 20 anos para eleger um Presidente e agora estamos comemorando sua saída prematura? Alguma coisa está errada. Por sorte, não ocorreu a manobra oportunista que eu receava.

Também não votei em nenhum momento em Fernando Henrique, mas admito que sua administração não foi das piores. Ele conseguiu algumas façanhas que eu imaginava impossíveis, como acabar com a inflação. Mas independente da avaliação que eu faça do Governo dele, não vi com bons olhos – ou não ouvi com bons ouvidos – os gritos de "fora FHC" que vinham da oposição. Hoje gritam "fora Lula". Parece que virou moda querer derrubar Presidente. Às vezes o brasileiro parece esquecer que, numa democracia, um Presidente dá lugar a outro eleito pelo povo ao final do mandato. Foi voto vencido? Paciência. Deixemos o escolhido pela maioria mostrar a que veio.

Há alguns anos, troquei e-mails com um colecionador americano que estava interessado em CDs lançados no Brasil. No final das mensagens a assinatura dele era: "Dump Dubya in 2004". Fiquei intrigado. Quem é esse tal de "Dubya"? Será algum Senador? Só muito tempo depois fui perceber que "Dubya" é o apelido que Luis Fernando Verissimo traduzia como "Dábliu" em suas crônicas: referia-se ao Presidente americano George W. Bush. "Dump Dubya in 2004" poderia ser traduzido como "livre-se de Dábliu em 2004". Por que em 2004? Porque seria o ano da próxima eleição. De onde se presume que, nos Estados Unidos, se não houver algo realmente grave como um Watergate, os eleitores não gritam "fora", gritam "não reeleja". Que é como deve funcionar uma democracia.

Pois meu raciocínio vale também para Governadores. O PSOL pegou pesado com Yeda ao expô-la negativamente em cartazes. Também não votei nela, mas respeito-a. Se houver algo errado em qualquer administração, é claro que deve ser investigado. Mas não simpatizo com reações extremadas e soluções radicais. O brasileiro deveria se preocupar menos em derrubar governantes e mais em votar melhor. Sim, existem situações que justificam medidas severas. Mas Collors e Nixons não surgem a todo o momento. Não é aconselhável que os criemos, tampouco.

domingo, fevereiro 15, 2009

Para ouvir Hermes Aquino

Desde que publiquei uma foto recente de Hermes Aquino no ano retrasado, de vez em quando alguém me escreve perguntando por ele, o que está fazendo, se ainda compõe ou grava. Pois tenho uma ótima notícia para os fãs dele: clicando aqui, vocês ouvem uma rádio on-line que, entre outras coisas, roda gravações inéditas do grande Hermes. De ontem para hoje já ouvi duas músicas inéditas em inglês, duas em português, um novo arranjo para o jingle de Saco e Cuecão ("panos e planos que saem do chão"), uma nova gravação de "Macchu Picchu" e até uma versão em inglês de "Nuvem Passageira" em ritmo de bossa nova ("I'm a lonesome navigator / I'm a cloud that's passing by / I'm as fragile as the finest crystal / breaking at the blink of eyes"). A rádio ainda está em fase de testes e não tem o compromisso de ficar no ar, inclusive fazendo interrupções com anúncio do horário de retorno na tela. Mas, para quem torcia pela volta de Hermes Aquino, aí está ele! A foto acima é novíssima, de 15 de fevereiro.

P.S. (12/10/2011): Os dois LPs de Hermes Aquino, "Desencontro de Primavera" (1977) e "Santa Maria" (1978) foram relançados em CD com faixas-bônus pelo selo Discobertas, do carioca Marcelo Fróes. Eu tive a honra de escrever os textos dos encartes, que além de tudo são fartamente ilustrados com capas e rótulos dos LPs e compactos da época.

Carro de estimação

Na garagem onde eu guardo o meu carro, em Porto Alegre, tem um automóvel num box próximo que está sempre coberto por uma enorme capa. A princípio, imaginei que fosse excesso de zelo. Até que um dia cheguei bem na hora em que a dona estava dentro, com o carro ligado. Mas ela não saiu. Apenas deixou o motor ligado por um bom tempo. Foi então que percebi que ela provavelmente não usa o carro. Ou porque tem receio, ou porque prefere usar o do marido (com ele na direção, presumo), ou porque ainda está aprendendo a dirigir. Talvez o carro tenha sido um presente e ela o guarde como um item de estimação, pelo valor sentimental. É como um brinquedo. De vez em quando ela tira a cobertura de proteção, entra no carro, sente o cheiro do estofamento, gira a chave, ouve o barulho do motor, toca a direção, pisa nos pedais, mas não sai com ele. Tem o carro por ter, cuida dele com carinho, mas nunca o tira da garagem. Não lembro a marca, mas garanto que não era nenhum modelo importado ou luxuoso que talvez justificasse o procedimento.

Assim não dá, Marco!

Lembram do Marco Giustino, de Botucatu? Aquele que fez plantão na frente da casa do Barry Gibb, dos Bee Gees, em Miami, e conseguiu falar com ele, pegar autógrafo e tudo o mais (como registrado aqui)? Pois o que se imaginava ter sido um momento único agora virou o passatempo preferido dele: matar de inveja os fãs dos Bee Gees. Ele esteve ontem no baile "Love and Hope", no Westin Diplomat Resort & Spa, em Hollywood. Além de reencontrar seu amigo Barry acima, vejam com quem mais ele tirou foto:

Barbara Gibb, mãe de Barry e Robin e dos saudosos Maurice e Andy.

Bom, aqui ele ainda colocou um salzinho na ferida. Marco, a Olivia Newton-John é musa da minha geração, não da sua! O que você está fazendo aí, fedelho, abraçado na minha paixão de adolescência (ainda antes de "Grease", devo frisar)? Falando sério, parabéns, Marco, e não esqueça de nos dar um relato completo do show do Barry. Mais fotos no álbum dele do Orkut.

P.S.: As músicas apresentadas por Barry Gibb foram:

1 – To Love Somebody
2 – You Should Be Dancing
3 – Marley Purt Drive
4 – First of May
5 – Lonely Days
6 – Words
7 – Fever
8 – Living in the rain (dueto com Steve Gibb)
9 – Island in the Stream (com Olivia Newton John)
10 – I Honestly Love You (somente Olivia Newton John)
11 – How Can You Mend a Broken Heart
12 – Guilty (
com Olivia Newton John)
13 – Grease
14 – Jive Talking
15 – How Deep is your love
16 – Stayin' Alive


Marco publicou seu relato no Multiply e já postou um vídeo no YouTube, completo com seus comentários e "backing vocals".

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Comunicação prejudicada

Quando Hugo de León foi demitido da função de técnico do Grêmio, em abril de 2005, publiquei aqui no Blog um comentário sobre a importância de um treinador. Na verdade eu, como leigo, questionava o quanto um técnico podia trazer de positivo ou negativo em uma partida de futebol. E um aspecto que não considerei é a facilidade de comunicação com os jogadores. Imagino que isso seja fundamental. Não basta ter conhecimento tático: é preciso saber repassá-lo ao time. E aí não se inclui somente o entendimento verbal, mas também o carisma, a liderança natural, a segurança que um técnico pode transmitir. Tivemos vários técnicos no Rio Grande do Sul que eram pessoas simples, humildes, mas extremamente eficazes em seu ofício. Sabiam comandar um time.

Como vocês já devem ter desconfiado, estou tecendo esses comentários pensando na demissão de Luiz Felipe Scolari do Chelsea. Por que Felipão deu certo na Seleção Brasileira, na Seleção Portuguesa, mas não num clube inglês? É impossível não pensar que a barreira do idioma possa ter atrapalhado. Nunca esqueço uma matéria do Fantástico mostrando jovens chineses que vieram ao Brasil para aprender futebol. O técnico gritava instruções e imediatamente um intérprete as repetia em chinês. Até que ele disse: "Capricha!" O pobre tradutor ficou perdido, olhando para o ar, e a edição ainda colocou um ponto de interrogação sobre a sua cabeça. E no tempo em que o pugilista Maguila era treinado pelo americano Angelo Dundee, uma lenda que já trabalhou com Muhammad Ali, eu me perguntava o quanto de seus ensinamentos o peso pesado brasileiro conseguia aproveitar.

Alguns técnicos brasileiros, quando ganham notoriedade, adotam paletó e gravata, como Wanderley Luxemburgo. Outros, como Carlos Alberto Parreira, mantêm uma fisionomia estoica por toda a partida, mesmo nos piores momentos. Felipão, não. Onde quer que ele esteja, por mais decisivo que seja o jogo, ele é o mesmo gringo de Caxias do Sul (embora tenha nascido mesmo em Passo Fundo), de agasalho esportivo, erguendo os braços e fazendo uma expressão de desespero cada vez que o seu time faz uma bobagem. Parece estar dizendo "Porco Zio!", como o personagem Radicci, do chargista Iotti. (Para quem não é gaúcho: no Rio Grande do Sul, "gringo" quer dizer "descendente de italiano"). O estilo Felipão funciona com brasileiros, com portugueses e com países normalmente habituados a importar talentos futebolísticos. Mas os ingleses inventaram o esporte.

Eu sei que Felipão surpreendeu a imprensa inglesa com seu conhecimento do idioma na primeira entrevista coletiva. Mas por mais que tenha evoluído no domínio da língua, enquanto o aprendizado não for total, alguma barreira continuará existindo. Fica então o dilema entre a frieza de um intérprete ou a limitação de um vocabulário próprio na língua dos jogadores. De um jeito ou de outro, fica prejudicada a comunicação, tão importante na relação de um técnico com seus comandados.

Talvez não tenha sido nada disso. Mesmo assim, fico curioso para saber o quanto o idioma, ou mesmo as diferenças culturais, contribuíram para que o gringo de Caxias (nascido em Passo Fundo) perdesse o seu cargo no britânico Chelsea.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

O efeito Rosana Hermann

Foi só a Rosana Hermann me citar no blog dela, o lendário "Querido Leitor", que surgiram aquelas "torres gêmeas" à direita, no gráfico de visitas. No caso, ela postou um link para minhas entrevistas com Gabriella Scheer e Sarah Westphal sobre o incidente em que o texto "Quase", de autoria de Sarah, foi publicado na França como se fosse de Luis Fernando Verissimo. Este post aqui. O "Querido Leitor" é considerado um dos melhores blogs da Internet. Com certeza é um dos mais visitados.

3G da Claro

Talvez vocês estejam estranhando a falta de postagens no Blog. Há vários motivos para isso. Um deles se chama: 3G da Claro. Não entendo como uma empresa tem coragem de oferecer um serviço tão ineficaz. Em vez de investir na qualificação de sua estrutura, prefere direcionar o orçamento para publicidade, atendimento e, provavelmente, assistência jurídica. A publicidade é para convencer clientes em potencial de que este arremedo de acesso à Internet é a oitava maravilha do mundo. Dê-lhe Faustão em cima dos incautos! O atendimento é para receber as milhares de reclamações de clientes insatisfeitos e enrolá-los da melhor forma possível, em último caso até oferecendo um ou dois meses com isenção de taxa. E a assistência jurídica é para os processos que devem sofrer por tudo isso.

Eu só contratei 3G pela mobilidade. No fim, embarquei numa canoa furada. Agora estou preso a este odioso "contrato de fidelidade". Um dia nossas empresas aprenderão que o melhor "contrato de fidelidade" é o serviço prestado com competência.

Visitem no Orkut a comunidade "
Claro Banda Larga LENTA 3G".

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Pessoas burras versus pessoas limitadas

Observo uma sutil diferença entre pessoas burras e pessoas limitadas. Em princípio, toda a pessoa burra é limitada, mas nem toda a pessoa limitada é burra. Para simplificar a distinção, sempre que eu citar pessoas limitadas neste texto, fica entendido que estou me referindo a pessoas limitadas que não são burras. 

Pessoas limitadas, em geral, têm consciência de suas limitações. Sabem até onde podem ir com seus próprios meios e a partir de onde é recomendável valer-se da ajuda de outros. Dentro de seu restrito universo, são sábias e coerentes. Exatamente por esse virtuoso autoconhecimento, muitas vezes as pessoas limitadas expandem seus horizontes. Crescem. Superam seus obstáculos. Já as pessoas burras realmente acreditam que o mundo corresponde à visão estreita e distorcida que elas enxergam. E acham que todos têm a mesma percepção. São capazes de subir num pedestal, estufar o peito e fazer uma afirmação totalmente estapafúrdia com absoluta convicção.

Uma pessoa limitada sabe ouvir. Se você apresentar seus argumentos de forma clara e bem estruturada, ela se convencerá e lhe dará razão. E, se tiver que contestá-lo, ela o fará de maneira sensata e ponderada. Caso precise de mais esclarecimentos para entender o que lhe está sendo explicado, ela os pedirá com humildade e sem constrangimento. Por outro lado, uma pessoa burra chega a se ofender se você tentar provar que ela está errada. Ela dirá que você está "misturando as coisas" ou "tentando virar o jogo", mas em momento algum apreciará o mérito de suas asserções. 

Uma pessoa limitada tem muita inteligência emocional. O que lhe falta em intelecto, sobra em coração. É alguém que sabe reconhecer e principalmente retribuir manifestações genuínas de amor. Seus conceitos de certo e errado são firmes e justos. Enquanto isso, uma pessoa burra cultiva valores questionáveis, não raro adorando a falsos deuses e negligenciando quem realmente mereceria sua atenção. 

Pessoas limitadas de boa índole são seres humanos abençoados, que fazem por merecer o que conquistam em seus esforços de avanço e superação. Quanto às pessoas burras, só me resta dizer: "Pai, perdoai-as, porque não sabem o que fazem!"