sexta-feira, abril 22, 2005

O técnico

A notícia de que Hugo de León foi demitido de seu cargo de técnico do Grêmio me faz pensar em uma de minhas reflexões de leigo sobre o futebol. São pequenas coisas que eu, aqui de longe, questiono. Por exemplo: o que leva alguém a querer ser goleiro? Que graça tem ficar parado o tempo todo em um dos extremos do campo esperando o momento fatídico de ver a bola chutada em sua direção? E ainda levar a culpa se o time perder? E por que há jogadores que se identificam com posições como, por exemplo, a lateral esquerda? Como um atleta decide que vai jogar ali? Na infância, quase todos querem ser centroavantes. E eu até conheci alguns garotos que se fardavam de goleiros e se achavam bons no ofício. Mas a lateral esquerda? Não consigo nem imaginar um menino dizendo: "meu sonho é jogar na lateral esquerda!" Talvez, no tempo do Everaldo.

Mas o que realmente me intriga neste momento é: qual a verdadeira importância de um técnico? Até que ponto ele pode realmente ajudar ou prejudicar um time? Quem joga futebol não são os jogadores? Que culpa tem o técnico de um pênalti perdido? Qual a responsabilidade do treinador se o goleiro toma um frango? Ah, sim, quem mandou escalá-lo. Por outro lado, se um jogador protagoniza um lance espetacular e faz o gol, nunca vi ninguém elogiar o técnico por isso. Ora, por que não? "Parabéns por apostar nesse craque!" "Que bela jogada você ensinou a ele!" Tá, estou exagerando. Eu consigo imaginar a importância de um técnico. Ainda que os times improvisados das peladas que se jogam por aí consigam disputar partidas sem maestro, "tocando de ouvido". Eu me pergunto se, quando um jogador abandona o futebol profissional, consegue continuar jogando sem técnico. "Pô, Fulano, no Inter você jogava um bolão e aqui, no time dos veteranos do bairro, você não faz nada?" E o Fulano responde: "Ué, que culpa eu tenho se aqui não tem ninguém pra me dizer o esquema de jogo?"

Cada vez que um técnico é demitido, a impressão que eu tenho é que a diretoria gostaria mesmo é de demitir o time. Como isso é inviável, elege-se um bode expiatório. O único profissional que se relaciona em igualdade de condições com o time inteiro é o técnico. Logo, vai o técnico. E vem outro no lugar dele. Espera-se que, mais do que conhecimento tático, tenha também poderes mágicos. Que consiga transformar jogadores limitados em craques. Acham que é exagero? Pois foi exatamente isso que o Grêmio esperou de Cláudio Duarte às portas do rebaixamento.

Hoje se sabe que muito do supertime que o Internacional teve em 75 e 76 se deveu à visão de Rubens Minelli. Há quem diga também que a Seleção de 1970 teve um dedo de João Saldanha, demitido de última hora em meio a controvérsias. Outros minimizam a contribuição de Vicente Feola em 1958, sugerindo que sua função era apenas a de "distribuir as camisetas". A verdade é que, para entender realmente a importância de um técnico, eu teria que jogar futebol. E não jogo nem como amador. Se um técnico conseguisse me transformar num craque, eu ficaria convencido de sua capacidade. Não, não daria certo. Se ele me escalasse, já estaria comprovando sua incompetência.