quinta-feira, abril 14, 2005

O casal do café

É comum enxergarmos sempre as mesmas pessoas quando cumprimos horários rígidos. Gente desconhecida, de quem não sabemos o nome, idade, profissão, nada. Mas estão lá, todos os dias, na parada do ônibus, no restaurante, ou passando por nós na rua no mesmo local e horário. Suas fisionomias se tornam familiares a tal ponto que, se um dia as vemos em outro local, nos lembramos delas. Já me aconteceu isso há muitos anos com duas moças que eu via todos os dias passando por mim na Siqueira Campos, quando ia pro trabalho. Um dia as conheci pessoalmente apresentadas por amigos comuns, falei que me lembrava delas e aí passei a cumprimentá-las. Mas isso foi lá no século passado.

Atualmente, estou acostumado a ver as mesmas caras no almoço e também no café, para onde eu e meus colegas sempre vamos depois da refeição. Certa vez, observei um casal de namorados que se encontrava todos os dias. Geralmente ele chegava primeiro, depois ela vinha, dava-lhe um beijo na boca e ficavam ali, conversando e tomando café. Chamavam a atenção pela diferença de idade (ele bem mais velho) e de aparência, mas não se importavam. Namoravam em público, felizes, sem ligar para o que os outros pudessem pensar.

Um dia, lá estava ele esperando a moça. Quando ela chegou, em vez do beijo, houve um distante aperto de mão. Não estavam mais juntos. E, pela frieza do cumprimento, deu para perceber que o clima entre eles estava tenso. Talvez por isso eu não os tivesse visto mais por lá recentemente. Mas agora, por alguma razão, estavam se reencontrando. Pelo menos, iriam conversar. Podia-se supor que, de um deles, havia o desejo de voltar. Se iriam se entender ou não, o tempo diria.

Alguns dias depois, vi-os novamente se encontrando. Ainda sem beijo, mas dessa vez o toque das mãos foi diferente, com um sorriso e muito carinho. Como se quisessem continuar de mãos dadas. Não havia mais mágoa. Naquele momento, desejei que se reconciliassem. Percebi claramente que ainda gostavam um do outro. Não sei por que motivo haviam brigado, mas quanto mais rápido deixassem o orgulho de lado, melhor seria para os dois.


Hoje, lá estava ele de novo, esperando. Ela chegou e, como nos velhos tempos, beijou-o na boca. Estão juntos novamente. Quando meu colega pediu licença para pegar uma cadeira da mesa deles, o sorriso com que o namorado consentiu mostrava um homem feliz, em paz, "de bem com a vida", como diz o surrado clichê. Não sei quem são, que nome têm, o que fazem ou como se conheceram, mas fiquei feliz por eles. Lamento que algum desentendimento os tenha afastado, ainda que por pouco tempo. Espero que tenham aprendido a lição. Sei que o amor por si só não resolve os problemas do mundo, mas não entendo como duas pessoas que gostam uma da outra possam arranjar motivo para não estar juntas.