sábado, junho 22, 2019

Problemas com entregas

Eu estou aposentado e moro sozinho num prédio que não tem portaria. E podem estar certos que não me aposentei pensando em ficar o dia inteiro em casa. Às vezes até fico, quando tenho alguma tarefa a fazer no computador. Ou então para me dedicar a uma atividade que sempre me foi prazerosa, desde a tenra juventude: dormir. De resto, adoro sair para caminhar. Ainda mais no inverno, quando não chove, em que posso fazer isso ao meio-dia sem morrer de calor.

Só que isso me cria um problema: receber encomendas em casa. Desde 1996 tenho uma caixa postal que alugo exatamente para não ter que me preocupar com isso. Só que, cada vez mais, existem restrições ao que se pode ou não remeter para caixas postais. Os serviços especiais de entrega, que não passam pelo correio, só enviam para endereços particulares. Felizmente, para algumas coisas, ainda funciona o jeitinho brasileiro "do bem", aquele que existe não para burlar a lei, mas para facilitar a vida de todos. Quando chega algum pacote via DHL ou UPS originalmente endereçado para a caixa postal, eles me telefonam e eu busco na unidade deles, mesmo. Eles se prontificam a me entregar em casa, mas sem hora marcada. Prefiro então eu mesmo fazer a retirada.

Mas tem uma situação que eu considero verdadeiramente absurda, que é a entrega de cartões de crédito. Por razões que eu jamais entenderei, se você não estiver em casa na fração de segundo que o carteiro chegar com seu cartão, você simplesmente não o recebe. Seria tão fácil usar o mesmo sistema utilizado pelo DETRAN para remessa dos documentos do carro. Depois de três tentativas infrutíferas de entrega, chega um aviso do correio para ir retirar o envelope na unidade de distribuição. Pronto! Simples, seguro e indolor.

Antes de me aposentar, eu tinha dois cartões de crédito, de diferentes bancos e bandeiras. Se eventualmente um fosse clonado e precisasse ser cancelado, até a chegada do novo, eu podia usar o outro. Isso era particularmente útil em lojas de venda on-line. Ou serviços assinados via Internet, como sites de notícia. Recentemente comecei a assinar o Globo on-line com propósito exclusivo de fazer pesquisas. E eu pedia para receber tudo no meu local de trabalho.

Depois que me aposentei, acabou a moleza de usar a recepção do meu endereço profissional como "caixa postal". Aí, vivenciei uma situação inusitada. Um de meus cartões foi clonado e teve que ser cancelado. Quem diz que consegui receber o novo? Perdi a conta de quantos avisos chegaram dizendo que um novo cartão havia sido emitido e informando minha nova senha. Acho que foram quatro. Foi aí que descobri esse método "inteligente" que não entrega o cartão de nenhuma outra forma que não pelo carteiro. O resultado? Desisti do cartão. Achei absurda a limitação e concluí que não conseguiria conviver com esse sistema. E eles, aparentemente, não se importaram de perder o cliente. Devem ter visto que eu não movimentava altas quantias e pensado que não seria grande o prejuízo.

O cartão que me restou tinha uma forma mais racional de entrega. Embora eles dissessem que precisava ter alguém para receber e assinar, na prática, o envelope simplesmente aparecia na caixa de coleta do meu edifício. E eu preferia assim. Se o cartão caísse em mãos erradas, a pessoa em questão não teria a minha senha para desbloqueá-lo.

Só que, da última vez, não foi assim. Não só o cartão não apareceu, como recebi informações desencontradas pelo suporte por telefone. Até um "número de rastreamento" me foi fornecido. Depois vi que tinha um algarismo a mais do que o padrão do correio. Num telefonema posterior me foi dito que tal número não existia e que não havia rastreamento algum, nesse caso. Será mesmo que o "help desk" agiu de má fé só para me contentar momentaneamente? [P.S: Existe, sim, um número de rastreamento. Diferente do que me foi informado, mas existe. Só que não aparece no site de rastreamento do correio.] Enquanto isso, três prestadores de serviço on-line estão me cobrando que atualize meus dados para pagamento, sob pena de suspensão.

É preciso levar em consideração outra possibilidade. Eu detesto reuniões de condomínio mas, por não participar delas, acabo perdendo a chance de contestar certas decisões. Aqui no bloco, os números dos apartamentos indicados na caixa de correspondência foram alterados para espelhar o que se tem que digitar no porteiro eletrônico. O meu apartamento era 11 - aliás, continua sendo, é o que vejo na numeração em cima da porta e com certeza no registro da Prefeitura -, mas na caixa de coleta aparece 211. Dá pra imaginar a confusão que isso causou? Já recebi mais de uma vez envelopes endereçados ao apartamento 21. Então pode ser que o envelope com o cartão tenha sido deixado em caixa errada.

A solução que encontrei foi contar com a boa vontade de uma pessoa muito próxima que se prontificou a receber meu cartão em seu local de trabalho. Assim, fiz a alteração de endereço e pedi emissão de novo cartão. Agora é esperar. Mas acho que as operadoras de cartão de crédito deveriam rever seus procedimentos e usar o mesmo sistema de remessa do DETRAN, em que o destinatário, se não encontrado, tem a chance de buscar o envelope no correio. Ou então dar a opção de retirada em agência bancária. O método engessado que se usa atualmente prejudica a todos: ao cliente, porque não recebe o cartão. À operadora, porque fica gastando com emissões inúteis. Por fim, ao meio-ambiente, pelo aumento de dejetos plásticos.

2 Comments:

Blogger Jotabê said...

Acho que eu nunca conseguiria imaginar essa situação. Mas o Brasil é o país da burocracia ensandecida, daí... Outro dia descobri uma prova disso. Fui a uma agência de correio postar um livro, como já tinha feito muitas vezes (não sou o autor). No final da operação, além da etiqueta de "encomenda normal", o atendente sempre colava alguns selos no pacote. Nesse dia não aconteceu isso. Perguntei se colaria os selos mais tarde, mas o atendente disse que não precisava mais. Para aquela operação bastava a etiqueta rastreável. Perguntei o motivo. "Redução de custos", foi a resposta. Ou seja, só graças à pindaíba em que os Correios se encontram atualmente é que um procedimento anacrônico e demorado deixou de existir. Coisa de louco! Em tempo: obrigado pela visita e comentário feito no Blogson Crusoe.

7:28 PM  
Blogger Emilio Pacheco said...

Eu tinha um problema semelhante a esse do cartão na época em que ainda se usava cheque em larga escala. Eu ficava indignado de não poder fornecer um endereço alternativo para entrega do talão de cheque. Tinha que ser o que estava cadastrado na conta corrente. Que era, obviamente, o da minha residência. E eu ficava o dia inteiro no local de trabalho. Hoje, se eu precisar de cheque, posso emitir algumas folhas no terminal.

10:38 PM  

Postar um comentário

<< Home