quarta-feira, outubro 20, 2004

Fofoca, não!

Existe um princípio em que alguns acreditam piamente que é o de que não se deve falar mal de ninguém pelas costas. Tudo bem. Deve-se então falar pela frente? O que é pior?

A verdade é que todos nós, em algum momento, emitimos um comentário negativo sobre alguém. E não significa que não gostemos da pessoa ou que estejamos planejando uma conspiração contra ela. É apenas o nosso senso crítico se manifestando de forma sorrateira, num momento propício. Quem não tem defeitos? Eu seria capaz de perdoar e até já perdoei quem me criticou sem que eu soubesse. Por outro lado, é mais difícil de relevar a atitude de quem vem "entregar de bandeja" esses comentários. E o que é pior: sob o pretexto de amizade ou solidariedade. No meu vocabulário esse tipo de comportamento tem um nome inequívoco: fofoca.

Infelizmente, talvez por falta de visão, há quem estimule a fofoca. E existem muitas formas de fazer isso. Uma delas é demonstrar gratidão ao fofoqueiro. "Puxa, obrigado por me contar. O Fulano, quem diria, falando mal de mim então? Valeu, é bom saber." E assim o fofoqueiro ganha um selo de aprovação para continuar exercendo o seu maldoso ofício de intriga. Outra maneira de incentivar essa postura é fazer com que a fofoca surta exatamente o efeito desejado. Alguém vem lhe contar que falaram mal do seu namorado ou namorada. E você fica zangado não com quem falou mal, nem com quem veio contar, mas com o namorado ou namorada. "Que saco, falaram mal de você. O que você já andou fazendo?"

Outro exemplo. "Te cuida com o Fulano, ele não vai com a tua cara." Ora, será que você é tão ingênuo que ainda não notou? E depois, esse tipo de comentário diminui as chances de que o um dia você e o Fulano possam simplesmente esquecer as diferenças e venham a ser amigos. Ainda. "Como amigo eu me sinto no dever de te contar: vi tua mulher com o Beltrano num restaurante." E assim, "como amigo", o fofoqueiro ajuda a destruir mais depressa um casamento ou a trazer a infelicidade para uma pessoa que confia nele.

Por isso eu prefiro ser prático: se for pra falar mal, que seja pelas costas, mesmo. E que ninguém venha me contar depois. Assim cada um extravasa o veneno que tem dentro de si da forma menos nociva possível. Às vezes, por alguma razão, não posso ir almoçar com meus colegas. Eles brincam: "Quem não for será falado." Eu respondo: "Podem falar mal de mim à vontade – contanto que eu não fique sabendo." E assim vivemos todos em paz.