sexta-feira, março 31, 2006

Escalando montanhas e prédios

Como já comentei, um dos extras mais interessantes da nova edição de "A Noviça Rebelde" em DVD é o reencontro dos atores que viveram os filhos do Capitão Von Trapp. Cada um deles se apresenta e diz o que faz hoje. Acho que ficou faltando citar também um breve currículo. Por exemplo, Angela Cartwright teria outro momento marcante em sua carreira, que foi viver Penny na série "Perdidos no Espaço". Já Nicholas Hammond protagonizou a primeira encarnação de "O Homem-Aranha" no cinema, em 1977.

Lembrei de outra curiosidade, mas desta os atores nem tomaram conhecimento: já ouviram falar no programa humorístico "A Família Trapo", clássico da TV brasileira nos anos 60? Pois o título era uma paródia à "Família Trapp", em cuja história se baseou "A Noviça Rebelde".

Fanta Uva

Lembram daquele falso alerta sobre o Guaraná Kuat? Pois mudou: agora é Fanta Uva. O resto continua igual: doenças provocadas, número de vítimas, hospital, nome da profissional que teria divulgado... E o pessoal repassa, preocupadíssimo!

quinta-feira, março 30, 2006

Um ano de "Presque"

Dia 31 de março está fazendo um ano que Luis Fernando Verissimo divulgou o nome da verdadeira autora do "Quase", o mais popular dos apócrifos atribuídos a ele: Sarah Westphal Batista da Silva, estudante de Medicina de Florianópolis. Uma semana antes, em sua crônica do dia 24, ele havia contado que recebera em Paris uma coletânea de escritores brasileiros traduzidos para o francês em que o texto aparecia com sua assinatura sob o título de "Presque". No dia 31, encerrou sua coluna com um parágrafo à parte, onde dizia: "apareceu a autora do Quase". Passado esse tempo, algumas perguntas ainda atiçam a curiosidade dos fãs do cronista gaúcho. Como o "Quase" chegou à França? Quem o traduziu? Os franceses chegaram a saber da autoria incorreta? E o que mudou na vida da jovem Sarah depois da revelação? É o que o Blog pretende responder agora.



Tradutora do "Quase" para o francês:
"Não vou mais confiar na net!"

Gabriella Scheer é carioca, mas viveu a adolescência na Alemanha, onde se formou atriz na Escola de Arte Dramática de Munique. Suas atividades teatrais pouco a pouco a levaram para a França, que ela considera hoje seu "ponto de ancoragem". Além de alemão, francês e, claro, português, ela também atua em inglês e espanhol. O projeto "Cenas Brasileiras" realizou o seu sonho de criar espetáculos com base em autores de seu país natal. Um deles se chamou em francês "Aller vers...", inspirado no texto "Ir para...", de Clarice Lispector. Um editor propôs de lançar um livro com os textos para ser vendido depois do espetáculo. Gabriella achou ótima a idéia, pois o público sempre perguntava onde poderia encontrar os textos em francês. "Quando o livro estava sendo preparado para o Ano do Brasil na França, no ano passado, o editor me perguntou se eu não queria colocar outros textos, mesmo que não estivessem no espetáculo, então aproveitei e dei textos que tinha traduzido por puro prazer!"

Nem é preciso questionar como o "Quase" chegou até Gabriella com a falsa assinatura de Luis Fernando Verissimo: por e-mail, é claro, enviado por um amigo que o encontrou na Internet. A atriz decidiu incluí-lo na coletânea. "No Salão do Livro o Luis Fernando me confessou que o poema não era dele, mas tampouco sabia de quem era. Nessa altura, não fiz nada. O livro já estava pronto. Tampouco contei ao editor."

Agora que conhece a história completa, a brasileira radicada em Paris diz que poderá contá-la para as pessoas que compram o livro, "mas não todas". Segundo ela, "Alles vers..." está "quase" esgotado e provavelmente não haverá reedição. Caso aconteça, Gabriella pensa em três hipóteses: colocar o nome da autora certa, excluir o texto ou substituí-lo por outro também de Sarah, caso a estudante consinta. A atriz se mostra tranqüila em relação ao episódio. Diz que gostou da história e que, se Sarah quiser fazer contato com ela, será um prazer. Mas ressalva: "é óbvio que, doravante, não vou confiar mais na net!"

(Agradecimento especial a Gisela Lima.)



Sarah Westphal, a verdadeira autora:
"O melhor foi a certeza de que posso ser ouvida."

Mesmo antes de Luis Fernando Verissimo divulgar seu nome, Sarah Westphal Batista da Silva, ou simplesmente Sarinha, como era seu apelido, já havia reivindicado a autoria do "Quase" no Orkut. Alguns desconfiaram. Seria mesmo essa desconhecida estudante de Medicina de Florianópolis a criadora de um dos textos mais populares da Internet? A crônica de Verissimo mandando um recado "para o verdadeiro autor" proporcionou a ela a chance de se apresentar publicamente. Depois disso, foi entrevistada, apareceu na televisão, recebeu propostas de editoras, viveu seus 15 minutos de fama, mas logo voltou à rotina normal. Um ano depois, aos 22 anos, ela diz que não se considera uma escritora.

- Você já contou mil vezes, mas não faz mal. Como foi mesmo que você escreveu o "Quase"?

- O Quase me veio como um desabafo na aula de Português. Estava no começo do semestre, a matéria era transcrição fonética e, ao ler kwase no quadro, me dei conta de quanto eu odiava essa palavra. O motivo do desabafo foi um quase amor que eu tive, desses que terminam sem a gente saber por quê.

- Você costumava escrever regularmente? Ou aquele texto foi um instante isolado de inspiração?

- Costumava. Na época, eu me obrigava a escrever bastante por causa do vestibular, mas essa obrigação foi virando vício. Eu escrevia bastante, sobre qualquer coisa, depois mandava pras minhas amigas sem maiores pretensões.

- Em que momento você soube que o texto estava circulando como se fosse de Luis Fernando Verissimo?

- Durante uma aula de redação sobre "equilíbrio", ao ver que o texto e o tema se relacionavam, mandei o "Quase" pra frente e ele foi lido em voz alta pelo Waltinho, meu professor. Um ano depois, foi ele quem me avisou de um e-mail que atribuía o meu "Quase" a Luis Fernando Verissimo...

- Seu sentimento foi positivo ou negativo? Sentiu-se lisonjeada por acharem que um texto seu era dele ou frustrada por não ter o seu nome reconhecido?

- Achei engraçado, pois não via semelhança nenhuma. Pensei que era um engano de quem repassou o e-mail e gostei da idéia de ele estar sendo lido por mais gente. Foi um sentimento positivo, com certeza, mas eu ficava chateada quando não acreditavam em mim.

- Você tentou provar a verdadeira autoria?

- Depois de ver, no diploma da namorada do meu irmão, o "Quase" atribuído a Luis Fernando Verissimo, tentei de várias formas desfazer o engano: mandei e-mail ao colégio Energia, onde ela se formara, e aos jornais de Florianópólis, mas não houve resposta. Achava que, se Luis Fernando um dia soubesse do texto, ele ia ficar ofendido.

– Como você ficou sabendo que o Verissimo a havia citado em sua coluna?

- Acordei e entrei no Orkut. Me mandavam olhar o Zero Hora. Li a coluna tremendo. O último parágrafo tinha gosto de recompensa por todas as vezes que eu escutei "mas esse texto não é teu, é do Luis Fernando Verissimo..." Adorei.

- Chegou a conhecê-lo pessoalmente?

- Não, infelizmente.

- Depois que o seu nome foi divulgado, o que mudou em sua vida?

- Na época, pensava muito em largar a Medicina. No entanto, quando a oportunidade apareceu, vi que virar escritora não era exatamente o que eu queria. Eu gosto do escrever tanto quanto eu gosto de falar, de convencer. O melhor do "Quase" na minha vida é a certeza de eu posso ser ouvida, não importa a profissão que eu escolher.

- Você tem mais textos guardados que mereceriam divulgação?

- Guardados sim, mas que mereceriam divulgação, não sei. A minha mãe gosta, ha ha!*

- Nenhuma editora a procurou? Qual foi a sua resposta?

- Recebi e-mail de algumas editoras, mas o prazo para que eu escrevesse um livro era curto demais. Eu escrevo certinho, mas não sou uma escritora, nem perto disso. Precisaria de aulas, precisaria ler muito, precisaria de tempo. Talvez eu tenha perdido uma grande oportunidade, mas não teria coragem de pôr meu nome em cinqüenta páginas de qualidade duvidosa.

- E o rapaz que inspirou o "Quase", que fim levou? Ele sabe de tudo?

- Sabe, e riu bastante comigo... Ele nem sabia que eu gostava dele tanto assim. Foram só três semanas, mas quem tem 18 anos sabe o quanto o tempo é relativo...

*No ano passado, este blog publicou um poema inédito de Sarah Westphal. Leia aqui.

Leia também:

Desvendando o "Quase"

Parabéns, Sarinha!

Quase

Matéria do site Observatório da Imprensa

Quinta-feira

Eu estava em dúvida se fazia ou não algum comentário sobre o jovem autista de 24 anos que foi covardemente surrado por assaltantes no centro de Porto Alegre, mas fico alterado só de digitar esta frase. Imagino o que está sentindo o pai desse rapaz. Sei que é difícil, mas fico aqui desejando que um poder maior conduza essa investigação e os animais que cometeram essa crueldade sejam encontrados e punidos.

Vamos mudar de assunto.

Lembram da entrevista anunciada? Se tudo der certo, sai amanhã, sexta-feira, dia 31 de março. Na verdade é uma matéria incluindo a entrevista. Nada muito ambicioso. Espero que gostem.

Bom dia.

P.S.: Ah, mudei de idéia. Não vou esperar. A Zero Hora de domingo não sai no sábado? Pois a matéria de amanhã sai hoje. Daqui a pouco.

Só um comentário. Estou assistindo ao DVD especial de aniversário do filme "A Noviça Rebelde". Aquele que eu falei que ia comprar mesmo já tendo a edição anterior e o videodisco. Saiu ontem, chegou às lojas de Porto Alegre hoje. Pelo menos os colecionadores não serão explorados em vão: os novos extras são fantásticos! Finalmente fizeram o que todos já esperavam desde a primeira edição especial: reuniram todos os "filhos do Capitão" para um reencontro. A atriz mais jovem tem quase a minha idade. Mas eu não vi o filme na estréia. Só aprendi a versão de "Dó Ré Mi" no Jardim de Infância.

Vamos à matéria.

terça-feira, março 28, 2006

Secos & Molhados e Kiss: fim de polêmica

ATENÇÃO: Esta é uma versão inteiramente nova do texto originalmente publicado. Foi postada em 02/02/2009. Desde então, o texto vem sofrendo pequenas correções, à medida que surgem novas informações. Em 13/05/2011, foram acrescentados dados obtidos do acervo da Folha de São Paulo. O texto anterior continua disponível nos sites que o citaram. Nova atualização em 23/7/2021.

O Kiss copiou a maquiagem dos Secos e Molhados? Ney Matogrosso costuma contar sempre a mesma história quando é perguntado sobre o assunto. Eis o que ele falou, por exemplo, para o Jornal do Brasil:

...o Kiss é que copiou a gente! A banda já era um estrondo no Brasil e fomos ao México. O sucesso lá foi tanto que ficamos mais uma semana. A Billboard tinha publicado uma foto nossa de página inteira e dois empresários americanos quiserem me levar para os EUA. Recusei a oferta: ''Estou começando uma história no meu país e quero dar seqüência a isso''. Não queria acabar como Carmen Miranda. Inclusive disseram que minha imagem era boa, mas que o som tinha que ser mais pesado. Eu não ia mudar nosso som por causa disso. Viemos embora. Uns seis meses depois começou o Kiss, com uma maquiagem como a nossa e um som mais pesado.

Os fãs em geral interpretam esse testemunho de Ney como uma informação privilegiada de que o Kiss realmente copiou os Secos e Molhados. Ou seja, "é verdade porque o Ney falou". No entanto, basta ler com atenção (e isenção) para ver que os fatos que ele alega não provam nada. Ele apenas faz suposições. Sim, é verdade que o disco dos Secos saiu primeiro. Mas, conforme se verifica no acervo da Folha de São Paulo, o grupo brasileiro embarcou para o México na manhã de 24 de maio de 1974, uma sexta-feira (a notícia está no suplemento "Ilustrada" de sábado, dia 25). Pois bem: nessa ocasião, quando os Secos viriam a ser abordados por empresários americanos, o primeiro disco do Kiss já estava nas lojas, com maquiagem e tudo, desde fevereiro. A data pode ser conferida neste site e confirmada em outras fontes, como o livro "Black Diamond", de Dale Sherman, e a edição de 23 de fevereiro da revista Billboard, na página 55, que pode ser lida aqui. (O site oficial dos Secos e Molhados erradamente aponta a data da viagem como
março de 1974, mas de qualquer forma teria sido um mês depois do lançamento do disco do Kiss.)

Mas tem mais. O terceiro volume da série de DVDs "Kissology" traz um DVD bônus com um show do Kiss em dezembro de 1973, no Coventry. A qualidade de imagem deixa a desejar, mas vale pela raridade. Hoje se encontra a apresentação completa no YouTube. Ali se vê que a banda já estava devidamente maquiada. Aí está:

O livro "Nothin' to Lose - A formação do Kiss - 1972-1975", de Ken Sharp, lançado no Brasil pela Benvirá, conta em detalhes não só como e por que essa gravação foi feita, mas também esmiúça os primórdios do grupo em 1973. 

Com isso, cai por terra a tese da "maquiagem copiada por empresários no México". Os dois empresários americanos que procuraram os Secos e Molhados naquele país não tinham nada a ver com o Kiss. Até porque, como se sabe, o Kiss tinha somente um empresário no começo da carreira: Bill Aucoin.

Certo. Mas e antes? Os Secos e Molhados lançaram seu primeiro LP em agosto de 1973. Já o álbum de estreia do Kiss saiu em fevereiro de 1974. Nesse ínterim, não haveria tempo de o Kiss tomar conhecimento dos Secos e Molhados e copiar o visual do grupo brasileiro? Em princípio, sim. Mas para saber com certeza, é preciso verificar quando cada grupo começou a se maquiar.

A Rolling Stone brasileira publicou uma entrevista com Gene Simmons dizendo que o Kiss usa maquiagem desde 1972. Na verdade, a maquiagem tradicional do Kiss surgiu um pouco depois. O que aconteceu em 1972, mais precisamente em novembro, foi que a banda Wicked Lester, então formada por Gene Simmons, Paul Stanley e Peter Criss (Ace Frehley ainda não havia entrado), fez uma apresentação de teste para Don Ellis, Diretor de A&R (artistas e repertório) da Epic Records. Os três usaram uma maquiagem toda branca e é uma foto dessa ocasião que costuma aparecer em livros e sites:Mais detalhes sobre esse fato podem ser conferidos no livro "Sealed With a Kiss", de Lydia Criss, primeira esposa de Peter. A propósito, a banda não passou no teste.

As máscaras que viriam a se tornar a marca registrada do Kiss começaram a surgir no dia 9 de março de 1973, em um lugar chamado The Daisy, em Amityville, no estado de Nova York. A data pode ser verificada no livro citado e também em "Kiss Alive Forever – The Complete Touring History", de Curt Goof e Jeff Suhs. As fotos abaixo são do dia 10 de março, e mostram uma versão embrionária das maquiagens. Os desenhos iriam evoluir, especialmente o de Paul Stanley, que chegou a experimentar variações. A estrela no olho surgiria depois. Mas as máscaras de Gene, Ace e Peter já estavam delineadas.

E os Secos e Molhados? Existem muitas versões sobre a origem da maquiagem do grupo. Ney Matogrosso certa vez disse que quis se maquiar para não ser reconhecido quando ficasse famoso. Conta-se também que, antes de um show, Ney decidiu passar um pouco de purpurina e acabou se pintando todo. Outro testemunho diz que o cantor encenava uma peça com Regina Duarte e, na hora do show dos Secos, não teve tempo de tirar a pintura. É possível que tudo isso seja verdade e Ney tenha usado maquiagem de forma esporádica nas primeiras apresentações com o grupo. Mas o visual dos Secos e Molhados que viria a estourar em todo o Brasil surgiu na sessão de fotos para a capa do primeiro LP, conforme depoimento do fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues para a Folha de São Paulo em 2001:

"Numa viagem para o Rio, vi na praia meninas com uns corações grandes de purpurina no rosto, pensei em fazer um ensaio inspirado naquilo. Chamei o maquiador Silvinho, e começamos a criar". As fotos foram publicadas no número 60 da revista Fotoptica, em 1973, como se vê abaixo:
"O pai de João Ricardo trabalhava comigo no Última Hora e pediu que eu desse uma ajuda aos meninos. Vi um show deles, que ainda faziam sem máscaras. Falaram que a gravadora não acreditava neles, que tinham uma quantia insólita para me pagar. Mostrei as fotos da Fotoptica. Acharam arrojado demais, mas entenderam que era uma grande ideia."

"Um dos quatro, o baterista Marcelo [Frias], não gostou da ideia de se maquiar, tanto que saiu do grupo logo depois. Ney no máximo usava batom antes disso."

Para corroborar o testemunho do fotógrafo, existe a foto abaixo, em que os Secos e Molhados aparecem no Museu de Arte de São Paulo, publicada na revista Pop de maio de 1973:
Consultando-se o acervo da Folha de São Paulo, acha-se a data exata em que ocorreu este show: 15 de abril de 1973, um domingo, às 16 e 30 (o anúncio vinha sendo publicado nos dias anteriores). Podem clicar para ampliar a foto, mesmo assim vejam estes detalhes:

Ney Matogrosso pintou somente as sobrancelhas. Gérson Conrad aparece de cara limpa no fundo, à direita.

Aqui está João Ricardo, também de cara limpa.

E se o baterista Marcelo Frias saiu do grupo por não concordar com a maquiagem, por que posou para a capa do primeiro LP? Porque imaginou que a pintura seria somente para aquelas fotos. O que confirma que, antes, não se maquiavam.

Verifiquemos no site dos Secos e Molhados. A cronologia informa junho de 1973 como a data da sessão de fotos. Logo, mesmo que alguém quisesse acreditar na improvável hipótese de o Kiss ter tomado conhecimento dos Secos e Molhados antes de o grupo brasileiro lançar o primeiro LP, vemos que a banda americana começou a se maquiar um pouco antes, em março. Em suma: ninguém copiou ninguém.

Existe também o depoimento de Zé Rodrix, que diz que Gene Simmons e Paul Stanley teriam estado em sua casa em 1973 levados pelo bailarino Lennie Dale. Rodrix, que tocou no primeiro LP dos Secos, teria mostrado a capa do disco "em primeira mão" para ambos. Embora o músico brasileiro esteja convicto de que foram realmente os integrantes do Kiss que o visitaram, ele admite nunca ter confirmado a identidade dos americanos que acompanhavam Dale. E quem conhece a história do Kiss sabe que nenhum deles veio ao Brasil nesse período. O já citado livro "Nothin' to Lose" deixa isso bem claro. De resto, se Gene e Paul fossem mesmo amigos de Lennie Dale, seria mais fácil que tivessem se inspirado nos Dzi Croquettes, que o dançarino dirigia. Mas os músicos do Kiss nunca se interessaram por coreografia profissional, mímica, dança ou nada que pudesse ligá-los a Dale. Se fosse David Bowie, até poderíamos considerar a hipótese, pois essa era bem a praia dele, na época.

Outro detalhe, este realmente incrível, é que, como se vê em clips do YouTube, no tempo dos Secos e Molhados, Ney Matogrosso mostrava a língua ao final de "O Vira". Não vai muito longe: no livro "Secos e Molhados", publicado pela Editora Nórdica logo após o fim do grupo, em 1974, aparece a foto abaixo:Segundo os que defendem a tese do plágio, isso seria mais uma "prova incontestável" de que o Kiss copiou os Secos. Aqui, desculpem-me, mas não há outra explicação senão uma tremenda coincidência. Eu assisti aos Secos e Molhados várias vezes na TV e uma vez ao vivo, em dezembro de 1973, no Gigantinho, em Porto Alegre. Esse momento isolado em que Ney Matogrosso mostrava a língua nunca me chamou a atenção. Hoje, com os recursos que temos de vídeo e Internet, é possível esmiuçar cada quadro de imagem de clips exibidos há 35 anos e verificar essas curiosidades. Já Gene Simmons mostra a língua o tempo todo nos shows do Kiss, além de exibi-la ostensivamente em fotos promocionais e até em entrevistas:Ainda que os dois lados não entendam, meu objetivo não é "defender o Kiss" e sim checar informações. Mas é difícil tocar neste assunto sem que vire "briguinha de torcidas". Os fãs do Kiss afirmam que Ney está "mentindo" e "está com inveja" porque "o Kiss é a maior banda do mundo", enquanto os fãs dos Secos e Molhados me acusam de "defender americanos". Já houve quem me perguntasse onde estava "minha auto-estima de brasileiro", como se isso me obrigasse a aceitar mitos em nome do nacionalismo. Com tantas paixões em jogo, ninguém mais acredita em investigar os fatos apenas para saber a verdade e não para defender alguma bandeira. Ney Matogrosso não está "mentindo". Nem Zé Rodrix. Mas estão tirando conclusões erradas.

Quando a primeira versão deste texto foi publicada, havia pouquíssimos livros com informações sobre os Secos e Molhados e apenas reciclavam as "achologias" que se perpetuaram com relação a essa polêmica. Felizmente, essa deficiência foi sanada por duas obras que se preocuparam em realmente pesquisar sobre o assunto. "Primavera nos Dentes – a História dos Secos e Molhados", de Miguel de Almeida, deixa bem claro que o primeiro LP do Kiss saiu em fevereiro de 1974 e a viagem dos Secos e Molhados ao México aconteceu em maio. Já "Ney Matogrosso – A Biografia", de Julio Maria, encerra a questão com uma única data: a do primeiro show do Kiss, 30 de janeiro de 1973, pesquisada no livro "Nothin' to Lose", de Ken Sharp. Ou seja: quase sete meses antes do primeiro LP dos Secos e Molhados e 16 meses antes da apresentação do grupo brasileiro no México.

Por fim, cumpre lembrar que houve casos de maquiagem no rock antes dessas duas bandas. Existe um clip de 1968 no YouTube em que Arthur Brown aparece cantando "Fire" com uma maquiagem branca e preta. Já em 1971 surgiu na Itália o grupo de rock progressivo Osanna, também com as caras totalmente pintadas. Muitos lembram Alice Cooper, mas ele apenas usava preto em torno dos olhos e da boca. A semelhança não era tão grande com Secos e Molhados ou Kiss. David Bowie usou uma maquiagem bem marcante na capa de "Aladdin Sane" e também no clip de "Life on Mars", ambos em 1973. Segundo o produtor Tony Visconti em sua autobiografia "Bowie, Bolan and the Brooklyn Boy", quando Bowie estava gravando "Lodger", lançado em 1979, recebeu a visita de Gene Simmons e Paul Stanley. Os dois teriam prestado uma homenagem ao músico inglês reconhecendo que, sem o seu pioneirismo com o visual da fase Ziggy Stardust, eles jamais teriam sido o Kiss. Isso teria acontecido no estúdio Hit Factory, em Nova York. Não confirmei que o Kiss tenha gravado nenhum disco nesse local, mas não significa que não pudesse estar lá ensaiando ou preparando demos.


Fim de polêmica. Arquive-se.
Obrigado a Alvaro RG pelas fotos da revista Fotoptica. Alvaro é um dos maiores fãs de Ney Matogrosso (e Secos e Molhados) no mundo e, muito antes de ler meus argumentos, já havia concluído que a tese do plágio do Kiss era equivocada.

Leiam também:

Fãs torcedores
Secos e Molhados no Gigantinho
Kiss em Porto Alegre

Procurem também meu texto sobre o primeiro LP dos Secos e Molhados no livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB", organizado por Célio Albuquerque.

segunda-feira, março 27, 2006

Não foi ele

A Zero Hora diz que Bruna Surfistinha vai sair no New York Times. E completa: "O autor da entrevista é Larry Rohter, aquele que chamou Lula de bêbado".

Na época em que rolou essa polêmica eu ainda não tinha criado o blog. Mas só para aproveitar o gancho: não foi Larry Rohter quem chamou Lula de bêbado. Foi Brizola. O jornalista apenas fez o que tinha que fazer depois de receber uma informação quentinha (ou fresquinha, como queiram) de um ex-candidato a Vice do atual Presidente. Não importa se era verdade ou não: a notícia era o depoimento. Rohter não assumiu a declaração, apenas divulgou-a, como qualquer bom jornalista faria no lugar dele. Dessa ele está inocente. Mico ele pagou foi quando escreveu sobre a obesidade das "brasileiras" mostrando foto de turistas européias no Rio de Janeiro.

De novo!

Foi só eu escrever um texto com o título de "Memória" que lá veio o Kledir na sua coluna de hoje na Zero Hora com "A Arte de Esquecer". Esse pelo menos não copiou a idéia, apenas fez um contraponto.

sexta-feira, março 24, 2006

Memória

Em geral a gente só descobre que tem uma habilidade especial quando percebe que os outros não a possuem. Sem parâmetro de comparação, tudo parece normal. Por exemplo: na 6ª série eu achava que Inglês era uma matéria fácil para todos. Afinal, vários colegas se saíam bem. O que eu não notava é que eles já estavam estudando por fora, no Cultural. No ano seguinte, tivemos que escolher entre Inglês e Francês. Quem já fazia curso de Inglês por conta própria optou por Francês. Sem esses na minha turma, passei a ser o primeiro a entregar a prova e comecei a me destacar. Até que, para aproveitar meu potencial, comecei no Cultural também e continuei tendo facilidade mesmo lá. Aprender Inglês foi uma das melhores coisas que fiz na vida.

Pois bem: cada vez mais as pessoas dizem que eu tenho boa memória. Nunca me imaginei com esse dom, pelo menos não acima da média. Para mim, as lembranças que ficam são como fotos que se guardam durante anos. Ou quadros que vão para a parede e nunca mais saem dali. Também não sei explicar por que critério minha memória retém certos momentos e descarta outros. Às vezes, vejo de novo um filme a que assisti décadas antes e fico surpreso com quanta coisa não lembrava. Isso é sinal de que não lembro de tudo, mas alguns "flashes" estão eternizados. Em princípio, seriam momentos marcantes, que foram importantes para mim. Mas nem sempre. Às vezes recordo passagens totalmente insignificantes e aleatórias. Mas quando divido minhas memórias com outros que delas fazem parte, impressiona-me o quanto não lembram. E aí, claro, dizem que tenho boa memória. Será?

Até há bem pouco tempo eu tinha uma foto da turma do Jardim de Infância, em 1966. Ela me ajudava a guardar algumas fisionomias. Tanto que reconheci dois ex-colegas daquela época na Faculdade. Antes dos 30 anos nunca acontecia de eu ver alguém e não lembrar de onde conheço. Geralmente sabia dar a ficha completa da pessoa. Imagino o quanto isso me seria útil se eu resolvesse me candidatar a algum cargo eletivo. Já pensou, entregar um santinho para alguém na rua e dizer "lembro de ti, foste meu colega no Cultural no intensivo de verão em 1975 com a professora Tal, estavas fazendo o teu segundo vestibular, mas logo trocaste de turma". Hoje ainda reconheço muita gente, mas já começo a ficar em dúvida de onde. Mesmo assim, ainda trago muitas lembranças. E chego a me decepcionar quando outras pessoas não lembram sequer de mim, que dirá dos fatos que compartilhamos. Será que eu era tão insignificante?

Em dezembro de 2002, participei de um programa de rádio levando gravações raras conseguidas por um amigo de Curitiba (grande Juarez!). Papo vai, papo vem, citei a cantora Élbia, que rodava na rádio Continental nos anos 70. Um dos apresentadores do programa perguntou quem era ela, pois disse não lembrar dela nem da época. Eu respondi: "Como não lembras dela? Escreveste uma matéria sobre ela em 1976!" Ele não recordava. No meio do programa, o ex-técnico da Continental, Francisco Anele Filho, telefonou para rodar uma gravação rara. Quando ouvi a voz do locutor dizendo "o relógio quebrou", eu já sabia o que era: a falsa notícia da morte de Jorge Mautner (que está até hoje muito vivo), veiculada em março de 1975. Eu lembro porque foi num curto período em que morei com minha irmã e foi lá que escutei. Um músico que estava no estúdio junto comigo deve ter ficado bem impressionado, pois até hoje, sempre que alguém o procura para perguntar sobre a rádio Continental, ele me indica e elogia a minha memória.

Curiosamente, usa-se o termo "esquecer" (em outros idiomas, inclusive) como sinônimo de deixar de gostar de alguém, geralmente numa situação em que se está ou estava sofrendo. Eu já vivi paixões aparentemente incuráveis. Os amigos se espantavam: "Ainda não esqueceu a Fulana?" Nunca me ocorreu responder: "Que posso fazer se tenho boa memória?" Falando sério, pode ter algo a ver, sim. É uma tendência de acumular de tudo um pouco: sentimentos, objetos, lembranças e até alguns quilos em excesso. Pode haver até alguma relação com o que se chama em inglês de "anal retentive", expressão horrorosa que os nativos do idioma usam de forma corriqueira para definir uma pessoa apegada a detalhes inúteis. Fora a questão do peso, não vejo problema em ser assim. É o perfil típico do arquivista, que coleciona itens de seu interesse ao mesmo tempo em que guarda detalhes sobre fatos que podem ou não se tornar históricos.

Enfim, talvez eu tenha, sim, boa memória. Mas eu ainda acho que a dos outros é que é ruim.

quarta-feira, março 22, 2006

O medo de ser chato

Não sei se é porque desde a infância uma das "leituras de banheiro" da família era o "Tratado Geral dos Chatos", de Guilherme de Figueiredo, mas um de meus maiores medos é o de ser chato. Não vou dizer que eu não seja ou nunca tenha sido. Que o digam os donos de lojas de discos raros onde eu batia ponto praticamente todos os dias no final dos anos 80. Talvez por isso eu goste tanto da Internet: posso acessar minhas páginas preferidas quantas vezes quiser sem que ninguém precise abrir a porta pra mim, me enxergar ou me atender. Um site nunca se chateia.

Nessa de não querer ser chato, perdi a chance de fazer contato com dois grandes ídolos meus. Agora que criei uma comunidade sobre Mario Quintana no Orkut, seria ótimo poder dizer a todos que o conheci pessoalmente. Mas, para não ser chato, apenas o vi de perto várias vezes. Eu o enxergava seguidamente caminhando pelo Centro de Porto Alegre. Além disso, eu estava presente em uma homenagem a ele pelos seus 70 anos no Grêmio Literário Castro Alves em 1976. No mesmo ano, compareci à sessão de autógrafos do primeiro livro do poeta Rossyr Berny, "O Homem Autômato". Mario havia escrito o prefácio e estava lá, tranqüilo e bem-humorado. Ao estender seu exemplar para Rossyr autografar, disse, bem sério: "Mario Quintana". Teria sido muito fácil eu me aproximar dele, como tantos faziam, e me apresentar. Mas eu imaginava que ele não deveria gostar desse tipo de atitude.

O outro caso foi pior ainda. Lembro que, quando um amigo meu se tornou comissário de bordo, falei para ele: "Se um dia David Bowie estiver no avião, tenta conseguir um autógrafo pra mim." Claro que a ética profissional não lhe permitiria fazer isso, mas eu pedi mesmo assim. Mas o mundo deu voltas e quem acabou viajando no mesmo avião que Bowie fui eu. Em 1997 eu fui aos três shows que ele fez no Brasil e acabei embarcando no mesmo vôo que ele de Curitiba a São Paulo. Não o vi, mas o relações públicas dele sentou do meu lado. Pensei comigo mesmo: não vou bancar o fã alucinado. Sou jornalista, não posso perder a linha. E cometi a burrada do século: deixei para tentar conseguir o autógrafo pouco antes da aterrissagem, quando estavam todos de cinto afivelado. Ainda falei com o sujeito do meu lado, para ver se poderia fazer o contato depois do pouso, mas ele disse: "Vai ser difícil. Quando o avião parar, David vai sair rapidamente." Muito depois, no Rio de Janeiro, ele conseguiu para mim o autógrafo de David Bowie na capinha do CD, mas até hoje tenho uma ponta de dúvida se a assinatura é autêntica. Paguei o mico de estar no mesmo avião em que Bowie e não falar com ele, mas pelo menos não fui chato.

Recentemente, apareceu em um grupo de discussão sobre música o lendário Ken Scott, que tem em seu currículo discos dos Beatles (como engenheiro de som), Supertramp e David Bowie (como produtor) entre outros. Ele chegou a me mandar uma mensagem particular agradecendo um elogio e eu respondi dizendo que teria mil perguntas para fazer a ele, mas iria poupá-lo. Só que eu não era o único: vários integrantes do site queriam saber mais informações. Para satisfazer a todos, um dos participantes criou um tópico para que se postassem perguntas que ele depois repassaria a Ken por telefone. Aí, senti-me à vontade para submeter um longo interrogatório. Depois, fiquei sabendo que Ken deu preferência às perguntas técnicas no papo por telefone. Mas, para não decepcionar, respondeu pelo site mesmo às perguntas não abordadas na conversa. E assim, meus longos e detalhados questionamentos mereceram respostas esclarecedoras como "sim", "não" e "não lembro". Ao final eu tinha escrito: "É melhor eu parar antes que continue eternamente". Para meu desespero, ele completou: "Concordo."

Às vezes alguém me informa seu telefone, mas eu só ligo em último caso. E mesmo assim ainda fico pensando: será que não vou atrapalhar? Qual será o melhor horário para telefonar? De manhã? Não, posso acordá-lo. Perto do meio-dia? Não, vou atrapalhar o almoço. À tarde? Não, vai ser bem na hora da sesta. Ao final da tarde, talvez? À noite? Não, eu não sei a que hora ele janta e vou ter o azar de tirá-lo da mesa. No fim-de-semana? Não, vou atrapalhar o descanso ou a reunião com a família. E se eu mandasse um e-mail? Não, já mandei um e vai parecer insistência. Acabo ligando. "Você estava almoçando? Você estava dormindo? Não estou atrapalhando? Não interrompi nada? Não prefere que eu ligue outra hora? Qual a melhor hora para ligar? Tem certeza que não estou incomodando? Não quero ser chato..."

Muitos já escreveram sobre os chatos. É um tema rico e fácil de ser explorado. Está na hora de alguém redigir um manual que, este sim, seria muito útil: "Como não ser chato". Ou: "Como ser sociável sem ser chato". Isso, sim, seria um desafio interessante.

terça-feira, março 21, 2006

Estatística

Fiz um cálculo aproximado e concluí que este blog recebe cerca de 70 acessos por dia. Alguns são meus próprios, outros são de pessoas que acessam mais de uma vez, de forma que ainda tem pouca gente lendo. Mesmo assim, para um desconhecido, é um bom número. Pensando de forma otimista, poderiam ser até mais de 70, se não forem sempre os mesmos todos os dias. Enfim, como saber?

Duzentas caixas de revistas por um dólar

Quando o CD era um formato ainda novo, surgiu nos Estados Unidos uma "newsletter" chamada ICE com todas as informações que pudessem interessar aos usuários de "compact discs". Mesmo com a expansão do disquinho a ponto de se tornar o padrão no mercado de música, a ICE continuou existindo como uma fonte preciosa de datas de lançamentos, comentários, alertas de lotes defeituosos, entrevistas e até lançamentos piratas (bootlegs). Mas, com a Internet, tudo isso ficou disponível ao alcance das teclas. ICE cresceu, tornou-se uma revista, mas não resistiu. Ainda não é oficial, mas tudo indica que a ICE vai encerrar suas atividades. O site da publicação está testando a edição da revista em formato PDF enquanto o estoque de números atrasados foi leiloado no ebay em um único lote por apenas um dólar, que era o lance mínimo. Qual o senão? O arrematante fica responsável por ir buscar as 200 caixas em Santa Monica, Califórnia, com caminhão e tudo, sem nenhuma despesa para o vendedor. Como eles mesmos dizem nas condições para venda: "Não é pelo dinheiro, é para achar uma boa moradia para todas essas edições. Mesmo que o lote todo seja vendido por um dólar, será prejuízo nosso e lucro seu". Foi exatamente o que aconteceu.

segunda-feira, março 20, 2006

O verdadeiro Mario Quintana

O Blog do Emílio Pacheco tem a honra de anunciar a criação de mais uma comunidade no Orkut: "O verdadeiro Mario Quintana". O objetivo é divulgar os verdadeiros textos do poeta e combater a disseminação dos apócrifos. Infelizmente as comunidades existentes pecam pela tolerância ou omissão de seus moderadores, que nada fazem em relação aos textos falsos que são postados a todo o momento. A solução foi criar esta. Mesmo que poucos se cadastrem no começo, não importa. Queremos formar um núcleo de pessoas dispostas a conhecer e divulgar a verdadeira obra de Quintana. No momento, não vejo como fazer isso sem começar gritando aos desavisados para que saibam quais são os textos falsos e não os repassem mais como se fossem de Quintana. Não é uma tarefa simpática, mas alguém tem que fazer.

O neto perdido

Aproveitando o embalo, aqui vai mais um incrível caso de semelhança: o apresentador de TV Thunderbird e o músico argentino Carlos di Sarli, "El Señor del Tango", que teve seu auge nos anos 40. Seria ele o avô do Thunder?

Separados ao nascer

Se o estilista gaúcho Xico Gonçalves (à direita na foto) quiser, pode aproveitar a chance de embarcar em uma missão espacial. Basta tomar o lugar do astronauta Marcos Cesar Pontes. Fora o fato de Xico não entender nada de aeronáutica, ninguém vai notar a diferença.

domingo, março 19, 2006

A casa da praia

Nesta casa eu passei talvez os melhores momentos da minha infância. Ficava na rua 9, em Atlântida. Não tenho certeza, mas acho que nosso primeiro veraneio lá foi em 1967. Ainda lembro nós todos na sala em Porto Alegre, só com as luzes menores acesas, quando ouvi meu pai falar nessa casa pela primeira vez. Eu a imaginei bem diferente, pois nunca tinha estado lá, então a visualizei numa praia parecida com Arroio do Sal. Não lembro qual era a pendência, mas no primeiro dia em que ficamos em Atlântida, dormimos na casa do "Tio Oscar", como eu chamava. Era um amigo do pai que já veraneava lá. A casa dele aparece à direita, na foto (cortada). Naquele galpão ao fundo eu brincava criando meus próprios personagens, o que confundia os adultos que ficavam me escutando. Pensavam que fosse um amigo imaginário. Eu tinha meu próprio escorregador e minha própria barraca (tipo de índio) para onde eu entrava e ia ler meus gibis no "meu" cantinho. Ah, sim, muitas caminhadas até o centro de Atlântida ou de Capão da Canoa para comprar pilhas e mais pilhas de revistas. Na época em que essa casa foi construída, havia várias outras iguais, de cores diversas. Depois foram todas ampliadas. A nossa até que resistiu, mas também foi transformada num sobradinho. Hoje tem outro dono. Mas essa casinha azul aí sempre vai ser minha. Essa ninguém me tira.

sexta-feira, março 17, 2006

Nem pensar!

Estava aqui ouvindo a música "Nem Pensar", de Kleiton e Kledir, e lembrei de algo que li em um guia de Nova York: se o turista encontrasse uma placa onde estivesse escrito "Don't even think of it!" (que é equivalente a "nem pensar" em inglês), referia-se a estacionar. Esta foto não foi tirada por mim, mas essas placas são famosas. A mensagem é mais explícita do que a citada no livro: "NEM PENSE EM ESTACIONAR AQUI!"

quinta-feira, março 16, 2006

Vendedores

A vantagem de se manter informado via Internet é que a gente fica sabendo com antecedência dos livros e CDs que vão ser lançados. A desvantagem é que, na prática, não adianta nada, isso não faz as lojas receberem a mercadoria mais cedo. E acho que não existe categoria com distância maior entre o conhecimento que tem e o que supõe ter do que a de vendedor. Vendedor não conhece nada e pensa que conhece tudo. Já tive várias experiências curiosas por causa disso. Há alguns anos, entrei numa livraria e perguntei:

- Vocês têm o livro "Eu Não Sou Cachorro Não"?

O vendedor se segurou para não rir. Isso é nome de livro que se pergunte? – deve ter pensado. Mas o livro existia, apenas ainda não tinha sido distribuído aos pontos de venda. Quando o tal vendedor o enxergou com os próprios olhos, deve ter-se lembrado de mim.


Anteontem aconteceu de novo. Passei em várias livrarias do centro de Porto Alegre e quis saber:

- Vocês têm o livro "Caiu na Rede"?

Novamente, deparei-me com aqueles olhares cheios de pontos de interrogação. O raciocínio deles é simples: se eles não conhecem o livro, é porque provavelmente não existe. Eu é que estou delirando. Nunca esqueço, nos anos 80, quando recortei um anúncio da revista Rolling Stone mostrando o livro "Stardust, the David Bowie Story", de Henry Edwards e Tony Zanetta. Mostrei o recorte para o gerente de uma livraria importadora que hoje não existe mais. Ele, que sempre me atendeu com descaso e pouca atenção, se transformou:

- Não! Estranho... Nunca ouvir falar desse livro! Já tivemos livros sobre David Bowie, mas desse eu nunca tinha ouvido falar... Que engraçado!

Ali tive a certeza de que os lojistas, sejam gerentes ou simples vendedores, acham mesmo que conhecem tudo. Quando comprei meu aparelho de videodisco em 1990, minha ex-esposa comentou esse fato com um colega que era proprietário de uma locadora de vídeo. Ele quis discutir com ela que isso não existia. Afinal, ele, como dono de locadora, sabia tudo de vídeo. Que história é essa de videodisco? Na hora do almoço ele foi até a Casa dos Gravadores para conferir que geringonça era aquela. Acabou se convencendo.

Ontem, mais uma vez, vivenciei um episódio semelhante. Entrei em uma loja de CDs e perguntei:

- Vocês têm o CD do Seu Jorge em que ele canta músicas do David Bowie?
- Seu Jorge cantando músicas do David Bowie????

Eu também acharia estranho se não soubesse, mas foi o diretor Wes Anderson, em seu filme "A Vida Marinha de Steve Zissou", quem teve a idéia de criar um personagem chamado Pelé dos Santos que vive cantando músicas de Bowie em português. O resultado foi um CD só com essas músicas. A edição nacional ainda está por chegar nas lojas, mas já está sendo anunciada na Internet. Em outra loja, recebi a resposta:

- Que eu saiba o Seu Jorge está sem gravadora.

Em outra:

- Não tem nada do Seu Jorge em CD, só o DVD com a Ana Carolina.

Enfim, saber antes do que vai ser lançado em livro e CD só serve pra gente ficar ansioso, pois não acelera nem um pouco o momento da compra. E a gente ainda passa por louco na frente de vendedores que sabem pouco e pensam que sabem muito.

O Quintana de Bruno e Marrone

É hoje o show de Bruno e Marrone em Porto Alegre, no Teatro do Sesi. A matéria da capa do Segundo Caderno da Zero Hora, assinada por Renato Mendonça, diz que o poema "A Vida", de Mario Quintana, "é o fio condutor do show da dupla". Seria "A Canção da Vida"? Se for, ótimo. Substituíram um apócrifo ("Um Dia") por um Quintana legítimo. Mas isso eu ainda quero confirmar.

quarta-feira, março 15, 2006

Recomendação

Há tempos eu imaginava que alguém deveria escrever um livro sobre os textos falsos da Internet. Ter idéias é muito fácil. O mérito é de quem as coloca em prática. Pois a jornalista Cora Rónai fez um ótimo trabalho. "Caiu na Rede" está sendo lançado nesta semana pela editora Agir. No primeiro capítulo, a autora aborda a questão dos apócrifos, levantando hipóteses para explicar o fenômeno. Ela, como muitos que já opinaram sobre o assunto, acredita na possibilidade de premeditação, inclusive do próprio autor (o verdadeiro), para que seu texto seja divulgado mais amplamente sob a falsa assinatura de um escritor renomado. E conclui, resignada: "O meio-de-campo da Internet está tão embolado e os apócrifos se espalham com tal velocidade, que qualquer tentativa de descobrir ou estabelecer autorias é, praticamente, uma batalha perdida." Na página de créditos há uma observação curiosa: "A editora buscou, por todas as formas possíveis, encontrar os autores reais dos textos publicados. Alguns autores autorizaram a publicação de seus textos mas preferiram não receber os créditos porque os originais sofreram algumas alterações que não foram identificadas." Isso explica por que o livro apresenta como sendo de "Autor Desconhecido" diversos textos cuja autoria já foi desvendada (até prova em contrário) em comunidades do Orkut, entre elas "Afinal, quem é o autor?" citada no livro como já tendo "350 participantes empenhados em fazer justiça com as próprias letras". A autora credita ainda "o excepcional trabalho de Betty Vidigal no Jornal do Escritor" e o blog "Autor Desconhecido", de Vanessa Lampert.

A seguir, os textos mais disseminados são apresentados divididos por capítulos temáticos. Conforme já se deduzia do aviso da editora, Cora optou por publicar os textos tal como circulam pela Internet, com todas as suas adulterações. Em alguns casos ela assinala a parte acrescentada, em outras, deixa o texto como está. Assim, aparece a citação à "língua ferrenha do Jabor (eu)", como se o próprio fosse se referir a si mesmo dessa forma. Cada texto é identificado pelo autor verdadeiro (ou "Autor Desconhecido", conforme o caso) e aquele a quem é erradamente atribuído. Na contracapa aparecem duas colunas com nomes: em verde, os autores verdadeiros. Em laranja, os falsos.

O último capítulo, intitulado "OS AUTORES PÕEM OS PINGOS NOS II", reúne textos em que os envolvidos (falsos ou verdadeiros) se manifestaram sobre o assunto. Especialmente interessante é o comentário de Arnaldo Jabor a respeito da "Ode aos gaúchos" que é divulgada com o nome dele:

E não publicam só textos safadinhos, mas até coisas épicas, como uma esplendorosa "Ode aos Gaúchos" que eu teria escrito, o que já me valeu abraços apertados de machos bigodudos em Porto Alegre, quebrando-me os ossos: "Tchê, tua escritura estava macanuda , tri-legal!" Eu nego ter escrito aquele ditirambo meio farroupilha aos bigodudos, mas nego num tom vago, para não ser esculachado: "Tu não escreveste? Então tu não amas nossas "prendas" lindas, e negas ter escrito aquele pedaço em que tu dizes "que a gente já nasce montado num bagual"? Aquilo fez meu pai chorar, e o pedaço em que falas que "por baixo do poncho também bate um coração?" Tu tá tirando o cu da reta, tchê?"- e me aponta o dedo, de bombachas e faca de prata. "Não fui eu não, mas...viva o Olívio Dutra!..."

Tomara que esse lançamento faça sucesso e ajude a divulgar a questão dos apócrifos. Quem sabe não pode ser essa obra o gancho para a tão sonhada matéria do Fantástico? Cora Rónai tem um blog já consagrado, o
InternETC, mas para divulgar o livro ela criou outro com o mesmo título, "Caiu na Rede".

P.S.: Quem precisa ganhar um exemplar desse livro o quanto antes é a Ana Maria Braga!

terça-feira, março 14, 2006

Jeitinho brasileiro


O computador que aparece nestas fotos foi infectado por aquele vírus que inverte a imagem do monitor. O suporte técnico já foi chamado, mas enquanto ele não vem, o usuário encontrou uma solução paliativa. Afinal, o trabalho não pode parar!

Simulado do DETRAN

Como decidi que não vou fazer as três aulas para renovar minha habilitação, resolvi encarar a prova. Estou praticando com os testes simulados disponíveis no site do DETRAN-RS. Mas estou preocupado com o grau de dificuldade de algumas perguntas. Vejam só:

Dirigir alcoolizado um veículo automotor é um ato criminoso. O álcool provoca, no organismo do condutor,

A) aumento da coordenação motora.
B) raciocínio e reações rápidas.
C) atenção redobrada.
D) visão distorcida, dupla e fora de foco.
E) alto poder de concentração, com qualidade de julgamento.


Ao entrar numa curva à direita, é atitude correta para evitar acidentes:

A) frear bruscamente.
B) acelerar o veículo.
C) diminuir a velocidade e manter-se o mais à direita possível.
D) utilizar o acostamento.
E) manter a velocidade.


Ao se aproximar de uma rotatória com movimento intenso de veículos, você encontra um veículo lento fazendo o contorno. Nessa situação, você

A) acelera seu veículo com a intenção de passar à sua frente.
B) buzina várias vezes, avisando que está entrando na sua frente.
C) diminui a velocidade e espera o outro veículo completar seu trajeto.
D) continua circulando, pois quem está na rotatória não tem preferência.
E) faz gestos com o braço, para que o outro condutor deixe você passar à sua frente.

O que o condutor deve fazer, quando o veículo de trás está muito próximo e são feitas manobras insistentes na intenção de ultrapassá-lo?

A) Fugir dele, acelerando o veículo.
B) Diminuir a velocidade, sinalizar e facilitar a ultrapassagem.
C) Frear bruscamente, evitando uma colisão.
D) Tentar competir com o outro condutor, não dando espaço para ultrapassagem.
E) Ser imprevisível, não sinalizando suas intenções.


Mas a melhor de todas foi esta:

Você estaciona seu veículo em lugar proibido e é multado. Qual sua atitude em relação ao guarda que lhe aplica a multa?

A) Tenta suborná-lo, oferecendo dinheiro.
B) Tenta intimidá-lo, dizendo que ele não sabe com quem está falando.
C) Tenta se fazer de desentendido, alegando que não sabia que ali era um local de estacionamento proibido.
D) Mantém-se calmo, guarda o recibo da multa e retira seu veículo do local.
E) Não fala nada, rasgando o recibo da multa na frente do guarda de trânsito.

Não vai ser fácil.

segunda-feira, março 13, 2006

Os Brazões

Atenção aos Brazões. Este é um dos 25 CDs que está sendo lançado na série Som Livre Masters. O LP original saiu em 1969 pela RGE. Entre composições de medalhões como Jards Macalé, Jorge Ben, Toquinho, Capinam e Tom Zé, aparecem duas músicas da gaúcha Laís Marques: "Tão Longe de Mim" e "Planador". Ambas foram gravadas no mesmo ano também pelo Liverpool (futuro Bixo da Seda). Os Brazões estão entre os nomes menos conhecidos da série, mas não devem passar despercebidos.

Breve

Não é garantido, mas se tudo der certo, breve este blog estará publicando sua primeira entrevista exclusiva. Aguardem.

sexta-feira, março 10, 2006

Fim do spam

Não cheguei a comentar aqui, mas faz tempo que não recebo mais aquela quantidade enorme de spam que entupia a minha caixa postal. Meu provedor deve ter implementado um filtro sem que eu precisasse pagar a mais por isso. Fez bem. De vez em quando ainda chega um Cavalinho de Tróia ou outro, mas até é bom para me manter informado.

quinta-feira, março 09, 2006

Duas carteiras

Mexendo em meus guardados, achei duas carteiras minhas que considero preciosidades. A primeira delas é a de sócio do Internacional, a "Jovem Guarda Colorada" que o clube promoveu em 1969. A despeito de minha memória, que todos dizem ser boa, eu não lembro por que fiz essa carteira. Acho que minha mãe viu um anúncio no jornal e me mostrou. Recordo que o Inter tinha uma loja na Borges de Medeiros quase esquina Salgado Filho, perto de onde hoje fica um laboratório de revelação fotográfica (e onde nos anos 70 houve uma filial da Yes Discos – disso eu não iria esquecer), e foi lá que eu me inscrevi. Estranho, pois naquele tempo eu nem gostava de futebol. Também não lembro se eu teria direito a alguma coisa com essa associação. Não me consta que tenha havido pagamento de mensalidade. Talvez eu tivesse desconto se fosse aos jogos, mas comecei a ir em 1970 e não me preocupei em saber se a carteira servia para alguma coisa. Acho que era só um brinquedinho, mesmo, para mostrar para os amigos, tipo carteirinha de fã-clube. Para mim, pelo menos, acabou sendo. O presidente que a assinou foi Carlos Stechmann. Quanto ao álbum que é anunciado no verso, cheguei a comprá-lo e colecionar as figurinhas, mas não o completei, infelizmente. E a frase "Vamos começar a plantar hoje a semente do COLORADO de amanhã" me deveria deixar orgulhoso, pois nos anos seguintes o Inter viveu a melhor fase de sua história.
A outra carteira é do Grêmio Literário Castro Alves, que existe até hoje. Em 1976 eu tinha 15 anos e me tornei o sócio "efetivo-literário" mais jovem da agremiação. Meu padrinho foi o poeta Nélson Fachinelli, que levava meus poemas para publicação no Correio do Povo e assina a carteira como Presidente. Ele ainda escreve e recentemente lançou um CD de letras musicadas e cantadas por intérpretes diversos, como já fez duas vezes o hoje Prefeito José Fogaça. O Grêmio ainda não tinha sede própria, então realizava suas reuniões em uma sala no 1º andar do Edifício Ouvidor, onde hoje fica um restaurante. O local na época era cedido pelo Clube dos Orquidófilos de Porto Alegre. Fui sócio por um ano, mais ou menos, e cheguei a participar da primeira coletânea de poemas editada pelo grupo. Um dia crio coragem de mostrar aqui o que eu escrevia na época. Como disse sutilmente um amigo a quem mostrei os meus versos de adolescência, "teu estilo hoje é muito melhor, não tem nem comparação". Tempos depois ele me confessou que não gostou mas "não quis me dizer". Engraçado como as pessoas pensam que escondem suas opiniões e sentimentos.

Só agora me dei conta que tenho uma carteira do Inter e outra do Grêmio. Mas não "aquele" Grêmio. O Castro Alves, que eu saiba, nunca caiu para a Segunda Divisão.

terça-feira, março 07, 2006

Celebridades na Internet

Uma das muitas novidades fascinantes da Internet foi permitir o contato direto entre simples mortais e pessoas famosas. E-mails, grupos de discussão, páginas de mensagens e sites de amizade como o Orkut são formas de comunicação bem menos invasivas do que, por exemplo, o telefone, que funciona em tempo real e pode causar interrupções inoportunas ou insistentes. Pela Internet as celebridades podem conversar com seus fãs de forma segura e até anônima, como algumas fazem de vez em quando. Quando a fama é grande demais, um apelido funciona melhor do que um disfarce. Mas se o grau de popularidade não é tão intenso, muitos preferem usar seus verdadeiros nomes. E com freqüência revelam-se pessoas normais, tranqüilas, com seus afazeres e compromissos como qualquer um de nós.

Agora, é claro que existem impostores na web. Um pouco de bom senso ajuda a detectá-los. Por exemplo, é pouco provável que gente de notoriedade estratosférica como Roberto Carlos, Chico Buarque e Sílvio Santos se cadastre no Orkut com seus verdadeiros nomes. Já outros casos podem causar dúvida. Um perfil em nome do cantor gaúcho Nei Lisboa pareceu suspeito por conter uma foto antiga e dados muito vagos. Além disso, o falso Nei estava postando mensagens muito irônicas, despropositadas e abaixo do nível que se esperaria do verdadeiro. Outro costume de quem se faz passar por pessoas famosas na Internet é citar clichês ou frases promocionais do artista, supondo erradamente que ele assim escreveria. Como a mensagem intitulada "Sou Tremendão" e assinada "Erasmo Carlos". Quanto a celebridades estrangeiras, no Orkut, são todas falsas. As verdadeiras nem sabem o que é Orkut. O site só pegou mesmo no Brasil.

Já fiz contato com diversos ídolos meus via Internet e foram experiências gratificantes. David Bowie costuma organizar chats moderados em seu site, a BowieNet, e já participei de vários. De vez em quando ele entrava em chats informais, também, e, embora usasse um nick, logo era identificado. O produtor Tony Visconti já respondeu a e-mails meus e de outros fãs. Recentemente Ken Scott, que não só produziu Bowie mas também foi engenheiro de som em algumas sessões dos Beatles, entrou em um grupo de discussão para expor algumas opiniões e acabou me enviando uma mensagem particular. Boy George também participou de um chat moderado da BowieNet e respondeu a algumas perguntas minhas. Fora diversos brasileiros famosos com quem já fiz contato sem nenhuma relação com meu trabalho esporádico de jornalista. Mas esses eu prefiro não citar para não avalizar ou encorajar uma enxurrada de mensagens. Por favor, não me peçam indicação ou e-mail de ninguém.

Uma última dica: não incorram na infantilidade de testar a identidade de alguém com perguntas. "Se você é mesmo Paul McCartney, diga como se chamava sua namorada antes da fama." Pensem bem: não há nada que vocês saibam sobre a intimidade de um artista que um impostor também não possa conhecer. Ele sabe e terá todo o tempo do mundo para responder com detalhes a tudo o que vocês perguntarem. Já uma pessoa realmente famosa é ocupada demais para isso. Ou deixará a correspondência a cargo de um assessor (que achará a pergunta ridícula e nem a repassará), ou só responderá se achar que vale a pena. Em geral, um ídolo nunca está preocupado em provar que é verdadeiro: ele sabe que ele é ele.

Bruno e Marrone em Porto Alegre

Leio no jornal que Bruno e Marrone se apresentarão em Porto Alegre nos dias 16 e 17 de março, no Teatro do Sesi. Não tenho a menor intenção de ir aos shows, mas vou acompanhar pela imprensa para saber se a dupla já corrigiu a gafe de declamar o poema "Um Dia", de autor até agora desconhecido, como se fosse de Mario Quintana. Eles andavam dizendo em entrevistas que o show era "inspirado em Quintana" por ter um poema "dele" como título. Isso na cidade em que o poeta passou a maior parte de sua vida seria uma gafe tremenda. Se bem que o público da "geração Internet" talvez nem notasse. Mas a imprensa gaúcha tem obrigação de não deixar passar. De qualquer forma, a assessoria de mídia deles já foi avisada. Vamos aguardar.

segunda-feira, março 06, 2006

Infame

Sabe o que acontece quando você toma uma pyikada de myoskyto? Você fica com...

Eu li!

Desculpem, mas certas "pérolas" do Orkut não dá pra deixar passar. Vejam esta:

"Pra quem tiver tempo entre na comunidade ODEIO FULANA DE TAL e veja lá meu desabafo."

A mesma pessoa, mais adiante:

"Só pra ficar registrado: não odeio Fulana de Tal, até porque nem a conhecia. O nome da comunidade é que é esse."

Ah, bom.

sábado, março 04, 2006

Dica para os maridos

Atenção maridos, noivos e namorados que sofrem com o calvário das demoras desnecessárias e compras inúteis em supermercados: encontrei a solução perfeita para esse problema. Reclamar não adianta, conversar não adianta, conscientizar não adianta, xingar não adianta, mas tem uma coisa que adianta: começar as compras meia-hora antes da novela. É rapidinho e só vem o absolutamente necessário.

sexta-feira, março 03, 2006

Hit Parader nos anos 70

Desde que comecei a me destacar em inglês, uma pergunta que seguidamente me fazem é: o que devo ler para praticar o idioma? Minha resposta é a mesma há quase 30 anos: leia sobre algo de seu interesse, para sentir-se estimulado. Não adianta tentar ler o Time se você não lê nem as revistas brasileiras de notícias. Aliás, acho um crime indicarem Time e Newsweek para jovens alunos de inglês em estágios iniciais ou intermediários. O vocabulário dessas duas publicações é bastante avançado e o estilo de redação não é nada acessível. Cada coisa ao seu tempo.

Na adolescência, minha revista preferida era Hit Parader. Comprei-a pela primeira vez em 1975, mas passei a colecioná-la mesmo em 1976. Infelizmente, não consegui todos os números que queria. A Distribuidora Moderna deixou de trazer vários exemplares para Porto Alegre e minha série ficou incompleta. Mas sempre que eu a encontrava, comprava. O dinheiro da mesada geralmente sobrava para essas pequenas extravagâncias.

A Hit Parader existia antes e continuou existindo depois dos anos 70, mas nessa época ela caía bem no meu interesse. Talvez até fosse uma revista "teen" disfarçada, mas eu a lia como uma publicação de música. Além disso, não continha matérias sobre outros assuntos, como a Circus, que de vez em quando cobria cinema, ou a Rolling Stone, que tinha uma linha editorial "cabeça" direcionada para leitores universitários. O espectro de estilos que a Hit Parader englobava coincidia exatamente com o do meu gosto eclético. Em suas páginas eu lia sobre David Bowie, Elton John, os ex-Beatles, Kiss (figurinha carimbada da revista), Kraftwerk, Bee Gees, Abba, Sex Pistols, Rolling Stones, Aerosmith, Ramones, Peter Frampton, Boston, Bachman-Turner Overdrive, Yes, Genesis, Queen e até alguns nomes que não faziam sucesso no Brasil, como Angel, Starz e Emmylou Harris. Foi na Hit Parader que ouvi falar em Television e Devo, ainda antes de lançarem disco. Ali também li toda a sinopse do filme "O Homem Que Caiu na Terra", estrelando David Bowie, antes da estréia nos cinemas brasileiros (embora não fosse uma matéria sobre música, interessava aos fãs de Bowie por referir-se ao primeiro longa-metragem com o cantor no papel principal).


O crítico da revista na época se chamava James Spina. Eu não gostava muito do seu modo de redigir em sua coluna Spinaddict. Influenciado pelas publicações inglesas, ele escrevia comentários rápidos e irônicos, sem muita informação. Em compensação, eu adorava ler as reportagens de Lisa Robinson, Richard Robinson e outros colaboradores. O próprio Spina às vezes escrevia matérias maiores, como discografias comentadas, e se saía bem. As entrevistas também eram fantásticas. A revista publicava ainda letras de música, o que vinha a ser um tesouro numa era em que não havia Internet.

Um dia, James Spina fez um desabafo. Disse que estava surgindo uma nova corrente de heavy metal liderada por grupos como Def Leppard, Iron Maiden e outros. Mas que ele não iria perder tempo escrevendo nada sobre eles, pois não valia a pena e, se quisesse ouvir alguma coisa do estilo, procuraria os discos dos metaleiros originais, como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath. Algum tempo depois, Spina dançou e, nos anos 80, a revista passou a tratar exclusivamente de heavy metal. Foi aí que eu parei de comprar. A revista mais próxima do estilo da Hit Parader que encontrei na década seguinte se chamava "Rock". Era ótima, mas durou pouco.

Hoje não consigo gostar de mais nenhuma revista estrangeira de música "atual". É o meu lado "velho saudosista" se manifestando. Às vezes me sinto tentado a investir nas luxuosas publicações inglesas de rock clássico, como Uncut, Q e a excelente Record Collector, direcionada a colecionadores. Mas cada uma custa cerca de 50 reais. Quando vem com CD, ainda dá pra pensar, se for algo que valha a pena ouvir. A verdade é que a Internet hoje nos dá todas as informações ao alcance do teclado com uma instantaneidade inimaginável nos anos 70. Mas a Hit Parader me acompanhou por boa parte da adolescência, me manteve informado sobre meus grupos e cantores preferidos e me ajudou a exercitar o meu inglês.

quinta-feira, março 02, 2006

Recurso indesejável

Sei que a intenção foi boa, mas a pior implementação do Orkut nos últimos tempos foi o recurso que permite postar uma mensagem nos murais de todos os amigos. As pessoas o usam indiscriminadamente para espalhar bobagens. Já escrevi sobre isso aqui. Se só eu estivesse reclamando eu até poderia achar que sou intolerante, mas cansei de ler recados e apresentações em perfis pedindo que por favor parem de mandar elefantinhos e outras mensagens "bonitinhas". Quando vai cair a ficha da turma?

Alerta de vírus

Acabo de receber este alerta sob o título "Importante, é vírus mesmo!":

"Desculpe-me por esta mensagem automática, mas é preciso. Alguns amigos, involuntariamente, estão mandando arquivos contaminados com um vírus letal a qualquer PC. Portanto, antes de abrir, passe o antivírus para não ter nenhuma surpresa desagradável."

Muito obrigado.

quarta-feira, março 01, 2006

O antiantipetismo

Não, não é erro de digitação. O título é esse mesmo.

No ano passado, comentei
aqui sobre a resistência dos petistas mais fiéis em reconhecer as falhas do partido. Pois as pesquisas que atestam a popularidade de Lula mostram que eu estava certo. É muita ingenuidade dos antipetistas achar que os simpatizantes do PT irão simplesmente se dar por vencidos. Mesmo que o partido se mostre indigno dos sonhos que nele se depositaram, os ideais continuam existindo e, principalmente, os inimigos também. E não há nada que mantenha um grupo mais unido do que o regozijo do adversário. Quanto mais os antipetistas dizem "viram, eu não falei", mais os petistas se mantêm firmes. Nem que seja para não dar ao outro lado o gostinho da razão.

Portanto, o que pode dar a Lula um segundo mandato é esse sentimento a que, por falta de um termo melhor, poderíamos chamar de antiantipetismo. O petismo, como paixão partidária, pode ter-se abalado, mas o antiantipetismo está mais forte do que nunca. O sorriso dos inimigos é o chamado para a luta.

Recentemente li um comentário no Orkut de que Luis Fernando Verissimo estaria com "medo" de bater no PT com a mesma veemência com que criticou outros partidos. Ora, Verissimo é o exemplo claro do que foi dito antes. Talvez ele já não se sinta tão petista, mas continua, cada vez mais, antiantipetista. Até não descarto a hipótese de os antiantipetistas se juntarem sob uma nova bandeira. Se a direita sempre soube fazer isso tão bem – e tão rápido – com siglas desgastadas, por que não a esquerda? Mas para a próxima eleição, não dá mais tempo. O prazo seria curto para reconsolidar os velhos ideais em uma nova entidade. A única alternativa dos antiantipetistas para 2006 é se unir em torno do PT. E é o que estão fazendo.

Por fim, ninguém no momento representa melhor o antiantipetismo do que Lula. Afinal, é nele que se concentram os ataques dos antipetistas. Nessa atitude taticamente burra, os agressores de Lula só reforçam a sua imagem de símbolo do antiantipetismo. Ou seja, os antiantipetistas não só estão fechados com o PT como não pensariam em votar em outro candidato que não o próprio Lula. Se ele vai vencer ou não vai depender dos concorrentes e da força que o antiantipetismo terá no momento da eleição.