Hit Parader nos anos 70
Na adolescência, minha revista preferida era Hit Parader. Comprei-a pela primeira vez em 1975, mas passei a colecioná-la mesmo em 1976. Infelizmente, não consegui todos os números que queria. A Distribuidora Moderna deixou de trazer vários exemplares para Porto Alegre e minha série ficou incompleta. Mas sempre que eu a encontrava, comprava. O dinheiro da mesada geralmente sobrava para essas pequenas extravagâncias.
A Hit Parader existia antes e continuou existindo depois dos anos 70, mas nessa época ela caía bem no meu interesse. Talvez até fosse uma revista "teen" disfarçada, mas eu a lia como uma publicação de música. Além disso, não continha matérias sobre outros assuntos, como a Circus, que de vez em quando cobria cinema, ou a Rolling Stone, que tinha uma linha editorial "cabeça" direcionada para leitores universitários. O espectro de estilos que a Hit Parader englobava coincidia exatamente com o do meu gosto eclético. Em suas páginas eu lia sobre David Bowie, Elton John, os ex-Beatles, Kiss (figurinha carimbada da revista), Kraftwerk, Bee Gees, Abba, Sex Pistols, Rolling Stones, Aerosmith, Ramones, Peter Frampton, Boston, Bachman-Turner Overdrive, Yes, Genesis, Queen e até alguns nomes que não faziam sucesso no Brasil, como Angel, Starz e Emmylou Harris. Foi na Hit Parader que ouvi falar em Television e Devo, ainda antes de lançarem disco. Ali também li toda a sinopse do filme "O Homem Que Caiu na Terra", estrelando David Bowie, antes da estréia nos cinemas brasileiros (embora não fosse uma matéria sobre música, interessava aos fãs de Bowie por referir-se ao primeiro longa-metragem com o cantor no papel principal).
O crítico da revista na época se chamava James Spina. Eu não gostava muito do seu modo de redigir em sua coluna Spinaddict. Influenciado pelas publicações inglesas, ele escrevia comentários rápidos e irônicos, sem muita informação. Em compensação, eu adorava ler as reportagens de Lisa Robinson, Richard Robinson e outros colaboradores. O próprio Spina às vezes escrevia matérias maiores, como discografias comentadas, e se saía bem. As entrevistas também eram fantásticas. A revista publicava ainda letras de música, o que vinha a ser um tesouro numa era em que não havia Internet.
Um dia, James Spina fez um desabafo. Disse que estava surgindo uma nova corrente de heavy metal liderada por grupos como Def Leppard, Iron Maiden e outros. Mas que ele não iria perder tempo escrevendo nada sobre eles, pois não valia a pena e, se quisesse ouvir alguma coisa do estilo, procuraria os discos dos metaleiros originais, como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath. Algum tempo depois, Spina dançou e, nos anos 80, a revista passou a tratar exclusivamente de heavy metal. Foi aí que eu parei de comprar. A revista mais próxima do estilo da Hit Parader que encontrei na década seguinte se chamava "Rock". Era ótima, mas durou pouco.
Hoje não consigo gostar de mais nenhuma revista estrangeira de música "atual". É o meu lado "velho saudosista" se manifestando. Às vezes me sinto tentado a investir nas luxuosas publicações inglesas de rock clássico, como Uncut, Q e a excelente Record Collector, direcionada a colecionadores. Mas cada uma custa cerca de 50 reais. Quando vem com CD, ainda dá pra pensar, se for algo que valha a pena ouvir. A verdade é que a Internet hoje nos dá todas as informações ao alcance do teclado com uma instantaneidade inimaginável nos anos 70. Mas a Hit Parader me acompanhou por boa parte da adolescência, me manteve informado sobre meus grupos e cantores preferidos e me ajudou a exercitar o meu inglês.
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