domingo, novembro 11, 2007

Fãs torcedores

Eu já toquei neste assunto aqui no blog, mas vamos de novo.

Não consigo aceitar a postura que uma amiga virtual definiu – e eu prontamente adotei a definição – como de "fãs torcedores". Música não é futebol. Se eu sou fã de um determinado músico, é porque o trabalho dele me agrada. Até entendo o entusiasmo que nos leva muitas vezes a vestir camisetas com o nome do ídolo, levar faixas para shows, imitar a roupa, a maquiagem, vibrar quando ganha um prêmio e outras atitudes de apoio. Mas quando esse comportamento começa a ficar obsessivo a ponto de não aceitar nenhuma crítica negativa, ficar com ciúme de outros que também fazem sucesso e até ofender fãs de outros artistas, eu deixo bem clara a minha posição: não assino em baixo. E essa opinião já me rendeu animosidades em algumas comunidades do Orkut.

Eu teria muitos exemplos para citar. Um deles é o da polêmica sobre o Kiss ter ou não copiado a maquiagem dos Secos e Molhados. É difícil discutir esse assunto sem que descambe para briguinha de torcidas. De um lado, os fãs dos Secos e Molhados me chamando de alienado por "defender americanos" e ainda acrescentando comentários irrelevantes, como dizer, por exemplo, que o Kiss é uma banda ruim que não chega aos pés dos Secos. Do outro lado, os fãs do Kiss acusando Ney Matogrosso de estar "mentindo", porque "está com inveja" porque "o Kiss é a maior banda do mundo" e ainda partindo para ofensas e manifestações de homofobia. Nenhuma das duas posturas contribui para esclarecer a situação. Sobre essa questão, já expus meus argumentos aqui.

Outro caso é quando sai alguma crítica negativa sobre o ídolo. Pronto: os fãs torcedores ficam em polvorosa! Sentem-se na obrigação de encher a caixa postal do crítico com e-mails de repúdio, como se isso não fosse ser apenas descartado como "reação típica de fã". Certa vez um fã torcedor conclamou os colegas a denunciar uma comunidade do tipo "Eu Odeio...", para que ela fosse excluída. E ficou indignado porque seu chamado não obteve a resposta desejada. "Fã que é fã denuncia", insistiu.

O fã torcedor sempre acha que o seu ídolo está sendo boicotado pela mídia. "A Globo tem alguma coisa contra [nome do ídolo]?" "Por que a MTV não toca [nome do ídolo]?" "Por que não toca [nome do ídolo] no rádio?" "Por que não colocam mais músicas de [nome do ídolo] em novelas?" Em geral são artistas que já tiveram seu grande momento e ainda aparecem, de vez em quando. Mas, para o fã torcedor, não é suficiente. Teria que aparecer sempre, todos os dias, a toda a hora. Já houve um caso em que um integrante de um grupo de discussão propôs de criar uma rádio só para tocar o seu grupo preferido! Ele não estava brincando, não. E queria o apoio dos colegas para levar a cabo seu delírio de tiete.

Não nego que fico orgulhoso sempre que a crítica aponta David Bowie como o mais genial nome do rock em todos os tempos. Afinal, sou fã dele deste 1973. Sinto-me um visionário, embora tenha sido apenas um lance de sorte. Também fiquei feliz quando
o CD ao vivo de Kleiton e Kledir ganhou o Prêmio Tim na categoria "Canção Popular", não só porque eram gaúchos e velhos ídolos meus desde o tempo dos Almôndegas, mas também porque concorriam contra ninguém menos do que Roberto Carlos. Mas se eu fosse esquentar a cabeça cada vez que alguém fala mal de um ídolo meu, viveria tomando aspirina, pois sou fã de mais de uma centena de músicos. E depois, fatos são fatos, opiniões são opiniões e música é música. Não me importo se os outros não tiverem o mesmo gosto que eu. Mas não me chamem para abaixo-assinados, campanhas de votação, envios em massa de e-mails ou nada que configure apoio incondicional a um só ídolo em detrimento de outros. Como dizia Rita Lee nos anos 70, o som nasce para todos.

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