terça-feira, outubro 30, 2007

Um ídolo que não esquece os fãs

No começo dos anos 80, quando Falcão ainda jogava no Roma e o Correio do Povo pertencia a Breno Caldas, o jornal publicou um bonito texto do cronista esportivo Lauro Quadros, que hoje está na RBS. Falcão tinha vindo a Porto Alegre e Lauro fez uma bela homenagem ao craque por sua postura acessível e receptiva, mesmo com toda a fama conquistada. Nesse quesito, comparou-o aos "reis" Roberto Carlos e Pelé, lembrando que este último um dia estava às suas costas numa sala de imprensa e virou-se dizendo: "Esta voz eu conheço!"

Pois todos os elogios feitos por Lauro Quadros a Falcão eu repito para Kleiton Ramil. Ele mesmo, da dupla Kleiton e Kledir. Um músico extraordinário, habilidoso no violão e no violino. Grande compositor, que já teve músicas gravadas por, entre outros, Nara Leão e MPB-4. Também ótimo cantor, interpretando suas músicas com leveza e emoção. Sua voz foi eternizada em sucessos como "Vira Virou" e "Deu Pra Ti". Entre 80 e 84, no auge do sucesso, ele e Kledir mal conseguiam andar na rua, tamanho era o assédio. Nessa época, descreveu a fama com uma "loucura bonita". Mas nada disso afetou sua atitude simples e carinhosa com os fãs.

Eu já entrevistei Kleiton e Kledir por tabela, com perguntas que foram repassadas à dupla pelo editor do International Magazine, Marcelo Fróes. Mas meu primeiro contato direto com Kleiton não teve nenhuma relação com meu trabalho esporádico como jornalista. Simplesmente, ele deixou um recado em meu mural no Orkut comentando uma mensagem minha que tinha lido na comunidade dos Almôndegas. Depois disso, refizemos contato algumas vezes. Ele perguntou se eu tinha a letra de "Macchu Picchu", de Hermes Aquino, que ele estava com saudade de tocar a música. (Músico é assim: quando tem vontade de ouvir alguma música, ele mesmo a toca!) Até que, quando houve uma sessão fechada para lançamento do DVD ao vivo, ele me convidou.

Compareci na data e local combinado. Kleiton foi superatencioso comigo, apresentando-me aos demais colegas como "o cara que sabe tudo de Almôndegas". O guitarrista Zé Flávio deu um sorriso malicioso e disse: "tudo ele não pode saber!" Só imaginei no que ele pensou naquele momento. Quando Kleiton estava me apresentando para a irmã dele, Branca, apareceu ninguém menos do que o Prefeito José Fogaça, velho amigo e parceiro da dupla. Concluídos os cumprimentos de praxe, Kleiton fez questão de retomar a apresentação do ponto em que havia interrompido.

Ontem, segunda-feira, foi o dia do lançamento do livro dele, "Sonhos e Sonhadores – Caminhos do Inconsciente", na Feira do Livro. A palestra mediada pelo jornalista Renato Mendonça estava marcada para as 17 e 30, mas começou com um pequeno atraso. Quando Kleiton entrou na sala, abraçou alguns conhecidos, acenou para outros e ao passar por mim, bateu no meu ombro e disse: "Tudo bem?" Até fiquei em dúvida se ele lembrava de mim "de algum lugar" ou sabia quem eu era. Tive a resposta quando houve a abertura para perguntas. Peguei o microfone e ele disse: "Fala, Emílio!"

Talvez eu não devesse me impressionar com essas atenções, ainda mais na era da Internet. Mas continuo sendo, e acho que sempre serei, acima de tudo, o fã. O fanático por música. O adolescente que ouvia os Almôndegas na Rádio Continental nos anos 70 e comprava, no máximo, um LP por mês nas lojas da Galeria Chaves com o dinheiro da mesada. E, mesmo com jornalistas, não são todos os artistas que se mostram solícitos. Já a simpatia de Kleiton não é apenas comigo. Todas as pessoas que tiveram contato com ele contam histórias semelhantes sobre a atenção que ele dedica aos fãs.

Aí vocês perguntam: e Kledir não é legal? Claro que é! Falei rapidamente com ele no lançamento com DVD e fui recebido com um caloroso sorriso. E assim como eles, há outros artistas igualmente desprendidos, espontâneos, que valorizam a aproximação de seus admiradores. Renato Barros (de Renato e Seus Blue Caps) é assim. Nunca tive contato com Gilberto Gil, mas dizem que também é boa gente. Também já ouvi elogios a atitudes de Benito di Paula. Pessoas assim merecem todo o sucesso que conquistaram e mais um pouco, pois não esquecem que tudo isso só foi possível graças ao público. E sabem retribuir sempre que a oportunidade aparece.

Agora, me desculpem, mas esta dedicatória eu tinha que exibir. Vocês também não fariam o mesmo?