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terça-feira, janeiro 31, 2006
Burrice informatizada
Minha impressora se recusa a imprimir um documento preto porque o cartucho de tinta cor ciano está vazio. Não adiantou nem assinalar "usar somente tinta preta" nas configurações avançadas. E depois dizem que eu sou muito nervoso e impaciente. A vontade que eu tenho é de estrangular o ASNO que projetou essa interface!
P.S.: A culpa não é do asno que projetou a interface. É do asno que projetou a impressora, mesmo. Vejam o que copiei do site da EPSON:
• Pergunta: Posso continuar a imprimir somente em preto se o cartucho colorido tiver acabado ou ter sido removido da impressora, ou vice-versa? • Resposta: Não. Você não pode imprimir se um dos cartuchos estiver vazio ou não instalado. Então eu realmente vou ter que comprar um cartucho ciano para poder imprimir em preto. A tinta ciano vai ficar lá, paradinha. Mas se não estiver lá, o preto não sai. Mas tudo bem, não há nada de errado nisso. Eu é que sou muito nervoso.
Eu adoro um bom churrasco. Não sou exímio churrasqueiro, mas sei escolher a dedo uma boa picanha, daquelas que é impossível assar mal. Ela praticamente se faz sozinha. Gosto também de costela (de porco e de gado), vazio e lombinho de porco. Salsichão, coração de galinha, tudo vem bem. Freqüento churrascarias com muito gosto.
Mas, para mim, nada se compara aos estabelecimentos que vendem churrasco pronto. Porque ali não existe a loteria de você fazer um pedido e nunca ter certeza se virá como você queria. Nem o risco de estragar uma carne linda errando no cozimento. Está tudo à mostra, prontinho, para você escolher exatamente o que vai levar. Como se diz em inglês, what you see is what you get – o que você vê é o que você recebe. Já morei perto de uma churrascaria assim.* Atualmente, não existe nenhuma próxima da minha casa.
Mas, no bairro da minha namorada, há dois lugares vendendo churrasco pronto. Um deles é o meu preferido. Já fui lá com ela diversas vezes. É comum eu acabar comprando mais do que o necessário só pela beleza da carne que está assando. E o sabor não decepcionou.
Pois neste fim-de-semana minha namorada me contou: "Sabe aquela churrascaria em que a gente compra carne pronta? Um dos donos era brigadiano e foi assassinado. Entraram dois caras lá e atiraram nele." E hoje está no jornal a notícia. Iuri (o mesmo nome do meu filho) Merlini Martins tinha 26 anos, era soldado da Brigada, casado, com uma filha de seis anos. Cursava o 6º semestre de Direito. Segundo a reportagem, era um soldado dedicado, correto, responsável por 26 das 28 prisões do 20º Batalhão. Vinha recebendo ameaças e já havia sofrido um atentado em 2004. Pela foto, tenho uma vaga lembrança de já ter sido atendido por ele, mas pode ser também a semelhança de sua fisionomia com a de sua irmã.
Mundo pequeno. E perigoso.
*P.S.: Agora lembrei que, na churrascaria e casa de carnes que ficava perto da minha antiga casa, o dono também foi morto com um tiro, só que num assalto. Que mórbida coincidência!
Tem gente que me acha jovem demais para ser Beatlemaníaco. Afinal, eu tinha nove anos quando os Beatles se separaram. Mas conheço especialistas em Beatles que nasceram bem depois de mim e sabem até mais do que eu. Mas eu, bem ou mal, vivi a época e isso ninguém me tira. Assisti à estréia de "Help!" em Porto Alegre e lembro das gurias no cinema gritando "Ringooooo!!!". Foi o mais próximo da Beatlemania a que o Brasil chegou.
Na foto acima eu estou na praia de Atlântida, provavelmente aos cinco anos, ouvindo o compacto "I Want to Hold Your Hand" em sua originalíssima edição brasileira da Odeon. O disco era dos meus irmãos (na época adolescentes), mas eu acabei ficando com ele. Lembro das fotos dos Beatles na revista Intervalo e também de uma história em quadrinhos com a história do grupo desenhada por Joe Sinnott (mais conhecido por seus trabalhos na revista Thor) em uma edição de O Cruzeiro (que também publicava Luluzinha e Bolinha). Aí está, portanto, uma legítima e irrefutável prova de que sou Beatlemaníaco "da época". Meu fanatismo por música começou bem cedo.
Olhem o que vai ser lançado no Brasil no dia 15 de fevereiro. Depois virão também "Jeannie é um Gênio" e "A Noviça Voadora". E eu ainda nem comprei "Jornada nas Estrelas", "Jonny Quest", "Manda Chuva", "Os Jetsons", o segundo volume de "Dallas", as temporadas posteriores dos Flintstones...
Existem alguns tipos de passatempo ou divertimento que, injustamente ou não, carregam a pecha de "programa de índio". São atividades de interesse bem específico. Muita gente gosta e poderia passar horas entretido com algumas delas. Mas em geral são situações de que todos procuram fugir e você só deve convidar alguém para participar se souber com certeza que a outra pessoa também aprecia.
Exemplo típico: ópera. Entendo a importância desse tipo de apresentação, mas não me atrai. Por favor, não me convidem. Balê, idem. Já um concerto de música erudita pode ser bem-vindo, dependendo da peça executada. Palestras sobre assuntos de meu interesse também. Recital de poesia, depende. Documentários em cinema e TV, adoro. Sessões do planetário de vez em quando até caem bem, especialmente com aquelas cadeiras confortáveis e relaxantes.
Mas, com o advento da fotografia digital, um de meus "programas de índio" preferidos já está praticamente extinto: a sessão de slides. Nenhum tipo de fotografia consegue igualar a beleza de um diapositivo bem projetado. Em uma de minhas viagens, sempre que possível, só comprei slides. Adoro o ritual de apagar a luz e projetar aquelas imagens luminosas e coloridas. Infelizmente, não é algo que dê muito ibope. E a culpa disso é do mau uso que tantas vezes se fez das possibilidades do meio. Fotos impressas você pega na mão e vai olhando na velocidade que bem entender. No máximo, pode enxergar uma expressão de decepção do fotógrafo ao final, como quem diz: "Você nem olhou..." No computador, então, ficou ainda mais fácil. Você só diz: "Manda por e-mail." E depois responde: "Muito legais!" Mesmo que tenha deixado para ver mais tarde e acabe esquecendo ou apagando. Este é problema da sessão de slides: o espetáculo é totalmente comandado pelo anfitrião. Aí, é difícil para ele entender que as visitas não sentem o mesmo prazer que ele de reviver cada fração de segundo de suas viagens. Uma sessão de slides rápida e dinâmica, como as do fotógrafo Flávio del Mese, talvez fosse bem recebida. Mas não: o anfitrião faz questão de esmiuçar cada detalhe, foto por foto. Quando entra um slide novo, você vê a expressão de entusiasmo no rosto dele, pronto para dizer:
- Ah! Este slide tem uma história!
Ora, claro que tem! Tudo tem uma história. Até os vasos da sala, como minha avó me demonstrou uma vez, contando como, quando e em que viagem tinha comprado cada um. Pois a agonia com que a maioria das sessões de slide é conduzida lembra os vasos da minha avó. A diferença é que, em vez dos vasos, são todos os elementos da foto, sem exceção.
- Este casal que aparece conosco veio de carro desde Buenos Aires. Eles ficaram numa pousada ao lado da nossa. Ele tem uma locadora de vídeo, mas está pensando em vir para o Brasil para montar um negócio...
E quando você pensa que, depois da longa história do casal, o slide vai mudar, vem a parte seguinte:
- Estão vendo aquela porta ali atrás? Pois é: ali é uma loja de material fotográfico. O dono é um sujeito simpático, uns 50 e poucos anos, paulista. Ele me mostrou uma máquina Pentax que me deixou apaixonado. Quase pensei em comprar, ele fazia em quatro vezes no cheque, mas não aceitava pré-datado que não fosse da praça...
Você pensa: que bom, está terminando a história do slide. Mas não:
- Naquele mastro ali atrás, todos os dias, às 8 da manhã, eles hasteiam a bandeira. Cada dia eles escolhem um diferente e fazem uma espécie de cerimônia...
Quando chega no terceiro slide e você percebe que já passou meia-hora, você cria coragem e pergunta:
- Escuta, não dá pra ir passando as fotos mais depressa?
O anfitrião faz cara de surpresa, depois se ofende e responde:
- Puxa, estou contando todos os detalhes pra vocês com a maior boa vontade e vocês nem estão interessados???
- Não é isso, é que ainda tem muita foto pra olhar e, se continuar nesse ritmo, não vai dar tempo de ver tudo!
Para seu desespero, ele diz:
- Ah, mas eu não me importo de ficar aqui o tempo que for preciso para contar a viagem pra vocês. A noite é uma criança, ainda nem cheguei na melhor parte!
Por culpa de gente assim, que transforma uma sessão de slides num misto de ego trip com tortura chinesa, é que poucas pessoas sentem falta desse belíssimo formato fotográfico. Ruim mesmo vai ser quando projetores tipo "data show" virarem moda nas residências. Aí, sim, teremos o pior de dois mundos: as arrastadas sessões de fotos projetadas na sala escura sem a inigualável qualidade das películas de outrora.
Eu e meus pais tivemos algumas desavenças e, no caso do meu pai, questões mal resolvidas. Mas um aspecto em que eles eram sensacionais era na tranqüilidade que me transmitiam para fazer vestibular. Eu não me sentia pressionado. Se não passasse, tudo bem, melhor sorte da próxima vez. Eles tinham consciência de que a competição era acirrada e a maioria seria reprovada, mesmo. Lembro de um amigo que entrava em desespero porque não contava com a compreensão dos pais. Não é que eles exigissem a sua aprovação, mas ficavam inconformados com o nervosismo dele na hora de responder as questões. Isso, claro, realimentava a sua angústia ainda mais.
Por outro lado, se eu não passasse, a postura deles era de compreensão, mas com firmeza. Não, deu, tudo bem, mas trate de se esforçar para conseguir melhor resultado na próxima tentativa. Lembrei disso porque hoje, na Zero Hora, há uma matéria sobre "o que fazer se for reprovado no vestibular". A sugestão é: passar uma temporada no exterior. "Quem busca um país com praia e clima ameno, por exemplo, pode optar pela Austrália. Amantes de esportes radicais encontram na Nova Zelândia um roteiro perfeito." Está lá, no caderno "Vestibular", para quem quiser ler. Tem até entrevista com uma candidata que, coitadinha, foi reprovada em Arquitetura e Urbanismo. Enquanto os aprovados terão que correr atrás de matrícula, livros, enfrentar os trotes, encarar as aulas, estudar, ralar, ela, pobrezinha, "vai passar uma temporada em Londres, aperfeiçoando o inglês, fazendo amigos e repensando suas escolhas."
Eu só imagino o que aconteceria se todos os reprovados no vestibular resolvessem seguir a sugestão da Zero Hora. Mas não é nem isso que me deixa indignado. Se você, ainda jovem, sem compromisso, sustentado pelos pais, pudesse escolher entre ingressar na Faculdade e passar uma temporada no exterior, o que preferiria? Depois os pais reclamam que seus filhos não estão preocupados em estudar ou construir seu futuro (como já comentei aqui). Se querem mimar seus filhos, tudo bem. Mas um caderno especializado de um jornal apresentar essa indicação aos reprovados é algo no mínimo curioso. Quem ler vai pensar que os vestibulandos de Porto Alegre vêm todos de famílias abastadas.
Que temporada no exterior, que nada! Reprovado no vestibular tem que arregaçar as mangas e voltar pros livros! E agradecer do fundo da alma se os pais ainda se dispuserem a pagar mais um ano de cursinho! Ora essa! Estão achando que isso aqui é primeiro mundo? Vão estudar! Vão fazer por merecer o investimento da família! Temporada no exterior... Era só o que faltava! A moça que passou em primeiro lugar na Medicina ganhou uma viagem à Bahia e ficou feliz da vida! Exterior uma ova! Filhinho de papai tem mais é que ralar para conquistar o seu lugar no ônibus superlotado que vai pra faculdade!
Esse trote que o cearense Yuri Firmeza passou na imprensa, anunciando a chegada de um artista japonês inexistente, não é de todo inédito. Em 1998, David Bowie se anunciou como editor da biografia de um famoso arquiteto de Nova York, Nat Tate, escrita pelo inglês William Boyd. A cerimônia de lançamento se realizou no estúdio do artista pop Jeff Koons, obviamente com a presença de jornalistas. Bowie leu um trecho do livro, justamente a passagem onde o biografado se suicida por afogamento aos 31 anos. Seu corpo nunca foi encontrado e poucas de suas obras foram preservadas. Um dos repórteres humildemente perguntou aos críticos de arte ali presentes se já haviam ouvido falar em Tate. Eles confirmaram, embora ressalvassem que ele era mais conhecido em Nova York, no meio da arquitetura. Todos os jornais publicaram a comovente história de Nat Tate.
Não admira que seu corpo não tenha sido encontrado: ele nunca existiu. Nem mesmo Jeff Koons, que cedeu o espaço para o lançamento, sabia do engodo. E a justificativa para a brincadeira foi muito parecida com a do brasileiro Yuri. Conforme foi explicado depois por co-participantes na farsa, nada foi feito por maldade. "Era divertido ouvir as pessoas dizendo que tinham ouvido falar nele. Há uma vontade de não parecer tolo. Ninguém pode ter ouvido falar em todos os artistas, mas os críticos são muito orgulhosos para admitir isso." A velha história da roupa nova do rei.
Eu não me surpreenderia se Yuri Firmeza tivesse se inspirado na peça pregada por Bowie e seus, digamos, cúmplices. As coincidências são muitas. Mas o que chama a atenção nesta hora é como somos inseguros de nosso conhecimento. E com razão. Eu, por exemplo, não estaria preparado para responder ao que minha mãe definia como "perguntas de bolso". Quando algum veículo da imprensa fica sem assunto, sai entrevistando gente na rua para publicar as "pérolas" depois. Quem é o Vice-Presidente da República? Quem foi Artur da Costa e Silva? Isso quando algum programa humorístico não prepara também os seus trotes. Esse dinossauro que encontraram na Amazônia, você acha que o governo deve deixar que os alemães o levem para estudo?
Se eu trabalhasse em jornal diário, cairia muito fácil numa armadilha dessas. Se me dissessem que o Ministro Roberto Pinheiro está chegando no aeroporto e eu fui pautado para entrevistá-lo, eu não daria um pio mas iria correndo pesquisar sobre ele na Internet. Ministro do que, mesmo? Por outro lado, em assuntos do meu conhecimento seria mais difícil me enganar. Quando saiu no jornal que estava vindo ao Brasil uma banda de cover do ABBA com o integrante original Benny Andersson na formação eu logo vi que algo estava errado. A Zero Hora chegou a publicar o título "ABBA volta com nova formação". Mas se alguém me contasse que a famosa atriz da Globo Rosaura Telles está de caso com o Deputado Ariovaldo Brandão, talvez eu comentasse: "Puxa! Mas ele não é casado?"
(P.S.: Não sei quem está chegando aqui via Facebook mas, seja quem for, deixe um recado, pô! Mesmo que não tenha conhecido a mim ou a qualquer dos colegas que aparecem nas fotos!)
Estudei na Escola Anexa ao Instituto de Educação de 1967 (Jardim de Infância) até o primeiro semestre de 1970 (3º ano primário). Estou colocando estas fotos para o pessoal da Comunidade do Instituto de Educação no Orkut e também para todos que visitam o blog. Se alguém "se achar" e quiser fazer contato, será muito bem-vindo (clique nas fotos para ampliar).Estas fotos são todas da festa de final de ano em 1967, reunindo as turmas da manhã e tarde. Minha mãe aproveitava o último dia de aula também para comemorar antecipadamente o meu aniversário, já que dificilmente as aulas se estendiam até 12 de dezembro. Então aí estou eu no meio da roda. A menina que aparece de perfil logo à direita, de cabelos curtos, se chama Tânia. Não reconheço as outras. Da esquerda para direita, José Paulo, Marco Antônio, Eduardo Ayub e Paulo Roberto Soares do Canto. Os outros dois, não reconheço. Ao fundo, entre o Marco Antônio e o Eduardo, a menina da direita é Silvana Mazzaferro. Atrás do Paulo Roberto, com o rosto parcialmente encoberto, está Paulo Renato Franz. O "parabéns" de outro ângulo, mostrando a parreira ao fundo. O colega que aparece no canto inferior direito da foto é Edson Correa Chagas Júnior, do turno da manhã.Os dois sentados são Ana Regina e Luiz Felipe Serpa. Não sei quem é a professora. Ao fundo, de corneta na mão, está Maria José Vasconcellos de Souza, que voltaria a ser minha colega na Faculdade de Jornalismo. Eu apareço com o rosto encoberto, de chapéu de Papai Noel. Os outros dois "Papais Noéis" eram do turno da manhã: Edson Correa Chagas Júnior e Vicente Antônio Paz Freitas Machado. Acho que é o Edson que aparece mais à direita.
O Anexo ficava na Av. José Bonifácio. Ainda existe, porém foi reconstruído e ganhou o nome de Escola Dinah Néri Pereira.
Nesta época do ano, muitos colegas estão saindo de férias. Alguns dizem, brincando, que o balneário onde costumam veranear é praia de nudismo. "Porque só vai pelado!" E isso me faz imaginar como deve ser uma verdadeira comunidade de nudistas. Mas já pensei muito nisso e concluí que não é para mim. Claro que, com minha forma física atual, seria até piada. Mas não é por isso.
Não tenho nada contra os naturistas, se são felizes assim. Cada um na sua. Mas encarar a nudez "com naturalidade"? Transitar em meio a mulheres de corpo escultural com tudo à mostra e não ter maus (leiam-se "bons") pensamentos? Não vejo necessariamente como algo saudável. Desaprovo a promiscuidade, mas sou totalmente a favor da malícia, do desejo e das fantasias.
Quando, ainda criança, tomei conhecimento da existência de sexo (felizmente através de meus pais, que sempre me deixaram à vontade para falar e perguntar sobre o assunto), o que me chamou a atenção em primeiro lugar foi a questão da nudez. Até então eu tinha como regra que os homens não mostravam seus corpos para as mulheres e vice-versa. Ao aprender sobre o ato da reprodução, percebi que era um momento de entrega total, em que dois seres humanos compartilhavam seus segredos mais preciosos. Guardo até hoje essa noção de que, antes da conjunção carnal, existe um ritual de revelação. Identifiquei-me bastante com uma cena do filme "O Que é Isso Companheiro". Quando estão prestes a transar, os guerrilheiros "Paulo" e "Maria" revelam um ao outro seus verdadeiros nomes. Ou seja: para aquele instante especial, despiram-se até de suas identidades forjadas.
Admitamos: quantas vezes olhamos para alguém atraente e ficamos imaginando como será o seu corpo nu, o seu comportamento na intimidade, a sua reação a um carinho mais atrevido? A nudez por si só não revela isso, mas faz parte do mistério. Por isso não simpatizo com a filosofia das colônias de nudismo. Se for pra ver mulher nua e ficar só olhando, que seja em strip-tease ou nas páginas da Playboy, mesmo. Ali, pelo menos, a malícia é assumida e até estimulada. Como eu disse no começo, não condeno os naturistas, mas eles lá e eu aqui. Porque se eu for lá, vou levar minha libido junto com certeza.
Eu costumo definir o poema "Um dia", que muitos pensam ser de Mario Quintana, como uma "composição Frankenstein". Desconheço o autor, mas ele contém uma frase de Saint-Exupery e um provérbio árabe. Pois agora enxertaram mais uma "perninha" ao monstro. Ele não termina mais com aquela frase da longa explicação (que é o provérbio árabe), mas com esta pérola de obviedade: "Para o homem provar que é bom, não precisa ter mil mulheres. Basta fazer uma feliz." E os trouxas realmente acreditam que Quintana escreveria algo assim!
Não é incomum entre os colecionadores de discos aparecer alguém que gosta tanto de uma música que procura conseguir todas as gravações já lançadas. Pois se você aprecia a clássica "Lili Marleen", não perca a caixa de sete CDs "Lili Marleen An Allen Fronten", do selo alemão Bear Family. Pela bagatela de 153,39 Euros, você leva nada menos do que 193 (isso mesmo que você leu: cento e noventa e três) versões diferentes da música! E ainda está faltando a da orquestra de Arno Flor com o coral de Santa Helena. Já pensou passar um fim-de-semana inteiro ouvindo tudo isso? Sua cara-metade ia adorar!
P.S.: Se sua companhia enjoar e pedir para ouvir outro CD, você coloca o do Arno Flor!
No tempo do primeiro grau, no Colégio Pio XII, os alunos não podiam sair mais cedo sem licença da direção. Era preciso obter uma papeleta de autorização. Eu e um colega certa vez conseguimos uma, não lembro por que motivo. Ao preenchê-la, a funcionária escreveu "agora" no campo onde provavelmente deveria indicar data e horário. Ou seja, estávamos autorizados a sair "agora". Rimos muito e guardamos o papel para usá-lo em outra oportunidade, se precisássemos. Mas acabamos não fazendo.
Os primeiros microcomputadores com unidade de CD utilizavam um estojo chamado "caddy", onde o CD era colocado para depois ser inserido na unidade. Nos anos 90, no setor onde eu trabalhava, o "caddy" trazia um adesivo com a seguinte mensagem: "Favor deixar esta caixinha sempre aqui." Só faltou acrescentarem: "E se ela não estiver aqui, favor colocá-la aqui."
Em outra ocasião eu tinha uma entrevista agendada para "quarta-feira, dia tal". Depois fui ver e o dia tal não caía na quarta-feira. Quando liguei de novo para conferir, ouvi alguém ao fundo dizer, indignado: "é quarta-feira", com o tom de voz de quem diz "não complica". Eu só queria saber onde está escrito que, em havendo discrepância na data informada entre o dia da semana e o dia do mês, vale o dia da semana. Ele tinha dito que era quarta-feira dia tal e ainda ficou irritado que eu observei que a quarta-feira não caía no dia tal. Como eu sou chato!
Lembrei de tudo isso porque uma loja de chocolates da rua Siqueira Campos colocou o seguinte aviso na vitrine: "Reabriremos em cerca de 10 dias." Quando eles reabrirem e algum cliente disser que não sabia ao certo quando eles voltariam, eles são capazes de dizer: "Mas você não leu o cartaz?"
No dia do “reencontro histórico”, um de meus amigos começou a lembrar de minha mania de fazer trocadilhos, das tiradas infames que eles e tantos outros já tiveram que agüentar, e sugeriu: “Por que não coloca no blog?” Não sei se meus visitantes merecem, em todo o caso, posso tentar lembrar de alguns.
Eu trabalhava em uma agência bancária e uma colega que era caixa estava guardando os documentos para arquivamento. Ela comentou que o normativo determinava que nenhum deles fosse arquivado dobrado, mas que ela estava tendo que fazer isso com os maiores. Eu falei: “Tudo bem. Se algum inspetor descobrir um documento dobrado a gente desdobra ele.”
Eu e uma turma de amigos estávamos indo a São Sebastião do Caí num fim-de-semana em meu saudoso Fuca (“Fusca” pra quem não é gaúcho). Um deles era o anfitrião e estava nos indicando o caminho. Disse que iríamos passar por uma ponte que “estava pra cair a qualquer momento, de tão velha”. Eu disse: “Ah, sim, é a famosa ponte pra Caí”.
Dois amigos meus descobriram que tinham uma tia em comum que se chamava Olga. Eu observei: “Quer dizer que vocês têm Olga em comum?”
Uma colega tinha um videocassete Hi-Fi Estéreo, mas a marca não era a melhor na minha opinião. Comentei com ela que havia um Gradiente à venda por preço razoável e eu estava pensando em comprar. No outro dia ela falou: “Estou com a minha mão comichando pra comprar um videocassete Gradiente!” Eu respondi: “Então depois que comprar me avisa em que loja foi, que eu vou lá cobrar comichão!”
Eu e alguns colegas estávamos em Brasília, de carro, passando pelo setor de clubes. Eu falei: “Vocês viram que ali onde a gente passou tinha um clube que eles começaram a fazer depois cancelaram?” “Não, como assim?”, eles questionaram. “Começaram a fazer o clube depois suspenderam o projeto”. Aí veio a pergunta que eu esperava: “Como ficaste sabendo?” E eu disse: “Porque tinha uma placa apontando: IA TÊ CLUBE!”
A irmã de um amigo meu tinha-se formado em Engenharia Química e ele me falou que ela estava indo para Santa Catarina fazer pós. Eu comentei: “Claro, se ela se formou em Engenharia Química, só pode ser para fazer pós!”
O filho explicou ao pai a diferença entre touro e boi e o menino perguntou: “É por isso que se diz o ex-touro da boiada?”
“Ultimato” é quando a gente diz: “Pela última vez, ou faz o que eu estou te mandando, ultimato!”
“Contumaz” é aquele sujeito que, contumaz faz o que não deve, mais vontade tem de fazer de novo.
Análise documental serve para ver quem tem merda na cabeça.
A primeira vez em que vi uma unidade fazer o tal do “5S”, imaginei que iriam homenagear os grandes pensadores da humanidade. Fariam a área de Aristóteles, a área de Platão, a área de Pitágoras e assim por diante. Mas começaram pela área de Descartes.
Até prova em contrário, achei o verdadeiro autor de "A pessoa errada", crônica que circula pela Internet com autoria indevidamente atribuída a Luis Fernando Verissimo. É Márcio da Silva, "fotógrafo, produtor de vídeo, agenciador e instrutor de modelo e manequins". O texto está no "Portal Dois Vizinhos", onde Márcio é colunista. Mais um mistério desvendado.
Neste fim-de-semana estive ocupadíssimo e não tive tempo de atualizar o blog, mas no sábado foi o aniversário do Iuri, que fez 12 anos. Grande "gugui"! Ainda quero postar mais fotos dele por aqui e escrever mais sobre ele também. Por enquanto, fiquem com esta montagem. A foto mais recente é a do canto superior direito, tirada no Ano Novo, e a mais antiga é a imediatamente à esquerda, quando ele tinha 2 anos (cliquem para ampliar).
Esse "You Tube" é mesmo um site fantástico. Cliquem aqui para conhecer um comercial da TV americana que ficou clássico e consagrou uma expressão da mesma forma que "Lei do Gérson" (do cigarro Villa Rica) e "Efeito Orloff" no Brasil. Foi produzido em 1984 para a rede de lanchonete Wendy’s e mostra a octogenária Clara Peller olhando um hambúrguer concorrente e perguntando: "Where’s the beef?" Algo assim como "cadê a carne" (não necessariamente "bife" nesse contexto). A frase se popularizou e hoje faz parte da cultura americana. Lembro de uma capa da Newsweek que mostrava uma praia toda poluída e perguntava: "Where’s the beach?" Clara Peller fez outras peças publicitárias para a Wendy’s, mas não permaneceu por tanto tempo quanto o Garoto Bombril ou o Baixinho da Kaiser porque fez como Zeca Pagodinho: aceitou aparecer em uma propaganda da Prego Plus Spaghetti onde dizia "achei".
Pensando bem, não existe nenhuma afirmação que não possa ser contestada. Procurando, sempre se encontra um argumento em contrário. E existem pessoas que parecem ter um hábito, quase um prazer, de contestar tudo o que você disser. Se você diz que a terra é redonda, ele diz: "Não, a terra é esférica." Se você diz que a terra é esférica ele diz "não, a terra é na verdade oval". No fim, você sempre passa por ignorante.
Já encontrei muita gente assim. Houve uma época em que eu pensei em fazer vestibular para Publicidade. Acabei optando por Jornalismo e comentei com um amigo que minha escolha era porque a imprensa "lida com a verdade". Pouco depois ele disse: "Não é bem assim, você tem que publicar o que for aprovado pelo dono do jornal". Ah, os preciosistas! Mas nada é mais garantido para atiçar o "contestador" que existe em todos nós do que fazer qualquer comentário remotamente depreciativo sobre algo que nos seja importante. Aí, o instinto de defesa fala mais alto.
Experimente dizer, por exemplo, àquele seu amigo que está cursando ou se formou numa faculdade menos disputada que o vestibular dele foi mais fácil. "Não foi, não, estava bem concorrido e a prova foi muito difícil!" Pior é se você der a entender que as outras faculdades são melhores ou mais conceituadas. "Ah, que saco, não agüento mais ouvir dizer que só a PUC e a UFRGS são faculdades boas. A minha é ótima, tem professores excelentes, forma bons profissionais e blá blá blá..." Já trabalhei numa agência bancária que era relativamente pequena. Mas ai de alguém se ousasse dizer que tínhamos pouco serviço! No filme "Fama" há uma seqüência de imagens que é bem ilustrativa: cada professor aparece dizendo que a sua disciplina é a mais difícil do curso. E assim, cada um tem a sua verdade. Eu às vezes me incomodo na Internet por querer pelo menos expor a minha. Mas não deixo barato se vejo alguém distorcendo opiniões ou tendo reações furiosas em cima de interpretações totalmente equivocadas. No fundo, acho que o meu problema é um só: eu não tenho paciência com burrice.
Comecei num assunto e acabei passeando por outros. Está quente hoje, né?
Muito legal o site "You Tube", onde os internautas podem subir vídeos que depois são vistos na própria página via Macromedia Flash Player. Lá se encontram, entre outras preciosidades:
- A primeira entrevista do Kiss sem maquiagem, na MTV, em 1983. Ao final eles dizem que voltarão a fazer shows "assim que nosso equipamento voltar do Brasil" e lembram que se apresentaram no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
- O clip de "Ziggy Stardust", com David Bowie, da fita VHS que fazia parte da edição especial do CD "David Bowie at The Santa Monica Civic", lançado pelo selo Trident. O áudio é o mesmo do CD, mas as imagens são de shows diversos. Só essa música constava da fita e o show de Santa Monica não existe em filme ou vídeo.
Quando sinto um calor insuportável como este que está fazendo em Porto Alegre, eu me pergunto por que na infância e boa parte da adolescência a temperatura alta não me perturbava. Não tem nada a ver com o peso, pois a lembrança que eu tenho é que o calor começou a me fazer mal aos 20 e poucos anos, quando eu estava em forma. Recordo de uma tarde de fevereiro em que eu queria tirar uma sesta, mas estava quente demais. Eu não conseguia relaxar, que dirá pegar no sono. Fui no prédio da Receita Federal a pedido de meus pais e, quando estava para voltar, caiu uma chuvarada. E eu estava sem guarda-chuva. Meu primeiro pensamento foi: estou aqui perdendo tempo esperando a chuva passar quando poderia estar em casa aproveitando a queda de temperatura para dormir.
Em 1974, aos 13 anos, fui a Disney World, como já contei aqui várias vezes. Uma das lembranças que ficaram da viagem é que Miami era uma cidade estupidamente quente. Hoje vejo que Porto Alegre é igual e tento entender como só mais tarde fui perceber isso. É que, nos Estados Unidos, todos os ambientes são climatizados, o que acentua o contraste. Você sai do gelo do hotel para o forno da rua. Além disso, normalmente, eu ficava o verão todo na praia, janeiro e fevereiro. Nosso litoral tem uma temperatura bem mais amena, principalmente à noite. Basta abrir a janela e já entra um arzinho. Depois que comecei a trabalhar, acabaram as férias de dois meses. Aí o calor passou a incomodar.
A diferença entre Porto Alegre e uma cidade seca como Brasília, por exemplo, é que, num clima úmido, o calor vai atrás de você em qualquer lugar. Não adianta ficar na sombra, o “bafo” o persegue onde você estiver. Já precisei fazer viagens em ônibus intermunicipal em dias como hoje e foi um horror. Sei que ar condicionado sai caro, tanto na compra quanto no consumo de energia elétrica, mas não entendo como, num país como o Brasil, a refrigeração de ambientes ainda seja um luxo. Só há pouco tempo os ônibus de linha instalaram climatização e alguns hotéis ainda anunciam “quarto com ar condicionado” como um de seus diferenciais. De vez em quando ainda aparece alguém pra dizer que “ventilador de teto é suficiente”. Pra que, pra espalhar ar quente pelo quarto?
Sem dúvida, esse calor não foi feito para ser vivo agüentar. Imagino que, no tempo das cavernas, a ausência de asfalto tornava o clima mais ameno. Mas também não existia repelente de mosquito, então que remédio.
Essa imagem foi postada num fórum de música por um dos integrantes. Vejam a que ponto chegam os chamados "audiófilos" para avaliar a qualidade de um CD. Precisam visualizar a onda sonora para comparar duas edições e saber qual é a melhor. Pensei que CDs fossem para ouvir.
Estão vendo esse boneco aí em cima? Pois eu também o enxerguei na seção de brinquedos das Americanas. É a Mulher Invisível. Mal feito, né? Faz até sombra!
Há quem admire a minha capacidade de dizer não. Na verdade eu diria que evoluí muito, mas ainda não cheguei no nível que gostaria, que é o de dizer não em qualquer situação, para qualquer pessoa, e não me sentir culpado por isso. Se hoje já consigo não ceder sempre, é porque vivi situações desesperadoras que um simples não teria evitado. Como diz o outro, a dor ensina a gemer.
Por outro lado, impressiona-me a facilidade que certas pessoas têm de pedir. Não têm o menor escrúpulo ou cerimônia: pedem tudo, para qualquer um e em qualquer momento. Sei que às vezes a necessidade se sobrepõe à etiqueta. Não me refiro a esses casos. Penso é no pidão contumaz, aquele que tem como lema “nunca compre o que pode pedir emprestado” ou simplesmente “quem não chora, não mama”. Aquele para quem você não pode comentar que tem isso ou comprou aquilo sem que ele diga, automaticamente: “me empresta?”
Emprestar dinheiro é um caso à parte. Houve uma época em que eu vivia mais folgado e nunca negava se alguém me pedia algum valor que estivesse ao meu alcance. Eu pensava: puxa, se ele chegou a pedir é porque deve estar mesmo em apuros, não custa ajudar. Ingenuamente, eu não sabia que, quem pede uma vez, pede sempre. Dito e feito. Praticamente uma vez por mês um estagiário vinha me pedir empréstimo. Raramente pagava na data prometida. Depois passamos a trabalhar em mesas separadas. Um dia ele sentou perto de mim e ficou fazendo rodeios, perguntou como estava o serviço novo e a vontade que eu tinha é de dizer: pede logo! Quanto? A gota d’água foi quando, depois de meses em que não trabalhávamos mais no mesmo local, ele localizou meu novo endereço e surgiu na porta com aquela cara de... bem, de pidão, ora! Levou um não e nunca mais apareceu.
Em 1979 eu e meus irmãos éramos rádio-amadores PX (Faixa do Cidadão). Um dia, com a maior cara-de-pau, um colega de rádio pediu emprego a um de meus irmãos. No ar, mesmo, para todo o mundo ouvir. Meu irmão havia trabalhado numa emissora de rádio e o tal sujeito queria que ele usasse sua influência para arranjar-lhe uma boquinha lá. Eu estava junto quando isso aconteceu e ainda lembro a voz dele dizendo: “E depois aquele presente de fim-de-ano!” Meu irmão desconversou e isso criou um clima de desconforto entre eles.
Claro que eu já pedi muitas vezes e lógico que existem pessoas que ainda me pedem e são bem-vindas. O pidão se diferencia exatamente por não ter noção de limite. Lembro em 1990 quando, por desinformação, trouxe dos Estados Unidos um filme Kodachrome, que não se revela no Brasil. Como resolver? Lembrei de um amigo que era comissário de bordo e também gostava de fotografia. Escrevi-lhe uma longa carta (naquele tempo não existia e-mail) explicando que não era do meu feitio pedir, mas que naquela situação a pessoa certa para me ajudar era ele. Ele respondeu bem solícito, dizendo quando e como poderia revelar e trazer o filme para mim. Deu tudo certo e eu nunca mais lhe pedi nada.
Às vezes penso se não sou mesquinho. Aí lembro de alguns episódios desagradáveis e concluo que é problema meu. Essa norma de não emprestar discos, por exemplo, também nasceu de uma experiência negativa. No começo de minha adolescência eu emprestava tudo, até meus equipamentos de som. Até que um gravador meu desapareceu e um amplificador voltou danificado. Alguns amigos meus, que haviam me alertado para que não emprestasse, se encheram de razão, ficaram repetindo mil vezes no meu ouvido “eu avisei, eu avisei, quem mandou emprestar, eu falei”. A partir dali, decretei que não emprestava mais nada. Quando esses mesmos amigos vieram pedir LPs meus e eu neguei, ficaram magoados. Antes disso eu já tinha emprestado um LP para um vizinho de andar. Depois ele veio me mostrar: “Segurei mal o disco e ele rachou, mas só pegou a primeira faixa. Tu não gostas dessa música, né?”
Da esquerda para a direita: Paulo Brody, Emílio Pacheco e Luiz Bonow. Se eu quisesse, teria como pesquisar a data exata em que conheci cada um deles, mas agora estou com preguiça. O Bonow eu conheci em 1978, no tempo em que eu era rádio-amador PX. Aos 17 anos, eu tinha voz de adulto e visual de criança, então uma brincadeira recorrente de quem já me conhecia era me descrever bem diferente do que eu era. Quando o Bonow me enxergou, num dia em que fomos todos ao cinema, deve ter levado uma hora para desfazer a expressão de surpresa.
O Paulo eu conheci em 1980, no grupo de conversação "Getting Together", do Cultural. No início não fomos muito com a cara um do outro, mas logo descobrimos que tínhamos paixões em comum além de inglês: música e histórias em quadrinhos. Ele foi o meu primeiro "amigo musical", por assim dizer, com quem pude trocar informações sobre rock em igualdade de condições. O Bonow e o Paulo se conheceram no meu aniversário de 20 anos, em 12 de dezembro de 1980. Aliás, na minha adolescência eu tinha o dom de aproximar amigos e criar turmas. Isso aconteceu mais de uma vez e geralmente era "sacramentado" no meu aniversário. E eu conseguia fazer isso sem assumir a liderança dos grupos, apenas colocava o pessoal em contato. Bons tempos.
Bonow está morando em Curitiba, apareceu apenas para rever os amigos. Paulo continua em Porto Alegre.
Aquele site que eu citei há alguns dias acaba de perder sua condição de "site não-blog com maior número de textos com autorias incorretas". O novo campeão é o da Ana Maria Braga. Acho que dois textos com assinatura de Luis Fernando Verissimo ela conseguiu acertar. Os Quintanas são todos falsos. E não poderia faltar também o "Amigos", do Paulo Sant'ana, erradamente atribuído a Vinicius de Moraes. Já enviei um "aviso prévio" por e-mail, mas com tempo quero preparar uma lista completa com as autorias verdadeiras e os links relevantes, quando disponíveis. Não é difícil descobrir por que isso acontece:
"Os textos de abertura são colaborações enviadas por telespectadores ao Mais Você, através de cartas, fax ou e-mail".
Está na hora de os jornalistas aprenderem que autoria de texto, na era da Internet, passou a ser como notícia: só se pode confiar vindo de fonte segura.
Eu até tento dar uma folga no assunto, mas não consigo. Não bastasse Ana Carolina ter percorrido o Brasil declamando o “Quase” como se fosse de Luis Fernando Verissimo, acabo de descobrir que Bruno e Marrone estão abrindo seus shows com um falso Mario Quintana. É aquele que cita Saint-Exupery (“tu te tornas eternamente responsável por tudo o que cativas”), depois encerra com um provérbio árabe (“quem não compreende um olhar jamais compreenderá uma longa explicação”). Quintana não dava lições de vida sobre amor e relacionamentos, mas quem não conhece o estilo dele parece que não se convence. É difícil.
Quando Quintana faleceu em 1994, lembro de ter ouvido alguém dizer que não gostava dos versos do poeta, pois eles eram “sem sentido como pintura abstrata”. De fato, é preciso sensibilidade e inteligência para captar a genialidade de uma frase como “eles passarão, eu passarinho”. Do contrário, o sujeito lê e pensa: o que é isso? Que coisa mais sem pé nem cabeça! “Eu passarinho?” Parece o Tarzan falando!
Por isto os apócrifos fazem tanto sucesso: eles são fáceis. Qualquer um entende. Eles saciam a frustração de quem só conhece os grandes autores de nome, mas nunca conseguiu apreciar nenhuma de suas obras. De repente a pessoa se entusiama: “Achei um poema do Quintana que é do meu agrado!” Ou então: “Agora estou aprendendo a gostar de Luis Fernando Verissimo!”, Sim, porque os verdadeiros textos de Verissimo também não são de apelo imediato e exigem cérebro para serem desfrutados. Já os falsos caem no gosto do povão fácil como sorvete num dia de calor. É mais ou menos como ouvir Richard Clayderman e pensar que é Villa-Lobos.
Viver em condomínio é uma experiência curiosa. Queira ou não, você partilha de espaços, momentos e até informações com vizinhos. Ainda mais no Brasil, onde o povo é gregário, comunicativo e, sob certos aspectos, indiscreto. Mas as situações mais peculiares acontecem entre quatro paredes. O som se propaga com uma facilidade incrível quando se tem vizinhos. Dependendo da arquitetura do prédio, você já sabe que sua privacidade está prejudicada. É bom escolher bem as palavras quando fala, pois há uma pequena platéia escutando.
Nos edifícios onde já residi, ouvi de tudo um pouco. Risadas, relatos, fofocas, queixas e gemidos de colocar no chinelo qualquer filminho pornô de segunda. Que Big Brother, que nada! Mas o que mais me impressionou foram as brigas. É incrível como existem famílias em crise, em atrito constante, agredindo-se verbalmente de forma regular e metódica. Felizmente, meus vizinhos atuais parecem conviver em harmonia.
Nos primeiros anos em que morei onde estou hoje, a vizinha abaixo de mim era sozinha. Eu raramente a escutava, só quando ela estava ao telefone. Por isso, criei uma falsa sensação de isolamento acústico. Já os inquilinos atuais, quando se juntam em frente à churrasqueira, parecem estar dentro do meu quarto, de tão próximos. Então percebo quantos de meus telefonemas íntimos, quantos segredos e desabafos, a vizinha antiga deve ter testemunhado. Ouviu tudo. Mas parece ser uma pessoa de bom caráter e não vai usar nada contra mim.
Em prédio pequeno, a vida dos moradores é um livro aberto. Quando converso com visitas ou com meu filho, procuro falar bonito, para impressionar os ouvintes circunstantes. O problema é que nem sempre as visitas sabem que estão sendo escutadas. Às vezes tenho que alertá-las, até para evitar ruído na comunicação. Ontem, por exemplo, foi o caso. Mas primeiro é preciso contar o que houve alguns dias antes. Eu estava voltando ao meu local de trabalho e, quando abri a porta, bati em uma escada. Um empregado estava consertando as lâmpadas bem junto à entrada. Ele afastou um pouco a escada para que eu entrasse, mas calculou mal a minha circunferência. Entrei na marra e a maçaneta quase furou a minha barriga. Voltemos a ontem à noite. Minha namorada me disse:
- Essa tua barriga está feia!
“Oh, não”, pensei. “Os vizinhos ouviram essa frase. Não pode ficar assim. É melhor esclarecer.” E perguntei:
- Por que está feia? Explica! - Porque está roxa! - Ah, bom!
Não custa nada evitar mal-entendidos entre paredes.
Essa informação divulgada indevidamente nos Estados Unidos de que os mineradores teriam sobrevivido ao acidente faz pensar que não há nada mais desagradável do que desmentir uma boa notícia. Dar uma notícia ruim não é fácil, mas retificar uma boa nova é muito pior. Lembro de uma ocasião, no interior do Rio Grande do Sul, em que, por erro de processamento, foi anunciada uma lista incorreta de aprovados num vestibular. Uma semana depois das comemorações, caras pintadas, farras e quem sabe até cabelos cortados, alguns dos candidatos vieram a saber que não, não tinham sido aprovados. Não acompanhei o caso até o fim, acho que a imprensa também não, mas lembro que os prejudicados estavam entrando na Justiça.
Em 1967, ingressei no Jardim de Infância da Escola Anexa ao Instituto de Educação, na José Bonifácio. Tenho alguma lembrança do primeiro dia de aula. Sentamos em mesas circulares e o colega ao meu lado tinha um nome estranho que, aos seis anos de idade, eu nunca tinha ouvido antes. Blauco? "Não, Glauco", ele me corrigiu. A professora nos mandou desenhar e eu, que nunca fui bom de traço, esbocei um monte de elipses e disse que era um "festival de disco voador". O Glauco na mesma hora reclamou: "Não existe festival de disco voador!" No ano anterior a outra professora tinha implicado com meu "cavalo cor de maravilha". Gente sem imaginação!
Fiquei no Anexo até o segundo semestre de 1970. Depois, fui para o Paula Soares. Por algum tempo, ainda mantive contato com alguns colegas da antiga escola, mas depois acabamos nos afastando. Em 1980, li no jornal que o grupo instrumental Hálito de Funcho estava com um novo pianista: Glauco Sagebin. Ora, o Glauco do Anexo? Eu nem sabia que ele tocava! Fui no show e falei com ele rapidamente, mas não tive certeza se ele lembrou de mim. Tínhamos sido amigos a ponto de ele ir na minha casa duas vezes, uma para um trabalho de grupo, outra para uma festa de aniversário, mas a forma hesitante como ele falou comigo me deixou em dúvida. Já estou acostumado com essas situações em razão de minha memória, segundo os outros, privilegiada. Basta dizer que, na Faculdade, reconheci dois ex-colegas do primeiro Jardim de Infância, ainda antes do Anexo. E não foi pelo nome.
Depois disso, Glauco passou a acompanhar músicos gaúchos de destaque como Nei Lisboa e Bebeto Alves. Em 1986, lançou um disco próprio, "Alto Cúmbia", com temas instrumentais. Transcorrido algum tempo, não ouvi mais falar nele. Mas, com a Internet, de vez em quando me divirto procurando nomes de gente conhecida no Google. Foi assim que achei uma menção a Glauco num site japonês, incluindo foto. Presumi que ele estava correndo o mundo como pianista, como fazem tantos outros músicos brasileiros. O mercado estrangeiro ainda tem espaço para a boa música brasileira. Confirmei mais tarde que ele morou no Japão nos anos 90. Recentemente, para minha surpresa, descobri que Glauco lançou um CD.
"When Baden Meets Trane" é um lançamento da Blue Toucan Music, selo americano especializado em jazz e bossa nova. A capa destaca também os nomes do baixista Santi Debriano e o baterista Paulo Braga. O CD contém as seguintes músicas:
1. When Baden Meets Trane (Glauco Sagebin) 4:23 2. Fascinating Rhythm (George & Ira Gershwin) 3:38 3. Olha Maria (A.C. Jobim, C. Buarque, V. de Morais) 3:40 4. Short Story (Glauco Sagebin) 5:38 5. Earlier Departure (Glauco Sagebin) 4:58 6. Villa (Glauco Sagebin) 5:52 7. Nada Como ter Amor (Carlos Lyra, Vinicious de Morais) 4:06 8. Luiza (Antonio Carlos Jobim) 7:25 9. Rio Negro (Glauco Sagebin) 4:06 10. Pra Dizer Adeus (Edu Lobo & Torquato Neto) 5:26 11. Laura (Johnny Mercer & David Raskin) 6:31
O site da Blue Toucan Music (em inglês, obviamente) traz mais informações sobre Glauco e o CD. Só contesto a informação de que ele iniciou sua carreira musical em São Paulo. Que eu saiba, foi em Porto Alegre, mesmo. Já dei uma olhada também em outros sites e constatei que o disco está sendo bastante elogiado. Na página da Amazon, um cliente pergunta: "Por onde esse cara andava?", estranhando nunca ter ouvido falar nele. Curiosamente, eu me fazia a mesma pergunta, mas por outro motivo.
A questão agora é como conseguir esse CD. Estou sem cartão de crédito em razão de meu acordo com o Credicard. O site da CD Point, que normalmente tem todos os CDs e DVDs lançados nos Estados Unidos, não inclui esse título. O jeito é recorrer à turma do "podemos encomendar". Talvez eles consigam. Estranho isso de ter que importar o CD de um músico daqui mesmo de Porto Alegre. Bom, não foi a primeira vez: o relançamento da Ana Mazzotti veio da Inglaterra. Isso me lembra quando Manfredo Fest foi entrevistado por Júlio Fürst em 1976 na Rádio Continental. Fest também era pianista porto-alegrense com carreira no exterior. Agora é a vez de Glauco Sagebin.
A propósito de um comentário postado mais abaixo, gostaria de esclarecer que este blog não é exclusivamente dedicado ao tema dos textos falsos, embora o combate aos apócrifos seja uma de suas bandeiras. Acontece que a incidência de crônicas e poemas falsamente atribuídos a autores consagrados é tão alta que resolvi colocar um alerta na apresentação. E, claro, retomar o assunto de tempos em tempos. Aguardem para breve uma lista comentada de "falsos Quintanas" (com links para os verdadeiros autores onde disponível).
No entanto, cumpre lembrar que existe um blog temático sobre o assunto: é o "Autor Desconhecido", de Vanessa Lampert. É uma pena que ele não seja atualizado com muita regularidade. O último post é de 4 de novembro. Mas vale uma visita e uma mensagem de incentivo para que a luta continue.
Normalmente eu não me entusiasmo com as incursões literárias de meus ídolos da música, como os livros "Um Morto Pula a Janela" de Nei Lisboa e "Pequod" de Vitor Ramil. Ou os quadros pintados por David Bowie ou Paul McCartney. Assim como nunca me interessei em ouvir Luis Fernando Verissimo tocando sax. Mas se um trabalho paralelo é bem feito a gente tem que reconhecer. E recomendar. Então não percam as crônicas semanais de Kledir Ramil na Zero Hora. Ele escreve muito bem.
Acho que já deu pra notar que eu sou fanático por música. Desde a infância, praticamente. Mas, graças a Deus (e não digo em vão, pois tenho fé), meu gosto musical é bem diversificado. Em minha coleção de CDs convivem pacificamente Carpenters e Sex Pistols, Bee Gees e Iggy Pop, B.J. Thomas e David Bowie, Demis Roussos e Alice Cooper, Beatles e Kiss, The Who e Queen, Pink Floyd e ABBA, Kid Abelha e Engenheiros do Hawaii, Stevie Wonder e Yes, Roberto Carlos e Raul Seixas, Jovem Guarda e Tropicália. E muitos outros exemplos. Um dos textos mais interessantes que já escrevi para o International Magazine foi sobre o Teixeirinha.
É por isso que eu sempre acabo me incomodando em grupos de discussão e comunidades dedicadas exclusivamente a um só artista. Ser fã de Beatles e David Bowie é fácil porque a crítica em geral os reconhece como figuras importantes e revolucionárias no rock. Por outro lado, consigo enxergar perfeitamente – e sem me estressar – que outros ídolos meus, como B.J. Thomas, Bee Gees, Demis Roussos e Engenheiros do Hawaii estão longe de ser unanimidades. Assim como reconheço a inegável importância de Bob Dylan e Elvis Presley, embora o trabalho deles não seja exatamente do meu gosto. Mas nem por isso vou pagar o mico de dizer que B.J. Thomas é melhor do que Elvis. Eu prefiro B.J., mas querer impor minha escala de valores ao grande público seria negar 50 anos de história.
Infelizmente, alguns fãs não querem entender a diferença entre importância e gosto pessoal. Algumas comunidades do Orkut deveriam trazer um alerta: "Só entre aqui se você acha que o [Grupo Tal ou Cantor Tal] é o melhor do mundo, perfeito e infalível, e quem não enxergar isso ou é cego ou tem alguma coisa contra." Aí já não é ser fã, é ser alienado. Certa vez alguém perguntou, na comunidade do Kiss, se a Globo tinha alguma coisa contra o grupo. Sim, a mesma Globo que deu cobertura total à primeira vinda do quarteto em 1983 e fez um especial de uma hora que hoje circula entre os colecionadores em DVD pirata. Ora, por que a Globo teria algo contra o Kiss? Porque não mostra o grupo todos os dias em horário nobre? Não dá pra entender. Outro dogma que eu desrespeitei foi dizer que acho Gene Simmons fraco como cantor e compositor. Como posso ser fã e dizer uma bobagem dessas?
Assim também, os fãs dos Bee Gees estão furiosos porque Robin Gibb veio ao Brasil em 2005 e a cobertura da imprensa foi mínima. Eles se perguntam o que os jornalistas brasileiros têm contra o grupo. Por que dão tanto destaque a shows de bandinhas inferiores como U2 e Rolling Stones ao mesmo tempo em que ignoram a visita de um "ser celestial" (palavras de uma fã) como Robin? Às vezes eu não resisto a tentação de tentar argumentar e sempre me dou mal, pois com fanático não se argumenta. Caí na bobagem de dizer que o som dos Bee Gees é considerado "água com açúcar" e acho que só não fui expulso porque o moderador da comunidade é meu amigo. Ora, onde já se viu eu dizer que o som deles é água-com-açúcar? Calúnia! Às vezes chego a achar que não sou fã dos Bee Gees, apenas penso que sou, pois os que realmente são acham que eles são melhores do que os Beatles. Errado sou eu que não percebo isso.
Há muitos anos uma apresentação de David Bowie foi cancelada porque os Monkees iriam tocar no mesmo dia e local. Isso foi naquela breve mas histórica turnê de 1997 em que os Monkees se reuniram com a formação completa, incluindo Michael Nesmith. Os fãs de Bowie, claro, ficaram furiosos com isso. Quem são os Monkees para tomar o lugar de um semideus? Ora, os Monkees foram uma das bandas mais divertidas dos anos 60. Pré-fabricados, sim, e eles próprios hoje admitem que não tocavam os instrumentos nos primeiros discos. Mas a soma de boas vozes, carisma, músicos competentes, bons produtores e excelentes compositores resultou numa obra musical maravilhosa. Eu adoraria ter assistido aos Monkees nessa turnê. Mas vai explicar isso pros fãs de Bowie.
Eu tô de saco cheio. É por isso que curto os grupos de discussão de colecionadores de discos em geral. Ali estão pessoas como eu, que ouvem de tudo um pouco e, mesmo quando não gostam, respeitam e sabem avaliar a importância de outros artistas. Nos grupos de discussão sobre artistas específicos eu sempre acabo me irritando. Acabei de ser criticado por querer comparar Bee Gees com Carpenters, ABBA e James Taylor. Claro que os Bee Gees foram muito melhores. É evidente! Como posso ser tão burro de não perceber isso?
Jornalista free-lancer apaixonado por música. Minhas colaborações mais frequentes foram para o International Magazine, mas já tive matérias publicadas em Poeira Zine e O Globo. Também já colaborei com os sites Portal da Jovem Guarda e Collector's Room. Em 2022, publiquei "Kleiton & Kledir, a biografia". Aqui no blog, escrevo sobre assuntos diversos.