quarta-feira, janeiro 04, 2006

De Porto Alegre para o mundo

Em 1967, ingressei no Jardim de Infância da Escola Anexa ao Instituto de Educação, na José Bonifácio. Tenho alguma lembrança do primeiro dia de aula. Sentamos em mesas circulares e o colega ao meu lado tinha um nome estranho que, aos seis anos de idade, eu nunca tinha ouvido antes. Blauco? "Não, Glauco", ele me corrigiu. A professora nos mandou desenhar e eu, que nunca fui bom de traço, esbocei um monte de elipses e disse que era um "festival de disco voador". O Glauco na mesma hora reclamou: "Não existe festival de disco voador!" No ano anterior a outra professora tinha implicado com meu "cavalo cor de maravilha". Gente sem imaginação!

Fiquei no Anexo até o segundo semestre de 1970. Depois, fui para o Paula Soares. Por algum tempo, ainda mantive contato com alguns colegas da antiga escola, mas depois acabamos nos afastando. Em 1980, li no jornal que o grupo instrumental Hálito de Funcho estava com um novo pianista: Glauco Sagebin. Ora, o Glauco do Anexo? Eu nem sabia que ele tocava! Fui no show e falei com ele rapidamente, mas não tive certeza se ele lembrou de mim. Tínhamos sido amigos a ponto de ele ir na minha casa duas vezes, uma para um trabalho de grupo, outra para uma festa de aniversário, mas a forma hesitante como ele falou comigo me deixou em dúvida. Já estou acostumado com essas situações em razão de minha memória, segundo os outros, privilegiada. Basta dizer que, na Faculdade, reconheci dois ex-colegas do primeiro Jardim de Infância, ainda antes do Anexo. E não foi pelo nome.

Depois disso, Glauco passou a acompanhar músicos gaúchos de destaque como Nei Lisboa e Bebeto Alves. Em 1986, lançou um disco próprio, "Alto Cúmbia", com temas instrumentais. Transcorrido algum tempo, não ouvi mais falar nele. Mas, com a Internet, de vez em quando me divirto procurando nomes de gente conhecida no Google. Foi assim que achei uma menção a Glauco num site japonês, incluindo foto. Presumi que ele estava correndo o mundo como pianista, como fazem tantos outros músicos brasileiros. O mercado estrangeiro ainda tem espaço para a boa música brasileira. Confirmei mais tarde que ele morou no Japão nos anos 90. Recentemente, para minha surpresa, descobri que Glauco lançou um CD.

"When Baden Meets Trane" é um lançamento da Blue Toucan Music, selo americano especializado em jazz e bossa nova. A capa destaca também os nomes do baixista Santi Debriano e o baterista Paulo Braga. O CD contém as seguintes músicas:

1. When Baden Meets Trane (Glauco Sagebin) 4:23

2. Fascinating Rhythm (George & Ira Gershwin) 3:38
3. Olha Maria (A.C. Jobim, C. Buarque, V. de Morais) 3:40
4. Short Story (Glauco Sagebin) 5:38
5. Earlier Departure (Glauco Sagebin) 4:58
6. Villa (Glauco Sagebin) 5:52
7. Nada Como ter Amor (Carlos Lyra, Vinicious de Morais) 4:06
8. Luiza (Antonio Carlos Jobim) 7:25
9. Rio Negro (Glauco Sagebin) 4:06
10. Pra Dizer Adeus (Edu Lobo & Torquato Neto) 5:26
11. Laura (Johnny Mercer & David Raskin) 6:31

O site da Blue Toucan Music (em inglês, obviamente) traz mais informações sobre Glauco e o CD. Só contesto a informação de que ele iniciou sua carreira musical em São Paulo. Que eu saiba, foi em Porto Alegre, mesmo. Já dei uma olhada também em outros sites e constatei que o disco está sendo bastante elogiado. Na página da Amazon, um cliente pergunta: "Por onde esse cara andava?", estranhando nunca ter ouvido falar nele. Curiosamente, eu me fazia a mesma pergunta, mas por outro motivo.

A questão agora é como conseguir esse CD. Estou sem cartão de crédito em razão de meu acordo com o Credicard. O site da CD Point, que normalmente tem todos os CDs e DVDs lançados nos Estados Unidos, não inclui esse título. O jeito é recorrer à turma do "podemos encomendar". Talvez eles consigam. Estranho isso de ter que importar o CD de um músico daqui mesmo de Porto Alegre. Bom, não foi a primeira vez: o relançamento da Ana Mazzotti veio da Inglaterra. Isso me lembra quando Manfredo Fest foi entrevistado por Júlio Fürst em 1976 na Rádio Continental. Fest também era pianista porto-alegrense com carreira no exterior. Agora é a vez de Glauco Sagebin.

1 Comments:

Blogger Raul said...

Faz algumas semanas li na Zero Hora, na página de obituários, nota de falecimento de Glauco Sagebin ocorrida em NY. perguntei ao crítico musical Juarez Fonseca se sabia algo a respeito e disse que não. Não encontrei nada na web, a não ser um recado do pianista Paulo Calasans no My Space de Glauco, dizendo "boa viagem, meu amigo"... Enviei msg para Calasans, mas até agora não respondeu. Se alguém souber algo, por favor, avise. Grato.
Raul Boeira - Passo Fundo/RS
Em 23/12/2011
raulboeira@gmail.com

8:52 AM  

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