De novo
Quando Quintana faleceu em 1994, lembro de ter ouvido alguém dizer que não gostava dos versos do poeta, pois eles eram “sem sentido como pintura abstrata”. De fato, é preciso sensibilidade e inteligência para captar a genialidade de uma frase como “eles passarão, eu passarinho”. Do contrário, o sujeito lê e pensa: o que é isso? Que coisa mais sem pé nem cabeça! “Eu passarinho?” Parece o Tarzan falando!
Por isto os apócrifos fazem tanto sucesso: eles são fáceis. Qualquer um entende. Eles saciam a frustração de quem só conhece os grandes autores de nome, mas nunca conseguiu apreciar nenhuma de suas obras. De repente a pessoa se entusiama: “Achei um poema do Quintana que é do meu agrado!” Ou então: “Agora estou aprendendo a gostar de Luis Fernando Verissimo!”, Sim, porque os verdadeiros textos de Verissimo também não são de apelo imediato e exigem cérebro para serem desfrutados. Já os falsos caem no gosto do povão fácil como sorvete num dia de calor. É mais ou menos como ouvir Richard Clayderman e pensar que é Villa-Lobos.
Mas a luta continua.
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