quarta-feira, janeiro 11, 2006

Calor

Quando sinto um calor insuportável como este que está fazendo em Porto Alegre, eu me pergunto por que na infância e boa parte da adolescência a temperatura alta não me perturbava. Não tem nada a ver com o peso, pois a lembrança que eu tenho é que o calor começou a me fazer mal aos 20 e poucos anos, quando eu estava em forma. Recordo de uma tarde de fevereiro em que eu queria tirar uma sesta, mas estava quente demais. Eu não conseguia relaxar, que dirá pegar no sono. Fui no prédio da Receita Federal a pedido de meus pais e, quando estava para voltar, caiu uma chuvarada. E eu estava sem guarda-chuva. Meu primeiro pensamento foi: estou aqui perdendo tempo esperando a chuva passar quando poderia estar em casa aproveitando a queda de temperatura para dormir.

Em 1974, aos 13 anos, fui a Disney World, como já contei aqui várias vezes. Uma das lembranças que ficaram da viagem é que Miami era uma cidade estupidamente quente. Hoje vejo que Porto Alegre é igual e tento entender como só mais tarde fui perceber isso. É que, nos Estados Unidos, todos os ambientes são climatizados, o que acentua o contraste. Você sai do gelo do hotel para o forno da rua. Além disso, normalmente, eu ficava o verão todo na praia, janeiro e fevereiro. Nosso litoral tem uma temperatura bem mais amena, principalmente à noite. Basta abrir a janela e já entra um arzinho. Depois que comecei a trabalhar, acabaram as férias de dois meses. Aí o calor passou a incomodar.

A diferença entre Porto Alegre e uma cidade seca como Brasília, por exemplo, é que, num clima úmido, o calor vai atrás de você em qualquer lugar. Não adianta ficar na sombra, o “bafo” o persegue onde você estiver. Já precisei fazer viagens em ônibus intermunicipal em dias como hoje e foi um horror. Sei que ar condicionado sai caro, tanto na compra quanto no consumo de energia elétrica, mas não entendo como, num país como o Brasil, a refrigeração de ambientes ainda seja um luxo. Só há pouco tempo os ônibus de linha instalaram climatização e alguns hotéis ainda anunciam “quarto com ar condicionado” como um de seus diferenciais. De vez em quando ainda aparece alguém pra dizer que “ventilador de teto é suficiente”. Pra que, pra espalhar ar quente pelo quarto?

Sem dúvida, esse calor não foi feito para ser vivo agüentar. Imagino que, no tempo das cavernas, a ausência de asfalto tornava o clima mais ameno. Mas também não existia repelente de mosquito, então que remédio.