sábado, dezembro 31, 2005

Ano Novo

Em 2006 eu quero:

- proteção para não sofrer injustiças;

- saúde e energia para iniciar e continuar projetos;

- serenidade para tomar decisões certas, sempre colocando a mim mesmo e ao meu filho como prioridades;

- disposição e iniciativa para desfrutar das coisas que já comprei ou trouxe para perto de mim e ainda não achei tempo de aproveitar;

- ser vitorioso sem precisar derrotar ninguém.

Feliz Ano Novo aos visitantes do blog!

sexta-feira, dezembro 30, 2005

O mistério de Vincent Bell

Em 1970, um dos temas do filme "Aeroporto" foi gravado por Vincent Bell com um arranjo mais sofisticado e lançado como "Airport Love Theme". A gravação foi um sucesso, não apenas porque a melodia era bonita, mas também porque Bell criava um som diferente, novo, que não se sabia ao certo de que instrumento saía. Informado da existência de um LP, fui na King’s Discos em 1975 (eu tinha 14 anos) e perguntei: "Tem alguma coisa do Vincent Bell?" A vendedora disse que não. Experimentei acrescentar a informação: "É o que tocou o Aeroporto". Aí ela se achou e puxou e seguinte LP:
Comprei na hora. Não me arrependi. O disco todo era marcado por aquele som "aquático" que eu imaginava ser de algum tipo de teclado. Mas estranhei nunca mais ter encontrado nada, nem informações, sobre Vincent Bell. Na era da Internet, pesquisei no site All Music, que é a referência máxima sobre música na rede, e achei apenas uma citação rápida. Na discografia, constava apenas o LP que eu tinha comprado. Concluí que Bell, como solista, provavelmente não havia lançado mais nada, mesmo. Ainda assim, eu achava estranho.

Ontem, num fórum de discussão de música, encontrei um tópico sobre sons estranhos que aparecem em gravações e despertam a curiosidade sobre como foram criados. Citei "Airport Love Theme" e tive a resposta de que se tratava de uma cítara elétrica. Depois recebi a informação corrigida de que o som era obtido por meio de guitarra e um primitivo pedal wah-wah criado pelo próprio Vincent Bell nos anos 50. Mas, com a intenção de localizar a capa do LP "Airport Love Theme", fiz uma busca de imagens no Google e acabei descobrindo mais dois discos de Vincent Bell não listados no site da All Music:


"The Soundtronic Guitar of Vincent Bell" e detalhe de "Pop Goes The Electric Sitar".

Seguindo adiante em minha pesquisa, encontrei um site inteiramente dedicado ao músico. Talvez o que tenha me impedido de achá-lo antes é que o guitarrista também é conhecido como Vinnie Bell:

http://www.vinniebell.com

E ali, sim, apareceu um tesouro de informações. Mas, para minha decepção, não constava a discografia completa. Nem dos discos lançados em seu nome, nem daqueles de que participou. Do segundo caso até se entende: foram centenas, pelo que se constata na amostra apresentada. Bell era um ratão de estúdio e tocou em diversas gravações conhecidas, inclusive de Roberto Carlos. Nesta foto abaixo, por exemplo, ele aparece ao lado do baixista Paulo César Barros, ex-integrante de Renato e Seus Blue Caps e irmão de Renato, no dia em que eles participaram da gravação de "Ele Está Pra Chegar", do LP de 1981 de Roberto. Paulo César também é um requisitado músico de estúdio e um dos melhores baixistas do Brasil:
Bell também criou modelos exclusivos de guitarras que depois outros utilizaram. Fiquei entusiasmado quando vi um link onde dizia: "Clique aqui para conhecer o segredo do som aquático de Vincent Bell." Cliquei e vejam o que apareceu:

"Revelado o segredo do som subaquático de Vincent Bell. Ele grava em baixo d’água... Esta é uma foto rara tirada em seu estúdio cheio de água."

Piadinhas à parte, o site poderia dar informações mais precisas sobre o músico. A biografia é interessante e cita mais um disco, "Whistle Stop", que teria sido o primeiro. Um verdadeiro presente é a página de MP3, com oito músicas para baixar. Seria interessante se algum pesquisador, como Ron Furmanek, resgatasse a obra do músico para relançamento em CD.

Agora já sei mais sobre Vincent Bell. Por outro lado, continuo querendo descobrir quem é Arno Flor, que lançou com o Coral Santa Helena nos anos 70 o excelente disco "Sehnsucht Nach Der Heimat" com músicas em alemão apresentadas num estilo que lembra Ray Conniff. É outro que, a exemplo de Vincent Bell, representa um mistério para quem gostou do disco. Por que não lançou mais nada no mesmo estilo? Ou lançou? Qual sua obra? Um dia isso também será desvendado.
 P.S.: Conforme dica de "Discoteca do Johnny" nos comentários, existe também este disco creditado ao músico, com o nome de "Vinnie" Bell, lançado em 1969 - portanto antes do LP do Aeroporto. Como curiosidade, os dois álbuns têm uma música em comum: o tema do filme "Romeu e Julieta", também conhecido como "A Time for Us". E, por uma amostra que encontrei na Internet, parece ser a mesma gravação. Sempre achei que essa faixa destoava das demais no disco que eu tinha, sem aquele som "aquático", então agora está explicado o porquê: ela vinha de um trabalho anterior, com outra sonoridade. 

P.S. (2): Procurando por "Vincent Bell", encontram-se dois álbuns para venda via iTunes Store: Pop Goes the Electric Sitar e The Best of Vincent Bell. Buscando por "Vinnie Bell", acha-se o Good Morning Starshine, mostrado acima. Mas nenhum deles traz o som "aquático" que lembramos do tema do Aeroporto. Nem mesmo o "Best of", que não inclui as faixas mais conhecidas dos brasileiros.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Eu ouvi!

"O modo como as pessoas falam hoje pode determinar o futuro da língua oficial de amanhã."

Reportagem de TV sobre gíria. Pensando bem, o futuro da língua oficial de amanhã deve ser a língua oficial de depois de amanhã.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

E a novela continua

Encontrei mais dois apócrifos no site "Nosso São Paulo": "Felicidade Realista" como sendo de Mario Quintana (a autora correta é Martha Medeiros) e "Amigos" com autoria atribuída a Vinicius de Moraes (é do cronista gaúcho Paulo Sant’ana, que publicou o texto originalmente na Zero Hora). O site já foi avisado e inclusive enviei links e anexos para – espero – provar o erro de forma satisfatória.

Talvez vocês se perguntem por que insisto com esse site quando há tantos outros, centenas, espalhando essas mesmas assinaturas falsas. A diferença é que a maioria dos textos falsos se encontram em blogs, fotologs e páginas particulares que não têm a pretensão de serem fontes confiáveis de informação ou literatura. Já o "Nosso São Paulo" é um projeto criado pela Álamo Tecnologia, de Araraquara, com o objetivo de "proporcionar acesso fácil aos dados do estado de São Paulo e de sua CIDADE, com uma navegação agradável e rápida, tanto quanto possível, sem exceder no uso de recursos tecnológicos avançados, NÃO utilizando mecanismos de controle INTRUSIVOS, bem como permitindo que pequenos patrocinadores tenham acesso ao projeto e melhorem sensivelmente a visibilidade de seu negócio, através de uma política de preços coerente". Um site assim transmite credibilidade. E, por sua finalidade, não precisaria hospedar crônicas ou poemas. Mas já que optou por fazê-lo, deve ter mais cuidado ao verificar fontes e autorias. Já é difícil convencer os desavisados que o fato de terem encontrado um texto "num site sobre Quintana" (que pode ser apenas um blog) não valida a autoria. Agora imaginem num portal sério e organizado como esse.

Justiça se faça ao fato de eles terem dado o "benefício da dúvida" à minha informação sobre a Professora Renata Villela. Ao texto "Deficiências", acrescentaram a seguinte observação:

ERRATA: recebemos uma solicitação alegando que a real autora deste texto é a Professora Renata Villela. Infelizmente, não temos provas suficientes de tal alegação, nem mesmo o posicionamento da referida, portanto, solicitamos aos amigos deste portal que nos ajudem a consegui-las, pois neste projeto estaremos sempre buscando prestigiar os verdadeiros gênios do pensamento, sejam famosos ou ilustres desconhecidos, respeitando a autoria original.

Sou obrigado a concordar com eles que, realmente, não há provas da verdadeira autoria. O fato de o trecho citado fazer parte de um texto maior no
site da Escola Flor Amarela, por si só, não provaria nada. Nem o e-mail que a professora Renata me enviou. Mas acho que a desconfiança deles, pelo menos como demonstrada ontem, tem mais a ver com desconhecimento do estilo de Quintana e crença de que a autoria seja realmente dele. Eu já parti da premissa que ele não era o autor. Logo, se encontrei o texto em um site como o da Escola, entrei em contato e recebi um e-mail da Professora Renata confirmando que a autora era ela, não vi razões para duvidar. Se fosse um engodo, seria ao mesmo tempo muito bem feito e totalmente sem razão. Eu acredito na Professora. Se trabalhasse em algum jornal, divulgaria a informação sem medo, por minha conta e risco.

Não vai muito longe: a própria autora do "
Quase", Sarah Westphal Batista da Silva, até hoje não apresentou provas documentais de que o texto é realmente dela. Quando ela apareceu no Orkut, na comunidade de Luis Fernando Verissimo, com um tópico intitulado "Eu escrevi o Quase", muita gente não acreditou. Mas já se sabia, pelo estilo, que o texto não era do Verissimo. Eu examinei o perfil dela, li suas mensagens e concluí que ela deveria estar falando a verdade. Tempos depois o próprio Verissimo, em sua coluna, contou que recebeu em Paris uma coletânea de autores brasileiros traduzidos para o francês e o "Quase" acabou entrando com a assinatura dele. Foi a deixa para que Sarah o procurasse e, na coluna seguinte, ele próprio divulgou o nome dela. Depois disso ela foi notícia na imprensa gaúcha e catarinense, mas em momento algum apareceu "prova". Por outro lado, também não surgiu ninguém para contestar a afirmação.

Infelizmente a noção de que blogs e e-mails não são fontes confiáveis para literatura ainda não foi devidamente captada. Há pessoas que descobrem que tal texto não era de quem elas pensavam, mas acham que foi um caso isolado que "por azar" caiu na sua caixa postal e que os demais estão todos corretos. Tem gente que não entende e acha exagerado o postulado de que "nenhum texto recebido por e-mail é realmente de Luis Fernando Verissimo". Mas é o que se constata na prática. E existe até um pacto entre os conhecedores da verdadeira obra do escritor de não quebrar a regra, para facilitar o combate aos chamados "Falsíssimos".

P.S.: Acabo de verificar que o site corrigiu mais esses dois erros apontados. Obrigado.


(Divirta-se clicando nos vários links do texto acima.)

Meet Me in St. Louis

O primeiro filme em inglês sem legendas a gente nunca esquece. Pelo menos não o primeiro que se conseguiu entender.

Em 1979 o Cultural (Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano, de Porto Alegre, onde aprendi inglês) promoveu uma mostra gratuita de filmes antigos sem legendas. O primeiro deles, "Easter Parade", infelizmente não pude ver. Mas compareci à sessão do dia seguinte, em que exibiram "Meet Me in St. Louis" (lançado no Brasil com o título de "Agora Seremos Felizes"), de 1944. Eu daria nota 8 à minha compreensão, o que equivale a dizer que consegui entender 80% dos diálogos. Algumas cenas foram marcantes, como a garota cantando o tema do filme já na abertura, depois Judy Garland interpretando "The Boy Next Door", Judy sendo apresentada ao vizinho que tanto espiava e se fazendo de boba, "ele mora aqui, em St. Louis?", vários personagens provando uma colherada da sopa e dizendo "too sweet", "too sour", etc, e os fogos de artifício ao final, com Judy, feliz pelo cancelamento dos planos da família de mudar-se para Nova York (epa, contei o final!), dizendo, "tudo isso aqui, em St. Louis". No dia seguinte passou "The Pirate" e esse eu consegui entender bem melhor, uns 90% ou mais. Em compensação, numa nova mostra, o Cultural mostrou "Mean Streets", de 1973, com Robert de Niro, também sem legendas, e dessa vez o sotaque modernoso e caricato dos atores me deixou completamente perdido. Tempos depois aluguei o filme em vídeo sem nem lembrar que era o mesmo, só fui recordar lá pela metade, e percebi que minha compreensão não tinha melhorado muito. A pronúncia daquele filme, definitivamente, o meu ouvido não conseguia decifrar.

Uma pergunta que já me fizeram muitas vezes é se eu leio as legendas no cinema. Sim, leio. Comparar as legendas com a fala original é um hábito que fui adquirindo aos poucos na adolescência, à medida que meu inglês ia melhorando. Até porque geralmente a legenda entra uma fração de segundo antes da voz, então é possível prever o que vai ser dito. Mas, felizmente, não viciei em legendas. Em casa, quando vejo um filme em DVD sem companhia, faço questão de deixar somente o áudio original e fico até contrariado se o menu não traz essa opção (como já comentei aqui). Então, se possível, prefiro ver um filme sem as letrinhas intrusivas na base da imagem. Mas, se elas estão lá, eu as leio sem prejuízo do acompanhamento das falas em inglês.

Uma de minhas compras recentes foi justamente o filme "Meet Me in St. Louis" em DVD. Apenas comecei a olhar, mas as primeiras cenas já me transportaram para meus 18 anos, colocando à prova a minha compreensão de inglês falado no auditório do Cultural. E a qualidade da imagem é algo! Não entendo como os antigos usuários de videocassete podiam aceitar o verdadeiro lixo visual que eram as cópias oferecidas pelas locadoras. Até nisso foi preciso esperar a era do DVD para que o mercado de vídeo chegasse no estágio que eu queria desde o começo (como também já comentei aqui). Melhor que um DVD, só aquilo. E um DVD depois.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Resposta

Existe um site chamado "Nosso São Paulo" que, além de divulgar o projeto homônimo, aproveita para publicar alguns textos de autores conhecidos. Mas, como tantos outros, já foi vítima dos apócrifos, acreditando piamente que um texto recebido por e-mail é mesmo do autor indicado. Por conta disso, já teve que fazer pelo menos uma retificação, que foi no caso de Sérgio Jockymann e o texto do jornalista gaúcho que circula como sendo de Victor Hugo. Como eles também incluem o "Deficiências" (que nem ao menos tem esse título) com autoria de Mario Quintana, enviei-lhes um e-mail explicando que a verdadeira autora é Renata Villela, como visto no post anterior. Agora vejam a resposta que recebi:

Agradecemos pelo alerta, mas esta poesia nos foi enviada por fonte que nos parece ser fidedigna e a publicação referida (links abaixo) não comprova a autoria da pessoa indicada. Caso ela própria entre em contato conosco reivindicando esta autoria, com provas documentais, teremos imenso prazer em alterar nossa publicação, assim como já fizemos com outras poesias, atribuídas a Charles Chaplin, Victor Hugo, etc., pois respeitamos os direitos autorais.

A propósito, o "
Quase" também está lá ainda com assinatura de Luis Fernando Verissimo.

P.S.: Corrigiram o "Quase". Um apócrifo a menos na Internet.

A verdadeira autora

Mesmo sabendo que o tema não é do agrado de todos, este blog continuará na luta pela divulgação dos verdadeiros autores de textos que circulam pela Internet com assinatura falsa. E acabo de confirmar que o texto que todos conhecem com o nome de "Deficiências" é mesmo da "Professora Renata", tendo sido publicado originalmente no site da Escola Flor Amarela. Leiam-no na íntegra aqui. A parte final, como muitos de vocês identificarão, costuma ser divulgada como sendo um poema de Mario Quintana. Que não é do poeta gaúcho eu já sabia, mas queria verificar se a a professora Renata era a autora e saber o seu nome completo. Pois hoje recebi o seguinte e-mail:

Há meses recebi um e-mail dizendo que circulava na internet o texto que escrevi como sendo de autoria de Mario Quintana. Não levei a sério. Para falar a verdade, me senti até honrada. Porém, quando o Senado Federal lançou o Dia Nacional de Valorização da Pessoa com Deficiência e colocou o texto no folder de divulgação, fiquei preocupada e escrevi uma mensagem para o Senador Flávio Arns, pedindo que esclarecesse a autoria. Mas, como não obtive resposta, dei o caso por encerrado.

Não sei como podem ter atribuído algo tão amador ao grande Mario Quintana. Como o texto foi escrito no final de 1990 e Mario Quintana ainda era vivo, não posso nem ter psicografado. De qualquer modo, gostaria que divulgassem que é, sim, de minha autoria o texto atribuído ao Quintana.

Obrigada e que 2006 seja um ano repleto de paz.

Abraços,

Renata Villela

Renata, o fato de seu texto não ser o estilo do Quintana não significa que não seja bonito e verdadeiro. Eu tenho um filho autista e entendo bem cada palavra que você escreveu. E agora que sabemos a verdadeira autora, os elogios ao texto se estendem ao belo trabalho que você realiza na Escola Flor Amarela. Um ótimo Ano Novo para você também e muita força para prosseguir nesse ofício de amor por crianças tão especiais.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Duplo sentido

Está lá, na capa da Zero Hora: "O polêmico camelódromo suspenso". Pensei: puxa, mal aprovaram o projeto, já suspenderam? O que será que houve? Mas não, era "suspenso" no sentido de "elevado". Aí lembrei da música da Rita Lee: "Suspenderam os Jardins da Babilônia..."

domingo, dezembro 25, 2005

Recomendação

O cantor porto-alegrense Sasha Cavalcante passou 21 anos fora do Brasil, sendo 15 deles em Portugal. Mas sua experiência mais interessante foi na Rússia, na antiga União Soviética, para onde viajou em 1979 e lá residiu por vários anos, com bolsa de estudos. Ele está contando sua aventura no "Blog do Sasha Cavalcante", que pode e deve virar livro. Vale a pena ler, o Sasha não só escreve bem como sabe conduzir uma narrativa, prendendo a atenção e permitindo ao leitor saborear cada detalhe. Conheçam também o seu trabalho como músico em sua página da Trama.

sábado, dezembro 24, 2005

Rou, rou, rou

Não sei se a americanização que observo hoje é um fenômeno que começou há cerca de 20 anos ou já vinha num crescendo desde muito antes de eu nascer. Só sei que há expressões e culturas que antigamente só existiam nos Estados Unidos (e, conforme o caso, países de língua inglesa) que hoje já fazem parte do nosso cotidiano. Por muito tempo eu achei que "só eu" conhecia certos elementos da cultura americana, pelo fato de estudar inglês, ler revistas estrangeiras e, na adolescência, freqüentar o Cultural Americano. Mas hoje está tudo aí ao meu redor.

Quando foi lançado no Brasil o filme "Juventude Transviada", imagino que escolheram esse nome porque o original, "Rebel Without a Cause", não faria muito sentido por aqui. Hoje a expressão "rebelde sem causa" é de uso corrente e cairia até melhor do que o anacrônico título escolhido em português. Em 1978, na aula de inglês do cursinho (IPV, velhos e bons tempos), o professor Adroaldo Almir Endres teve que explicar aos alunos o que significava o termo "gay", que aparecia em um dos exercícios. Hoje não só se sabe o que quer dizer como mais um anglicismo foi incorporado ao português: "sair do armário" como sinônimo de "soltar a franga", "assumir a condição". Mais um pouco e estarão chamado "enrustido" de "armário" (closet).

Em outubro, minha faxineira disse com a maior naturalidade que o filho dela iria numa festa de Halloween. E pronunciou "ralouín", mesmo, sem se atrapalhar. Eu vim a saber desse evento no informativo do Cultural Americano quando me matriculei pela primeira vez em 1975. O Cultural, por razões óbvias, promovia Halloween todos os anos, mas fora dali ninguém sabia do que se tratava. Nos gibis da Luluzinha que eu lia na infância, a tradução era "Dia das Bruxas", mesmo. Hoje, pelo que eu sei, já tem criança brasileira brincando de "gostosuras ou travessuras", uma tradução adaptada de "tricks or treats". Só faltam as abóboras para serem esmagadas. Quando os americanos da Internet me perguntam se tem Halloween no Brasil eu fico sem saber o que responder.

Eu sou do tempo em que os cinemas ficavam na calçada e tinham um aviso de que era expressamente proibido entrar com amendoim ou pipocas. Hoje as pipocas são bem-vindas e os assentos já têm até o lugar próprio para a latinha de refrigerante. As crianças aprendem desde cedo o que é "shit", "fuck" e "motherfucker". Já nos anos 80 a Blitz queria passar um "weekend" com você. As ofertas são anunciadas como "sale" e os descontos com um enorme "OFF" na vitrine. Um dia desses eu estava conversando com uma amiga que não fala inglês e lá pelas tantas ela disse que estava "speechless" com o que eu tinha contado.

Ah, sim: na minha infância o Papai Noel não dizia "rou rou rou". Isso eu vim a aprender nos gibis e depois numa música de Natal de Elton John chamada "Ho Ho Ho (Who'd Be a Turkey at Christmas)". De repente, o "ho ho ho" do Papai Noel americano virou "rou rou rou" no Brasil. Ora, quem aqui ri assim? Que eu saiba, só a Ângela Ro Ro, que ganhou esse apelido por causa da risada. Mas agora o Papai Noel brasileiro também diz "rou rou rou" com sotaque americano e tudo. Então tá, né?


Feliz Natal a todos os visitantes do blog! Melhores desejos! Saudações da estação! Rou rou rou!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

A clandestinidade

Excelente o projeto da Prefeitura de criar um “camelódromo” no Terminal Rui Barbosa, entre a Voluntários da Pátria e a Mauá. Segundo a notícia publicada na Zero Hora, em matéria assinada por Aline Custódio, cada comerciante “ocupará um espaço de quatro metros quadrados contendo pontos de luz, água, esgoto e telefone”. A área terá ainda “praça de alimentação, sanitários, acesso para deficientes, sistema de segurança por câmeras de vídeo, policiamento e jardins descobertos”, além de “farmácia, restaurante popular e agência bancária”. O aluguel de cada espaço custará cerca de R$ 300 mensais.

Mas, se alguém acha que com isso os camelôs ilegais sairão do Centro, deveria pensar melhor. Certas coisas são o que são exatamente pela clandestinidade e as vantagens que ela proporciona. Desde que me conheço por gente ouço especulações sobre a legalização do jogo do bicho. Ora, como isso é possível? Credenciando bicheiros? Autorizando bancas particulares de apostas? A criação da Loto, da Sena e da Super Sena não ameaçou os jogos ilegais.

Quando os camelôs começaram a vender cópias em VCD de DVDs de música, as gravadoras brasileiras tiveram a brilhante idéia de lançar VCDs a preço mais baixo. Ressalte-se que o VCD é um formato que já existia antes do DVD, mas sua comercialização nunca pegou em larga escala. Alguns títulos saíram na Inglaterra e também como brindes de revistas e até na compra de computadores. Eu tenho um que veio com o Aptiva K30 que adquiri em 1995 e ele toca perfeitamente em meu DVD player. Com o surgimento do DVD e do CD gravável, o VCD teve um sopro de vida como mídia para cópias piratas de qualidade inferior. Mas no momento em que as gravadoras resolveram combater os piratas com suas próprias armas, os camelôs passaram a oferecer shows em DVD-R, com todos os recursos de um DVD normal. Sem contar que o preço de cerca de 20 reais por um VCD oficial está longe de ser vantajoso para quem se contenta com pirataria.

Agora imaginem se resolvessem legalizar o adultério. O marido diria para a esposa: “Hoje à noite vou chegar mais tarde porque vou visitar a minha amante.” “Mas como!”, ela responderia. “E acha que eu vou aceitar isso?” E ele, bem tranqüilo: “Claro que vai! Se não é mais ilegal, não é errado.” Ou então a poligamia. “Querida, hoje pedi minha secretária em casamento. Mas não se preocupe, eu e ela seremos um casal moderno, moraremos em casas separadas. Minha única esposa à moda antiga é você”.

Em suma, é difícil legalizar o ilegal. Sempre vai existir o oficial e o paralelo, o original e o similar, selado e alternativo, com nota e sem nota. Não estou defendendo a clandestinidade, apenas constato que é impossível acabar com ela numa penada. O que se pode e deve fazer é, de um lado, fiscalizar e coibir as práticas ilegais e, de outro, procurar formas de oferecer um produto mais atraente e competitivo dentro da legalidade. Quanto à poligamia, bom, aí é uma questão de princípios. Temos que amar nossas esposas sobre todas as mulheres, mesmo sabendo que há espécimes bem interessantes no prostíbulo de luxo da cidade.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Infância acumulada

Hoje minha namorada foi procurar um presente de Natal para o sobrinho dela. Entramos em uma loja de brinquedos e eu fiquei fascinado com o que vi. Em minha infância eu gostava de comprar bonecos dos meus heróis preferidos, mas eles não chegavam aos pés dos que existem hoje. Minha irmã começou a colecionar bonecas depois dos 40 anos. Se eu já não tivesse tanto lazer acumulado (CDs, DVDs e livros, muitos ainda não ouvidos/vistos/lidos) e orçamento limitado, começaria a gastar em brinquedos também. Para mim. Mas meu espírito consumista é oito ou oitenta: se for pra comprar só dois ou três, prefiro não comprar nada.

Mesmo assim, me arrependo de não ter adquirido os bonecos dos Beatles que saíram na época do relançamento do filme "Submarino Amarelo". Na verdade não cheguei a comprá-los porque na loja em que os vi, eles não tinham os quatro. Lembro da moça ligando para outra filial e chamado George Harrison de George Michael. Minha dúvida seria se eu tiraria ou não os bonecos da embalagem. Afinal, coleção é coleção. No exterior saiu também um boneco de Alice Cooper. Ouvi falar que iriam fazer um de David Bowie da fase Ziggy Stardust (1972/73), mas nunca mais tive notícia.

Mas os bonecos de super-heróis de hoje são bonitos demais. Já me deu vontade de comprar um Batman e um Homem-Aranha. O Demolidor eu achei que ficou muito diferente. Se fizessem um com a mesma roupa dos gibis, eu ficaria tentado. E os carros? Hoje, no impulso, quase levei uma miniatura do Batmóvel da televisão de 1966. Mas achei que os detalhes não estavam fiéis o bastante. Até não estava tão caro, mas se eu encontrasse na minha frente uma reprodução perfeita em escala, não me importaria com o preço. Às vezes dá vontade de ter também os modelos miniaturizados de carros antigos ou clássicos. Talvez para compensar o meu heróico Gol 89 de tantas batalhas.
Outra perdição são os bonecos de personagens Disney. A série Toy Story é tão perfeita que parece saída da tela do cinema. Mas bonitos mesmo são os caríssimos produtos Disney vendidos no exterior. Os chamados “colecionáveis” não são brinquedos, mas itens luxuosos para aficcionados. A réplica do trenzinho Casey Jr. que aparece acima custa a bagatela de 299 dólares e não inclui a base. Esses produtos em geral se encontram à venda nos parques temáticos Disney e também no site de vendas Disney Store.

Mas como não estou mais na infância, é melhor cair na real. Até porque tudo isso acaba custando uma fortuna. Mas alguns posters para colocar em meu apartamento eu vou me permitir procurar. Não de personagens infantis, é claro. Ora, sabe lá? Já me apaixonei uma vez por um poster de um dos primeiros desenhos animados do Mickey, mas acabei me contentando com cartões postais da mesma época. As fases da minha vida não se sucedem, elas acumulam.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Explicado

Agora entendi o porquê de o patê de fígado Sadia ter sumido das prateleiras. Leiam aqui. Este não é o primeiro caso de morte por consumo de patê no Brasil, mas da outra vez, se bem lembro, a culpa foi colocada na embalagem. E aquele tipo de acondicionamento de patês foi proibido no mesmo dia.

Eta vidinha complicada essa. Pra não correr risco de vida, a gente não pode transar sem camisinha nem comer patê de fígado Sadia. Mas tudo bem, a gente acostuma.

Perdas no Bread

Um fato pouco divulgado no começo do ano foi a morte do músico James Griffin, do Bread, no dia 11 de janeiro. Griffin não tinha tanto destaque no grupo quanto David Gates, com sua voz suave e sucessos mais conhecidos, mesmo assim fazia vocais solo e tinha muita força na interpretação. Sua voz se ouve em músicas como "Any Way You Want Me" e "Picture in Your Mind". Era também excelente compositor, tendo sido autor de "For All We Know", gravada, entre outros, pelos Carpenters.

Pois agora o ano termina com mais uma perda: morreu no dia 9 o baterista Mike Botts, também da formação original do Bread. A causa mortis de ambos foi câncer. Os ex-integrantes do grupo que continuam vivos são o guitarrista Robb Royer, o tecladista Larry Knetchel (que, antes de entrar para a banda, era músico de estúdio e já estava eternizado como o pianista na gravação original de "Bridge Over Troubled Waters", de Simon & Garfunkel) e o já citado David Gates.

P.S.: Como de vez em quando alguém ainda chega nesta postagem, acrescento a informação de que Larry Knetchel faleceu no dia 20 de agosto de 2009. No momento em que faço esta atualização (19 de novembro de 2024), os únicos membros vivos do Bread são David Gates e Robb Royer. 

segunda-feira, dezembro 19, 2005

DVD dos Bee Gees esgotado

Só hoje fiquei sabendo que o DVD "Live by Request", dos Bee Gees, que a Zero Hora colocou para venda nas bancas na sexta-feira, vendeu todas as suas 15 mil cópias. Como essa informação foi publicada pelo próprio jornal, alguns podem achar que ela não é merecedora de destaque e foi divulgada apenas para valorizar a promoção. Mas quem circula pelas bancas sabe que os DVDs da Zero Hora costumam sobrar. Vários títulos de semanas anteriores ainda podem ser conseguidos em diversos pontos de venda. Já o dos Bee Gees fez tanto sucesso que um novo lote será vendido no dia 2 de janeiro, para quem não conseguiu comprar da primeira vez. Acho que podemos dar parabéns à banda Sunset Riders que, com seu perfeito show de cover, ajuda a promover o trabalho dos Bee Gees em Porto Alegre.

Apenas por curiosidade, esse fato me fez lembrar de minha infância. Em 1969 uma edição de Zero Hora esgotou rapidamente porque trazia um poster do Topo Gigio, lembram dele? E a solução foi a mesma dos Bee Gees: reeditar. Alguns dias depois lá estava o ratinho de novo nas páginas centrais. Só que, no caso do DVD, houve uma diferença: ele era cobrado à parte e ninguém era obrigado a levá-lo para comprar o jornal.

P.S.: A Sunset Riders estará hoje (segunda-feira) às 21 horas na TV COM, no programa de Túlio Millman. E amanhã participarão do Gaúcha Entrevista com Ruy Carlos Ostermann na Rádio Gaúcha às 16 horas. Eles merecem esse destaque, pois muito do sucesso do DVD se deve a eles.

Praticidade

Sinto muito, mas acabo de escolher uma oficina para consertar meu carro (ou ao menos para fazer orçamento) pelo mesmo critério que uso para procurar médico e dentista: pelo endereço. Cansei de atravessar a cidade só para levar meu carro na oficina "de confiança" indicada por algum amigo. Muitas vezes essa relação de confiança começa justamente com a proximidade, então resolvi ser prático. Pior do que meu carro está eles não vão conseguir deixar.

domingo, dezembro 18, 2005

Detalhe

Só falta um detalhe para o Orkut ser o melhor site da Internet: funcionar. Fora isso, é perfeito. É mais ou menos como encontrar um carro sensacional, com o design dos seus sonhos, mas com um único defeito: não anda.

Bola de cristal

Só para dar uma testada nos meus "poderes", prevejo o seguinte: depois da crônica de Paulo Sant'ana no sábado, a Zero Hora vai receber uma enxurrada de cartas e e-mails indignados, sendo os mais contundentes da cidade de Dois Irmãos. Percebendo o estrago que fez com sua imagem, Sant'ana publicará um pedido de desculpas em sua coluna. Depois, se sua saúde permitir, irá até a cidade de Dois Irmãos para dar uma palestra a estudantes e ser entrevistado pessoalmente pelo repórter que ofendeu. Os dois terminarão abraçados, tudo acabará em pizza e no dia seguinte ele escreverá uma crônica emocionada contando tudo isso.

sábado, dezembro 17, 2005

Que feio, Sant'ana

Já disse aqui no blog que aprecio o estilo do Paulo Sant'ana na Zero Hora, embora nem sempre concorde com ele. Pois na coluna de hoje (sábado), acho que ele pisou na bola. Já faz tempo que ele vem falando nos chatos, um tema sem dúvida rico e fascinante de se explorar. Guilherme de Figueiredo escreveu um livro inteiro sobre o assunto, denominado "Tratado Geral dos Chatos". Mas até agora a abordagem do Sant'ana vinha sendo genérica e bem humorada. Hoje ele extrapolou.

No caso, o que aconteceu é que um repórter de uma revista de Dois Irmãos apareceu sem hora marcada para entrevistá-lo. Simplesmente telefonou para o jornal e comunicou que, numa pesquisa entre colégios da cidadezinha, Sant'ana havia sido escolhido como a personalidade que gostariam de ver entrevistada. E que já estava na estrada rumo a Porto Alegre e deveria chegar em vinte minutos. Conforme anunciado, vinte minutos depois lá estava o visitante entrevistando-o bem na hora em que Sant'ana precisava terminar sua coluna. O cronista ficou tão indignado que transcreveu a resposta que deu à primeira pergunta. Quem morreu que deveria ainda estar vivo? "Maurício Sirotsky. Mas quem ainda está vivo e deveria já estar morto para não andar incomodando quem trabalha: a pessoa que me entrevista neste momento".

Eu sei que não deve ser fácil ser famoso e aturar admiradores chatos. Mario Quintana vivia sendo procurado por jovens poetas que queriam uma opinião do mestre sobre seus trabalhos. Um dia, publicou uma lista genérica de conselhos, como quem diz: me deixem em paz. Certa vez eu andava pela Getúlio quando ouvi dois homens em frente a uma loja de ferragens falarem na apresentadora de televisão Vera Armando. Depois enxerguei por que: a própria vinha caminhando pela calçada. Quando ela passou em frente a eles, um deles, sem o menor constrangimento, interpelou-a: "Estava observando... não é a Vera Armando?" E ela, bem seca: "Não". E seguiu em frente.

Nesses casos, até achei que as atitudes tomadas foram corretas. Pessoas famosas são seres humanos como nós, com sua paciência finita e direito a oscilações de temperamento. Só penso que, quem aceitou ou até lutou por uma atividade que lhe traria fama e admiradores, tem que estar preparado para isso. Sim, existem os chatos. Mas não se deve usar o mesmo veículo que conquistou fãs para reclamar dos inconvenientes. Os ídolos não precisam ficar disponíveis 24 horas por dia para autógrafos, fotos, entrevistas ou longas conversas com desconhecidos. Mas têm obrigação, sim, de se manterem simpáticos. Faz parte do ofício.

Quando eu tinha as manhãs livres, dava minhas caminhadas pela Avenida Beira-Rio. De vez em quando encontrava por lá o profissional de televisão Roberto Appel. Ele sempre me cumprimentava. Não me conhecia, mas percebia que era reconhecido e retribuía com discrição. Assim também, há pouco tempo vi em um supermercado Carlos Araújo, que concorreu a Prefeito de Porto Alegre na eleição de 1988. Ele notou pelo meu olhar que eu lembrara dele e também me acenou com a cabeça, como bom político.


Em suma, nenhuma pessoa famosa, nenhum comunicador de destaque, tem o direito de reclamar publicamente do assédio constante de seus fãs. Esse tipo de queixa tem que ser feito na intimidade, na família ou entre colegas, jamais no próprio veículo que lhe trouxe notoriedade. A comunidade de Dois Irmãos manifestou sua admiração por Paulo Sant'ana e teve como retribuição uma agressão fulminante a um de seus moradores. Que feio, Sant'ana. Seus fãs merecem mais respeito. Se você gosta da fama, tem que aprender a conviver com os reveses que ela acarreta.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Boa notícia

Eu juro que não sabia de nada (daqui a pouco aquela brincadeira de que eu tenho poderes premonitórios, inventada pelos colegas da comunidade do Luis Fernando Verissimo no Orkut, vai começar a me subir à cabeça), mas meu sobrinho Rafael, do blog Patente de Idéias, acaba de me dar uma excelente notícia: vem aí o filme "Rocky Balboa", em que mais uma vez Sylvester Stallone faz o papel do cinderelo pugilista. Leiam aqui.

Pensamento da hora

Inteligência é o poder extra-sensorial de enxergar o óbvio.

Presentes

Fim-de-ano é tempo de Natal, festas e formaturas. É época de dar presentes.

É difícil escolher presentes. Eu acho, pelo menos. E sempre que ouço alguém dizer que é fácil, tenho a impressão de que é uma pessoa que compra qualquer coisa, sem nunca se preocupar em saber se agradou. Ou então nunca teve a experiência de ganhar um presente mal escolhido.

Em geral, só quem diz que "é fácil comprar presente pra mulher" são as próprias mulheres. Muitas não percebem que a mentalidade feminina é diferente da masculina. Isso sem contar as particularidades de cada indivíduo. Ninguém é igual a ninguém e cada um tem suas preferências.


No início eu achava estranho que existissem lojas anunciando seus produtos genericamente como "presentes". Mas hoje entendo. Existem mercadorias que parecem feitas sob medida para serem presenteadas.O design já tem cara de presente. São coisas que você não compraria para si, mas dadas por alguém especial, acompanhadas de um cartão, passam a ter valor. Hoje eu gosto de olhar com calma tudo o que se encontra em uma loja de presentes.

Um presente não precisa ser algo de que a pessoa esteja precisando ou que vá apreciar como se tivesse sido comprado por ela mesma. Eu, por exemplo, gosto de dar CDs. Mas nem sempre me preocupo em adivinhar o gosto do presenteado. Prefiro escolher como quem faz uma recomendação ou apresenta uma amostra da obra de algum grupo ou cantor. Não vou me iludir que a pessoa vá pensar "era exatamente isso que eu estava querendo" e venha a escutar o CD repetidas vezes. Mas se ouvi-lo pelo menos uma vez com atenção e, sempre que enxergá-lo em sua prateleira, lembrar que foi presente meu, o objetivo terá sido atingido.

Apesar da citada dificuldade na escolha de presentes, acho que um pouco de bom senso é recomendável. Às vezes vejo gafes incríveis e penso comigo mesmo que não custa usar a cabeça antes de fazer escolhas óbvias ou equivocadas. Claro que esses cuidados só dificultam a tarefa. Mas é melhor pensar antes do que pagar mico depois. Eis aqui alguns exemplos de presentes mal escolhidos:

Agenda para formando - É um presente útil, sem dúvida. Mas você acha que está sendo o primeiro a ter essa originalíssima idéia? Alguns formandos chegam a ganhar três ou quatro agendas e só usarão uma. No máximo.

CD do cantor preferido - "Fulana adora o Caetano Veloso, quem sabe a gente compra um CD para ela?" Se a Fulana adora o Caetano Veloso, escolher um CD dele é a forma mais certeira de encontrar um presente que ela já tenha.

Livro do autor preferido - Vale o mesmo raciocínio do CD. Em minha adolescência, tinha um amigo que adorava Agatha Christie. Aí, amigos comuns tiveram a brilhante idéia de comprar um livro dela para lhe dar de aniversário. Até que ele disfarçou bem quando abriu o pacote. Se tivessem me consultado antes, eu lhes teria avisado que ele já tinha. Casualmente ele havia me mostrado o livro alguns meses antes. Lembro até qual era: "Primeiros Casos de Poirot".

Bebida alcoólica para quem não bebe - Em plena fase abstêmia, ganhei um vinho de presente de formatura. E foi de um amigo que me conhecia bem e sabia de minha sobriedade. Talvez tenha imaginado que, como era uma ocasião especial, eu abriria uma exceção. Já tomei muitos porres, mas naquele momento o presente foi mal escolhido. Passei-o adiante.

Perfume - Nunca entendi essa falsa noção de que perfume é um presente sempre bem-vindo, que serve como último recurso quando não se sabe o que escolher. Perfume é algo muito pessoal e só deve ser dado pelo(a) namorado(a) ou cônjuge. Ou porque já conhece a preferência do presenteado, ou como escolha íntima, como quem diz: "quero sentir esse cheiro em você". Meu pai ganhava dezenas de perfumes em seu aniversário e não usava nenhum.

Roupa para criança - Para ela, é o mesmo que não ganhar nada. Certa vez ouvi uma história que ilustra bem a situação. Um garoto ganhou um pacote de Natal do seu padrinho e deixou-o de lado. "Não vai abrir?", perguntou o adulto. O menino respondeu: "Ah, eu já sei que tu sempre me dá roupa..." Claro que as crianças precisam se vestir, mas presente é carinho e os valores da infância devem ser respeitados.

A vantagem do "amigo secreto", ao menos da forma que se faz hoje, é que existe a "caixinha de recados" onde cada um escolhe o que quer ganhar. Mas muitas vezes nem assim adianta. Dar presentes é difícil, é complicado, mas não custa exercitar um mínimo de raciocínio na hora da escolha. Boa sorte e boas compras a todos.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

King Kong

Eu e minha namorada acabamos de chegar da pré-estréia do novo "King Kong". Preparem-se para ver um Kong saltitante e mais um monte de bichos nojentos. As cenas finais em Nova York antiga são belíssimas, mas é tudo por computador. O roteiro é uma adaptação do original de 1933, portanto não esperem ver como eles fazem para trazer um macaco tão grande num navio tão pequeno. Esse detalhe foi convenientemente omitido, como na versão dos anos 30. São três horas de filme. Poderia ser menos, não fossem as cenas desnecessariamente longas dos animais pré-históricos (e, como já foi dito, nojentos) da ilha. Mas a parte final é bem feita.

Rocky, um vencedor

Chegou a minha caixa da série "Rocky", com Sylvester Stallone. Agora que já garanti a minha, sinto-me à vontade para indicar: o melhor preço que encontrei foi na Submarino. Mas não custa dar uma conferida nas outras lojas.

Meu gosto por cinema não é refinado. Às vezes consigo apreciar um clássico como "Cidadão Kane" ou analisar a complexidade (ou não) de certos personagens, mas em geral quero mesmo é me divertir. Por isso, sou fã do pugilista Rocky Balboa, criação integral do ator e roteirista Sylvester Stallone. Rocky é o protótipo do bom sujeito: simples, bom caráter, perseverante, apaixonado e fiel à sua mulher. Os personagens secundários também conquistam a simpatia do espectador, como a introvertida esposa Adrian (Talia Shire) e o excêntrico treinador Mickey (Burgess Meredith).


A história de Rocky se confunde com a de Sylvester Stallone, que virou celebridade da noite para o dia. O ator não aceitou uma oferta para vender seu roteiro sem que ele próprio vivesse o papel principal. O filme ganhou o Oscar em 1976, mas nunca esqueci uma cena que vi em um documentário sobre os prêmios da Academia. No momento em que se anunciaria o melhor ator de 1976, Stallone aguarda com um indisfarçável sorriso de "já ganhei". Quando se ouve o nome de Peter Finch (que estrelou "Rede de Intrigas", mas faleceu antes da cerimônia, sendo o prêmio recebido por sua esposa), o astro de "Rocky" engole em seco e não esconde sua decepção.

A caixa traz os cinco filmes da série. Nota-se que os roteiros de Sylvester Stallone pecam por alguns clichês, mas isso acaba tornando as estórias ainda mais divertidas. Por exemplo, com relação às lutas, os personagens vão do desânimo ao entusiasmo total motivados por algum mero detalhe. A esposa Adrian é quem se encarrega de animar o marido quando ele pensa em desistir. Também é comum Rocky desviar o foco de seu objetivo principal até perceber o erro e retomar o rumo certo. Isso acontece tanto em sua carreira de lutador quanto no seu papel de pai em "Rocky V". Há também um certo exagero nas atitudes inesperadas de Apollo Creed, que aparece como inimigo nos dois primeiros filmes, depois aliado no terceiro e por fim decide voltar ao ringue na quarta produção. Claro, tudo em nome do entretenimento.

Nem todos os filmes da série "Rocky" foram bem aceitos pela crítica e nem todos as atuações de Sylvester Stallone foram bem sucedidas. Mas apesar das críticas de que ele é um ator limitado, que sempre faz o mesmo personagem com outro nome, eu simpatizo com o trabalho dele. Gosto também do primeiro "Rambo" (só do primeiro, First Blood no original) e também de "Condenação Brutal" (Lock Up). Mas nada se iguala à série "Rocky". O que estará fazendo hoje o personagem Rocky Balboa? Eu iria ver um "Rocky VI" sem pensar duas vezes.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Faz 30 anos

Na data de hoje, há 30 anos, eu tinha 15 anos recém feitos e amargava uma pequena frustração: não tinha conseguido ingresso para o grande jogo entre Internacional e Cruzeiro de Belo Horizonte, a final do Brasileirão no Beira-Rio. Pelo menos não onde eu queria, que era nas cadeiras. A julgar pela reclamação de alguns torcedores que apareceram na TV, o Internacional fez uma venda “direcionada” das cadeiras, liberando-as somente por indicação. Mas fiquei tranqüilo quando obtive uma informação extra-oficial de que a partida seria mostrada ao vivo pela televisão. À noite, no Fantástico, Cid Moreira disse que o jogo havia sido transmitido para todo o Brasil “menos para Porto Alegre”, mas não era verdade. Passou aqui também.

E como poderia ser diferente? O Beira-Rio lotou já pela manhã! No começo da tarde, não havia viv’alma naquele trecho da Borges de Medeiros que é caminho para o estádio, em direção à Padre Cacique. A cidade parou. Eu e uns amigos fomos visitar uma amiga nossa que morava na Cidade Baixa. Quando ainda estávamos na Duque de Caxias, vimos um ônibus em frente ao Hotel Everest. Depois o veículo partiu e um garoto veio caminhando próximo de nós segurando uma flâmula do Cruzeiro. “Aquele era o ônibus do Cruzeiro”, observou um de meus amigos.

A torcida confiava na vitória, mas era preciso ter cautela. Não se poderia subestimar um time que tinha Palhinha, Nelinho, Piazza e o goleiro Raul. Os mais velhos lembravam a Copa de 50 e recomendavam não comemorar antecipadamente. O cronista Sérgio da Costa Franco, na quarta página do Correio do Povo, intitulou sua coluna “Não me peçam o impossível”, dizendo que jamais conseguiria torcer para o Internacional. Mendes Ribeiro, na televisão, falou nos riscos do excesso de confiança, mas encerrou dizendo que ainda preferia que o clima fosse, sim, de otimismo. O fato é que, por melhor que tivesse sido a campanha do Inter no Campeonato, ainda pairava no ar uma sensação de que aquilo tudo era bom demais para ser verdade. E, no entanto, seria uma injustiça se não tivesse um final feliz.

Eu e meus amigos voltamos cedo da casa de nossa amiga e nos reunimos para ver o jogo na minha casa. Não lembro detalhes da partida, só o gol histórico no segundo tempo. Piazza aproximou-se de Valdomiro e o ponteiro se atirou no chão. O juiz Dulcídio Vanderlei Boschilia marcou falta. Depois João Saldanha escreveria que foi uma falta “sutil, quase imperceptível”. Que nada: o próprio Valdomiro hoje admite que se jogou. O chargista Marco Aurélio lançaria um livro de fotofofocas onde o jogador aparecia cumprimentando o juiz e dizendo “Seu Boschilia, obrigado pela falta!” Ele mesmo cobrou, cruzando para o zagueiro chileno Figueroa, que cabeceou para a rede. Estava selado o destino.

Quando o jogo terminou, eu e meus amigos saímos correndo pela rua, procurando um carnaval, uma festa, alguma coisa semelhante que imaginávamos estar acontecendo ali por perto. Mas eu morava no centro e não encontramos nada, só o cansaço que nos fez parar depois de alguns metros. À noite, o presidente do Cruzeiro apareceu na televisão furioso com a arbitragem. Já o goleiro Raul foi de uma elegância admirável, disse que o Inter merecia vencer por ter jogadores da qualidade de Falcão e outros que citou. No dia seguinte, no Jornal do Almoço, o gremista Paulo Sant’ana cantou o Hino do Internacional em homenagem ao arqui-rival. O colorado Sérgio Jockymann não disse uma palavra, só deixou a cortina tocando enquanto sorria e gesticulava.

O Inter voltaria a ser Campeão Brasileiro no ano seguinte, mas a vibração da primeira vez foi incomparável. Já em 1979 o título foi conquistado novamente, desta vez sem uma única derrota. Ainda assim, a lembrança que eu tenho é a de que o desempenho de 1975/76 foi superior, mesmo não tendo sido invicto. Hoje, com a tendência dos bons jogadores de saírem do Brasil, é praticamente impossível que o Inter volte a ter craques do nível de Falcão e Figueroa. Acho que vou começar a torcer para algum time europeu.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Boca Livre

Um dia desses estava escutando "Feito Mistério" com o Boca Livre e me deliciando naquele mar de vozes e violas. Meu primeiro pensamento foi de que não se faz mais música brasileira daquele jeito. Depois reconsiderei: não é que não se faça. É que o estilo ficou tão atrelado à época de seu surgimento que, feito por outro, soaria antiquado. Em outras palavras, só o Boca Livre pode fazer aquele tipo de música e não ser acusado de imitar o Boca Livre, se é que me entendem.

Certos estilos são monopólio de quem soube lançá-los na época certa. Músicas tipo Jorge Ben só Benjor consegue fazer. Bossa Nova é privilégio de Toquinho, Carlos Lyra, João Gilberto e outros. Imaginem um rock tipo Chuck Berry feito por outro que não Chuck Berry. Os modismos de teclados e bateria eletrônica soterraram a sonoridade natural dos anos 70, aqueles discos naturalmente "unplugged" de Crosby, Stills and Nash, America, Barca do Sol, Almôndegas e Boca Livre. Mas quanto bate a vontade de ouvir um som com jeito de Boca Livre, nada como o próprio Boca Livre.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

A propósito...

Não vou reinventar a roda. Leiam aqui o que escrevi no ano passado nesta mesma data.

Não te fresqueia, tchê!

Hoje Luis Fernando Verissimo abre sua crônica assim:

“Já contei, mais de uma vez, que comecei no jornalismo em Porto Alegre, em 1967, fazendo horóscopo. No velho Zero Hora, não confundir com o atual Zero Hora.”

Pô, Verissimo, qual é a tua? Eu me esforço aqui neste humilde blog para convencer os leitores de outros estados que eles estão todos errados quando dizem “o” Zero Hora e tu vens dar munição para o opositor? Tá, eu sei, tua coluna é nacional, publicada no Globo e mais não sei quantos outros jornais. Mas se existe alguém capaz de mudar essa mania que dói no ouvido, de os não-gaúchos dizerem “o” Zero Hora, esse alguém é tu, Verissimo. Definitivamente, passaste para o outro lado. Desertor!

Em parte, eu entendo. Minhas modestas colaborações para o International Magazine sofrem uma adaptação semelhante, pois o jornal é do Rio de Janeiro. Certa vez escrevi que, ao compor “I Saw Her Again”, John Phillips, de The Mamas and The Papas”, havia dado um crédito de co-autoria a seu colega de grupo Denny Doherty pela “guampada inspiradora”. Denny havia tido um caso com Michelle, esposa de John e também cantora do grupo. Depois pensei: será que os cariocas sabem o que é “guampada” ou “guampa”? Na dúvida, troquei por “chifrada”. Também citei as Casas da Banha em um texto sobre colecionadores de CDs. Sempre é bom manter em vista o público-alvo.

Mas me recuso a aceitar “o” Zero Hora como a concordância correta. O jornal é chamado pelos gaúchos de “a” Zero Hora por ter sucedido “à” Última Hora. Herdou o artigo feminino. Se todo o jornal fosse referido como “o” simplesmente por ser “o” jornal, então teríamos “o” Tribuna da Imprensa, “o” Gazeta Mercantil, “o” Folha da Tarde e assim por diante. E outros casos, também. A Ponte Preta seria “o” Ponte Preta, pois é “o” time. Ou “o” Portuguesa de Desportos.

Verissimo, pisaste na bola com essa. Acho que essa tua condição de escritor famoso em todo o Brasil está começando a subir à cabeça. Tu moras em Porto Alegre, bagual! Não te fresqueia, tchê! Daqui a pouco vais estar chamando sinaleira de “semáforo”, cordão da calçada de “meio-fio”, torrada de “misto quente” e o interlocutor de “você”! Ou vai dizer que o Analista de Bagé também diz “o” Zero Hora? Tô começando a desconfiar desse Analista...

domingo, dezembro 11, 2005

Relacionamento ideal

É incrível como o conceito de "relacionamento ideal" de cada indivíduo é influenciado pelo exemplo dos pais. O que se viu em casa, tanto o que foi bem aceito quanto o que se rejeitou, vem a pautar a busca do par perfeito na vida adulta. Sei que os psicólogos e psiquiatras já dissecaram cada milímetro desse fenômeno. Mas, como sou leigo nessa área, observo cada nova descoberta com um misto de fascínio e perplexidade.

Minha mãe, por exemplo, amava meu pai incondicionalmente. Ninguém era mais importante do que ele e ela jamais tomaria nenhuma decisão que o colocasse em segundo plano. Em compensação, era uma mulher dinâmica e profissionalmente independente. Formou-se em Odontologia um pouco mais tarde do que a média etária dos universitários e tinha amor e dedicação à sua profissão. Era uma pessoa culta, inteligente, com uma sensibilidade extraordinária. Hoje percebo que quero uma mulher assim para mim. E também tento imitar os bons exemplos de meu pai e evitar os ruins, embora muitos dos defeitos e qualidades dele estejam nos meus genes.

Por outro lado, constato que algumas mulheres tiveram pais à moda antiga, do tempo em que o homem sustentava a casa sozinho e proibia a mulher de trabalhar. Então, para elas, esse se tornou o modelo de casal ideal. Certa vez uma namorada minha comentou sobre uma amiga cujo marido não permitia que tivesse um emprego e completou: "Quem me dera encontrar um homem assim!" Para essa pessoa, a dominação e o tolhimento do homem sobre a mulher era vista como uma manifestação de amor. Assim também, conheci mulheres que se sentiam valorizadas se o homem demonstrasse por elas o mesmo ciúme doentio que seu pai sentira por sua mãe.

No caso de pais separados, a situação é bem mais delicada. Mulheres que tiveram uma relação conturbada com o pai acabam se tornando amargas com seus homens. Não têm exemplo a seguir, então vivem no conflito da atração e necessidade de afeto do sexo oposto versus mágoa e rancor da figura paterna que conheceram ou gostariam de ter conhecido. Essas acabam se apaixonando por homens complicados, problemáticos e infiéis, só para depois chamá-los de cafajestes e estender suas acusações a toda a classe masculina.

Enfim, o relacionamento ideal acontece quando duas pessoas se completam, encontrando uma na outra exatamente o que procuravam. Mas acho que, em pleno Século XXI, alguns conceitos poderiam ser revistos. O tempo em que mulher de verdade era a Amélia há muito já passou. A mulher do novo milênio é outra. Se precisarem de um nome para ela, já tenho: Irene. E estamos conversados.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

John Lennon

Na noite de 8 de dezembro de 1980, eu e meu amigo Paulo Brody fomos assistir a um show do fundo de greve dos professores da UFRGS. Havia uma fila imensa, pois os ingressos estavam baratíssimos (30 cruzeiros) e entre os muitos artistas gaúchos que iriam participar, estavam Kleiton e Kledir em franca ascensão. Inclusive, atrás de mim um cara ficava o tempo todo falando na "fila para o Kleiton e Kledir", como se somente a dupla fosse se apresentar. Mas eles cantaram só três músicas. Acabamos saindo mais cedo, pois o show coletivo foi bastante improvisado e um tanto amadorístico. Enquanto isso, nos Estados Unidos, um evento trágico estava para acontecer.

Na manhã do dia seguinte, comecei a dar uns telefonemas para convidar meus amigos para minha festa de aniversário. Meu amigo Frederico me falou que John Lennon tinha sido assassinado e o Japão estava indignado com o fato. Até hoje não sei explicar por que, mas algo (negação?) fez com que eu não desse à notícia a devida importância. Não é que eu não tenha acreditado, apenas não caiu a ficha. No telefonema seguinte, eu já tinha esquecido. Até que o Vinicius, num tom bem mais sério que o Frederico, me perguntou:

- Sabia que o John Lennon morreu?

Só então me dei conta: peraí, isso não é uma notícia qualquer, morreu John Lennon! Assim que desliguei o telefone, liguei a televisão. Estava passando o clip de "Stand by Me" no programa de Fernando Vieira, com algumas inserções em câmera lenta para dar dramaticidade. À noite, no Jornal Nacional, apareceram depoimentos de Pelé, Erasmo Carlos e Elis Regina. Erasmo chorava feito criança: "Com John Lennon eu aprendi o que era a paz!" Eu, como Beatlemaníaco desde a infância e fã de Lennon por toda a adolescência, fiquei bem impressionado. À noite, escrevi no meu diário:


09/12/80 – Terça-feira

Essa data vai entrar na história. É difícil aceitar o que aconteceu. A notícia se espalhou rapidamente e eu não me conformo. Tem gente, como Erasmo Carlos, que está chorando. E eu repito que custo a acreditar. Mas a verdade é que John Lennon foi assassinado. John Lennon está morto. Agora, mais do que nunca, o sonho acabou. Mas Lennon há de viver pela sua obra, com ou sem os Beatles. Talvez ele esteja no mundo que imaginou, sem países, sem religiões, sem nada por que morrer ou matar. Talvez ele esteja apenas dormindo, sonhando o sonho número nove. Talvez ele tenha seguido o seu caminho para o outro lado do universo. Ele foi para junto de Julia, sua mãe. Para ele, um revólver quente não foi a felicidade. Mas onde quer que ele esteja... ele está aqui.

"I read the news today, oh boy
About a lucky man who made the grade"
(A day in the life)

"Wherever you are, you are here.'
(You are here)

"Please don't wake me,
no, don't shake me
leave me where I am
I'm only sleeping."
(I'm only sleeping)

[Seguem-se duas páginas em branco.]

Alguns fazem um minuto de silêncio. Outros botam bandeira a meio pau. Eu deixo uma folha em branco em homenagem a John Lennon, o primeiro ex-Beatle a morrer.

A rigor, o "primeiro ex-Beatle a morrer" foi o baixista Stuart Stucliffe, mas na hora nem me lembrei desse detalhe. Referia-me à formação clássica de John, Paul, George e Ringo.

No dia seguinte, o chargista Marco Aurélio, da Zero Hora, desenhou John Lennon em cima de uma nuvem enquanto Jesus Cristo, com a mão em seu ombro, lhe dizia algo assim: "Sabe, John, se na minha vinda eu tivesse trazido uma guitarra, talvez tivesse sido mais fácil." A Rádio Gaúcha FM (freqüência 94.1, futura Atlântida), que tinha como slogan "uma rádio com alegria de viver", publicou um anúncio em homenagem a John e assinou "só hoje, uma rádio sem alegria de viver". Eu abri as anotações do meu diário nesse dia assim:

Só uma retificação: pelo horário de N.York, Lennon morreu às 23:30 de anteontem (01:30 de ontem, pelo horário de Brasília).

Por isso, para mim, o dia marcante é 9 e não 8. Segue a transcrição.

Eu confesso que a morte dele me deixa com um gosto amargo. Por que ele? Eu sei que os Beatles não viverão para sempre. Mas por que aos 40 anos? Por que na hora de recomeçar? O Imperial vai reprisar "Help". Ah, John Lennon... Lembro-me da primeira vez em que ouvi "Imagine", numa fita que tenho até hoje. E quantas vezes ouvi o LP "Mind Games" desde que o comprei em 74? Eu posso me considerar um fã autêntico. Já chorei pelos Beatles. Foi quando não pude ver "Os Reis do Ié Ié Ié" porque a censura era 10 anos. Eu tinha 5 ou 6 anos e tinha discos dos Beatles. Tinha fotos dos Beatles. Vi "Help" duas ou três vezes, naquela época. Hoje, tenho que aceitar a idéia de que John Lennon já está morto. Só me resta torcer para que percebam que ele foi, é e sempre será maior do que Elvis Presley, Jimi Hendrix e Janis Joplin.

No dia 12, completei 20 anos. No ano seguinte, comecei a trabalhar bem na semana em que a Somtrês lançou uma revista especial sobre John incluindo um disco com trechos da última entrevista. Então, de certa forma, a morte de John Lennon marcou o fim de minha adolescência e o começo da vida adulta. Hoje é curioso pensar que, sempre que olho para uma foto de John, estou enxergando alguém mais jovem do que eu.

Voltou

Pelo que andei vendo nas lojas virtuais, houve um reabastecimento da caixa de DVDs com os cinco filmes da série "Rocky". Bom saber.

Bons tempos

Esta é a capa da Zero Hora de 8 de dezembro de 1975, copiada da seção "Há 30 anos em ZH". Pra quem é colorado e tem quase 45 anos, é impossível não ser saudosista. Naquele tempo os bons jogadores brasileiros ficavam no Brasil. E o Inter tinha um time imbatível, insuperável, como nunca mais terá. Não me iludo. Aqueles bons tempos não voltam mais. Este jogo foi o clímax do bom desempenho do Internacional naquele campeonato. Dois a zero no Fluminense em pleno Maracanã. E poderia ter sido mais. Foi um banho de bola. Ali confirmou-se o que os torcedores e jornalistas já especulavam: o Internacional era o melhor time do Brasil. Seria uma injustiça se não fosse campeão. Considero esse jogo mais importante do que a vitória na final contra o Cruzeiro de Belo Horizonte.

Ficou na história a "chamada" que o técnico Rubens Minelli deu nos jogadores do Inter quando soube que Didi, treinador do Fluminense, já estava preocupado com a final e tinha encomendado o tape do jogo Santa Cruz x Cruzeiro em Recife. Deu certo. O time se encheu de brios e mandou no jogo. Dizem que, para os cariocas, o Maracanã viveu um novo 16 de julho de 1950. Exagero. Garanto que já esqueceram. Mas nós, colorados, sempre iremos lembrar.

A propósito...

Vou falar, sim, sobre John Lennon. Mas pra mim a data marcante foi 9 de dezembro, quando a notícia se espalhou. Aguardem.

Kleiton e Kledir e comentários em DVD

Ontem assisti a uma sessão para convidados do DVD de Kleiton e Kledir. Ali eles anunciaram que é o primeiro DVD de música a ser lançado no Brasil com comentários. Depois, confirmei com Kleiton que a fala dos dois não foi totalmente improvisada, embora eles consigam passar um clima de total espontaneidade. Kledir preparou um roteiro e Kleiton acrescentou algumas contribuições. O resultado é um papo informativo e gostoso de se ouvir.

Um detalhe que poucos sabem é que a inclusão de uma trilha sonora alternativa com comentários foi um recurso que começou não com o DVD, mas com o videodisco (“laserdisc”). A diferença é que só edições luxuosas (e caras) em videodisco continham comentários. Quem lançou esse conceito foi a empresa Voyager em sua “Criterion Collection”. A estréia foi com o “King Kong” original, que saiu numa versão especialíssima em 1984 com comentários do pesquisador Ronald Haver. Depois vieram mais títulos com extras e outras empresas começaram também a preparar edições especiais. Mas cada uma delas custava entre 70 e 100 dólares. Realmente, não eram para qualquer um.

Com a introdução do DVD, os extras se tornaram corriqueiros, praticamente obrigatórios. Em compensação, houve uma banalização dos comentários. Em alguns casos, percebe-se que os artistas apenas encontraram uma brecha em suas agendas para assistir novamente ao filme com um microfone de lapela registrando suas risadas, suspiros e tossidas – mas nenhuma informação substancial. Ou então o diretor parece que está falando para uma platéia de cegos, descrevendo tudo o que aparece na tela sem nada acrescentar. Também não faria mal pesquisar alguns dados com antecedência. Em “Ziggy Stardust, The Motion Picture”, de David Bowie, o produtor Tony Visconti (que não teve nenhum envolvimento no show, apenas remixou o áudio para relançamento) e o diretor D.A. Pennebaker se atrapalham com fatos e datas de forma constrangedora. Tony diz: “Uma dessas moças que estão ajudando David no camarim é a esposa de Mick Ronson, acho que é a loira”. Não, é a morena e se chama Suzi Fussey. Pennebaker lembra que a data do show foi “alguma coisa em julho” (3 de julho de 1973), Visconti recorda que as roupas usadas por David foram criadas por “um cara com K” (Kansai Yamamoto) e cita uma suposta briga entre David e Lou Reed como tendo acontecido antes do show (foi seis anos depois). Mario Quintana dizia que “um erro em bronze é um erro eterno”. Em DVD, também.

Então Kleiton e Kledir estão de parabéns. Capricharam não só no show, na montagem, na edição e no documentário, mas principalmente nos comentários. É uma delícia para quem é fã escutar a dupla contando suas histórias durante as músicas, como a da menina de 4 anos que disse que a letra de “Fonte da Saudade” estava errada. “Não é fecha a luz, apaga a porta, é fecha a porta e apaga a luz!” Ou o dia em que Kleiton cumprimentou o público de Aracaju dizendo que era “um prazer estar em Araçatuba”. Eles explicam também a letra de “Deu Pra Ti”, enfatizando que em Porto Alegre se diz “as guria”, mesmo, sem “s” no final, e também “tu foi” e “tu é”. Os irmãos Ramil merecem a condição que conquistaram de representantes musicais do Rio Grande do Sul no Brasil e no mundo. Tomara que este DVD faça o sucesso merecido e abra caminho para uma nova safra de músicas inéditas, que é o que os velhos fãs há muito esperam.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Matt Flinders

Dêem uma conferida nesta página:

http://www.mattflinders.ycn.com.au/

Aqui vocês encontrarão gravações do cantor Matt Flinders, uma espécie de Frank Sinatra da Austrália, para baixar em formato wma, com ótima qualidade. "Picking up Pebbles" é a música que fez sucesso em português com o título de "Adeus Solidão", na voz de Carmen Silva. Já "All of a Sudden" é a versão em inglês de "Tudo Passará", de Nelson Ned. Ned conta em seu livro que o primeiro a gravá-la foi Matt Monro, mas sem crédito ao verdadeiro autor. Graças à enorme popularidade do baixinho nos States, ele conseguiu provar a autoria, mas imagino que a maioria dos discos que saíram com a música em inglês deve estar sem crédito correto. Mas nós sabemos que é dele.

Faça você mesma

Não tem jeito. Minha namorada não conseguiu esconder a expressão de decepção quando eu disse que, no meu aniversário, iríamos jantar fora. Não adiantou eu argumentar que um restaurante é mais confortável, com garçom e ar condicionado. Ela queria fazer uma comidinha para mim e, invariavelmente, sentiu-se preterida. Nem eu nem ela estamos “morando bem” atualmente, de forma que nossas residências não seriam o local ideal para a comemoração. Pelo menos não na hora do jantar. Mas não adianta. Mais uma vez, ela se sentiu rejeitada como cozinheira (já escrevi sobre isso antes – leiam “Ciúme da comida”).

A solução seria criar restaurantes tipo “faça você mesmo”. Ou melhor: “faça você mesma”, já que é a mulher quem vai fazer. Os clientes pagariam uma taxa pelo uso do local, incluindo aluguel da cozinha, pratos, talheres, copos e o atendimento dos garçons. O restaurante só forneceria bebidas, que seriam pagas por fora. Aí, já que é tão importante e indispensável para certas mulheres cozinhar para seus homens, elas poderiam ir para a cozinha e preparar a refeição. Depois ela própria traria a comida à mesa, se quisesse, mas poderia contar com o auxílio dos garçons. E nem precisaria se preocupar em lavar a louça depois. Pronto! Juntar-se-ia o melhor dos dois mundos: o conforto e o aconchego de um restaurante com o carinho da comidinha feita pela mulher. E nós, homens, poderíamos desfrutar de toda a mordomia sem decepcionar mulheres que fazem questão de ir pra cozinha pra se sentirem importantes na vida da gente.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Síndrome de abstinência

Eu me rendo. Podem subir o preço à vontade, mas por favor, tragam de volta o patê de fígado Sadia! Não agüento mais comer bolachinhas secas!

Mercado de trabalho

Fechou uma fábrica da Azaléia em São Sebastião do Caí. Foram demitidos 800 funcionários. Num país como o Brasil, isso é grave. Uma tragédia.

Em 1980 eu estava cursando a Faculdade de Direito e me inscrevi no concurso do Banco do Brasil. Na época eu mantinha contato com missionários americanos para treinar meu inglês. Eles me perguntaram se o meu objetivo era trabalhar no banco apenas por seis meses. Quando respondi que não, que, se passasse, faria carreira lá dentro, acho que eles não entenderam. Por que um estudante de Direito quereria ingressar num banco?

Acabei entrando não no Banco do Brasil, mas em outra instituição. Em 1990, fiz um curso em que a maioria dos demais participantes era de empregados novos, que ainda estavam na base da pirâmide salarial. No intervalo, começaram a discutir as chances de buscar uma remuneração melhor em outra empresa. Um deles disse que estava pensando em fazer concurso para um tribunal, acho que era o TRT. Imaginei que, como estavam no setor de informática, não quereriam sair, pois é uma atividade muito cobiçada e alguns deles eram formados na área. Mas a eles importava o melhor salário.

Há pouco tempo, li o livro “Brazil: Life, Blood, Soul”, do inglês John Malathronas. Em suas andanças pelo país, John conheceu em Porto Alegre um bacharel em Direito que estava de malas prontas para se mudar para a Inglaterra. A atividade pretendida? Lavar pratos em restaurante. O autor não escondeu sua surpresa, mas o gaúcho explicou-lhe sobre as dificuldades de colocação no mercado local. E assim de vez em quando fico sabendo de outros brasileiros com curso superior que fazem planos de ir para o exterior entregar pizza, lavar cadáveres, trabalhar como camareiros ou garçons. E ainda falam com entusiasmo sobre o dinheiro que pretendem juntar, feito crianças deslumbradas com o mundo maravilhoso da economia estável.

Às vezes surgem concursos públicos em que a única exigência é curso superior, qualquer que seja. Seria um bom tema para uma reportagem de televisão. O repórter entrevistaria os candidatos na fila de inscrição fazendo basicamente três perguntas: 1) Em que você é formado? 2) Por que quer fazer este concurso? 3) Você sabe exatamente o trabalho que vai realizar se for aprovado? Na edição, poderiam ser mostrados apenas os casos mais curiosos e a matéria incluiria também o parecer de um orientador profissional.

Conclusão: o mercado de trabalho, no Brasil, é atípico. Existem, sim, heróis que se entregam de corpo e alma à profissão de seus sonhos. Ganham mal, sofrem privações, mas se sentem realizados. Aliás, alguns até ganham bem. Mas são exceções. Cada vez mais ouço dizer que a melhor faculdade é a de Direito porque é a que “abre mais chances para concursos”. Ou seja: vocação é detalhe, importante é conseguir um bom salário. Mesmo na faculdade de Jornalismo alguns professores nos alertavam para as dificuldades que enfrentaríamos. Dois deles chegaram a insinuar que havíamos cometido um erro na escolha da profissão.

No país do concurso público, feliz de quem pode fazer só o que gosta. Eu me considero privilegiado por conseguir conciliar mais de uma atividade. Ter emprego já é uma bênção. Que Deus proteja os 800 demitidos da Azaléia.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Fora de catálogo

Um comportamento de colecionador que talvez seja difícil de entender para quem não é do meio (epa!) é a pressa em comprar os lançamentos em CD e DVD. Por que não esperar? Os preços podem até baixar, não podem? Podem. E muitas vezes baixam bastante. Mas a frustração maior de qualquer colecionador é esperar demais para comprar algum item... e ele sair de catálogo! E isso acontece mais depressa do que se pensa.

Acho que faz menos de dois meses que vi na Saraiva várias unidades da caixa de DVDs com os cinco filmes da série “Rocky, um Lutador”. O preço estava ótimo, mas resolvi esperar. O momento não estava para extravagâncias. Resultado: a caixa sumiu das lojas. Na Internet, apenas um site de vendas ainda anuncia o produto, mas não pelo preço da Saraiva. Mesmo os DVDs avulsos já não se encontram todos e sairiam bem mais caros, além de não trazerem a bonita caixa para acondicioná-los.

De vez em quando, na comunidade do Kiss no Orkut, aparecem fãs desesperados, querendo saber onde encomendar o Acústico MTV do grupo. Não tem como. O DVD foi lançado nos primórdios do formato, quando o aparelho era ainda novidade, e saiu rapidamente de catálogo. Se aparecer alguém vendendo no Mercado Livre, deve ser cópia. E colecionador que se preze não se contenta com xerox. Um dia, com uma pontinha de culpa pelo gasto além da conta, comprei uma caixa de quatro DVDs importados dos Beatles, incluindo “Help”, “The Making of a Hard Day’s Night”, “First U.S. Visit” e “Magical Mystery Tour”. Sem que eu soubesse, estava adquirindo uma relíquia, pois saiu de catálogo rapidinho. Quem comprou, comprou. Outro golpe de sorte foi quando encontrei o “Submarino Amarelo” já em fase de final de estoque. Saiu de catálogo, também.

Um tipo de lançamento que costuma desaparecer bem depressa é reedição de música brasileira em CD. A primeira caixa do Gilberto Gil, com suas preciosidades, é tarefa de gincana encontrar. A série “Colecionador”, que relançou Tim Maia, Jorge Ben, Gal Costa, Fafá de Belém e outros, ficou menos de um ano nas lojas. Alguns nem chegam a ser distribuídos decentemente. Eu tive que encomendar pela Internet o CD “Mudança de Tempo”, do Terço, pois loja nenhuma tinha. E assim também não é fácil achar os CDs do Bixo da Seda, Moto Perpétuo, o primeiro dos Almôndegas, Barca do Sol e Gérson Conrad.

Certa vez, por sugestão de um amigo, comprei o CD importado de um grupo dos anos 60 chamado Left Banke. Adorei. Hoje o disquinho é raridade vendida por preços que oscilam entre 50 e 80 dólares. Quando o selo Savalla relançou o LP “Gaúchos em Hi-Fi”, do Grupo Farroupilha, a representante do selo em Porto Alegre nem sabia que todas as músicas do CD já tinham saído na coletânea “Presença de Conjunto Farroupilha”, de 1989. Muitos dos CDs que comprei entre 89 e o começo dos anos 90 estão hoje fora de catálogo. E aposto como muitos “ouvintes casuais” nem sabem da existência de vários CDs que foram lançados sem muito alarde, depois sumiram.

Por isso a pressa. Não dá pra esperar muito. Só quem é colecionador conhece a angústia de lembrar: “Ah, aquele CD estava ali, na minha frente, cheguei a pegá-lo na mão. Era só ter comprado. E agora ninguém tem mais.” Às vezes dá sorte de a gente ter uma segunda chance. Um item raro reaparece num sebo a preço não extorsivo e a gente compra na hora. Mas se a “mordida” é muito grande, a gente dispensa e continua se lamentando.

Pois bem: decidi esperar 2006 para comprar as duas caixas de DVDs do Chico Buarque e também o “Live 8”. Não acredito que baixem muito de preço. Meu objetivo é apenas distribuir melhor os meus gastos. Mas já sei que estou correndo um risco.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Curtas gaúchos em DVD

Muito legal a caixa de DVDs que está sendo lançada pela Casa de Cinema de Porto Alegre. Ela contém um DVD com curtas de Ana Luiza Azevedo, outro com trabalhos de Carlos Gerbase, outro para Jorge Furtado e um quarto para diretores diversos, intitulado "Outras Histórias". As mil primeiras edições trazem ainda um DVD bônus no volume de Jorge Furtado com duas produções exibidas pela Globo: "Anchietanos" (da série "Comédias da Vida Privada") e "Meia Encarnada Dura de Sangue" (da série "Brava Gente"). Entre os curtas, aparecem títulos bem familiares, como "Barbosa", "Deus ex-machina", "Sexo e Beethoven", "Ilha das Flores", "O Dia em que Dorival Encarou a Guarda" e "O Zeppelin Passou por Aqui". Alguns já tinham saído na fita VHS "Curta os Gaúchos". Mas dois detalhes chamam a atenção. Primeiro: os DVDs têm uma coloração azulada no lado que toca, o que significa que a mídia utilizada foi DVD-R. Tudo bem, o rótulo foi impresso com um aspecto bem profissional. Segundo: o filme "Barbosa", por ter sido dirigido conjuntamente por Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, consta nos dois DVDs, em duplicata. Será que foi só para não ferir egos ou os volumes serão vendidos separadamente no futuro?

Para comprar é só acessar o site da Casa de Cinema. O link direto para a caixa de DVDs está aqui.

P.S.: Embora tanto na caixa externa quanto na individual esteja escrito que um dos filmes no DVD de Carlos Gerbase é "Sexo e Beethoven", que seria o Super-8 de 1980 premiado no Festival de Gramado, o correto é "Sexo e Beethoven - o Reencontro", realizado em 1997 em 35mm. Essa informação só aparece no livreto que acompanha a caixa.

Toy Story totalmente digital

Há alguns anos, aluguei o DVD de "Toy Story" e me decepcionei. A qualidade de imagem deixava a desejar. É que o filme havia sido transferido para vídeo pelo método convencional de telecinagem, da película para o meio eletrônico. Já "Vida de Inseto" foi o primeiro desenho animado de computação gráfica a ser transposto para DVD diretamente dos arquivos digitais. O resultado foi extraordinário.

Agora "Toy Story" está sendo relançado numa edição especial de 10 anos com imagem restaurada. Desta vez foram utilizados os arquivos originais de computação gráfica, como já é o procedimento usual. Este vai valer a pena comprar.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Outra do baú

(Clique para aumentar.)

Dêem um desconto, eu estava longe do palco. De qualquer forma, esta foto histórica é do show de 15 anos que os Almôndegas fizeram em 1990 no L'Atmosphere. Da esquerda para a direita: Quico Castro Neves, Kledir, Zé Flávio, Kleiton, Pery Souza, Inacinho (baixista convidado, substituindo João Batista, que não pôde participar) e Gilnei Silveira. O baterista Fernando Pezão está escondido ao fundo. Agora torço para que a amiga que disse que me conseguiria uma cópia do show gravado do rádio não tenha esquecido de mim.

Comunidade do Uolkut

Vocês já devem ter ouvido falar no Uolkut, o site criado pelo Uol para rivalizar com o Orkut. Pois já existe lá uma comunidade sobre Luis Fernando Verissimo. O endereço é:

http://fernandoverissimo.comunidade.uolkut.com.br

Vejam o texto da apresentação:

"Essa comindade são para os fãs do verdadeiro Verissimo.Ahh muitos textos assinados como sendo dele mas são textos falsos.Se vc curti o verdadeiro Luis Fernando Verissimo essa é a comunidade.
NÃO SE SINTA OFENDIDO COM O TOM IRONICO POSSIVELMENTE USADO PELOS PARTICIPANTES!
Se vc tb estiver no orkut entra na comunidade mas legal de lá,desse escritor gaúcho http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=39826

regras:É proibido postar jogos,qualquer tópico que ñ se referir ao escritor será deletado.Nada de spam..."

Nasceu em trânsito

Minha namorada acaba de me contar uma história incrível. Ela estava voltando para casa no ônibus Rubem Berta quando, numa parada, uma grande quantidade de passageiros entrou pela porta de saída. No ônibus em que eles estavam, uma passageira começou a dar a luz. Todos tiveram que sair e o motorista tratou de levá-la às pressas para o hospital. Depois das mortes horríveis que aconteceram num ônibus no Rio de Janeiro, é ótimo saber que em um ônibus de Porto Alegre houve um nascimento.

A volta de Ruy Castro

Oba! Ruy Castro, talvez meu autor brasileiro preferido, voltou a lançar uma biografia de fôlego. No caso, de Carmen Miranda. Esta vai valer a pena ler.

Ruy seria o biógrafo ideal para os nossos dois reis, o da música e o do futebol. Infelizmente, o da música já o processou uma vez por uma matéria de revista e com certeza o escritor não irá mais avançar em terreno proibido. Mas a biografia de Pelé eu ainda acho que pode sair. No livro "Estrela Solitária", sobre Garrincha, Ruy conta uma história bem engraçada. Pelé estava fazendo suas primeiras viagens de avião. Os colegas o provocavam, perguntando se já tinha se acostumado a voar, só para ouvi-lo dizer: "Não. Eu não me adapito."

Vamos à Carmen!