sexta-feira, dezembro 16, 2005

Presentes

Fim-de-ano é tempo de Natal, festas e formaturas. É época de dar presentes.

É difícil escolher presentes. Eu acho, pelo menos. E sempre que ouço alguém dizer que é fácil, tenho a impressão de que é uma pessoa que compra qualquer coisa, sem nunca se preocupar em saber se agradou. Ou então nunca teve a experiência de ganhar um presente mal escolhido.

Em geral, só quem diz que "é fácil comprar presente pra mulher" são as próprias mulheres. Muitas não percebem que a mentalidade feminina é diferente da masculina. Isso sem contar as particularidades de cada indivíduo. Ninguém é igual a ninguém e cada um tem suas preferências.


No início eu achava estranho que existissem lojas anunciando seus produtos genericamente como "presentes". Mas hoje entendo. Existem mercadorias que parecem feitas sob medida para serem presenteadas.O design já tem cara de presente. São coisas que você não compraria para si, mas dadas por alguém especial, acompanhadas de um cartão, passam a ter valor. Hoje eu gosto de olhar com calma tudo o que se encontra em uma loja de presentes.

Um presente não precisa ser algo de que a pessoa esteja precisando ou que vá apreciar como se tivesse sido comprado por ela mesma. Eu, por exemplo, gosto de dar CDs. Mas nem sempre me preocupo em adivinhar o gosto do presenteado. Prefiro escolher como quem faz uma recomendação ou apresenta uma amostra da obra de algum grupo ou cantor. Não vou me iludir que a pessoa vá pensar "era exatamente isso que eu estava querendo" e venha a escutar o CD repetidas vezes. Mas se ouvi-lo pelo menos uma vez com atenção e, sempre que enxergá-lo em sua prateleira, lembrar que foi presente meu, o objetivo terá sido atingido.

Apesar da citada dificuldade na escolha de presentes, acho que um pouco de bom senso é recomendável. Às vezes vejo gafes incríveis e penso comigo mesmo que não custa usar a cabeça antes de fazer escolhas óbvias ou equivocadas. Claro que esses cuidados só dificultam a tarefa. Mas é melhor pensar antes do que pagar mico depois. Eis aqui alguns exemplos de presentes mal escolhidos:

Agenda para formando - É um presente útil, sem dúvida. Mas você acha que está sendo o primeiro a ter essa originalíssima idéia? Alguns formandos chegam a ganhar três ou quatro agendas e só usarão uma. No máximo.

CD do cantor preferido - "Fulana adora o Caetano Veloso, quem sabe a gente compra um CD para ela?" Se a Fulana adora o Caetano Veloso, escolher um CD dele é a forma mais certeira de encontrar um presente que ela já tenha.

Livro do autor preferido - Vale o mesmo raciocínio do CD. Em minha adolescência, tinha um amigo que adorava Agatha Christie. Aí, amigos comuns tiveram a brilhante idéia de comprar um livro dela para lhe dar de aniversário. Até que ele disfarçou bem quando abriu o pacote. Se tivessem me consultado antes, eu lhes teria avisado que ele já tinha. Casualmente ele havia me mostrado o livro alguns meses antes. Lembro até qual era: "Primeiros Casos de Poirot".

Bebida alcoólica para quem não bebe - Em plena fase abstêmia, ganhei um vinho de presente de formatura. E foi de um amigo que me conhecia bem e sabia de minha sobriedade. Talvez tenha imaginado que, como era uma ocasião especial, eu abriria uma exceção. Já tomei muitos porres, mas naquele momento o presente foi mal escolhido. Passei-o adiante.

Perfume - Nunca entendi essa falsa noção de que perfume é um presente sempre bem-vindo, que serve como último recurso quando não se sabe o que escolher. Perfume é algo muito pessoal e só deve ser dado pelo(a) namorado(a) ou cônjuge. Ou porque já conhece a preferência do presenteado, ou como escolha íntima, como quem diz: "quero sentir esse cheiro em você". Meu pai ganhava dezenas de perfumes em seu aniversário e não usava nenhum.

Roupa para criança - Para ela, é o mesmo que não ganhar nada. Certa vez ouvi uma história que ilustra bem a situação. Um garoto ganhou um pacote de Natal do seu padrinho e deixou-o de lado. "Não vai abrir?", perguntou o adulto. O menino respondeu: "Ah, eu já sei que tu sempre me dá roupa..." Claro que as crianças precisam se vestir, mas presente é carinho e os valores da infância devem ser respeitados.

A vantagem do "amigo secreto", ao menos da forma que se faz hoje, é que existe a "caixinha de recados" onde cada um escolhe o que quer ganhar. Mas muitas vezes nem assim adianta. Dar presentes é difícil, é complicado, mas não custa exercitar um mínimo de raciocínio na hora da escolha. Boa sorte e boas compras a todos.