segunda-feira, dezembro 12, 2005

Não te fresqueia, tchê!

Hoje Luis Fernando Verissimo abre sua crônica assim:

“Já contei, mais de uma vez, que comecei no jornalismo em Porto Alegre, em 1967, fazendo horóscopo. No velho Zero Hora, não confundir com o atual Zero Hora.”

Pô, Verissimo, qual é a tua? Eu me esforço aqui neste humilde blog para convencer os leitores de outros estados que eles estão todos errados quando dizem “o” Zero Hora e tu vens dar munição para o opositor? Tá, eu sei, tua coluna é nacional, publicada no Globo e mais não sei quantos outros jornais. Mas se existe alguém capaz de mudar essa mania que dói no ouvido, de os não-gaúchos dizerem “o” Zero Hora, esse alguém é tu, Verissimo. Definitivamente, passaste para o outro lado. Desertor!

Em parte, eu entendo. Minhas modestas colaborações para o International Magazine sofrem uma adaptação semelhante, pois o jornal é do Rio de Janeiro. Certa vez escrevi que, ao compor “I Saw Her Again”, John Phillips, de The Mamas and The Papas”, havia dado um crédito de co-autoria a seu colega de grupo Denny Doherty pela “guampada inspiradora”. Denny havia tido um caso com Michelle, esposa de John e também cantora do grupo. Depois pensei: será que os cariocas sabem o que é “guampada” ou “guampa”? Na dúvida, troquei por “chifrada”. Também citei as Casas da Banha em um texto sobre colecionadores de CDs. Sempre é bom manter em vista o público-alvo.

Mas me recuso a aceitar “o” Zero Hora como a concordância correta. O jornal é chamado pelos gaúchos de “a” Zero Hora por ter sucedido “à” Última Hora. Herdou o artigo feminino. Se todo o jornal fosse referido como “o” simplesmente por ser “o” jornal, então teríamos “o” Tribuna da Imprensa, “o” Gazeta Mercantil, “o” Folha da Tarde e assim por diante. E outros casos, também. A Ponte Preta seria “o” Ponte Preta, pois é “o” time. Ou “o” Portuguesa de Desportos.

Verissimo, pisaste na bola com essa. Acho que essa tua condição de escritor famoso em todo o Brasil está começando a subir à cabeça. Tu moras em Porto Alegre, bagual! Não te fresqueia, tchê! Daqui a pouco vais estar chamando sinaleira de “semáforo”, cordão da calçada de “meio-fio”, torrada de “misto quente” e o interlocutor de “você”! Ou vai dizer que o Analista de Bagé também diz “o” Zero Hora? Tô começando a desconfiar desse Analista...

1 Comments:

Blogger Saint-Clair Mello said...

Hihihi! Gostei da bronca, guri! Pegaste no pé do Verissimo. Mas tu tens alguma razão, bah!, com esta história do artigo antes dos títulos de publicação.
Viu como tente falar como vocês aí do sul. Sou fluminense, quase carioca.
Gostei muito do seu papo.

10:31 PM  

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