quinta-feira, dezembro 08, 2005

Kleiton e Kledir e comentários em DVD

Ontem assisti a uma sessão para convidados do DVD de Kleiton e Kledir. Ali eles anunciaram que é o primeiro DVD de música a ser lançado no Brasil com comentários. Depois, confirmei com Kleiton que a fala dos dois não foi totalmente improvisada, embora eles consigam passar um clima de total espontaneidade. Kledir preparou um roteiro e Kleiton acrescentou algumas contribuições. O resultado é um papo informativo e gostoso de se ouvir.

Um detalhe que poucos sabem é que a inclusão de uma trilha sonora alternativa com comentários foi um recurso que começou não com o DVD, mas com o videodisco (“laserdisc”). A diferença é que só edições luxuosas (e caras) em videodisco continham comentários. Quem lançou esse conceito foi a empresa Voyager em sua “Criterion Collection”. A estréia foi com o “King Kong” original, que saiu numa versão especialíssima em 1984 com comentários do pesquisador Ronald Haver. Depois vieram mais títulos com extras e outras empresas começaram também a preparar edições especiais. Mas cada uma delas custava entre 70 e 100 dólares. Realmente, não eram para qualquer um.

Com a introdução do DVD, os extras se tornaram corriqueiros, praticamente obrigatórios. Em compensação, houve uma banalização dos comentários. Em alguns casos, percebe-se que os artistas apenas encontraram uma brecha em suas agendas para assistir novamente ao filme com um microfone de lapela registrando suas risadas, suspiros e tossidas – mas nenhuma informação substancial. Ou então o diretor parece que está falando para uma platéia de cegos, descrevendo tudo o que aparece na tela sem nada acrescentar. Também não faria mal pesquisar alguns dados com antecedência. Em “Ziggy Stardust, The Motion Picture”, de David Bowie, o produtor Tony Visconti (que não teve nenhum envolvimento no show, apenas remixou o áudio para relançamento) e o diretor D.A. Pennebaker se atrapalham com fatos e datas de forma constrangedora. Tony diz: “Uma dessas moças que estão ajudando David no camarim é a esposa de Mick Ronson, acho que é a loira”. Não, é a morena e se chama Suzi Fussey. Pennebaker lembra que a data do show foi “alguma coisa em julho” (3 de julho de 1973), Visconti recorda que as roupas usadas por David foram criadas por “um cara com K” (Kansai Yamamoto) e cita uma suposta briga entre David e Lou Reed como tendo acontecido antes do show (foi seis anos depois). Mario Quintana dizia que “um erro em bronze é um erro eterno”. Em DVD, também.

Então Kleiton e Kledir estão de parabéns. Capricharam não só no show, na montagem, na edição e no documentário, mas principalmente nos comentários. É uma delícia para quem é fã escutar a dupla contando suas histórias durante as músicas, como a da menina de 4 anos que disse que a letra de “Fonte da Saudade” estava errada. “Não é fecha a luz, apaga a porta, é fecha a porta e apaga a luz!” Ou o dia em que Kleiton cumprimentou o público de Aracaju dizendo que era “um prazer estar em Araçatuba”. Eles explicam também a letra de “Deu Pra Ti”, enfatizando que em Porto Alegre se diz “as guria”, mesmo, sem “s” no final, e também “tu foi” e “tu é”. Os irmãos Ramil merecem a condição que conquistaram de representantes musicais do Rio Grande do Sul no Brasil e no mundo. Tomara que este DVD faça o sucesso merecido e abra caminho para uma nova safra de músicas inéditas, que é o que os velhos fãs há muito esperam.