sexta-feira, agosto 31, 2018
Não sei por que as pessoas em geral não gostam do mês de agosto. Eu não tenho nada contra. Houve uma época em que peguei implicância com setembro (como comentei no primeiro ano do Blog - leiam aqui), mas também é bobagem. Foi uma fase. Acho que, no momento, não tenho ranço com mês nenhum. Em todo o caso, agosto está terminando. Para mim, foi um mês bom.
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Muitas vezes me culpei por ter receio de fazer atualizações de software. De achar que podia acontecer algum problema. Sentia-me ao mesmo tempo medroso e incompetente. Pois cada vez mais concluo que é um medo plenamente justificado. Nessa semana precisei dar uma examinada em minha declaração de renda e, ao abrir o programa, apareceram caracteres verdadeiramente malucos. Depois descobri por que: é que eu tinha feito uma atualização de Java! De outra vez, as atualizações do sistema operacional me impediram de ligar normalmente o computador e eu tive que me valer do notebook para buscar auxílio. Por sorte, encontra-se quase tudo no YouTube. Tutoriais certeiros que informam a real solução do problema, ao contrário do que se verifica em manuais e mensagens de orientação do próprio software. Mas é ou não é para ficar paranoico?
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Há alguns dias digitalizei uma fita VHS que me foi repassada para copiar para DVD e me deparei com algo que sempre me irritou bastante nos velhos tempos do videocassete: efeitos totalmente supérfluos ou, mais do que isso, prejudiciais à visualização. Você está bem absorto revendo cenas do passado quando, de repente, a imagem gira como um cubo, ou se divide em duas mini-telas, ou é congelada gratuitamente enquanto o áudio prossegue. Lembrou-me das gravações em vídeo que contratei para registrar imagens do Iuri pequeninho em que eu tinha que implorar para ver somente o meu filho e não os recursos visuais da câmera ou da mesa de edição. Quanto amadorismo!
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Normalmente eu me entusiasmo com campanhas eleitorais, mais ainda para Presidente. E tenho consciência de que estamos passando por um momento crítico que os livros de História haverão de esmiuçar num futuro muito breve. Mas não tive ânimo de assistir a nenhum debate. Já a propaganda eleitoral gratuita eu vou conferir, como sempre. Achei que o PT encontrou uma solução salomônica ao lançar uma chapa tríplice encabeçada por Lula, mas com o "plano B" devidamente embutido. Entendo que o ex-Presidente se tornou inelegível no momento em que foi condenado em segunda instância, mas é bonito vê-lo liderar as pesquisas mesmo preso. Sinal de que o golpe não mudou a vontade do povo: sem o golpe, o PT venceria sua quinta eleição presidencial consecutiva. Quem sabe isso não se concretiza com Haddad.
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Nas aulas de História do IPV e do Universitário, sempre que o professor César Mantelli pedia "um exemplo de paixão", um engraçadinho respondia "Paixão Côrtes", achando que tinha feito uma piada originalíssima. Tão original que saía todos os anos. Pois o grande tradicionalista nos deixou. Esse ganhou uma estátua em vida. Foi ele o modelo do Laçador.
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Bom setembro a todos!domingo, agosto 26, 2018
Hélio Santisteban (Pholhas)
Odeio quando este Blog fica parecendo uma página de obituários, mas certos falecimentos eu não posso deixar de registrar. Morreu hoje, aos 69 anos, Hélio Santisteban, ex-vocalista e tecladista dos Pholhas. Já faz tempo que ele saiu do grupo, que segue sem ele, mas era ele quem cantava nas baladas de mais sucesso do conjunto nos anos 70, em especial "My Mistake" e "She Made Me Cry". No tempo do Orkut, na comunidade dos Pholhas, alguém postou um tópico com a inevitável pergunta: qual sua música preferida? Respondi "She Made Me Cry", acrescentando que era o tema do meu primeiro namoro. Dali a alguns dias, para minha surpresa. o próprio Hélio escreveu uma mensagem no meu mural dizendo que ficava feliz de saber o quanto o trabalho deles tinha sido importante para mim. Os Pholhas cantavam num inglês meio enrolado, às vezes, mas as canções eram bonitas. De vez em quando eles arriscavam uns rocks mais pesados. Nas lentinhas eles tinham influência de bandas estrangeiras como Bee Gees, Tin Tin, Hollies e outras. A voz de Hélio ficará eternizada nas gravações originais do grupo.
sábado, agosto 25, 2018
Claudiomiro (1950-2018)
Morreu hoje mais um jogador do meu time do Internacional do coração: Claudiomiro. De todos os que já partiram daquele tempo, ele é sem dúvida o que me deu mais alegrias. Quando ele fez o primeiro gol do Beira-Rio, em 1969, eu ainda não tinha sido contaminado pelo vírus do futebol. Isso aconteceria no ano seguinte, com a Copa 70. E aí passei a acompanhar os jogos do Inter. Claudiomiro teve uma rápida passagem pela Seleção Brasileira em 1971, convocado por Zagalo. Jogou em várias partidas e, para minha imensa felicidade, marcou um gol! Infelizmente, depois de uma lesão que o afastou de campo por um longo tempo, o centroavante começou a ter problemas de peso e nunca mais foi o mesmo. Mas, como eu tive chance de dizer a ele em 8 de maio de 2009 (leiam aqui), a torcida não o esquece. E ele respondeu, sem falsa modéstia: "Não pode esquecer, mesmo!" Obrigado por tudo, Claudiomiro!
quarta-feira, agosto 22, 2018
Mais lembranças musicais de adolescência
Eu tinha 13 ou 14 anos quando ouvi uma gravação que um amigo meu fez em pleno cinema. Se bem lembro, pelo que ele me falou, foi no Carlos Gomes. Não sei se ele assistiu ao filme duas vezes ou se foi o irmão que viu primeiro e pediu que ele gravasse. Foi a forma encontrada para registrar a música de abertura. De tempos em tempos ele tocava a fita e ficava pensando quem seria o intérprete. Achava o estilo parecido com o dos Bee Gees.
Na era da Internet, fica mais fácil tentar achar a tal música. O primeiro passo foi lembrar o nome do filme. Assassinato em que andar, mesmo? A incerteza quanto ao número levou o Google a me sugerir "Assassinato no 13º Andar". Mas esse é de 2012, então não poderia ser. Tentei lembrar a voz um tanto irritada do meu amigo quando lhe perguntei o título certa vez e ele respondeu: "Já me perguntou mil vezes, Assassinato no 17º andar!" Busquei por esse nome e achei uma ocorrência. Mas pelo menos o título foi confirmado.
O próximo passo foi vasculhar o acervo on-line da Folha de São Paulo. Eu queria descobrir o título original. Já tinha arriscado "Murder on the 17th Floor" no Google, mas não encontrei nada. No arquivo da Folha, só apareceram citações ao filme nas páginas de cinema, na época em que foi exibido. Voltei ao Google. Experimentei digitar o número cardinal e não ordinal, ou seja, "Assassinato no 17 Andar". Surgiu uma ocorrência com o seguinte nome entre parênteses: "OMICIDIO AL 17°. PIANO". Ah, então o filme é italiano? Foi o que pensei.
Fui ao IMDB, o banco de dados de filmes da Internet, e procurei pelo título encontrado. O site me indicou outro, em alemão: "Engel, die ihre Flügel verbrennen". Usei-o como argumento de busca no Google e achei ainda mais um nome, desta vez em inglês: "Angels With Burnt Wings". Mas a informação mais importante veio logo abaixo: música composta por Peter Thomas.
Ahá! Quem sabe agora não mato a charada no YouTube? Pesquisei o nome encontrado e um dos vídeos oferecidos foi o da música "Angels Who Burn Their Wings", da trilha sonora de "Angels With Burnt Wings".
Bingo! Aí está o tema do filme que eu tinha ouvido pela última vez há mais de 40 anos! E mesmo assim num áudio precário captado com microfone dentro de um cinema. Nunca esqueci a expressão "going mad", que era só o que eu conseguia entender. Estendendo minha pesquisa para a loja do iTunes, onde acabei comprando a música, encontrei crédito adicional para um tal de James Darvin. Será o cantor? Peter Thomas é regente de orquestra, autor de várias trilhas sonoras. Por fim, o site IMDB diz que o filme (de 1970) é austríaco, enquanto a Wikipedia indica a produção como sendo da Alemanha Ocidental.
Enfim, gostei do desafio. Tive que ir de "Assassinato no 17º Andar" até "Anjos com Asas Queimadas", passando pelos idiomas italiano e alemão, para encontrar o que eu queria. Meu amigo que tinha a fita é hoje Desembargador. Acho que vou lá no Tribunal interromper uma audiência dele para lhe passar essa importantíssima informação.
Na era da Internet, fica mais fácil tentar achar a tal música. O primeiro passo foi lembrar o nome do filme. Assassinato em que andar, mesmo? A incerteza quanto ao número levou o Google a me sugerir "Assassinato no 13º Andar". Mas esse é de 2012, então não poderia ser. Tentei lembrar a voz um tanto irritada do meu amigo quando lhe perguntei o título certa vez e ele respondeu: "Já me perguntou mil vezes, Assassinato no 17º andar!" Busquei por esse nome e achei uma ocorrência. Mas pelo menos o título foi confirmado.
O próximo passo foi vasculhar o acervo on-line da Folha de São Paulo. Eu queria descobrir o título original. Já tinha arriscado "Murder on the 17th Floor" no Google, mas não encontrei nada. No arquivo da Folha, só apareceram citações ao filme nas páginas de cinema, na época em que foi exibido. Voltei ao Google. Experimentei digitar o número cardinal e não ordinal, ou seja, "Assassinato no 17 Andar". Surgiu uma ocorrência com o seguinte nome entre parênteses: "OMICIDIO AL 17°. PIANO". Ah, então o filme é italiano? Foi o que pensei.
Fui ao IMDB, o banco de dados de filmes da Internet, e procurei pelo título encontrado. O site me indicou outro, em alemão: "Engel, die ihre Flügel verbrennen". Usei-o como argumento de busca no Google e achei ainda mais um nome, desta vez em inglês: "Angels With Burnt Wings". Mas a informação mais importante veio logo abaixo: música composta por Peter Thomas.
Ahá! Quem sabe agora não mato a charada no YouTube? Pesquisei o nome encontrado e um dos vídeos oferecidos foi o da música "Angels Who Burn Their Wings", da trilha sonora de "Angels With Burnt Wings".
Bingo! Aí está o tema do filme que eu tinha ouvido pela última vez há mais de 40 anos! E mesmo assim num áudio precário captado com microfone dentro de um cinema. Nunca esqueci a expressão "going mad", que era só o que eu conseguia entender. Estendendo minha pesquisa para a loja do iTunes, onde acabei comprando a música, encontrei crédito adicional para um tal de James Darvin. Será o cantor? Peter Thomas é regente de orquestra, autor de várias trilhas sonoras. Por fim, o site IMDB diz que o filme (de 1970) é austríaco, enquanto a Wikipedia indica a produção como sendo da Alemanha Ocidental.
Enfim, gostei do desafio. Tive que ir de "Assassinato no 17º Andar" até "Anjos com Asas Queimadas", passando pelos idiomas italiano e alemão, para encontrar o que eu queria. Meu amigo que tinha a fita é hoje Desembargador. Acho que vou lá no Tribunal interromper uma audiência dele para lhe passar essa importantíssima informação.
sexta-feira, agosto 17, 2018
Coincidência?
Nessa semana que passou, fiz uma série de exames de sangue, inclusive curva glicêmica, para ver como anda a saúde. Hoje recebo um telefonema me oferecendo serviços de cemitério e crematório. Fiquei assustado! Será que os laboratórios e hospitais estão disponibilizando informações? Não peguei os resultados ainda!
quarta-feira, agosto 15, 2018
O primeiro "Vivendo a Vida de Lee"
No último dia 13, completaram-se 43 anos do histórico "Concerto nº 1" da série "Vivendo a Vida de Lee". Eram shows coletivos promovidos pelo radialista Júlio Fürst, então na Rádio Continental, sob a alcunha de "Mr. Lee". Todas as noites ele divulgava talentos gaúchos na segunda meia-hora de seu programa "Mr. Lee em Concerto". Pouquíssimos artistas tinham disco lançado. A maioria das gravações era feita no estúdio dois da rádio ou nas apresentações ao vivo. Para comemorar a data, Júlio postou a imagem acima no Facebook.
Foi então que lembrei: eu tenho comigo uma amostra desse show que foi disponibilizada no Clicrbs em 2005, se não me engano. A ideia era clicar nos links e ouvir na hora, mas era possível baixar e salvar os arquivos mp3. Pelo visto, se mais alguém fez isso, guardou para si. Depois de procurar e concluir que os áudios não estavam mais disponíveis em nenhum site, juntei os dois arquivos num só, coloquei a imagem do cartaz postada pelo Júlio e subi tudo para o YouTube. Cliquem aqui para ouvir.
Será que um dia teremos como escutar esse registro completo? Seria maravilhoso!
Foi então que lembrei: eu tenho comigo uma amostra desse show que foi disponibilizada no Clicrbs em 2005, se não me engano. A ideia era clicar nos links e ouvir na hora, mas era possível baixar e salvar os arquivos mp3. Pelo visto, se mais alguém fez isso, guardou para si. Depois de procurar e concluir que os áudios não estavam mais disponíveis em nenhum site, juntei os dois arquivos num só, coloquei a imagem do cartaz postada pelo Júlio e subi tudo para o YouTube. Cliquem aqui para ouvir.
Será que um dia teremos como escutar esse registro completo? Seria maravilhoso!
sábado, agosto 11, 2018
sexta-feira, agosto 10, 2018
Guilherme Lamounier (1950-2018)
Mesmo com atraso, não posso deixar de registrar uma homenagem a Guilherme Lamounier, falecido no dia 7, aos 67 anos. Não me conformo que as matérias sobre ele o citem como "autor de sucessos de Fábio Jr." Não foi assim que eu conheci o trabalho dele e com certeza ele merecia um reconhecimento maior.
Em 1973, a Rádio Continental de Porto Alegre tocava em sua programação fixa a música "GB em Alto Relevo", de Guilherme Lamounier, com letra de Tibério Gaspar. Eu com 12 anos, mas já fissurado por música, achava interessante aquela balada cheia de imagens criativas: "Por fora dos limites da GB / estrada e Fenemê / deflorando a imensidão do país". Com certeza foi uma sacada do diretor de programação Marcus Aurélio Wesendonk selecionar essa faixa, pois a canção "de trabalho" era outra, "Será que eu pus um grilo na sua cabeça", que a rádio nunca tocou. Mas saiu em compacto. E no lado B estava a gravação que me conquistaria em definitivo. Ela tocou na Continental numa noite de dezembro de 1973, em que eu estava ouvindo o rádio-relógio de meus pais no quarto deles. Na introdução, o locutor anunciou: "Joia brasileira". Escutei uma verdadeira obra-prima de letra, melodia, interpretação e arranjo. Ao final, como era o padrão da Continental, foi anunciado o intérprete, autores e título da composição: "Guilherme Lamounier, dele e do Tibério Gaspar, Mini Neila" No outro dia, fui correndo procurar o disco. Por sorte, tinha em compacto. Comprei na hora.
Mas, no ano seguinte, alguém da turma conseguiu o LP, todo de parcerias de Guilherme com Tibério. E o disco tocou bastante em nossas inesquecíveis "reuniões dançantes" de 1974. As músicas eram lindas, uma melhor do que a outra. Além das já citadas, eu adorava "Telhados do Mundo" e "Capitão de Papel". Fiquei na expectativa da continuidade da carreira de Guilherme Lamounier. Aí, uma decepção: a nova música do cantor que ouvi na Continental foi a fraquinha "Vai atrás da vida, que ela te espera". Sem Tibério, Guilherme agora compunha letra e música, mas seus versos não chegavam aos pés do antigo parceiro.
Em 1975, voltei a ouvir Guilherme Lamounier nas rádios, agora com o hit "Enrosca". Era outra proposta, um romantismo direto e espontâneo, com bom resultado. Hoje a composição é mais lembrada pela gravação de Fábio Jr., mas o original é muito superior. Em 1978, Guilherme lançaria um LP pela Som Livre e ali estaria outra canção de futuro sucesso para Fábio Jr., "Seu Melhor Amigo". É curioso que as regravações tenham se eternizado enquanto os as versões de Guilherme sejam pouco conhecidas, pois o compositor, admitamos, era melhor e mais vigoroso como intérprete do que Fábio Jr.
Antes disso tudo, Guilherme Lamounier tinha um LP lançado pela Odeon em 1970, com produção de Carlos Imperial, de forma que sua obra completa se resumiu a três álbuns e alguns compactos. Considerando a maravilha que ele criou em 1973, é uma pena que não tenha se transformado no ídolo que tinha potencial para ser. O LP com Tibério Gaspar nunca foi relançado em CD, mas pode ser encontrado no YouTube. Leiam também o texto de Ricardo Schott sobre o disco no livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB".
Em 1973, a Rádio Continental de Porto Alegre tocava em sua programação fixa a música "GB em Alto Relevo", de Guilherme Lamounier, com letra de Tibério Gaspar. Eu com 12 anos, mas já fissurado por música, achava interessante aquela balada cheia de imagens criativas: "Por fora dos limites da GB / estrada e Fenemê / deflorando a imensidão do país". Com certeza foi uma sacada do diretor de programação Marcus Aurélio Wesendonk selecionar essa faixa, pois a canção "de trabalho" era outra, "Será que eu pus um grilo na sua cabeça", que a rádio nunca tocou. Mas saiu em compacto. E no lado B estava a gravação que me conquistaria em definitivo. Ela tocou na Continental numa noite de dezembro de 1973, em que eu estava ouvindo o rádio-relógio de meus pais no quarto deles. Na introdução, o locutor anunciou: "Joia brasileira". Escutei uma verdadeira obra-prima de letra, melodia, interpretação e arranjo. Ao final, como era o padrão da Continental, foi anunciado o intérprete, autores e título da composição: "Guilherme Lamounier, dele e do Tibério Gaspar, Mini Neila" No outro dia, fui correndo procurar o disco. Por sorte, tinha em compacto. Comprei na hora.
Mas, no ano seguinte, alguém da turma conseguiu o LP, todo de parcerias de Guilherme com Tibério. E o disco tocou bastante em nossas inesquecíveis "reuniões dançantes" de 1974. As músicas eram lindas, uma melhor do que a outra. Além das já citadas, eu adorava "Telhados do Mundo" e "Capitão de Papel". Fiquei na expectativa da continuidade da carreira de Guilherme Lamounier. Aí, uma decepção: a nova música do cantor que ouvi na Continental foi a fraquinha "Vai atrás da vida, que ela te espera". Sem Tibério, Guilherme agora compunha letra e música, mas seus versos não chegavam aos pés do antigo parceiro.
Em 1975, voltei a ouvir Guilherme Lamounier nas rádios, agora com o hit "Enrosca". Era outra proposta, um romantismo direto e espontâneo, com bom resultado. Hoje a composição é mais lembrada pela gravação de Fábio Jr., mas o original é muito superior. Em 1978, Guilherme lançaria um LP pela Som Livre e ali estaria outra canção de futuro sucesso para Fábio Jr., "Seu Melhor Amigo". É curioso que as regravações tenham se eternizado enquanto os as versões de Guilherme sejam pouco conhecidas, pois o compositor, admitamos, era melhor e mais vigoroso como intérprete do que Fábio Jr.
Antes disso tudo, Guilherme Lamounier tinha um LP lançado pela Odeon em 1970, com produção de Carlos Imperial, de forma que sua obra completa se resumiu a três álbuns e alguns compactos. Considerando a maravilha que ele criou em 1973, é uma pena que não tenha se transformado no ídolo que tinha potencial para ser. O LP com Tibério Gaspar nunca foi relançado em CD, mas pode ser encontrado no YouTube. Leiam também o texto de Ricardo Schott sobre o disco no livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB".
quinta-feira, agosto 09, 2018
Alan James: um belo álbum pop
A gravadora Discobertas, de Marcelo Fróes, é especializada em relançamentos e coletâneas, mas também aposta em novos talentos. E desta vez acerta em cheio com o primeiro álbum solo do carioca Alan James, ex-Geminianos. Despertar está disponível nas plataformas digitais desde o dia 3 e até o final do mês terá edição física em CD.
Alan cita Guilherme Arantes como uma de suas influências e isso já estava evidente em "Menina do Quintal", lançada em clip e faixa avulsa para download em outubro do ano passado. A música reaparece no álbum, mas tem muito mais. Despertar abre num ótimo clima de rock com "Baby Let's Go", parceria e dueto de Alan com R-Vox e guitarra base de Luiz Lopez, músico que acompanha Erasmo Carlos e é co-produtor do disco. "Uma Estrada Melhor" e "Outro Lugar" têm uma levada mais pop, a segunda em especial lembrando "Year of the Cat", de Al Stewart. "Bem Aqui" resgata o clima dos primeiros tempos do Chicago, com sopros de metal (e também flautas) de Marcelo Cebukin. "Terno e Eterno" é uma declaração de amor feita não com suavidade, mas com grandiloquência, gritando o sentimento aos quatro ventos.
Além das canções citadas - todas com jeito de sucesso, se ainda houver espaço na mídia - completam o álbum "Dama da Noite", "Amplificar Sentimentos" (outro hit em potencial), "Tudo que Sei", "Uma Nova Esperança", a instrumental "Visconde de Mauá" e uma reprise curtinha, também instrumental, de "Menina no Quintal". O forte de Alan parece ser o teclado, mas ele ainda toca baixo em todas as faixas e, eventualmente, guitarra. Sem se deixar contaminar por modernismos, o multi-instrumentista sintetizou influências da boa música pop do passado e criou um belo trabalho. Os arranjos estão perfeitos e as melodias grudam no ouvido. Recomendado.
Alan cita Guilherme Arantes como uma de suas influências e isso já estava evidente em "Menina do Quintal", lançada em clip e faixa avulsa para download em outubro do ano passado. A música reaparece no álbum, mas tem muito mais. Despertar abre num ótimo clima de rock com "Baby Let's Go", parceria e dueto de Alan com R-Vox e guitarra base de Luiz Lopez, músico que acompanha Erasmo Carlos e é co-produtor do disco. "Uma Estrada Melhor" e "Outro Lugar" têm uma levada mais pop, a segunda em especial lembrando "Year of the Cat", de Al Stewart. "Bem Aqui" resgata o clima dos primeiros tempos do Chicago, com sopros de metal (e também flautas) de Marcelo Cebukin. "Terno e Eterno" é uma declaração de amor feita não com suavidade, mas com grandiloquência, gritando o sentimento aos quatro ventos.
Além das canções citadas - todas com jeito de sucesso, se ainda houver espaço na mídia - completam o álbum "Dama da Noite", "Amplificar Sentimentos" (outro hit em potencial), "Tudo que Sei", "Uma Nova Esperança", a instrumental "Visconde de Mauá" e uma reprise curtinha, também instrumental, de "Menina no Quintal". O forte de Alan parece ser o teclado, mas ele ainda toca baixo em todas as faixas e, eventualmente, guitarra. Sem se deixar contaminar por modernismos, o multi-instrumentista sintetizou influências da boa música pop do passado e criou um belo trabalho. Os arranjos estão perfeitos e as melodias grudam no ouvido. Recomendado.
sábado, agosto 04, 2018
Manifestação no centro de Porto Alegre
Como já aconteceu em outras cidades brasileiras, hoje foi o dia de Porto Alegre manifestar o seu apoio a Lula. Pontualmente ao meio-dia, no Mercado Público, ouviu-se a tradicional melodia "olê, olê-olê-olá" tocada em sopros de metal. Era a deixa para que a multidão cantasse o nome do ex-Presidente. Também houve gritos de "Lula Livre" e "Brasil urgente, Lula Presidente".
Um dos músicos participantes foi o lendário King Jim, saxofonista de bandas como Garotos da Rua e Cactus Jack. Depois de pouco mais de cinco minutos dentro do Mercado, os manifestantes foram saindo e seguiram pelo centro de Porto Alegre. Rumaram pela Borges até a Esquina Democrática e de lá foram pela Rua da Praia até a esquina da Caldas Júnior.
Houve algumas paradas estratégicas no percurso, como em frente às Americanas e à Praça da Alfândega, Ao final, o grupo já estava reduzido, pois nem todos percorreram o trajeto inteiro.
Os relógios marcavam 12 e 35 quando a manifestação finalmente se encerrou à beira da Rua Caldas Júnior. O recado foi dado. Pessoalmente, sou a favor de um plano B para o PT na eleição presidencial, mas isso não muda meu apoio a Lula em sua condenação totalmente sem provas.
sexta-feira, agosto 03, 2018
E ainda mais David Bowie ao vivo
Welcome to the Blackout, de certa forma, é um lançamento "irmão" de Cracked Actor, feito no ano passado (como comentei aqui). Ambos saíram primeiro em vinil como parte do Record Store Day, até ganharem edição em CD duplo posteriormente. Ambos contêm antigos shows de David Bowie até então inéditos, mas conhecidos pelos colecionadores em discos não autorizados (os chamados "bootlegs"). Ambos pertencem a turnês que já tinham rendido lançamentos ao vivo de shows anteriores dos mesmos anos respectivos. Cracked Actor era de 1974 e tinha quase o mesmo repertório de David Live, lançado na época. Pois agora Welcome to the Blackout tem um set list quase idêntico ao de Stage, de 1978. E o que é melhor para nós: está sendo lançado no Brasil.
Embora tenha músicas a mais do que Stage - no caso, "Sound and Vision", tocada apenas no último show no Earls Court, em Londres (e já lançada em 1995 na coletânea de raridades Rarestonebowie) e "Rebel Rebel", o álbum perde no quesito qualidade de som. E nem teria como competir, já que o anterior havia sido especialmente gravado e mixado para lançamento ao vivo. Este vem de uma fita que existia com qualidade suficiente para edição oficial e assim foi aproveitada. Outra diferença é a execução um pouco mais lenta da instrumental "Speed of Life", aproximando-se do original de estúdio. Mas, considerando a disponibilidade e a diversidade do material, é um álbum mais do que recomendado. As fotos e vídeos da época disponíveis no YouTube mostram um Bowie bem mais saudável e tranquilo do que o de 1976, apenas dois anos antes, em que o cantor ainda estava em uso compulsivo de cocaína.
Por fim, lamenta-se que até hoje não tenha sido lançado o filme que o diretor David Hemmings foi chamado para fazer desses últimos shows no Earls Court. Bowie não teria ficado satisfeito com o resultado. Mas, dado o valor histórico, seria o momento de procurar uma boa matriz e tratar de lançar o registro nos cinemas e, posteriormente, em Blu-ray. Torçamos por isso.
Embora tenha músicas a mais do que Stage - no caso, "Sound and Vision", tocada apenas no último show no Earls Court, em Londres (e já lançada em 1995 na coletânea de raridades Rarestonebowie) e "Rebel Rebel", o álbum perde no quesito qualidade de som. E nem teria como competir, já que o anterior havia sido especialmente gravado e mixado para lançamento ao vivo. Este vem de uma fita que existia com qualidade suficiente para edição oficial e assim foi aproveitada. Outra diferença é a execução um pouco mais lenta da instrumental "Speed of Life", aproximando-se do original de estúdio. Mas, considerando a disponibilidade e a diversidade do material, é um álbum mais do que recomendado. As fotos e vídeos da época disponíveis no YouTube mostram um Bowie bem mais saudável e tranquilo do que o de 1976, apenas dois anos antes, em que o cantor ainda estava em uso compulsivo de cocaína.
Por fim, lamenta-se que até hoje não tenha sido lançado o filme que o diretor David Hemmings foi chamado para fazer desses últimos shows no Earls Court. Bowie não teria ficado satisfeito com o resultado. Mas, dado o valor histórico, seria o momento de procurar uma boa matriz e tratar de lançar o registro nos cinemas e, posteriormente, em Blu-ray. Torçamos por isso.