Quem hoje vê a fartura de filmes e vídeos dos Beatles disponíveis em DVD e no YouTube não imagina a escassez que os fãs brasileiros amargavam nos anos 60. Eu era criança e ainda assim lembro bem. E minha lembrança foi confirmada por Lizzie Bravo (a brasileira que fez backing vocal para os Beatles na primeira versão de "Across the Universe") em entrevista que deu a uma rádio americana. Ed Sullivan Show, Shea Stadium, Budokan, clips, nada disso chegava às emissoras do Brasil. Era como se não existisse. Então, como bem contou Lizzie, a única forma de os fãs brasileiros verem os Beatles "em movimento" era nos filmes.
Eu tinha cinco anos quando assisti a "Help!" na semana do lançamento em Porto Alegre. Foi o mais próximo que o Brasil chegou da Beatlemania. E algo de que nunca esqueci foram as garotas gritando: "RINGOOOOO..." Com que idade elas estarão hoje? Mais de 60, com certeza. Mas, se quiserem, poderão gritar novamente, desta vez ao vivo, no Gigantinho.
Ringo foi o primeiro (e, por algum tempo, o único) dos Beatles de quem aprendi o nome. Só quando saíram as figurinhas dos quatro integrantes na revista Intervalo é que eu fui saber que os outros eram John Lennon, Paul McCartney e George Harrison (chamado no Brasil de "Jorge Árrisson" pelos fãs da época). O baterista narigudo entrou para o grupo às portas do megassucesso. E criou um estilo. Assim como existem cantores de voz limitada, mas com uma interpretação marcante e pessoal, Ringo tem personalidade para tocar. Não sabe rufar, não faz grandes firulas nos tambores, mas sua batida firme e seca se tornou marca registrada dos Beatles. Não por acaso, John Lennon fez questão de chamá-lo para tocar nos discos solo dele e de Yoko em 1970, ambos chamados de Plastic Ono Band.
Com o fim dos Beatles, Ringo demorou algum tempo para se direcionar como solista. Apesar de ótimos singles, seus dois primeiros álbuns eram projetos especiais, o primeiro de standards (Sentimental Journey) e o segundo de country music (Beaucoup of Blues). Foi somente com o álbum Ringo em 1973 que o baterista achou sua fórmula ideal: canções pop produzidas por seus superamigos musicais. Nunca foi um grande cantor, mas os fãs se mantiveram simpáticos a seu timbre grave e nasal.
Shows, propriamente, Ringo não fazia. Limitava-se a gravar seus discos e fazer participações especiais em apresentações de outros. Os problemas com o álcool também atrapalhavam. Em 1989, finalmente, recuperou-se. E, como sempre se faz com alcoólatras em sobriedade, foi recomendado a ele que se dedicasse a uma atividade. Foi assim que ele decidiu cair na estrada como baterista. Para conhecer a história completa da All-Starr Band, que já teve diversas formações, confiram o excelente texto de Cláudio Teran clicando aqui.
Da banda atual, sou também fã de Edgar Winter. Descobri o trabalho dele em 1973, através de um amigo que havia comprado o antológico álbum They Only Come Out at Night. Esse LP, aliás, foi creditado a Edgar Winter Group, do qual fazia parte o guitarrista Dan Hartman – ele mesmo, que estourou em carreira-solo com sucessos disco como "Instant Replay" e "I Can Dream About You" e que viria a morrer de AIDS em 1994. Hartman dividia a linha de frente com Winter, tanto como vocalista quanto como compositor. Um dos clássicos de sua autoria é "Free Ride", que faz parte do álbum citado e Winter canta até hoje nos shows. Diz a lenda que Winter resolveu compor a instrumental "Frankenstein" porque achou que o material do disco não era comercial o bastante. Meu palpite é um pouco diferente: acho que ele percebeu que, sem uma composição de apelo mais forte, os sucessos seriam todos de autoria de Dan Hartman. Além de "Free Ride", a balada "Autumn" era um hit em potencial, mas não emplacou.
Enfim, o que teremos hoje à noite é uma superbanda apresentando um grande show, com a participação de um ex-Beatle. Boa diversão a todos nós!