Torcendo por Pelé
Nestas horas, fico feliz com o nível do feedback que recebo aqui no Blog. São poucas postagens, mas quase todas em tom polido e cortês. Claro, já houve algumas “pérolas”. Às vezes penso em selecionar as mais incríveis e republicá-las, principalmente considerando que muitas desapareceram com a desativação do Haloscan. Tenho todas salvas e posso resgatá-las. Mas essas são as exceções. Esta página atualmente recebe menos de 100 acessos por dia. Mas o lado bom disso é que os diálogos, quando acontecem, ficam dentro de um padrão de civilidade. Menos quantidade, porém mais qualidade.
Enfim, o que eu queria comentar mesmo é o ódio que está sendo destilado nos sites que reportam o estado de saúde de Pelé. O jogador foi hospitalizado em razão de uma infecção urinária e o que mais vejo é gente torcendo pelo pior. Desejando o mal para um dos maiores ídolos da história do país. Será mesmo que isso se justifica?
O argumento de todos é o fato de Pelé não ter reconhecido sua filha ilegítima Sandra Regina Machado, já falecida. Isso está servindo de pretexto para crucificar o craque de uma forma desnecessariamente cruel. Como se uma atitude questionável apagasse toda uma vida de glórias e realizações.
Concordo que ele agiu mal. Inclusive para a imagem dele. Mas não acho que essa nódoa em sua trajetória seja motivo para transformá-lo em vilão. Perfeito, ninguém é. Às vezes me parece que algumas pessoas – não todas, felizmente – não se conformam que Pelé seja um negro bem sucedido, que não chegou a sofrer discriminação. Que não assume a postura de vítima de preconceito e não usa de falsa modéstia ao falar de seu talento como jogador. Aliás, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa – “O Pelé isso”, “O Pelé aquilo” – ele acabou criando um padrão de discurso hoje imitado por todos os atletas de destaque no Brasil.
Já ouvi até observações em tom de crítica pelo fato de Pelé namorar mulheres brancas. Ora, qual o problema? O inglês David Bowie é loiro e gosta de negras! Alguns homens sentem atração pelas magras, eu prefiro as mais cheinhas. A cor da pele até pode condicionar a predileção pela mesma raça, pela convivência, mas não é determinante. Tenho visto cada vez mais casais birraciais e acho que já podemos pelo menos sonhar com um mundo sem racismo. Um dia, quem sabe.
Pelé perdeu pontos com o povo brasileiro em 1975, quando aceitou ser contratado pelo Cosmos, depois de recusar inúmeros apelos para que voltasse à Seleção Brasileira. Para mim, esse episódio já foi mais do que esclarecido. Li duas autobiografias dele e percebi claramente o revés que ele teve que enfrentar. Como garantidor de uma dívida astronômica que estava sendo executada, não lhe restou alternativa senão voltar ao futebol. Era a carta que lhe sobrava na manga. Resultado: virou ídolo nos Estados Unidos e foi amplamente homenageado em sua segunda despedida. Como bem observou minha irmã na época, “sabendo o quanto o americano é racista e preconceituoso com estrangeiros, é emocionante ver toda essa festa para um negro brasileiro”.
De minha parte, torço pela recuperação do nosso Rei do Futebol. Um dia todos iremos, mas que não seja a hora dele ainda. E quando esse momento chegar, espero que o nosso povo esteja preparado para lhe render as homenagens que ele faz por merecer.
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