quarta-feira, novembro 26, 2014

Série "Batman" em Blu-ray

Depois de um aparentemente interminável impasse entre a Fox (que produziu os episódios) e a Warner (que detém os direitos sobre o personagem), finalmente a antológica série “Batman” de 1966/67 é lançada em vídeo. No Brasil ela deverá sair em DVD, mas eu fiz questão do Blu-ray, então investi na cara edição importada. É meu presente antecipado de aniversário e Natal de mim para mim mesmo. Chegou hoje. (Se já viram essa produção para venda em DVD em alguma loja ou site brasileiro anteriormente, era uma edição não autorizada de péssima qualidade.)
Apertando-se no botão acima, mesmo antes de abrir a embalagem, ouve-se o trecho final do "Batman Theme", de Neal Hefti, que é o tema de abertura. É o marketing dos brinquedos musicais e bonecas falantes chegando ao Blu-ray! Na loja mesmo o comprador em potencial já pode "brincar" um pouco.
A edição especial inclui vários extras, como Batmóvel em miniatura (formato "matchbox"), cartões, guia de episódios e um livrinho de fotos. São treze discos: doze com os episódios e um com documentários. Oficialmente, as três temporadas totalizaram 120 episódios, mas na primeira e na segunda, cada dois episódios completavam uma aventura. A trama era interrompida numa situação de perigo para Batman e/ou Robin. Os criminosos nunca os matavam ou tentavam lhes tirar as máscaras (quer dizer, uma única vez o Coringa ameaçou desmascarar Batman): os inimigos da lei sempre bolavam uma morte criativa, depois saíam de perto para que eles pudessem escapar. E só ficávamos sabendo como isso seria feito na continuação, "na mesma Bat-hora, no mesmo Bat-canal"!
Ainda lembro da estreia da série em Porto Alegre. Tenho uma vaga lembrança de ter sido em 1966, o mesmo ano do lançamento nos Estados Unidos. Eu tinha cinco anos. Já lia com fluência, mas somente gibis infantis. Conhecia o Batman apenas de nome, das revistas de meus irmãos. O primeiro episódio a ser exibido foi o clássico da Mulher Gato em que Batman fica à mercê de um tigre. Fiquei bem confuso com o fato de uma mulher tão bonita ser a vilã da história. Ela morre no final. Aparentemente, nunca ninguém tentou explicar como ela veio a falecer ao final de dois episódios diferentes. Inevitável lembrar o mito de que o gato tem sete vidas. Ou nove, nos países de língua inglesa. Os gatos brasileiros ficam em desvantagem. (Observem o bigode do dublê na imagem acima - cliquem para ampliar!)
Aconteceu comigo um fenômeno que ocorreu com praticamente todos os telespectadores que descobriram a série na infância: num primeiro momento, eu não captava o humor. Levava a sério os personagens e as histórias. Como já comentei em outra ocasião, meu lado criança lamenta que a figura austera e imponente do Homem Morcego fosse na realidade um palhaço com máscara em vez de pintura. Diante da constatação, na vida adulta, passei a apreciar as histórias sob outra óptica. Comecei a me divertir com as trapalhadas. Batman sacando o “Bat-mata-moscas” para eliminar as moscas venenosas do Pinguim. Batman dançando o “Batusi”. Batman cantando. Batman entrando na igreja para se casar com Marsha, a Rainha dos Diamantes, sem precisar tirar a máscara ou revelar sua verdadeira identidade.
Assistindo-se ao primeiro episódio (que, diferente do que foi mostrado em Porto Alegre, é na verdade o do Charada), percebem-se algumas características que logo seriam descartadas. Junto ao Comissário Gordon, no começo, aparecem mais seis policiais além do Chefe O’Hara. O humor está presente, mas de forma bem mais sutil do que seria usado no futuro. Na cena final, Bruce Wayne e Dick Grayson travam um diálogo sério, revelando nuances de personalidade que em nada combinam com a imagem caricata que viriam a assumir.
Na história seguinte, apenas quatro policiais com o Comissário Gordon. E o mesmo recurso de perguntarem entre si se alguém é capaz de solucionar o caso antes de olharem para o Batfone e decidirem chamar a Dupla Dinâmica. Depois disso, o Chefe O'Hara passou a ser o único auxiliar sempre presente ao lado do Comissário.
Pelo que sei, o DVD que será lançado no Brasil inclui, além da trilha original, também a dublagem. Mas só me interessaria se fosse a primeiríssima, da Odil Fono Brasil. Isso, sim, me resgataria lembranças de infância. O narrador falando: “Atriz especialmente convidada, Julie Newmar, no papel da Mulher Gato”. Esse trecho em itálico foi suprimido nas versões posteriores. A Mulher Gato dizendo a Batman: “A bela... ou a fera!” A segunda dublagem traduziu literalmente “A mulher...ou o tigre”. O Batfone era às vezes chamado de "telefone vermelho" (a forma achada para traduzir "hot line", quando a expressão era usada). Esse áudio anterior, infelizmente, deve estar perdido. Com a introdução da TV a cores no Brasil em 1972, os episódios passaram a iniciar com o anúncio: “A Twentieth Century Fox apresenta Batman... a cores”, sobre o slide acima. E outras mudanças na primeira temporada.  
A imagem do Blu-ray preserva a proporção original 4:3, de forma que há espaços ociosos nas laterais. Mas é preferível assim do que cortar uma parte de cima e/ou de baixo para adaptar ao formato widescreen, como criminosamente está sendo feito em alguns relançamentos de shows. E já que o objetivo é recriar com maior fidelidade possível a experiência de ver TV nos velhos tempos, o sistema de áudio 5.1 tem som apenas no canal do centro! Em outras palavras, você vai ter que levantar bastante o volume para escutar os episódios, como se estivesse ouvindo o pequeno alto-falante de um televisor vintage. As fotos acima foram tiradas diretamente da tela de TV, já que não disponho de unidade de Blu-ray em meu computador para captura de imagens. Agora é aguardar o lançamento no Brasil (somente em DVD, o que é uma pena).

P.S.: Atendendo a reclamações dos fãs da série, que sentiram falta de vários detalhes nos DVDs/Blu-rays lançados, a Warner enviou disquinhos de reposição aos compradores. Recebi os meus. Saibam mais clicando aqui.