terça-feira, outubro 28, 2014

Sobre a eleição

Considerando o verdadeiro fogo cruzado de roupa suja que foi o segundo turno da campanha presidencial, não é de se admirar que tenha havido tantos votos brancos e nulos. O objetivo de desmoralizar o adversário foi atingido. Pelos dois lados!

Tento entender por que esta campanha foi marcada por tanta agressividade de parte a parte. Acredito que a popularização do Facebook contribuiu bastante. Não se pode ignorar a força da Internet. No tempo do Orkut, as manifestações ficavam fechadas nas comunidades temáticas. No Face, a linha do tempo é uma arena pública, um blog coletivo onde é muito fácil os ânimos se acirrarem. Mas acho também que o Brasil ainda está reaprendendo a exercer a democracia. A primeira lição é a de que presidente se tira no voto, não no golpe. A segunda é aprender a ser voto vencido.

É incrível a fúria, a raiva, o ódio dos que votaram em Aécio. Agem como se os eleitores de Dilma não tivessem o direito de fazer sua opção. Como se estivessem todos errados e não pudessem, de forma alguma, ter feito a escolha que fizeram. Já os petistas debocham dos oponentes, chamando-os de coxinhas. Acho curioso que algumas pessoas se ofenderam com as reações que causaram, sem perceber que a provocação partiu delas. A convicção era tanta que muitos se julgavam justificados em suas colocações, mas se melindravam ao serem contestados com o mesmo grau de veemência. Ouvi dizer que amizades se desfizeram e houve rompimentos até mesmo em família.

Eu optei por não me envolver em discussões eleitoreiras no Facebook. Por mais que alguns comentários me deixassem verdadeiramente indignados. Para deixar bem clara minha posição, fiz a seguinte postagem logo após o primeiro turno:

Sabe em quem eu vou votar no segundo turno? Sabe? EM QUEM EU QUISER! Ah, você também? Que legal! Então não vamos brigar por isso.

Tentei dar um recado de democracia e paz. Mas nem todos entenderam. Sob a premissa de que "o momento é grave e não posso me omitir", o que se viu foi uma verdadeira guerra de postagens agressivas. Impressiona-me que alguém acredite em ganhar votos para seu lado com esse procedimento.

O desafio de quem quer tirar o PT do poder é apresentar um candidato que agrade tanto aos antipetistas quanto aos petistas inseguros. Isso se torna ainda mais difícil numa eleição em dois turnos, em que a segunda etapa é quase sempre entre posições diametralmente antagônicas. Sim, existem simpatizantes do PT dispostos a apreciar uma alternativa. Mas mesmo esses dissidentes em potencial continuam imbuídos dos mesmos ideais. Jamais aceitarão um político que represente tudo o que o PT sempre repudiou. Na eleição para Prefeito de Porto Alegre em 2004, José Fogaça, com seu passado combativo de emedebista histórico, conquistou o apoio do que Luis Fernando Verissimo definiu como um "antipetismo ecumênico". Mas não teria interrompido a sequência de mandatos petistas sem os votos dos inseguros, como os chamei. Neste ano, para Governador do Rio Grande do Sul, o jeito bonachão do gringo José Ivo Sartori conquistou os gaúchos, que viram nele "um dos nossos". Já uma figura como Aécio Neves dificilmente irá conquistar o apoio de alguém que um dia tenha sido petista, esteja ou não hesitante em seu alinhamento. Então, os votos que poderiam alterar o fiel da balança ficaram no PT.

 Estranhamente, alguns eleitores de Aécio estão falando como se algo novo e horrível estivesse por acontecer. Ora, o PT está no poder há três mandatos! E a presidenta eleita é a mesma que já governa há quatro anos. Se argumentassem que o Brasil vai continuar na mesma ou seguirá piorando naquilo que não anda bem, ao menos haveria coerência. (Não estou afirmando que isso esteja acontecendo, estou imaginando um argumento hipotético). Mas não, o que leio são afirmações de que o país "vai virar" isto ou aquilo ou que "agora" a situação vai ficar crítica. Como se todas as desgraças que os antipetistas preconizavam há 12 anos tivessem sido guardadas para o quarto mandato. Talvez os supersticiosos temam pelo ano 13 do PT na Presidência. Ou imaginem que o partido tenha mantido cartas na manga justamente para o ano do seu número.

Enfim, estamos todos no mesmo barco. E temos que remar, se me perdoam um surrado clichê. Espero que eventuais animosidades se resolvam logo e que os dois lados (ou mais, considerando os muitos partidos) aprendam a respeitar o voto alheio.

Leia também: O antiantipetismo

2 Comments:

Blogger José Elesbán said...

Falou e disse!

9:01 PM  
Anonymous Italo said...

Texto muito bom, Emílio. Bem sensato.

2:55 PM  

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