Quinta-feira, dia 10, às 19:30, teve entrevista com Kleiton e Kledir no já tradicional evento "Encontros com o Professor", no caso, o jornalista Ruy Carlos Ostermann, no StudioClio (José do Patrocínio 698). Eu cheguei antes e vi quando Tatata Pimentel os entrevistou para a TV Com. O apresentador começou falando com Kleiton, mas esclareceu que nunca sabia quem era quem, então sempre os chamava de "Kleiton e Kledir". O músico se identificou e respondeu às perguntas sobre o que mais gostava em Porto Alegre ("as pessoas") e o que mais detestava ("as picuinhas, as fofocas..."). Depois, ao entrevistar Kledir, Tatata já não lembrava quem era quem e teve que perguntar de novo. Essa confusão já se tornou parte da mística em torno da dupla. Kledir certa vez comentou para a Playboy que era comum os fãs o chamarem de Kleiton. (Caso vocês também não saibam quem é quem, o Kleiton é o de óculos.)
Ao entrar no auditório, verifiquei que quase todos os lugares das duas primeiras filas tinham uma etiqueta de "reservado", menos dois assentos na segunda. Sentei em um deles. Depois vim a saber que aqueles também estavam reservados, mas uma das moças da organização disse "mas agora fica aí". Ótimo! Depois sobraram mais cadeiras que foram devidamente ocupadas ao meu lado. Aproveitei para conversar com a esposa de Ruy Carlos Ostermann, Nilse, que foi minha professora de História em 1976 e 1978, no saudoso Colégio Pio XII. Confessei para ela que, na época, eu não gostava da matéria, pois era ainda um alienado. Mas alguns anos depois me interessei pelo tema e me arrependi amargamente das aulas que poderia ter aproveitado.
Curiosamente, Ruy iniciou a entrevista perguntando sobre o período de quase dez anos em que Kleiton e Kledir estiveram separados, a partir de 1986, logo após o lançamento do quinto LP. Mas o assunto logo mudou quando, primeiro Kledir, depois Kleiton, vestiram seus blusões. Ora, a noite estava quente! Kledir tinha uma desculpa: estava se recuperando de uma virose que lhe tirara cinco quilos (onde se pega???). Se ele já é magro ao natural, imaginem como ficou. Kleiton explicou que é normal que cantores tenham uma preocupação exagerada com ar condicionado ou qualquer coisa que possa afetar a voz. Kledir lembrou de um único cantor que ele conhece que não sofre desse mal: Emílio Santiago. Segundo ele, meu xará costuma fumar um cigarro e tomar um copo de água com gelo antes de começar a gravar. E a gravação sai toda perfeita na primeira tentativa. Sobre gravar em um único take, sem precisar refazer nenhum trecho, disse Kledir que o mesmo acontece com Cauby Peixoto e ocorria também com Nélson Gonçalves. Inclusive, ele citou uma história de que Nélson teria ido de táxi até a gravadora e pedido que o motorista esperasse na frente, que ele só ia gravar um LP e já voltava. Uma hora depois, estava de volta. Tem jeito de lenda urbana, mas que é uma boa história, isso é.
Kleiton recordou seu namoro com Nara Leão, que durou dois anos. Ela brincava com ele: "Que tal é namorar o joelhinho da Bossa Nova?" Ele disse que a Nara foi importante para os dois por ensinar a eles a questão da simplicidade. Nara não tinha uma voz tão potente quanto a de Elis, por exemplo, mas tinha muita personalidade para cantar. Citaram também o MPB4 e a Mercedes Sosa como exemplos de artistas de destaque que os ajudaram bastante, inclusive lembrando a participação que fizeram no show do MPB4 em 1980 (esse eu cheguei a ver, em Porto Alegre).
O Prefeito José Fogaça estava presente, na primeira fila, e eles ficaram lembrando os tempos de parceria, o começo em Porto Alegre no início dos anos 70. Kledir disse que havia um grande interesse em fazer música com Fogaça naquela época por um motivo especial. Pensei que ele fosse falar no IPV, cursinho pré-vestibular que estava em evidência e garantia bons patrocínios e espaços na mídia. Para minha surpresa, ele disse que Fogaça desenvolvia um trabalho com o coral das meninas do Colégio Bom Conselho, onde também lecionava. "Imagina nós, vindo do interior, no meio daquelas meninas todas!" Mais adiante, Fogaça pediu a palavra e afirmou que a dupla havia feito duas importantes revoluções. A primeira foi a de abrir espaços para compositores gaúchos em sua própria terra, já que, na época, mesmo os cantores de Porto Alegre interpretavam autores do Rio de Janeiro. Imaginei que a segunda revolução de que ele iria falar fosse o sucesso nacional da dupla como legítimos representantes da música riograndense, com sotaque e tudo, mas errei mais uma vez: "A segunda revolução foi uma revolução sexual junto às meninas do colégio Bom Conselho", disse Fogaça, para as gargalhadas da platéia.
No meio dessa conversa, uma lembrança importante foi a da "primeira mostra de música não competitiva" organizada por Fogaça em 1972. No ano passado, em minhas pesquisas para o livro de Lucio Haeser sobre a Rádio Continental, encontrei esta relíquia (cliquem para ampliar):
Observem que, hoje, examinando a lista de compositores, identificamos que ali já estavam os Almôndegas. Eurico Castro Neves é o Quico, "Cleiton" e "Cledir" são Kleiton e Kledir, Peri Alves Souza é o Pery Souza e José Flávio Alberton de Oliveira é o Zé Flávio. Aliás, Zé Flávio integraria primeiro o Mantra, do qual Inácio do Canto também faria parte. E reconhecemos também várias músicas que depois seriam gravadas, como "Gô", "Quadro Negro" e a clássica "Vento Negro". No caso, "Ruídos", uma das primeiríssimas composições de Kleiton, chegou a ser gravada para o primeiro LP dos Almôndegas, mas quando o disco ficou pronto, cadê a música? Ninguém sabe dizer que fim levou a gravação. Kleiton a gravou novamente e incluiu como faixa-bônus da edição em CD de seu disco solo "Sim".
Voltando à entrevista: quando Kledir começou a elogiar Kleiton por sua proficiência como músico, Kleiton interrompeu dizendo que a diferença entre eles é que o Kledir já nasceu pronto, já compunha músicas ao natural desde o começo (e é verdade, há várias músicas de Kledir no primeiro LP dos Almôndegas e nenhuma do Kleiton, embora "Ruídos" devesse ter entrado) enquanto ele, Kleiton, teve que estudar, se dedicar, e que por isso acabou aprendendo a fundo o violino e outros instrumentos. Kledir lembrou também que, no começo, ele nunca compunha em parceria com Kleiton. Era sempre com outros, Fogaça, Gilnei, Pery Souza, até que, lá pelo final da fase com os Almôndegas, eles começaram a se entrosar e se descobrir realmente como parceiros.
No momento em que abriram para perguntas, o compositor Giba Giba pediu a palavra apenas para fazer uma homenagem e a dupla imediatamente começou a cantar "Tassy", música do Giba que está no primeiro LP de Kleiton e Kledir, de 1980 (letra em tupi-guarani). Na hora da canja musical, eles voltaram com violões plugados e cantaram "Vento Negro", "Vira Virou", "Capaz", "Deu Pra Ti" e "Maria Fumaça". As fotos acima foram tiradas por mim, mas as postadas abaixo eu roubei descaradamente do site "Encontros com o Professor" por um motivo: eu apareço nelas. Muito mal, mas estou lá, de branco, na segunda fila. Na última, estou com a máquina fotográfica na mão. Então ficamos assim: vocês, do site, não cobram direitos autorais e eu não cobro direitos de imagem. Combinado?
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Na saída, aproveitei para perguntar a Ruy Carlos Ostermann se ele tinha "se visto" em um DVD sobre as Copas do Mundo. A princípio, respondeu que não, mas quando expliquei melhor ele disse: "Ah, sim, vi ontem!" Foi muita casualidade que ele tivesse visto justamente no dia anterior, pois o DVD "O Melhor do Brasil nas Copas - De 1950 ao Tetra" saiu em 2002. No caso, refiro-me a esta imagem:
Ruy é o da esquerda, ao microfone. Não sei quem é o do meio. O da direita é o saudoso Pedro Carneiro Pereira, o melhor locutor esportivo de todos os tempos no Rio Grande do Sul e um dos melhores do Brasil. Esse trecho supostamente foi filmado na Copa 70, durante o jogo Brasil x Inglaterra.