terça-feira, abril 22, 2008

Relíquia do Sampaulo

Em 22 de fevereiro de 1992, o chargista Sampaulo estava no balneário de Capão da Canoa, à noite, autografando seu livro "Como Eu Ia Dizendo...", na saudosa Livraria Praiana, na Rua Sepé. Peguei o autógrafo abaixo:


Aproveitei para falar:

- Queria conseguir o seu primeiro livro.
- Nem eu tenho.
- É da Editora Globo, né?
- É, sim, da Coleção Catavento.

Infelizmente, Sampaulo, que se chamava na verdade Paulo Sampaio (irmão do chargista conhecido como Sampaio), já faleceu. Senão eu poderia dizer a ele como naquele comercial de tesouras infantis que depois teve que ser tirado do ar: "Eu te-nhooooo, você não te-eeeeeem..." Graças a esta maravilha que é a
Estante Virtual, depois de meses de buscas incansáveis, finalmente o primeiro livro de Sampaulo, "Humor do 1º ao 5º", já está comigo. O exemplar se encontra em ótimo estado, tendo inclusive um anúncio do curso de inglês Linguaphone encartado e intacto. O conteúdo é muito melhor do que eu esperava e não é difícil entender por que o livro desapareceu tão rápido: foi editado em 1963 e era farto em piadas políticas. Sampaulo publicava seus cartuns no Diário de Notícias e, aparentemente, ainda não havia criado o antológico personagem Sofrenildo.

Tomei conhecimento desse livro na minha adolescência, por um amigo que o tinha. Ele era rádio amador PX (Faixa do Cidadão) e, quando a nossa rodada ficava realmente uma gandaia (o que acontecia com uma freqüência acima da normal, devo dizer), ele lia um poema do livro. Eu achava curioso o título: "O Pingüê". Se fosse hoje eu viria correndo pesquisar o significado de "pingüê" na Internet. Na época, nem me preocupei. Deveria ser um termo gauchesco. Ou uma palavra de origem indígena. Ou talvez francesa: "Le Pingouet". Só sei que parecia um nome bem sonoro e exótico. Lembro bem da voz do meu amigo, em tom caricato, anunciando: "O Pingüê". E seguia: "Quando a chuva pinga no meu pago..." Às vezes nós mesmos pedíamos: "Lê aí o Pingüê!"

Anos depois, na Faculdade de Jornalismo, o professor Marques Leonam trouxe o primeiro livro do Sampaulo para a aula. Quando vi do que se tratava, imediatamente pensei em impressonar o mestre com o meu conhecimento de uma obra tão rara. E perguntei

-É esse que tem "O Pingüê"?

Ele confirmou e inclusive trouxera o livro para ler exatamente esse poema, mas deve ter estranhado minha pergunta. Porque o nome não era apenas esse. Por uma limitação de diagramação, o título do poema acabou se dividindo em duas páginas. Na página 71 estava o texto e a primeira parte do título:


Virando a folha, na página 72, estava o complemento com a ilustração:

Ou seja: o pingüê que sempre me soara tão exótico nada mais era do que a primeira parte do título "O PINGO E A PINGA." Mesmo assim, convenhamos, faltou uma certa "faísca" ao nosso amigo para perceber que o título não poderia ser apenas "O PINGO E". Mesmo quem não conhece a expressão "conjunção aditiva" sabe que o "e" junta duas coisas. Eu e você. A corda e a caçamba. O côncavo e o convexo. O pingo e a pinga. Fiquei um tanto decepcionado em saber que o misterioso pingüê não existia. Era "o pingo e". A pinga estava no verso da página.

Deixo vocês com mais uma amostra desse livro fantástico. O título da charge é "Coisas de Carnaval":


3 Comments:

Blogger Sergio Nova said...

Cara, uma obra dessas merece ser digitalizada para que todos tenham acesso. Vi esse livro quando era criança, depois desapareceu. Isso não pode morrer. Deve ser preservado pelo bem da cultura universal.

7:21 AM  
Blogger garcia said...

Eu sou fã do trabalho dele. Digitalize, eu queria ter os velhos jornais com as charge. Pena que na época não imaginava que sentiria tanta falta.

11:48 AM  
Anonymous Anônimo said...

Não conheço muito da obra que fez 'sampaulo' mas conheci o 'seu paulo' que a dona Dulce Sampaio fez,
Eu cortava a grama da dona Dulce doce mãe da Tereza acho que irmã do sampaulo,
Família muito nobre,
Merecem todas as honras...

9:36 PM  

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