quarta-feira, dezembro 31, 2014

Sobrevivemos

Num daqueles desafios típicos do Facebook, uma amiga virtual propôs que o ano de 2014 fosse descrito em uma só palavra. Escrevi: "Sobrevivemos."

Sobrevivemos a um clima hostil e baderneiro que se instaurou no país a partir do ano anterior.

Sobrevivemos aos inúteis protestos de última hora que, de forma totalmente intempestiva e inoportuna, bradavam: "Não vai ter Copa!"

Sobrevivemos à própria Copa, a uma derrota humilhante para a Alemanha, e ainda conseguimos receber os estrangeiros com hospitalidade e civilidade. 

Sobrevivemos a uma eleição que, como eu nunca tinha presenciado, colocou o Brasil em pé de guerra a ponto de arranhar amizades, inclusive entre familiares. Espero que sobrevivamos também aos maus perdedores que querem tirar Dilma de qualquer jeito, sem pensar nas consequências do absurdo que estão desejando. Justiça se faça aos que votaram em Aécio e são a favor da manutenção do estado democrático. Vários já se manifestaram nesse sentido.

Para 2015, desejo saúde, prosperidade, paz, serenidade, civilidade, democracia, ponderação, amor, amizade, felicidade, cordialidade. Tenho outros desejos, também, mas esses eu guardo para mim. Se Deus quiser, hão de se realizar.

Feliz Ano Novo!

terça-feira, dezembro 30, 2014

Paulo Sant'ana não é racista

Se Paulo Sant'ana se expressou mal em sua crônica sobre Punta del Este, paciência. Mas quem acompanha o trabalho dele desde os anos 70, como é o meu caso, sabe que ele não é racista. Ele sempre se descreveu como "mulateiro" (homem que gosta de mulatas), já foi casado com uma negra e se identifica por demais com as pessoas humildes de todas as raças. Até agora, só detectei uma característica que depõe contra sua índole: o fato de ser gremista. Mas até isso uma amiga minha já definiu como um "defeito perfeito".

Mas existe um episódio que eu gostaria de relembrar. Em 1977, na eleição de Miss Passo Fundo, os votos davam a vitória à mulata Apelonice Lima. Mas o presidente do júri forçou a barra para que ela ficasse em segundo lugar. Só que um dos jurados era justamente Paulo Sant'ana, que já tinha uma vitrine de destaque tanto em jornal quanto televisão. E aproveitou essa posição privilegiada para escancarar o episódio flagrante de racismo. Isso foi amplamente divulgado na imprensa de todo o Brasil.

Vejam neste vídeo a história de Apelonice (em 1:46 aparece o nome de Paulo Sant'ana, citado em matéria da época).

sábado, dezembro 27, 2014

Pedalando em casa

Já comentei aqui sobre o meu passado de corredor, quando descrevi a maratona de que participei em 1984. Foi uma breve fase da minha vida em que consegui vencer a obesidade. O que eu não contei, pelo menos não em detalhes, foi das lesões que aquela experiência me causou. Começou na parte de dentro da coxa, junto à virilha. Depois resultou em uma tendinite no tendão de Aquiles. Nos dois tendões, se bem lembro. Fiz fisioterapia, compressa de gelo e até uma simpatia com a tia Júlia, indicada por minha mãe. Acabei melhorando bastante. O suficiente para voltar a correr. 

Só que houve um período em que eu tive que suspender a corrida. Como não queria ficar totalmente sem exercício, optei pela atividade indicada quando se tem tendinite: a bicicleta. Mas não quereria andar na rua. Fazia pouco tempo que eu tinha feito um teste ergométrico em uma bicicleta estacionária e pensava em comprar uma igual. Mas o modelo profissional de academias era caro e não se encontrava para vender nas lojas. Optei por um Caloicicle, mesmo. Simples, com opção para movimento "vai-vem" do guidão, mas iria me servir. Nunca esqueci que a compra foi feita na semana em que meu pai faleceu. 

Como a experiência de ficar pedalando no lugar pode ser um tanto maçante, era normal que eu procurasse amenizá-la ouvindo música. Só que, em 84, o máximo de audição ininterrupta que eu conseguia era 45 minutos, ou seja, um lado de fita de 90 minutos. (As fitas de 120 minutos, além de difíceis de achar, rebentavam facilmente e não eram recomendadas.) Fiz uma seleção musical que começava com "Too Late For Goodbyes", do Julian Lennon. Nunca me ocorreu ligar um rádio, até porque eu não tinha nenhum conectado ao meu equipamento de som. Anos depois, sempre que aparecia uma novidade em áudio ou vídeo com mais tempo de duração, como videocassete e CD, eu logo pensava: eu poderia ter usado isso nos meus exercícios em casa, se já existisse.

Não corro mais há muito tempo. Mas, em 2011, decidi levar a sério minhas caminhadas. E hoje existe essa maravilha que é o iPod, que me acompanha sempre. Sigo escutando meus audiobooks e, quando resolvo diversificar, troco para música. Só que aquela tendinite ressurgiu. Ela já vinha me incomodando desde 2010, mas havia dado uma trégua, em especial quando consegui baixar um pouco de peso. Mas agora voltou. Então tive a ideia: por que não recorrer novamente à bicicleta estacionária? Se foi uma boa alternativa para a corrida, substituirá melhor ainda a caminhada, já que não estou mais preocupado com tempos e preparo físico. Só quero queimar calorias, nada mais. Meu Caloicicle ainda deve estar em algum lugar na casa do meu filho, mas ficou velho e enferrujado. Desta vez investi num modelo melhor.

Em 1984 eu ajustava o pedal para ficar bem resistente, já que eu era jovem e magro. Hoje não tenho mais aquela vitalidade toda, então deixo a pedalada bem solta, mesmo. E posso trazer a bicicleta para o meio da sala e escutar algum CD, assistir a algum DVD ou Blu-ray ou até, se for o caso, optar pelo iPod, mesmo, em horários de silêncio. O mecanismo em si do pedal é relativamente silencioso. Mas meu objetivo é o mesmo dos 23 anos: curar a tendinite e voltar às ruas. A partir daí, a bicicleta ficará como paliativo para dias de chuva ou quando eu estiver com meu filho, se quiser aproveitar enquanto ele dorme. O site da Athletic tem um plano de exercícios conforme minhas características, mas quando o formulário perguntou minha extensão de cintura e quadril eu não soube responder. Deixa pra depois.

terça-feira, dezembro 23, 2014

Feliz Natal!


Feliz Natal a todos os frequentadores do Blog! Que nunca esqueçamos de amar ao próximo, de perdoar e que acreditemos sempre que podemos ser felizes!

sábado, dezembro 20, 2014

Aniversário de minha irmã

Hoje minha irmã Beatriz Pacheco está completando 66 anos. Para nós, da família, é uma idade que tem um significado especial, porque ela já viveu mais do que nosso pai (que faleceu com 64 anos) e nossa mãe (que partiu aos 65). Como desde 1997 ela sabe que tem HIV, é uma vitória. Claro que muito se deve à Medicina, às pesquisas e ao esforço dos que se dedicam a encontrar uma cura. Mas nada disso adiantaria se ela não fosse uma pessoa batalhadora, persistente e com muita alegria de viver! Parabéns, Neca, és um exemplo para todos nós! E, sim, muitos anos de vida! Qual será o próximo desafio agora? Superar a vó, que chegou aos 83 anos? Vamos lá! Um grande beijo, tudo de bom!

Mais uma vez, compartilho aqui a participação dela na campanha do Dia Mundial de Luta contra a AIDS em 2006:

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Lembrança de viagem

Em julho de 1985, fiz minha segunda viagem aos Estados Unidos. Eu tinha 24 anos. A anterior tinha sido onze anos antes, mas não aproveitei tanto. Agora eu já sabia inglês, tinha mais disposição, mais cultura, mais tudo. E meu sobrinho estava comigo. Foi porque ele ia que minha mãe me ofereceu como presente que o acompanhasse.

O Brasil que deixamos por duas semanas estava contaminado pelo vírus do Rock in Rio, que tinha acontecido no início do ano. Então as rádios tocavam muito Paralamas, Barão Vermelho, Legião Urbana, muito rock brasileiro. E estrangeiro também, claro. Já nas emissoras que sintonizamos em Miami, Orlando e Nova York, ouvimos várias vezes uma música bem dançante, interpretada por uma voz feminina, em cujo refrão se destacava a palavra "freeeeeeway!" Naquele tempo não existia Internet para descobrir o título pesquisando um trecho da letra, como se faz hoje. Pensávamos que a música se chamasse "Freeway". Até pode ser que tenha tocado nas rádios brasileiras, mas nunca ouvi. Soul music e derivados estavam temporariamente fora da programação local.
Um dia, tempos depois, eu estava na Galeria Malcon, em Porto Alegre, quando uma loja de discos tocou justamente um trecho da gravação que marcou nossa viagem. Entrei correndo para saber que disco era. Resposta: o LP Who's Zooming Who, de Aretha Franklin. E a música em questão se chamava "Freeway of Love". Eu não devia estar com dinheiro no momento, pois lembro que acabei comprando o álbum algum tempo depois. Aí, claro, chamei meu sobrinho para compartilhar aquela recordação de nossa viagem.
Vai daí que meu audiobook do momento é "Respect: The Life of Aretha Franklin", de David Ritz. O autor já havia auxiliado a cantora a escrever sua autobiografia anteriormente, então sua decisão de escrever um novo livro sob um prisma "não autorizado" é, no mínimo, questionável. Inclusive ele conta de fatos que Aretha preferiu omitir na obra anterior. Mas o texto é excelente. E revela que "Freeway of Love" foi o maior sucesso da chamada "Rainha do Soul" depois de "Respect", de sua fase inicial. Foi o resultado da combinação do talento da intérprete com o toque mágico do produtor Narada Michael Walden. Vejo agora na Wikipedia que "foi um dos maiores sucessos de 1985" nos Estados Unidos. Venceu um Grammy. E foi também o primeiro êxito de Aretha Franklin na MTV, com o clip abaixo:

Então foi assim que, além de visitar Disney World, Epcot Center e outras atrações, eu e meu sobrinho testemunhamos de perto o grande sucesso de Aretha Franklin em 1985 nos Estados Unidos. Curiosamente, em minha primeira viagem eu assistira à uma apresentação da banda Brownsville Station no "Midnight Special", mas só com a Internet pude resgatar todos os detalhes. Leiam sobre isso aqui.

terça-feira, dezembro 16, 2014

O primeiro álbum dos Monkees em edição de luxo

O selo americano Rhino já reapresentou a obra dos Monkees nas mais diversas configurações. Começou com coletâneas de raridades nos CDs intitulados "Missing Links". Soltou também um CD triplo em tiragem limitada contendo sessões inéditas do antológico Headquarters, de 1967, mas sem incluir as gravações do LP em sua forma final. Depois, passou a relançar os álbuns originais com faixas-bônus. Em 2006, teve início a série que parecia definitiva: CDs duplos com a faixas em mono e estéreo, além de diversos outtakes de estúdio e músicas inéditas. Tudo produzido pelo expert Andrew Sandoval, que escrevia os textos dos livretos e realizava um trabalho semelhante com os Bee Gees (que, infelizmente, não teve continuidade após Odessa). 

Quando chegou a vez de The Birds, The Bees and the Monkees, o quinto título da discografia, os colecionadores foram surpreendidos em 2010 por uma edição expandida, limitada e cara, contendo três CDs. E assim, nesse formato, saíram Head, Instant Replay e The Monkees Present. O próximo da lista deveria ser o fraquinho Changes, somente com Micky Dolenz e Davy Jones na formação. Não é surpresa que a gravadora o tenha deixado de fora, aparentemente.
Só que, com a boa repercussão dos relançamentos de luxo, a série recomeça do primeiro álbum dos Monkees, de 1967, dando início a uma "sobreposição" aos CDs duplos que saíram antes. Sendo esta uma edição tripla, seria de se esperar que incluísse tudo da anterior e mais um pouco. Mas, como bem observou o crítico Ayrton Mugniaini Jr. no Facebook, está faltando a demo de "Propinquity", de Michael Nesmith. Se isso não fosse motivo suficiente para manter o relançamento de 2006, ressalte-se que os textos dos encartes também são diferentes, ainda que ambos tenham sido redigidos por Andrew Sandoval. O primeiro é mais informativo em relação às músicas enquanto o segundo fornece mais detalhes sobre os trabalhos pré-Monkees dos quatro integrantes.

Há um bom pretexto para esmiuçar as origens dos rapazes. Na falta de material de estúdio das sessões do primeiro LP para encher os três CDs, a Rhino teve uma sacada legal: incluiu a íntegra do álbum solo lançado por Davy Jones em 1965 e os singles de Michael Nesmith como "Michael Blessing" no mesmo ano. As interpretações de Davy lembram Peter Noone dos Herman's Hermits, já que ambos são ingleses, mas a qualidade das composições é sofrível. Já Mike dá seus primeiros passos em direção ao folk/country, mostrando clara influência de "The Eve of Destruction" de Barry McGuire em "The New Recruit". Ele se sai melhor e não admira que tenha sido o único ex-integrante dos Monkees a construir uma bem sucedida carreira solo.

Hoje já se sabe que os Monkees não tocavam em seus próprios discos, embora Michael Nesmith e Peter Tork fossem músicos de verdade. A contracapa do primeiro LP mostrava uma ficha técnica totalmente fictícia, dando a entender que o conjunto havia executado os instrumentos. A ideia do quarteto era ser uma resposta americana aos Beatles. O projeto nasceu de uma equipe de televisão, que testou vários candidatos até fechar em Michael, Peter, Davy e Micky Dolenz. Todos faziam vocal solo, mas a voz de destaque acabou sendo a de Micky, que também posava de baterista. O timbre quase infantil de Davy caía bem em canções selecionadas como a balada "I Wanna Be Free". Michael Nesmith tinha muita força interpretativa, além de ser, a princípio, o único compositor do grupo. Peter sempre foi o mais limitado como vocalista, mas sua voz grave e bem humorada logo conquistou a simpatia dos fãs. 

Apoiados por um supertime de compositores de primeira linha, os Monkees se tornaram sucesso absoluto com seus discos e a série de TV. Nesse primeiro álbum se encontram clássicos como "(Theme From) The Monkees", "I Wanna Be Free", "Take a Giant Step", "Saturday's Child" (de David Gates, futuro integrante do Bread) e "Sweet Young Thing". Entre as muitas faixas bônus, ouvem-se "You Just May Be The One" (versão da TV, anterior à do álbum Headquarters), "I Don't Think You Know Me" (de Carole King e Gerry Goffin, cuja sequência de acordes Michael Nesmith aproveitaria para compor a citada "You Just May Be the One"), "All The King's Horses" e várias bases instrumentais de músicas conhecidas para quem quiser brincar de karaokê. 

Agora é praticamente certo que os relançamentos de luxo continuarão com More of the Monkees, Headquarters e Pisces, Aquarius, Capricorn & Jones, Ltd. Eu não me surpreenderia se, depois desses, a Rhino resolvesse investir nos títulos menos cotados da discografia, como o já mencionado Changes, a volta em 1987 com Pool it! (sem Michael Nesmith) e o novo retorno em 1996 com Justus. Esse último poderia até incluir um DVD com o filme que foi feito à época para a televisão.

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Comemorando

Meu aniversário é hoje, mas ontem fiz uma comemoração antecipada com o Iuri. Fazia anos que eu não o levava no Barranco. Ele matou a saudade da polenta e da picanha.

terça-feira, dezembro 09, 2014

David Bowie em coletânea definitiva

Nothing has changed chega para ser uma coletânea definitiva de David Bowie. Existe edição de vinil, tem CD duplo, mas vou analisar a versão maior, que inclui três CDs.

Já saíram muitas compilações de David Bowie em formatos diversos. Antes dessa, consideraria The Platinum Collection a mais recomendada, com o filé mignon do repertório dos anos 70 e 80. Sound+Vision, por outro lado é só para colecionadores, com sua confusa mistura de raridades com escolhas aparentemente aleatórias. Foi relançada recentemente, para quem se interessar.

O diferencial de Nothing has changed é o fato de abranger todas as gravadoras pelas quais o músico já passou. Para quem acompanhou os lançamentos até agora, é estranho encontrar o material original da Decca juntamente com o da RCA e EMI. Eram universos não miscíveis. Outra curiosidade é a ordem cronológica inversa em que as faixas se apresentam. Não é o primeiro caso: apenas para citar um exemplo, já saiu uma caixa assim do Genesis. Então a seleção começa com a música mais recente, "Sue (Or In a Season of Crime)", que suscitou comparações com "Cais" de Milton Nascimento, e termina com "Liza Jane", o primeiro registro fonográfico de Bowie ainda como Davie Jones & The King Bees. De 2014 a 1964 em pouco menos de quatro horas de audição.

Para os fãs casuais, essa coletânea está completa? Eu diria que sim.  Quem prefere a fase mais pop do cantor nos anos 80 vai se deliciar com "Let's Dance", "China Girl", "Modern Love", "Blue Jean", "This is Not America" (com Pat Metheny), "Loving the Alien", "Dancing in the Street" (com Mick Jagger), "Absolute Beginners" e "Under Pressure" (com o Queen). De quebra, vai ouvir também "Young Americans", "Fame", "Golden Years", "Sound and Vision" e "Heroes", canções mais acessíveis dos anos 70 escolhidas a dedo. Talvez sintam falta de "Underground" e "As The World Falls Down", ambas da trilha sonora de "Labirinto". A primeira realmente é uma ausência sentida, pois já constou em outras compilações, mas a segunda só fez sucesso nas rádios brasileiras. Não entrou nem mesmo na edição de "Best of Bowie" feita para o Brasil em 2002.

Já os fãs roqueiros que não façam questão dos álbuns originais (porque geralmente fazem) vão encontrar as clássicas "Space Oddity", "The Man Who Sold The World", "Changes", "Life on Mars?", "Starman" (o "Astronauta de Mármore" do Nenhum de Nós), "The Jean Genie", "Drive in Saturday", "Rebel Rebel", "Diamond Dogs", "Ashes to Ashes" e "Scary Monsters (and Super Creeps)". Bowie volta a ousar a partir dos anos 90 e aí o rock se faz presente de novo em músicas como "Little Wonder" e "New Killer Star".

Já é de praxe incluir raridades ou gravações inéditas em coletâneas maiores. A já citada "Sue (or In a Season of Crime)" é uma delas. "Let Me Sleep Beside You" é uma de três canções que Bowie compôs em 1968 numa tentativa de imitar "essas porcarias que fazem sucesso", só que a gravação que aparece aqui é de 2001, do projeto Toy. Era para ser um álbum de regravações de composições bem do começo da carreira do músico, mas acabou ficando inédito. Algumas faixas entraram como bônus de relançamentos especiais.

Da fase da Deram (1967-68), constam "In The Heat of The Morning" (outra das "porcarias" de 1968, aqui na versão original) e "Silly Boy Blue". É uma pena que a melhor das três "porcarias", a linda "Karma Man", tenha ficado de fora. "Can't Help Thinking About Me" (1966) e "You've Got a Habit of Leaving" (1965) pegam o período com a banda Lower Third, com influência dos Kinks. E colocar "Liza Jane", o primeiro single de Bowie, no final de tudo, é como encerrar com o choro de um recém nascido cuja vida acaba de passar ao contrário.

Três gravações foram incluídas em versões remixadas por seus produtores originais. "Life on Mars?" é a que tem diferenças mais sutis. "Young Americans" já chama mais a atenção, com o piano muito baixo no começo e a bateria que antecede a parte final sem o efeito de "phasing". "Wild is the Wind" tem menos eco na voz de Bowie. Não entrou nada do Tin Machine, pois o músico sempre separou bem sua carreira solo do trabalho do grupo. Talvez por isso também tenham ficado de fora as duas faixas gravadas como The Manish Boys - "Take My Tip" seria interessante, por ser a primeira composição de David a ser lançada em disco.

Enfim, sempre vai faltar essa ou aquela música em qualquer coletânea de David Bowie. Mas a seleção está bem feita. Recomendo. Apenas alerto que a diversidade de estilos é acima do comum para um mesmo artista. As mutações sempre foram marca registrada do chamado "camaleão do rock".

A lista de faixas abaixo foi copiada do site oficial de David Bowie:

CD 1:

Sue (or In A Season Of Crime) (7.40)

Where Are We Now? (4.09)

Love Is Lost (Hello Steve Reich Mix by James Murphy for the DFA Edit) (4.07)

The Stars (Are Out Tonight) (3.57)

New Killer Star (radio edit) (3.42)

Everyone Says ‘Hi’ (edit) (3.29)

Slow Burn (radio edit) (3.55)

Let Me Sleep Beside You (3.14)

Your Turn To Drive (4.44)

Shadow Man (4.48)

Seven (Marius De Vries mix) (4.12)

Survive (Marius De Vries mix) (4.18)

Thursday’s Child (radio edit) (4.25)

I’m Afraid Of Americans (V1) (clean edit) (4.30)

Little Wonder (edit) (3.40)

Hallo Spaceboy (PSB Remix) (with The Pet Shop Boys) (4.23)

Heart’s Filthy Lesson (radio edit) (3.32)

Strangers When We Meet (single version) (4.21)



CD 2:

Buddha Of Suburbia (4.24)

Jump They Say (radio edit) (3.53)

Time Will Crawl (MM remix) (4.18)

Absolute Beginners (single version) (5.35)

Dancing In The Street (with Mick Jagger) (3.20)

Loving The Alien (single remix) (4.45)

This Is Not America (with The Pat Metheny Group) (3.51)

Blue Jean (3.11)

Modern Love (single version) (3.56)

China Girl (single version) (4.15)

Let's Dance (single version) (4.08)

Fashion (single version) (3.25)

Scary Monsters (And Super Creeps) (single version) (3.32)

Ashes To Ashes (single version) (3.35)

Under Pressure (with Queen) (3.56)

Boys Keep Swinging (3.17)

‘Heroes’ (single version) (3.35)

Sound And Vision (3.03)

Golden Years (single version) (3.27)

Wild Is The Wind (2010 Harry Maslin Mix) (5.58)



CD 3:

Fame (4.14)

Young Americans (2007 Tony Visconti mix single edit)  (3.13)

Diamond Dogs (5.56)

Rebel Rebel (4.28)

Sorrow (2.53)

Drive-In Saturday (4.29)

All The Young Dudes (3.08)

The Jean Genie (original single mix) (4.05)

Moonage Daydream (4.40)

Ziggy Stardust (3.12)

Starman (original single mix) (4.10)

Life On Mars? (2003 Ken Scott Mix) (3.49)

Oh! You Pretty Things (3.11)

Changes (3.33)

The Man Who Sold The World (3.56)

Space Oddity (5.12)

In The Heat Of The Morning (3.00)

Silly Boy Blue (3.54)

Can’t Help Thinking About Me (2.46)

You’ve Got A Habit Of Leaving (2.32)

Liza Jane (2.18)

Compactos do Paul

Só quem é da minha geração provavelmente sabe o que é um "compacto". Com o advento do CD e a padronização do vocabulário de colecionadores de discos por parâmetros internacionais, hoje só se fala em "singles" e "EPs". Mas, no Brasil, um disco de vinil de sete polegadas com uma música de cada lado era um "compacto simples". Com duas de cada lado era "compacto duplo". Pois o Beatlemaníaco Eduardo Chittolina criou um blog para postar imagens de seus "compactos" de Paul McCartney. Confiram clicando aqui.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Ruído na comunicação

No começo dos anos 80, a Atlântida FM, de Porto Alegre, tinha um programa chamado “Atlântida dá o recado pra ti.” Ia ao ar das 10 às 11 da noite, se bem lembro. A gente telefonava para a rádio e mandava um recado que depois o locutor lia no ar. Uma amiga minha comentou que sempre ouvia a emissora naquele horário. Um dia, fiz uma surpresa para ela: mandei-lhe uma mensagem! E na semana seguinte outra. Depois disso, começamos a namorar. E segui me comunicando com ela via Atlântida de tempos em tempos, pois a prática já havia se tornado um ritual entre nós.
Um belo dia, o namoro terminou. Mas eu queria continuar. Ainda gostava muito dela. Então, tive uma ideia. Mesmo num momento complicado, ao menos para mim, tentei ser original e demonstrar senso de humor. Liguei para a rádio e ditei o seguinte recado:
 
Se você pensa que eu vou voltar correndo e, de joelhos, pedir clemência, está muito enganada! Eu vou voltar a 60 quilômetros por hora e pedir clemência sentado.
 
Meio ridículo, né? Muito, na verdade. Deem um desconto, eu era um jovem inocente de 20 e poucos anos vivendo uma espécie de adolescência tardia. Tentava descontrair o clima e apaziguar os ânimos. Só que, para meu absoluto constrangimento, o locutor leu a primeira frase, depois entremeou comentários improvisados, dando a entender que a mensagem estava encerrada. Só então ele falou a segunda parte, mas aí era tarde. A conexão entre as duas afirmações estava desfeita. A destinatária nem devia estar mais prestando atenção. Somente o trecho agressivo havia sido comunicado de forma eficaz.
 
Não reatamos o namoro, apesar de minhas insistências durante todo o restante daquele ano. Nosso último diálogo mais tenso aconteceu num barzinho da Plínio Brasil Milano cujo nome nem recordo mais. Só lembro do Hique Gomez, então um cantor da noite, providenciando o fundo musical com “Seduzir”, de Djavan. Mas um consolo eu tive. Ela veio a compreender a intenção do meu recado. Não adiantou nada, mas ao menos eu consegui me explicar. Porque, sim, ela tinha entendido mal, como eu previra. Culpa do locutor, que não leu as duas frases em sequência.
 
Esse episódio me veio à memória em razão da gafe ocorrida ontem em uma campanha publicitária para uso de camisinha nas relações sexuais. Certa agência teve a brilhante ideia de apresentar três outdoors em ordem com as seguintes frases: 1 – “Botar camisinha corta o clima.” 2 – “E eu tenho cara de canal do tempo?” 3 – “Camisinha. Não tem desculpa pra não usar.” Dizem que somente o primeiro anúncio foi postado em uma rua de Porto Alegre e logo foi amplamente divulgado na Internet. Ficou parecendo que o objetivo era exatamente o contrário: desestimular o uso de preservativo. Mas mesmo que os anúncios estivessem corretamente dispostos, eu me pergunto: todos iriam ler os três dizeres? 
 
Nesta época de pressa, instantaneidade e imediatismo, é preciso ter cuidado redobrado com certas mensagens que se pretendem passar. No caso de um comercial, os telespectadores já estão condicionados a prestar atenção por 30 segundos. E os bons publicitários sabem criar suspense e atrair o interesse de seu público-alvo. Mas no caso de texto, é preciso avaliar bem. Em minhas comunidades do Orkut, eu sempre colocava os alertas no começo da apresentação. Se estivessem ao final ou mesmo no meio, nem todos tomariam conhecimento. E outdoor é feito para ser lido “de passagem”. Não é o meio ideal para uma comunicação mais longa, com princípio, meio e fim, como foi o caso. Ainda mais considerando que, dependendo do sentido em que se trafega, os cartazes podem ser vistos fora de ordem.
 
Espero que tenham lido tudo!

quinta-feira, dezembro 04, 2014

David Bowie: o filme da exposição

A exposição sobre David Bowie a que assisti em São Paulo (como registrei aqui) estreou primeiro em Londres. Nessa ocasião, os realizadores prepararam um filme sobre o evento, com o mesmo nome da mostra: "David Bowie is". Quem quiser assistir, programe-se para sábado, dia 6, nos cinemas da Rede Cinemark, pois é a única sessão disponível para quem não viu hoje. Em Porto Alegre, fica no Barrashopping. O documentário equivale a uma visita guiada a todos os ambientes da exposição, além de incluir diversos depoimentos, entre eles do figurinista japonês Kansai Yamamoto, que criou várias roupas da turnê de 1973. Há números musicais, também, embora nenhum exatamente raro (talvez "Changes" em 2000). Enfim, para quem é fã, é obrigatório conferir. Infelizmente, o próprio Bowie não contribuiu com nenhuma entrevista exclusiva. Os trechos que se ouvem são todos de arquivo.
E, conforme anunciado, logo devo escrever sobre a coletânea "Nothing Has Changed". Amanhã mesmo já deve estar em minhas mãos.

quarta-feira, dezembro 03, 2014

Novo CD de Rogério Ratner em 2015

O músico gaúcho Rogério Ratner acaba de anunciar seu terceiro CD para 2015 no Facebook:

Está sendo finalizada a gravação do terceiro CD do cantor e compositor gaúcho Rogério Ratner. O disco "Canções para leitores" reúne parcerias que Rogério fez com grandes escritores da cena literária gaúcha contemporânea, musicando seus poemas e letras. Os escritores em questão são Martha Medeiros, Leticia Wierzchowski, Ronald Augusto, Emilio Pacheco, Cintia Moscovich, Paula Taitelbaum, Celso Guttfreind, Ricardo Silvestrin, Fabrício Carpi Nejar e Arnaldo Sisson. O disco, com produção e direção musical de Ciro Moreau e presença de Michel Dorfman em uma faixa, conta com a participação especial dos cantores e cantoras Dudu Sperb, Lúcia Severo, Monica Tomasi, Adriana Marques, Rafael Brasil, Ana Krüger e Karine da Cunha . O CD "físico" vai ser lançado no início de 2015, mas amostras serão compartilhadas em meio virtual. O projeto teve início em 2005.

Sim, eu sou parceiro em uma das músicas. Rogério é um grande amigo e me convidou para participar. Que honra, não? Mais uma vez, estou bem acompanhado em um projeto coletivo bacana. Isso é muito gratificante. Valeu, Rogério!