terça-feira, dezembro 16, 2014

O primeiro álbum dos Monkees em edição de luxo

O selo americano Rhino já reapresentou a obra dos Monkees nas mais diversas configurações. Começou com coletâneas de raridades nos CDs intitulados "Missing Links". Soltou também um CD triplo em tiragem limitada contendo sessões inéditas do antológico Headquarters, de 1967, mas sem incluir as gravações do LP em sua forma final. Depois, passou a relançar os álbuns originais com faixas-bônus. Em 2006, teve início a série que parecia definitiva: CDs duplos com a faixas em mono e estéreo, além de diversos outtakes de estúdio e músicas inéditas. Tudo produzido pelo expert Andrew Sandoval, que escrevia os textos dos livretos e realizava um trabalho semelhante com os Bee Gees (que, infelizmente, não teve continuidade após Odessa). 

Quando chegou a vez de The Birds, The Bees and the Monkees, o quinto título da discografia, os colecionadores foram surpreendidos em 2010 por uma edição expandida, limitada e cara, contendo três CDs. E assim, nesse formato, saíram Head, Instant Replay e The Monkees Present. O próximo da lista deveria ser o fraquinho Changes, somente com Micky Dolenz e Davy Jones na formação. Não é surpresa que a gravadora o tenha deixado de fora, aparentemente.
Só que, com a boa repercussão dos relançamentos de luxo, a série recomeça do primeiro álbum dos Monkees, de 1967, dando início a uma "sobreposição" aos CDs duplos que saíram antes. Sendo esta uma edição tripla, seria de se esperar que incluísse tudo da anterior e mais um pouco. Mas, como bem observou o crítico Ayrton Mugniaini Jr. no Facebook, está faltando a demo de "Propinquity", de Michael Nesmith. Se isso não fosse motivo suficiente para manter o relançamento de 2006, ressalte-se que os textos dos encartes também são diferentes, ainda que ambos tenham sido redigidos por Andrew Sandoval. O primeiro é mais informativo em relação às músicas enquanto o segundo fornece mais detalhes sobre os trabalhos pré-Monkees dos quatro integrantes.

Há um bom pretexto para esmiuçar as origens dos rapazes. Na falta de material de estúdio das sessões do primeiro LP para encher os três CDs, a Rhino teve uma sacada legal: incluiu a íntegra do álbum solo lançado por Davy Jones em 1965 e os singles de Michael Nesmith como "Michael Blessing" no mesmo ano. As interpretações de Davy lembram Peter Noone dos Herman's Hermits, já que ambos são ingleses, mas a qualidade das composições é sofrível. Já Mike dá seus primeiros passos em direção ao folk/country, mostrando clara influência de "The Eve of Destruction" de Barry McGuire em "The New Recruit". Ele se sai melhor e não admira que tenha sido o único ex-integrante dos Monkees a construir uma bem sucedida carreira solo.

Hoje já se sabe que os Monkees não tocavam em seus próprios discos, embora Michael Nesmith e Peter Tork fossem músicos de verdade. A contracapa do primeiro LP mostrava uma ficha técnica totalmente fictícia, dando a entender que o conjunto havia executado os instrumentos. A ideia do quarteto era ser uma resposta americana aos Beatles. O projeto nasceu de uma equipe de televisão, que testou vários candidatos até fechar em Michael, Peter, Davy e Micky Dolenz. Todos faziam vocal solo, mas a voz de destaque acabou sendo a de Micky, que também posava de baterista. O timbre quase infantil de Davy caía bem em canções selecionadas como a balada "I Wanna Be Free". Michael Nesmith tinha muita força interpretativa, além de ser, a princípio, o único compositor do grupo. Peter sempre foi o mais limitado como vocalista, mas sua voz grave e bem humorada logo conquistou a simpatia dos fãs. 

Apoiados por um supertime de compositores de primeira linha, os Monkees se tornaram sucesso absoluto com seus discos e a série de TV. Nesse primeiro álbum se encontram clássicos como "(Theme From) The Monkees", "I Wanna Be Free", "Take a Giant Step", "Saturday's Child" (de David Gates, futuro integrante do Bread) e "Sweet Young Thing". Entre as muitas faixas bônus, ouvem-se "You Just May Be The One" (versão da TV, anterior à do álbum Headquarters), "I Don't Think You Know Me" (de Carole King e Gerry Goffin, cuja sequência de acordes Michael Nesmith aproveitaria para compor a citada "You Just May Be the One"), "All The King's Horses" e várias bases instrumentais de músicas conhecidas para quem quiser brincar de karaokê. 

Agora é praticamente certo que os relançamentos de luxo continuarão com More of the Monkees, Headquarters e Pisces, Aquarius, Capricorn & Jones, Ltd. Eu não me surpreenderia se, depois desses, a Rhino resolvesse investir nos títulos menos cotados da discografia, como o já mencionado Changes, a volta em 1987 com Pool it! (sem Michael Nesmith) e o novo retorno em 1996 com Justus. Esse último poderia até incluir um DVD com o filme que foi feito à época para a televisão.