Em minha postagem anterior, fiz uma citação rápida ao tempo em que eu estudava inglês. Hoje me dou conta de como aumentaram os recursos para alunos brasileiros praticarem o idioma. Na minha adolescência, nos anos 70, tínhamos só o cinema, praticamente. Enquanto assistíamos aos filmes, ficávamos brincando de adivinhar as falas (porque as legendas em geral entravam antes). De resto, havia revistas importadas e um universo bastante limitado de livros, geralmente pocket books. Os filmes da TV eram todos dublados.
Hoje? Primeiro, tivemos o videocassete. Depois, a TV a cabo, com seus canais estrangeiros. Com a chegada da Internet, as chances de se praticar inglês tornaram-se fartas, abundantes, inesgotáveis. Temos sites, e-books, audiobooks, podcasts e comunicação direta com nativos do idioma. Uma verdadeira overdose de língua estrangeira.
Mas, na minha juventude, não era assim. Por isso, fiquei eufórico quando, aos 20 anos, encontrei uma edição especial da revista Somtrês incluindo um compacto com trechos da última entrevista de John Lennon. Diversos veículos alegavam ter colhido os depoimentos finais do ex-Beatle, notadamente a Playboy, mas essa foi de fato a derradeira entrevista, realizada na tarde do dia em que ele seria assassinado. Trouxe para casa esse verdadeiro tesouro e ouvi várias vezes. Isso foi na semana em que a segunda-feira caiu no dia 25 de maio de 1981. Lembro minha mãe, curiosa, querendo saber o que eu estava escutando. Ela só estava acostumada a ouvir música saindo das caixas de som de meu equipamento.
Por que guardei a data? Simples: foi quando comecei a trabalhar. As recordações ficaram entrelaçadas. Naquela semana eu fiz "curso de integração" bem perto de onde eu morava. No intervalo para almoço, ia para casa, comia e aproveitava o resto do tempo para ouvir mais um pouco o disco. Assim como a primeira semana de trabalho foi marcante, a última também está sendo. Hoje me dou conta que comecei a trabalhar cerca de meio ano após a morte de John Lennon e estou me aposentando meio ano após o falecimento de David Bowie. A música sempre fez parte da minha vida, então esses detalhes inevitavelmente servem como referência.
Meus colegas fizeram uma festa de despedida para mim ontem. Ganhei de presente um calção esportivo e uma camiseta, já que eles sabem das minhas caminhadas, um par de chinelos desses de se usar em casa e, sutilmente, uma garrafinha de Coca Zero! Obrigado, gente. Foram 35 anos de aprendizado, lições, amizades, até alguns namoros (foi no trabalho que conheci minha ex-esposa, mãe do meu filho) e, principalmente, o meu sustento, a minha independência financeira. Agora começa uma nova fase.