segunda-feira, julho 27, 2015
Tenho andado bem ocupado mas, para não deixá-los no silêncio total, um breve anúncio (ou um anúncio de "breve", que também serve): na semana passada tive a satisfação de receber um exemplar do DVD "Luz, Anima, Ação" sobre a história da animação no Brasil. Fui uma das muitas pessoas com quem o produtor Felipe Haurelhuk entrou em contato na busca de material e fontes para o documentário. Ele me achou pela postagem que fiz no YouTube sobre Cinema Gaúcho e eu lembro de ter feito algumas indicações. Foi uma colaboração mínima, mesmo assim meu nome consta na longa lista de agradecimentos nos créditos finais. Fico honrado.
Este é um DVD que eu quereria ter em minha coleção de qualquer maneira, pois o tema é de meu total interesse. Assim que puder, quero postar aqui um comentário a respeito, incluindo imagens capturadas. Aguardem.
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Sigo ouvindo o audiobook da biografia oficial dos Beatles, escrita por Hunter Davies. Já está na fila de espera, devidamente baixada para o iPod, a narração de "We Don't Need Roads - The Making of the Back to the Future Trilogy", de autoria de Caseen Gaines na voz de Ron Butler. Esse eu tive que encomendar em CD, pois não estava disponível para venda ao Brasil via Audible. E já sei que no mês que vem sai também em áudio uma nova biografia de Frank Sinatra, redigida pelo renomado escritor J. Randy Taraborrelli, que já realizou obras de fôlego sobre, entre outros, Michael Jackson, Elizabeth Taylor, Diana Ross e Madonna. Ainda sobre Sinatra, em outubro será publicado o segundo livro de James Kaplan sobre o cantor, este intitulado "Sinatra, the Chairman". Só não há ainda qualquer anúncio de audiobook. O primeiro, "Frank, the Voice", eu consegui em edição gravada e já escutei. Contava a carreira do artista até 1954. Em livro físico, comecei a ler "Ringo, With a Little Help", de Michael Seth Starr. O sobrenome é coincidência e não uma "homenagem de fã", como se poderia pensar. Parece ser uma boa biografia do baterista dos Beatles, já que a única lançada antes, de autoria de Alan Clayson (que publicou um livro para cada Beatle), não foi bem aceita pelos fãs.
terça-feira, julho 21, 2015
O novo Yes
O show tem que continuar, diz o surrado clichê. Enquanto Chris Squire vivia, não podia haver Yes sem ele na formação. Ele era o dono da marca. Tanto que em 1988 surgiu um quarteto chamado Anderson Bruford Wakeman Howe, que nada mais era do que o Yes com outro nome e o baixista Tony Levin participando como convidado. Mas, com o falecimento de Chris, o Yes já anuncia uma turnê na América do Norte com Billy Sherwood no baixo. Billy já havia tocado com o grupo antes, como guitarrista, inclusive no show de Porto Alegre em maio de 1998, no Opinião. Lembro bem dele, sorrindo bastante, visivelmente feliz de estar na banda. Pois agora ele assume uma posição de extrema responsabilidade. A cobrança será imensa.
Como bem observou um fã, hoje o Yes não tem mais nenhum membro original no time. Se já era difícil para os velhos seguidores aceitar outro cantor que não Jon Anderson, desta vez a rejeição será ainda maior. O guitarrista Steve Howe e o baterista Alan White até podem ser considerados "fundadores honorários", pois pertenceram à formação clássica ao lado de Rick Wakeman nos anos 70. Mas o atual tecladista Geoffrey Downes está longe de ser uma unanimidade. Ele formava os Buggles em 1979 com o vocalista Trevor Horn quando os dois foram convidados a entrar para o Yes. Esse híbrido Yes-Buggles lançou um álbum em 1980 chamado Drama. Depois o grupo se desfez. Horn tornou-se um produtor de destaque, inclusive trabalhando com o Yes em 1983 em 90125 (aquele do "Owner of a Lonely Heart"). Downes teve uma longa trajetória com o Asia. Quando Trevor Horn foi chamado para, mais uma vez, produzir o Yes em 2010, decidiu resgatar as composições inéditas que criara com o grupo ainda em 1980. Aí seu velho parceiro Downes acabou voltando para os teclados. E ficando.
Quanto ao vocalista, diria que Jon Davison é um substituto à altura de seu xará Jon Anderson. O anterior, Benoit David, era ótimo, mas sem a mesma personalidade. Sou da opinião de que a melhor saída para uma banda que precisa de um novo cantor não é encontrar um xerox do substituído, mas alguém que consiga interpretar as músicas clássicas do repertório com estilo próprio, sem descaracterizá-las. Bons exemplos disso seriam Phil Collins no Genesis e Greg Lake no Asia (na turnê "Asia in Asia", lançada em VHS e laserdisc mas ainda inédita em DVD). Eu até gostei do Yes com Trevor Horn. Era outro padrão de voz, mas interessante. Bandas lendárias têm um nome a zelar e costumam ser exigentes na seleção de novos membros. Sempre acho curioso observar como um integrante recém chegado altera a química musical.
Como se vê no cartaz, o Yes fará shows juntamente com Toto. Isso pode não ter sido uma boa ideia. Yes é progressivo e Toto faz um pop esmerado, mas são públicos diferentes. Enquanto isso, eu me pergunto se o vocalista Jon Anderson e o tecladista Rick Wakeman não pensarão no caso de também montar uma turnê. O guitarrista Trevor Rabin poderia participar. O baterista Bill Bruford já se aposentou.
Como bem observou um fã, hoje o Yes não tem mais nenhum membro original no time. Se já era difícil para os velhos seguidores aceitar outro cantor que não Jon Anderson, desta vez a rejeição será ainda maior. O guitarrista Steve Howe e o baterista Alan White até podem ser considerados "fundadores honorários", pois pertenceram à formação clássica ao lado de Rick Wakeman nos anos 70. Mas o atual tecladista Geoffrey Downes está longe de ser uma unanimidade. Ele formava os Buggles em 1979 com o vocalista Trevor Horn quando os dois foram convidados a entrar para o Yes. Esse híbrido Yes-Buggles lançou um álbum em 1980 chamado Drama. Depois o grupo se desfez. Horn tornou-se um produtor de destaque, inclusive trabalhando com o Yes em 1983 em 90125 (aquele do "Owner of a Lonely Heart"). Downes teve uma longa trajetória com o Asia. Quando Trevor Horn foi chamado para, mais uma vez, produzir o Yes em 2010, decidiu resgatar as composições inéditas que criara com o grupo ainda em 1980. Aí seu velho parceiro Downes acabou voltando para os teclados. E ficando.
Quanto ao vocalista, diria que Jon Davison é um substituto à altura de seu xará Jon Anderson. O anterior, Benoit David, era ótimo, mas sem a mesma personalidade. Sou da opinião de que a melhor saída para uma banda que precisa de um novo cantor não é encontrar um xerox do substituído, mas alguém que consiga interpretar as músicas clássicas do repertório com estilo próprio, sem descaracterizá-las. Bons exemplos disso seriam Phil Collins no Genesis e Greg Lake no Asia (na turnê "Asia in Asia", lançada em VHS e laserdisc mas ainda inédita em DVD). Eu até gostei do Yes com Trevor Horn. Era outro padrão de voz, mas interessante. Bandas lendárias têm um nome a zelar e costumam ser exigentes na seleção de novos membros. Sempre acho curioso observar como um integrante recém chegado altera a química musical.
Como se vê no cartaz, o Yes fará shows juntamente com Toto. Isso pode não ter sido uma boa ideia. Yes é progressivo e Toto faz um pop esmerado, mas são públicos diferentes. Enquanto isso, eu me pergunto se o vocalista Jon Anderson e o tecladista Rick Wakeman não pensarão no caso de também montar uma turnê. O guitarrista Trevor Rabin poderia participar. O baterista Bill Bruford já se aposentou.
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Mudando de assunto: não entendo essa repercussão toda pela declaração da ex-esposa de Paul McCartney, Heather Mills, de que o músico não sabe ler partituras. Nunca foi segredo. Nenhum dos Beatles tinha esse conhecimento, nem veio a adquirir. Não passa de uma "novidade requentada", como tantas que aparecem, às vezes.
sábado, julho 18, 2015
Ejetando tertúlias
Mesmo que não aconteça nada marcante neste segundo semestre, 2015 já será lembrado como o ano em que voltei a ser motorista do meu filho. Até o ano 2000 eu o levava diariamente para a escolinha. Mas aí houve um mutirão de hora extra no meu trabalho e tive que abandonar essa tarefa. A van que o trazia diariamente passou a levar, também. Pois agora eu o busco todas as tardes. Ele e o motorista novo da volta começaram a se desentender (quem frequenta o Blog já sabe que o Iuri é um menino autista), então achei melhor mudar meu horário de trabalho e assumir essa função. Está sendo uma experiência maravilhosa. Eu e meu filho estamos nos vendo todos os dias, como nos velhos tempos. A foto acima é do dia 9 de julho. Eu estava com minha máquina fotográfica porque iria à Confraria do Cachorro Quente à noite. Aproveitei um congestionamento na Av. Princesa Isabel e tirei alguns "selfies".
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Tendinite no tendão de Aquiles é um problema que me persegue desde os 20 e poucos anos. Começou na minha fase de atleta, em que eu corria. Houve uma época em que parou de incomodar. Pois agora, que me contento em caminhar, comecei a sentir de novo, no lado direito. Minha irmã me repassou uma dica do médico dela: uma banana por dia fortalece os músculos, inclusive o coração. Pois não é que funcionou? Eu não estava mais conseguindo caminhar uma hora sem parar e hoje fiz uma hora e 40 minutos de caminhada! Já tinha feito uma hora e meia na semana retrasada. Para melhorar mais ainda, só baixando um pouco de peso. Em 2012 e 2013 eu estava mais leve, mas o efeito sanfona é implacável. Mas o fortalecimento da musculatura já me entusiasma. Vamos tratar de fechar a sanfona mais uma vez.
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Quem poderia imaginar que o uruguaio Ghiggia iria falecer no dia do aniversário do jogo Brasil x Uruguai de 1950? Eu já pensava em escrever aquele texto sobre a partida desde que ouvi a narração da Rádio Nacional no YouTube. Na verdade, baixei o áudio para colocar no iPod e fiquei escutando em minhas caminhadas. Só estava esperando o dia 16 de julho para finalizar a redação e publicá-la. Pode ter sido um evento triste para os brasileiros, mas foi um momento histórico para o esporte. E a vitória dos uruguaios foi mais do que justa. Passei a admirar mais ainda Ghiggia ao pesquisar sobre ele nos livros que citei. Grande esportista, grande ser humano.
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Depois das caixinhas de cinco CDs, a Warner americana está apostando nas coleções completas. Vem aí "Doobie Brothers - The Warner Bros. Years 1971-1983", com os dez álbuns que a banda americana lançou pela gravadora. Os mesmos CDs estavam disponíveis nos dois volumes do grupo da série "Original Album Series", mas agora saem num pacote único. Quem sabe isso me motiva a pegar o livrinho de bolso que consegui há alguns anos com a história da banda. Foi escrito por Mark Bego, biógrafo que ainda está na ativa, e publicado em 1980. Outro lançamento nos mesmos moldes, esse já disponível para importação, é "America - The Warner Bros. Years 1971 - 1977", incluindo os sete álbuns em que o America ainda era um trio, mais o disco ao vivo.
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Acho que deu pra entender o que significa "ejetando tertúlias", né? Não é a primeira vez que uso esse título aqui no Blog. Bom fim de semana a todos!
quinta-feira, julho 16, 2015
Aniversário de uma derrota marcante
No jogo de estreia do Brasil na Copa 70, quando a Tchecoslováquia abriu o placar, ouvi minha mãe dizer: "Quem faz o primeiro gol, perde." Tenho a vaga lembrança de ter escutado essa afirmação mais vezes e não só dela. No caso daquela partida, a profecia dela se concretizou: nossa seleção venceu por 4 a 1. Mas de onde ela teria tirado essa crença? Hoje, acho que sei: da Copa de 1950.
Nesta data, 16 de julho, faz 65 anos que o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai por 2 a 1 em pleno Maracanã recém inaugurado. Há quem considere inadequado chamar àquela partida de "final", pois a fórmula daquele campeonato não era o tradicional funil, com oitavas, quartas e semifinais. Mas, pelos resultados que foram acontecendo, daquele jogo sairia o campeão. E tudo indicava que seria a Seleção Brasileira, que jogava pelo empate e vinha realizando uma campanha espetacular.
O gol de empate de Schiaffino, para o Uruguai.
A vitória pareceu ainda mais próxima com o gol de Friaça, em pouco mais de um minuto do segundo tempo, fazendo 1 a 0 para o Brasil. Se o empate bastava, a vantagem agora era ainda maior. Mas o Uruguai conseguiu o que parecia impossível: virar o escore. Aos 20 minutos, Ghiggia cruzou para Schiaffino, que atirou para marcar e empatar. Por fim, faltando apenas 11 minutos de disputa, o mesmo Ghiggia atirou a gol, quase sem ângulo, e selou o destino do Brasil. O impacto foi tão marcante que é sentido até hoje, mesmo por quem nem era nascido, como é o meu caso. Já se escreveram livros sobre aquele momento histórico. Max Gehringer, autor de uma série de e-books sobre todas as Copas até 1994 ("A Grande História dos Mundiais"), indica "Anatomia de Uma Derrota", de Paulo Perdigão, como "a melhor referência" e "possivelmente o melhor livro sobre futebol já escrito no Brasil". Perdigão tinha 11 anos em 1950 e assistiu aos jogos da Copa com seu pai.
Faz tempo que li a obra de Paulo Perdigão em sua edição original de 1986, da L&PM Editores. Um conto do mesmo autor – reproduzido integralmente no livro – foi adaptado pelo cineasta gaúcho Jorge Furtado em seu curta-metragem "Barbosa", sobre o goleiro brasileiro naquela Copa. No caso, Perdigão imagina-se viajando no tempo para invadir o campo na hora H e impedir a vitória uruguaia. No filme, o personagem foi vivido por Antônio Fagundes. Prédios antigos do centro de Porto Alegre serviram de pano de fundo para representar o Rio de Janeiro de 1950. No desfecho, o protagonista consegue se aproximar do gol no momento exato e sua presença distrai Barbosa, facilitando o gol de Ghiggia. Um enredo bastante familiar para quem lia gibis do Super-Homem: o viajante ao passado, em sua intenção de mudar a história, acaba se tornando ele próprio o causador do fato que pretendia evitar.
Entre muitas análises, pesquisas e entrevistas, "Anatomia de Uma Derrota" inclui o que era, na época da publicação, uma preciosidade: a transcrição praticamente completa da narração de Brasil x Uruguai da Copa 50 pela Rádio Nacional. Hoje, graças à Internet, podemos ouvir essa gravação no YouTube (ver abaixo). Foi o que fiz, acompanhando pelas páginas do livro de Perdigão. O escritor informa ter omitido "comerciais, informações sobre a partida Suécia x Espanha (que se desenrolava concomitantemente em São Paulo) e passagens não alusivas ao jogo propriamente dito". Confrontando-se o texto com a narração, nota-se que ficaram de fora chamadas de Brahma Chopp, registros do placar e tempo de jogo "pelo meu Omega", observações repetitivas e, como apontado, intervenções sobre a partida de São Paulo. Considerando a tarefa hercúlea a que o autor se propôs – foram 90 minutos de narração para transcrever – é até admirável que eu tenha achado apenas um erro: quando o narrador elogia Schiaffino aos cinco minutos do segundo tempo, dizendo "notável esse meia-direita do Uruguai", no texto aparece "meia-esquerda".
O jogo foi narrado por Antônio Cordeiro e Jorge Curi, cobrindo respectivamente o lado esquerdo e o direito do campo, do ponto de vista das cabines. Talvez os especialistas em futebol se estarreçam com o fato de que eu não consigo distinguir as duas vozes. É como eu me sinto quando ouço alguém dizer que não identifica os vocais de Roger Waters e David Gilmour no Pink Floyd, ou de Paulo César e Renato em Renato e Seus Blue Caps. O que chama a atenção é que os narradores se limitam a descrever o jogo quase todo o tempo, fazendo mínimos comentários e observações. Talvez agissem assim por não existir ainda televisão, que estava quase chegando ao Brasil. A missão de transmitir a partida era exclusiva deles.
Num exercício de imaginação, fico pensando como teria sido a narração pelos padrões atuais. No gol de Friaça, ouviríamos: "O Brasil está mais perto da taça! O Brasil vai ser campeão!" No gol de Schiaffino: "Agora tudo igual! Mas o empate ainda serve para o Brasil! A taça ainda é nossa!" Reconheça-se que o narrador da Rádio Nacional fez a observação, sem muita ênfase: "Empatada a peleja, aumentada portanto a emoção." Mas não mais do que isso. No gol de Ghiggia, os radialistas de hoje diriam: "Agora o jogo ficou dramático para o Brasil! A Seleção tem onze minutos, onze minutos dramáticos, para tentar o empate!" E a cada investida do ataque brasileiro, escutaríamos: "Quem sabe agora o gol de empate, o gol que irá salvar o Brasil!" Eles sentiam euforia por dentro, mas não era extravasada ao microfone. Prova disso é o testemunho de Friaça para o livro "Dossiê 80", de Geneton Moraes Neto (ano 2000, Editora Objetiva): "A emoção [de fazer o gol] foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César de Alencar, o locutor." No caso, Friaça refere-se ao repórter da Rádio Nacional que ficava atrás do gol, como se ouve na gravação. "Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois caímos dentro da grande área." Isso ajuda ainda mais a entender a tristeza de Alencar ao final da transmissão, como ficou registrada no áudio.
Como sempre ocorre em derrotas traumáticas, houve tentativa de achar culpados e o surgimento de lendas. Segundo os próprios jogadores, um dos fatores prejudiciais foi a mudança do local da concentração de uma casa adaptada no bairro de Joá para o Estádio de São Januário. Na sede do Vasco da Gama, a delegação ficou exposta a caçadores de autógrafos, políticos em campanha (era ano de eleição) e toda a sorte de curiosos e aproveitadores para atrapalhar seus treinos. Outro suposto dificultador foi a orientação do técnico Flávio Costa de que todos jogassem com disciplina e lealdade, para evitar expulsões, faltas perigosas ou pênaltis. Segundo Geneton Moraes Neto em seu livro (com base em depoimento de Juvenal), a recomendação do treinador "intimidou os jogadores que, numa situação normal, não teriam dúvida em dar entradas duras nos jogadores uruguaios, em lances decisivos". Um momento de abalo moral durante o jogo teria sido uma suposta bofetada do capitão do Uruguai, Obdúlio Varela, em Bigode. O lateral esquerdo passou a vida toda desmentindo, dizendo que foram somente uns tapinhas na nuca, o que era confirmado por seus colegas e até pela narração da Rádio Nacional. Ainda assim, foi muitas vezes chamado de covarde por torcedores, por não ter revidado a alegada agressão.
O gol de Ghiggia. Bigode leva a mão à cabeça.
Finalmente, haveria culpados em campo? Os dedos quase sempre apontavam para o lateral Bigode e o goleiro Barbosa, que teriam falhado no gol de Ghiggia. Alguns citam também o zagueiro Juvenal, que deveria dar cobertura a Bigode. Os próprios jogadores, com o apoio da maioria dos colegas, se defendem, dizendo que a derrota foi de todos. O que aconteceu, especificamente, é que Ghiggia recebeu um lançamento em profundidade de Júlio Perez na ponta direita. Barbosa imaginou que ele iria repetir a jogada do primeiro gol, cruzando para Schiaffino, e moveu-se levemente para a direita, preparando a cobertura. Bigode, que corria em vão para tentar alcançar o ponteiro, fez o seguinte relato a Geneton Moraes Neto: "Eu ainda dei combate a Ghiggia – que, no desespero, chutou de qualquer maneira, sem ângulo. Chegou a chutar a grama." Em uma edição atualizada do livro de Geneton, o uruguaio afirma que atirou de caso pensado, numa decisão tomada em "milésimos de segundo" ao ver a brecha deixada pelo goleiro. O escritor Paulo Perdigão chama a atenção para o "tom alarmante de voz" tanto de Jorge Curi da Rádio Nacional como de Pedro Luiz da Rádio Pan-americana ao narrar o gol. A mim pareceu que, ao menos no caso de Curi, ele estava fazendo uma "narração atrasada" e o desespero ao dizer "aproxima-se do gol e atira" é porque a bola já estava balançando a rede.
Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira.
Não existem imagens completas do jogo, somente um filme com alguns lances, incluindo o gol de Ghiggia. Com base nas informações registradas de que dispomos hoje, não me parece que tenha havido algum segredo, alguma causa misteriosa a ser desvendada. O Brasil perdeu... porque havia essa possibilidade. A comemoração antecipada do título foi um erro muito mais no sentido do vexame que isso significou do que em eventuais influências em campo. Uma queixa comum aos jogadores de 50 é que só eram lembrados pela derrota para o Uruguai. Eram vice-campeões, tinham diversos títulos acumulados, mas todos só falavam no chamado "Maracanaço". O estigma os atingiu de tal forma que, dos onze titulares, somente Bauer foi convocado para a Copa seguinte, em 1954. Todos eles já faleceram. No ano passado, quando a Seleção foi massacrada pela Alemanha em casa, a filha de criação de Barbosa, Tereza Borba, sentiu uma pontinha de redenção em relação a seu pai, lembrando que ele foi vice-campeão.
Um lado bonito da história que raramente é lembrado é que vários jogadores brasileiros e uruguaios ficaram amigos. Depoimento de Ghiggia a Geneton Moraes Neto: "O que aconteceu foi que muitos não acreditavam que tínhamos uma amizade de irmãos. Visitávamos uns aos outros com frequência. Estive com Zizinho, com Jair, com Ademir. Éramos muito amigos. Quando íamos ao Brasil, eles nos recebiam. Quando eles vinham ao Uruguai, nós os recebíamos." E mais: "Já estive no Brasil várias vezes. Sempre encontro quem me cumprimenta e me parabeniza. Sempre que vou ao Brasil, vou com tranquilidade e alegria, porque os brasileiros são muito carinhosos." Há alguns anos, um repórter da Globo tentou caçar uma manchete perguntando ao ex-jogador uruguaio se poderia pedir desculpas ao povo brasileiro. Isso seria patético e desnecessário. Ghiggia não mordeu a isca. Ele é o único sobrevivente da partida com o Brasil. Está com 88 anos. [P.S.: Por uma coincidência incrível, como observou Italo, frequentador deste Blog, Ghiggia faleceu nesta tarde.]
É claro que ainda há testemunhas vivas do 16 de julho de 1950. Gente que, no mínimo, ouviu o jogo pelo rádio. É o caso de Luis Fernando Verissimo, que escreveu um conto sobre um torcedor que entra em coma antes dos gols do Uruguai e assim permanece por vários anos. Quando acorda, todos ficam apreensivos em lhe contar o placar final. Como Verissimo colaborava com programas humorísticos da Globo, é possível que essa historinha tenha servido de inspiração para o quadro "me tira o tubo", de "Viva o Gordo", em que Jô Soares vivia um político recém acordado de um longo coma em meados dos anos 80. Ao ver que os tempos tinham mudado com a abertura, num impulso suicida, pedia que lhe tirassem o tubo.
Enfim, aprendemos a lição de 1950? Em parte. O brasileiro continua cantando vitória antes do tempo. Em tudo, não só no futebol. Mas tenho a impressão de que conseguimos lidar melhor com as grandes decepções no esporte. Não com as pequenas: em todas as vezes que o Brasil caiu fora da Copa de forma corriqueira, a reação da torcida era de raiva pelo mau desempenho dos jogadores. Mas não senti isso no torneio da França em 1998, em que a Seleção foi novamente vice-campeã. Nem no vexame dos 7 a 1 em casa contra a Alemanha no ano passado. Tristeza, sim, mas não a gana das outras vezes.
Abaixo, a narração da Rádio Nacional:
Nesta data, 16 de julho, faz 65 anos que o Brasil perdeu a Copa para o Uruguai por 2 a 1 em pleno Maracanã recém inaugurado. Há quem considere inadequado chamar àquela partida de "final", pois a fórmula daquele campeonato não era o tradicional funil, com oitavas, quartas e semifinais. Mas, pelos resultados que foram acontecendo, daquele jogo sairia o campeão. E tudo indicava que seria a Seleção Brasileira, que jogava pelo empate e vinha realizando uma campanha espetacular.
O gol de empate de Schiaffino, para o Uruguai.
A vitória pareceu ainda mais próxima com o gol de Friaça, em pouco mais de um minuto do segundo tempo, fazendo 1 a 0 para o Brasil. Se o empate bastava, a vantagem agora era ainda maior. Mas o Uruguai conseguiu o que parecia impossível: virar o escore. Aos 20 minutos, Ghiggia cruzou para Schiaffino, que atirou para marcar e empatar. Por fim, faltando apenas 11 minutos de disputa, o mesmo Ghiggia atirou a gol, quase sem ângulo, e selou o destino do Brasil. O impacto foi tão marcante que é sentido até hoje, mesmo por quem nem era nascido, como é o meu caso. Já se escreveram livros sobre aquele momento histórico. Max Gehringer, autor de uma série de e-books sobre todas as Copas até 1994 ("A Grande História dos Mundiais"), indica "Anatomia de Uma Derrota", de Paulo Perdigão, como "a melhor referência" e "possivelmente o melhor livro sobre futebol já escrito no Brasil". Perdigão tinha 11 anos em 1950 e assistiu aos jogos da Copa com seu pai.
Faz tempo que li a obra de Paulo Perdigão em sua edição original de 1986, da L&PM Editores. Um conto do mesmo autor – reproduzido integralmente no livro – foi adaptado pelo cineasta gaúcho Jorge Furtado em seu curta-metragem "Barbosa", sobre o goleiro brasileiro naquela Copa. No caso, Perdigão imagina-se viajando no tempo para invadir o campo na hora H e impedir a vitória uruguaia. No filme, o personagem foi vivido por Antônio Fagundes. Prédios antigos do centro de Porto Alegre serviram de pano de fundo para representar o Rio de Janeiro de 1950. No desfecho, o protagonista consegue se aproximar do gol no momento exato e sua presença distrai Barbosa, facilitando o gol de Ghiggia. Um enredo bastante familiar para quem lia gibis do Super-Homem: o viajante ao passado, em sua intenção de mudar a história, acaba se tornando ele próprio o causador do fato que pretendia evitar.
Entre muitas análises, pesquisas e entrevistas, "Anatomia de Uma Derrota" inclui o que era, na época da publicação, uma preciosidade: a transcrição praticamente completa da narração de Brasil x Uruguai da Copa 50 pela Rádio Nacional. Hoje, graças à Internet, podemos ouvir essa gravação no YouTube (ver abaixo). Foi o que fiz, acompanhando pelas páginas do livro de Perdigão. O escritor informa ter omitido "comerciais, informações sobre a partida Suécia x Espanha (que se desenrolava concomitantemente em São Paulo) e passagens não alusivas ao jogo propriamente dito". Confrontando-se o texto com a narração, nota-se que ficaram de fora chamadas de Brahma Chopp, registros do placar e tempo de jogo "pelo meu Omega", observações repetitivas e, como apontado, intervenções sobre a partida de São Paulo. Considerando a tarefa hercúlea a que o autor se propôs – foram 90 minutos de narração para transcrever – é até admirável que eu tenha achado apenas um erro: quando o narrador elogia Schiaffino aos cinco minutos do segundo tempo, dizendo "notável esse meia-direita do Uruguai", no texto aparece "meia-esquerda".
O jogo foi narrado por Antônio Cordeiro e Jorge Curi, cobrindo respectivamente o lado esquerdo e o direito do campo, do ponto de vista das cabines. Talvez os especialistas em futebol se estarreçam com o fato de que eu não consigo distinguir as duas vozes. É como eu me sinto quando ouço alguém dizer que não identifica os vocais de Roger Waters e David Gilmour no Pink Floyd, ou de Paulo César e Renato em Renato e Seus Blue Caps. O que chama a atenção é que os narradores se limitam a descrever o jogo quase todo o tempo, fazendo mínimos comentários e observações. Talvez agissem assim por não existir ainda televisão, que estava quase chegando ao Brasil. A missão de transmitir a partida era exclusiva deles.
Num exercício de imaginação, fico pensando como teria sido a narração pelos padrões atuais. No gol de Friaça, ouviríamos: "O Brasil está mais perto da taça! O Brasil vai ser campeão!" No gol de Schiaffino: "Agora tudo igual! Mas o empate ainda serve para o Brasil! A taça ainda é nossa!" Reconheça-se que o narrador da Rádio Nacional fez a observação, sem muita ênfase: "Empatada a peleja, aumentada portanto a emoção." Mas não mais do que isso. No gol de Ghiggia, os radialistas de hoje diriam: "Agora o jogo ficou dramático para o Brasil! A Seleção tem onze minutos, onze minutos dramáticos, para tentar o empate!" E a cada investida do ataque brasileiro, escutaríamos: "Quem sabe agora o gol de empate, o gol que irá salvar o Brasil!" Eles sentiam euforia por dentro, mas não era extravasada ao microfone. Prova disso é o testemunho de Friaça para o livro "Dossiê 80", de Geneton Moraes Neto (ano 2000, Editora Objetiva): "A emoção [de fazer o gol] foi tão grande que só me lembro de uma pessoa que veio me abraçar: César de Alencar, o locutor." No caso, Friaça refere-se ao repórter da Rádio Nacional que ficava atrás do gol, como se ouve na gravação. "Naquela confusão, ele entrou em campo e me abraçou. Nós dois caímos dentro da grande área." Isso ajuda ainda mais a entender a tristeza de Alencar ao final da transmissão, como ficou registrada no áudio.
Como sempre ocorre em derrotas traumáticas, houve tentativa de achar culpados e o surgimento de lendas. Segundo os próprios jogadores, um dos fatores prejudiciais foi a mudança do local da concentração de uma casa adaptada no bairro de Joá para o Estádio de São Januário. Na sede do Vasco da Gama, a delegação ficou exposta a caçadores de autógrafos, políticos em campanha (era ano de eleição) e toda a sorte de curiosos e aproveitadores para atrapalhar seus treinos. Outro suposto dificultador foi a orientação do técnico Flávio Costa de que todos jogassem com disciplina e lealdade, para evitar expulsões, faltas perigosas ou pênaltis. Segundo Geneton Moraes Neto em seu livro (com base em depoimento de Juvenal), a recomendação do treinador "intimidou os jogadores que, numa situação normal, não teriam dúvida em dar entradas duras nos jogadores uruguaios, em lances decisivos". Um momento de abalo moral durante o jogo teria sido uma suposta bofetada do capitão do Uruguai, Obdúlio Varela, em Bigode. O lateral esquerdo passou a vida toda desmentindo, dizendo que foram somente uns tapinhas na nuca, o que era confirmado por seus colegas e até pela narração da Rádio Nacional. Ainda assim, foi muitas vezes chamado de covarde por torcedores, por não ter revidado a alegada agressão.
O gol de Ghiggia. Bigode leva a mão à cabeça.
Finalmente, haveria culpados em campo? Os dedos quase sempre apontavam para o lateral Bigode e o goleiro Barbosa, que teriam falhado no gol de Ghiggia. Alguns citam também o zagueiro Juvenal, que deveria dar cobertura a Bigode. Os próprios jogadores, com o apoio da maioria dos colegas, se defendem, dizendo que a derrota foi de todos. O que aconteceu, especificamente, é que Ghiggia recebeu um lançamento em profundidade de Júlio Perez na ponta direita. Barbosa imaginou que ele iria repetir a jogada do primeiro gol, cruzando para Schiaffino, e moveu-se levemente para a direita, preparando a cobertura. Bigode, que corria em vão para tentar alcançar o ponteiro, fez o seguinte relato a Geneton Moraes Neto: "Eu ainda dei combate a Ghiggia – que, no desespero, chutou de qualquer maneira, sem ângulo. Chegou a chutar a grama." Em uma edição atualizada do livro de Geneton, o uruguaio afirma que atirou de caso pensado, numa decisão tomada em "milésimos de segundo" ao ver a brecha deixada pelo goleiro. O escritor Paulo Perdigão chama a atenção para o "tom alarmante de voz" tanto de Jorge Curi da Rádio Nacional como de Pedro Luiz da Rádio Pan-americana ao narrar o gol. A mim pareceu que, ao menos no caso de Curi, ele estava fazendo uma "narração atrasada" e o desespero ao dizer "aproxima-se do gol e atira" é porque a bola já estava balançando a rede.
Barbosa, goleiro da Seleção Brasileira.
Não existem imagens completas do jogo, somente um filme com alguns lances, incluindo o gol de Ghiggia. Com base nas informações registradas de que dispomos hoje, não me parece que tenha havido algum segredo, alguma causa misteriosa a ser desvendada. O Brasil perdeu... porque havia essa possibilidade. A comemoração antecipada do título foi um erro muito mais no sentido do vexame que isso significou do que em eventuais influências em campo. Uma queixa comum aos jogadores de 50 é que só eram lembrados pela derrota para o Uruguai. Eram vice-campeões, tinham diversos títulos acumulados, mas todos só falavam no chamado "Maracanaço". O estigma os atingiu de tal forma que, dos onze titulares, somente Bauer foi convocado para a Copa seguinte, em 1954. Todos eles já faleceram. No ano passado, quando a Seleção foi massacrada pela Alemanha em casa, a filha de criação de Barbosa, Tereza Borba, sentiu uma pontinha de redenção em relação a seu pai, lembrando que ele foi vice-campeão.
Um lado bonito da história que raramente é lembrado é que vários jogadores brasileiros e uruguaios ficaram amigos. Depoimento de Ghiggia a Geneton Moraes Neto: "O que aconteceu foi que muitos não acreditavam que tínhamos uma amizade de irmãos. Visitávamos uns aos outros com frequência. Estive com Zizinho, com Jair, com Ademir. Éramos muito amigos. Quando íamos ao Brasil, eles nos recebiam. Quando eles vinham ao Uruguai, nós os recebíamos." E mais: "Já estive no Brasil várias vezes. Sempre encontro quem me cumprimenta e me parabeniza. Sempre que vou ao Brasil, vou com tranquilidade e alegria, porque os brasileiros são muito carinhosos." Há alguns anos, um repórter da Globo tentou caçar uma manchete perguntando ao ex-jogador uruguaio se poderia pedir desculpas ao povo brasileiro. Isso seria patético e desnecessário. Ghiggia não mordeu a isca. Ele é o único sobrevivente da partida com o Brasil. Está com 88 anos. [P.S.: Por uma coincidência incrível, como observou Italo, frequentador deste Blog, Ghiggia faleceu nesta tarde.]
É claro que ainda há testemunhas vivas do 16 de julho de 1950. Gente que, no mínimo, ouviu o jogo pelo rádio. É o caso de Luis Fernando Verissimo, que escreveu um conto sobre um torcedor que entra em coma antes dos gols do Uruguai e assim permanece por vários anos. Quando acorda, todos ficam apreensivos em lhe contar o placar final. Como Verissimo colaborava com programas humorísticos da Globo, é possível que essa historinha tenha servido de inspiração para o quadro "me tira o tubo", de "Viva o Gordo", em que Jô Soares vivia um político recém acordado de um longo coma em meados dos anos 80. Ao ver que os tempos tinham mudado com a abertura, num impulso suicida, pedia que lhe tirassem o tubo.
Enfim, aprendemos a lição de 1950? Em parte. O brasileiro continua cantando vitória antes do tempo. Em tudo, não só no futebol. Mas tenho a impressão de que conseguimos lidar melhor com as grandes decepções no esporte. Não com as pequenas: em todas as vezes que o Brasil caiu fora da Copa de forma corriqueira, a reação da torcida era de raiva pelo mau desempenho dos jogadores. Mas não senti isso no torneio da França em 1998, em que a Seleção foi novamente vice-campeã. Nem no vexame dos 7 a 1 em casa contra a Alemanha no ano passado. Tristeza, sim, mas não a gana das outras vezes.
Abaixo, a narração da Rádio Nacional:
segunda-feira, julho 13, 2015
Bem-vindos, leitores do Prévidi!
Hoje chegou bastante gente nova por aqui, graças ao link postado pelo José Luiz Prévidi em seu blog. Espero que tenham gostado do que leram. Ele me indicou como alguém que "entende de música". É meu assunto preferido, sem dúvida. Mas não é o único. De vez em quando dou meus pitacos em outras áreas. Para esta semana, estou planejando um texto sobre futebol. Não sou profundo conhecedor do assunto, mas abordarei um fato histórico conhecido de todos. Não posto diariamente, mas mantenho este Blog devagar e sempre há mais de dez anos (os 11 anos fecham no mês que vem). Sejam bem-vindos!
domingo, julho 12, 2015
Foto minha usada em jornal
Já tirei muitas fotos de shows, algumas até antes de começar para valer no jornalismo musical. Mas essa que aí está, do show de 15 anos dos Almôndegas em 1990, não é uma das melhores. Eu estava longe do palco e ainda era um tanto tímido para me aproximar com minha câmera à moda de "profissional". Hoje conheço pessoalmente quase todos os músicos que participaram, mas não naquela época. Então, a distância mesmo, fui fazendo várias fotos com a Minolta que ganhei de presente de meu irmão João Carlos. Não ficaram muito boas, mas pelo menos registrei as imagens. Em 2008, digitalizei uma delas, recortei-a e a publiquei neste tópico aqui.
Pois hoje, em uma matéria sobre os 40 do surgimento do grupo gaúcho, o Diário Popular de Pelotas usou a minha foto como ilustração! Vejam:
No site, a foto não aparece. Para ler a matéria, cliquem aqui.
Pois hoje, em uma matéria sobre os 40 do surgimento do grupo gaúcho, o Diário Popular de Pelotas usou a minha foto como ilustração! Vejam:
No site, a foto não aparece. Para ler a matéria, cliquem aqui.
sexta-feira, julho 10, 2015
Obstinação pela verdade
Conforme anunciei que faria, estou escutando a versão em audiobook da biografia oficial dos Beatles, de Hunter Davies (em inglês). A cada nova edição, o autor parece acrescentar um tanto à introdução e ao pós-escrito, aprofundando-se nos detalhes que cercaram a preparação do livro original e atualizando informações sobre os personagens. Pois já no capítulo de abertura, encontrei um dado interessantíssimo com o qual me identifiquei bastante. Ron Davis, ex-membro dos Quarrymen, sempre tinha uma ponta de dúvida quando lia sobre o nascimento de John Lennon, que também fora integrante da banda. Todos os livros diziam que, no dia em que o futuro Beatle veio ao mundo, Liverpool sofreu um ataque aéreo, em plena Segunda Guerra. Ron decidiu pesquisar exemplares do "Liverpool Echo" num arquivo de jornais e constatou que, especificamente em 9 de outubro de 1940 - dia em que John nasceu- , não aconteceram os citados ataques. Eles vieram no dia seguinte. E Hunter Davies enfatiza essa retificação como se tivesse sido uma grande descoberta.
Ora! Não se pode culpar a família Lennon pela lembrança confusa. A recordação de um bebê recém-nascido, com cerca de 24 horas de vida, sendo cuidado e amamentado ao som de bombardeios, deve ter sido marcante para todos. Normal que relatem o fato como tendo ocorrido "no dia em que ele nasceu". Mas foi no dia seguinte. E os pesquisadores e estudiosos da história dos Beatles, a partir de agora, terão que registrar essa ressalva em seus trabalhos. Excesso de zelo? Talvez. Mas fiquei feliz de saber que não sou só eu que tem essa preocupação com correção de detalhes.
Quando publiquei minha primeira versão do texto "Secos e Molhados e Kiss: fim de polêmica", alguns fãs de Ney Matogrosso se revoltaram comigo. Um deles, especificamente, questionou: "Que interesse tem um jornalista que faz isso?" Pensei que a resposta fosse óbvia: esclarecer os fatos e trazer à luz a verdade. Sem paixões, sem xenofobia, sem exaltações. O fato de ser brasileiro não me obriga a assinar em baixo de uma afirmação que eu vejo como totalmente equivocada. O Kiss não copiou a maquiagem dos Secos e Molhados, por mais que muitos queiram acreditar nisso.
O sentimento que me motiva a investigar e desvendar mitos é exatamente o mesmo que me leva a divulgar a verdadeira obra de Mario Quintana e denunciar os poemas falsamente atribuídos a ele. Ou a demonstrar que o texto que muitos pensam ser de Victor Hugo ou Frejat foi redigido na verdade pelo gaúcho Sérgio Jockymann. Quando percebi que os 40 anos do LP "Loki?", de Arnaldo Baptista, estavam sendo comemorados em 2014, lembrei que ele tinha aparecido em minhas pesquisas como tendo sido lançado em 1975. Com a ajuda de colegas pesquisadores, confirmei que era mesmo essa a data correta e não a que constava no rótulo do disco. Ao ver a entrevista de Paul McCartney em que ele cita Elvis Presley como exemplo de artista que jamais interrompia um show para beber água, procurei e publiquei uma imagem de DVD em que o Rei do Rock aparecia fazendo exatamente isso. Paul estava errado.
Esse tipo de averiguação sempre atrai comentários irônicos, tipo: "Agora eu posso dormir em paz", "a humanidade está salva", "mudou minha vida", "que informação importante"! Por isso, fiquei satisfeito de saber que tem mais gente por aí obcecada por checar informações, confirmar ou desmentir mitos, questionar lendas. Muitas vezes, tudo começa com uma simples desconfiança. Quantas pessoas, em certos momentos, têm a intuição de que determinado relato não procede, mesmo sem disporem de provas ou indícios disso? Digamos que algumas possuem essa característica em maior grau.
Por fim, gostaria de lembrar uma situação que aconteceu em 1979. Simone gravou "Tô Voltando" em seu LP Pedaços. O sucesso da música coincidiu com a anistia aos exilados políticos brasileiros. Começou-se a espalhar o boato de que a letra era uma referência a esse momento histórico e que o título deveria ser "Samba da Anistia". Imediatamente o crítico Juarez Fonseca farejou a inverdade do que se divulgava. A canção era totalmente apolítica, não havia por que supor que tivesse relação com os anistiados. E ele manifestou sua opinião na página semanal que tinha em Zero Hora. Pois, para sorte dele, Elis Regina veio a Porto Alegre na semana seguinte e lhe deu um testemunho precioso. E aí, no dia 20 de setembro de 1979, saiu esta nota no mesmo jornal:
Juarez estava certo, portanto. E, assim, mais um mito foi derrubado.
É bem verdade que as lendas dificilmente morrem. Até hoje apontam-se duas passagens históricas diferentes para indicar que o termo "forró" supostamente viria do inglês "for all". Os historiadores já comprovaram que a palavra existia antes das duas "origens" alegadas (ver na Wikipedia), mas a crença persiste. O povo gosta de conhecer e repassar histórias curiosas. Estou certo de que a lenda do Kiss imitando os Secos e Molhados atravessará gerações. E outras também perdurarão. Mas, para quem quiser saber a real versão dos fatos, ela ela estará disponível, graças à obstinação dos pesquisadores.
Ora! Não se pode culpar a família Lennon pela lembrança confusa. A recordação de um bebê recém-nascido, com cerca de 24 horas de vida, sendo cuidado e amamentado ao som de bombardeios, deve ter sido marcante para todos. Normal que relatem o fato como tendo ocorrido "no dia em que ele nasceu". Mas foi no dia seguinte. E os pesquisadores e estudiosos da história dos Beatles, a partir de agora, terão que registrar essa ressalva em seus trabalhos. Excesso de zelo? Talvez. Mas fiquei feliz de saber que não sou só eu que tem essa preocupação com correção de detalhes.
Quando publiquei minha primeira versão do texto "Secos e Molhados e Kiss: fim de polêmica", alguns fãs de Ney Matogrosso se revoltaram comigo. Um deles, especificamente, questionou: "Que interesse tem um jornalista que faz isso?" Pensei que a resposta fosse óbvia: esclarecer os fatos e trazer à luz a verdade. Sem paixões, sem xenofobia, sem exaltações. O fato de ser brasileiro não me obriga a assinar em baixo de uma afirmação que eu vejo como totalmente equivocada. O Kiss não copiou a maquiagem dos Secos e Molhados, por mais que muitos queiram acreditar nisso.
O sentimento que me motiva a investigar e desvendar mitos é exatamente o mesmo que me leva a divulgar a verdadeira obra de Mario Quintana e denunciar os poemas falsamente atribuídos a ele. Ou a demonstrar que o texto que muitos pensam ser de Victor Hugo ou Frejat foi redigido na verdade pelo gaúcho Sérgio Jockymann. Quando percebi que os 40 anos do LP "Loki?", de Arnaldo Baptista, estavam sendo comemorados em 2014, lembrei que ele tinha aparecido em minhas pesquisas como tendo sido lançado em 1975. Com a ajuda de colegas pesquisadores, confirmei que era mesmo essa a data correta e não a que constava no rótulo do disco. Ao ver a entrevista de Paul McCartney em que ele cita Elvis Presley como exemplo de artista que jamais interrompia um show para beber água, procurei e publiquei uma imagem de DVD em que o Rei do Rock aparecia fazendo exatamente isso. Paul estava errado.
Esse tipo de averiguação sempre atrai comentários irônicos, tipo: "Agora eu posso dormir em paz", "a humanidade está salva", "mudou minha vida", "que informação importante"! Por isso, fiquei satisfeito de saber que tem mais gente por aí obcecada por checar informações, confirmar ou desmentir mitos, questionar lendas. Muitas vezes, tudo começa com uma simples desconfiança. Quantas pessoas, em certos momentos, têm a intuição de que determinado relato não procede, mesmo sem disporem de provas ou indícios disso? Digamos que algumas possuem essa característica em maior grau.
Por fim, gostaria de lembrar uma situação que aconteceu em 1979. Simone gravou "Tô Voltando" em seu LP Pedaços. O sucesso da música coincidiu com a anistia aos exilados políticos brasileiros. Começou-se a espalhar o boato de que a letra era uma referência a esse momento histórico e que o título deveria ser "Samba da Anistia". Imediatamente o crítico Juarez Fonseca farejou a inverdade do que se divulgava. A canção era totalmente apolítica, não havia por que supor que tivesse relação com os anistiados. E ele manifestou sua opinião na página semanal que tinha em Zero Hora. Pois, para sorte dele, Elis Regina veio a Porto Alegre na semana seguinte e lhe deu um testemunho precioso. E aí, no dia 20 de setembro de 1979, saiu esta nota no mesmo jornal:
Juarez estava certo, portanto. E, assim, mais um mito foi derrubado.
É bem verdade que as lendas dificilmente morrem. Até hoje apontam-se duas passagens históricas diferentes para indicar que o termo "forró" supostamente viria do inglês "for all". Os historiadores já comprovaram que a palavra existia antes das duas "origens" alegadas (ver na Wikipedia), mas a crença persiste. O povo gosta de conhecer e repassar histórias curiosas. Estou certo de que a lenda do Kiss imitando os Secos e Molhados atravessará gerações. E outras também perdurarão. Mas, para quem quiser saber a real versão dos fatos, ela ela estará disponível, graças à obstinação dos pesquisadores.
quinta-feira, julho 09, 2015
Confraria do Cachorro Quente
Estive agora há pouco no encontro da Confraria do Cachorro Quente, no Pugg Hot Dog, organizado por Paulo Pruss. A maioria dos participantes é jornalista.
Fiz questão de tirar uma foto com José Luiz Prévidi, nem que seja para poder dizer: aqui estão dois blogueiros! Só que o blog dele é o melhor e mais lido sobre jornalismo no Rio Grande do Sul. Confiram aqui.
Fiz questão de tirar uma foto com José Luiz Prévidi, nem que seja para poder dizer: aqui estão dois blogueiros! Só que o blog dele é o melhor e mais lido sobre jornalismo no Rio Grande do Sul. Confiram aqui.
quarta-feira, julho 08, 2015
Site Meter voltando aos poucos
O contador do Site Meter continua não aparecendo na página, mas pelo menos o site voltou a registrar os acessos. E desta vez corretamente, ao que parece. O gráfico acima, que supostamente mostra as visitas, dá uma ideia do caos que se instaurou. Pra mim está claro que os números de 19 a 28 de junho são irreais. Um blog teria mais de 200 visitantes quatro dias seguidos e nenhum de 26 a 28? Isso que nem estou mostrando as fantasiosas visualizações ("views"), que chegaram a mais de 30 mil no dia 29. Pelo que fui observando, os números daquele dia foram sendo incrementados retroativamente nas datas seguintes. Loucura total!
Mas é um alívio voltar a monitorar as visitas ao Blog. Fiquei mal acostumado com isso. Não tenho como saber exatamente quem está acessando, pois só aparece o IP. Mas às vezes até desconfio, pelo argumento de busca, pela cidade, provedor, sistema operacional e, claro, pelo link que trouxe até aqui. Existe também a questão da alocação dinâmica de IP. O meu já mudou algumas vezes. Por outro lado, tem um IP que visita o Blog há anos rigorosamente com o mesmo número, via Procempa. Não sei quem é.
Foi das consultas ao Site Meter que nasceram as "googladas incautas", que tanto sucesso fizeram por aqui durante algum tempo. Quando participei da sessão de autógrafos do livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB" em São Paulo, em fevereiro de 2014, o também co-autor Renato Vieira disse que acompanhava meu blog desde 2007, mas sentia falta das googladas. Eu parei de publicá-las quando diminuí a quantidade mensal de postagens. Mas depois de um período o próprio Google implementou um mecanismo de segurança, via "https", que mantém em sigilo os argumentos de busca. De qualquer forma, ainda tenho algumas googladas inéditas anotadas que publicarei oportunamente. Muito de vez em quando alguém usa o Google sem o recurso de segurança e a pesquisa aparece. Ou então por outra ferramenta de busca, como o Bing. Mas aí seriam as "bingadas".
Não sei se o contador voltará a aparecer ao pé da página. Talvez o Site Meter esteja se dedicando à hercúlea tarefa de recuperar a contagem real antes de reexibi-lo. Por mim, tanto faz. O importante é que estou conseguindo monitorar os acessos novamente.
Mas é um alívio voltar a monitorar as visitas ao Blog. Fiquei mal acostumado com isso. Não tenho como saber exatamente quem está acessando, pois só aparece o IP. Mas às vezes até desconfio, pelo argumento de busca, pela cidade, provedor, sistema operacional e, claro, pelo link que trouxe até aqui. Existe também a questão da alocação dinâmica de IP. O meu já mudou algumas vezes. Por outro lado, tem um IP que visita o Blog há anos rigorosamente com o mesmo número, via Procempa. Não sei quem é.
Foi das consultas ao Site Meter que nasceram as "googladas incautas", que tanto sucesso fizeram por aqui durante algum tempo. Quando participei da sessão de autógrafos do livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB" em São Paulo, em fevereiro de 2014, o também co-autor Renato Vieira disse que acompanhava meu blog desde 2007, mas sentia falta das googladas. Eu parei de publicá-las quando diminuí a quantidade mensal de postagens. Mas depois de um período o próprio Google implementou um mecanismo de segurança, via "https", que mantém em sigilo os argumentos de busca. De qualquer forma, ainda tenho algumas googladas inéditas anotadas que publicarei oportunamente. Muito de vez em quando alguém usa o Google sem o recurso de segurança e a pesquisa aparece. Ou então por outra ferramenta de busca, como o Bing. Mas aí seriam as "bingadas".
Não sei se o contador voltará a aparecer ao pé da página. Talvez o Site Meter esteja se dedicando à hercúlea tarefa de recuperar a contagem real antes de reexibi-lo. Por mim, tanto faz. O importante é que estou conseguindo monitorar os acessos novamente.
quinta-feira, julho 02, 2015
Maioridade penal
Cheguei a pensar em redigir um longo comentário sobre o tema da maioridade penal, mas acho que posso resumir.
Todos são iguais perante a lei mas, na prática, somos diferentes. Algumas pessoas amadurecem mais depressa, outras tardiamente. Existem indivíduos que, por índole ou formação, desde cedo estão imbuídos de maldade e banditismo. Outros mantêm sua bondade e até uma certa inocência por toda a vida. Por isso, acredito que existam crianças, infantes, menores de 16 anos capazes de cometerem crimes e serem responsabilizados por seus atos. Como não é possível analisar caso a caso sem ferir o princípio da isonomia, escolhe-se uma idade limite que abranja uma faixa segura de imputabilidade. E ela vale para todos. Por mim, essa idade poderia ser 16 anos sem problemas. Mas, se continuar sendo 18, também não vejo motivo para revolta. O importante é que não se desvie o foco do âmago da questão, que é a prevenção e o combate ao crime. Já toquei de leve nesse assunto com outro enfoque em 2007 - leiam meu texto "Alguma coisa".
Todos são iguais perante a lei mas, na prática, somos diferentes. Algumas pessoas amadurecem mais depressa, outras tardiamente. Existem indivíduos que, por índole ou formação, desde cedo estão imbuídos de maldade e banditismo. Outros mantêm sua bondade e até uma certa inocência por toda a vida. Por isso, acredito que existam crianças, infantes, menores de 16 anos capazes de cometerem crimes e serem responsabilizados por seus atos. Como não é possível analisar caso a caso sem ferir o princípio da isonomia, escolhe-se uma idade limite que abranja uma faixa segura de imputabilidade. E ela vale para todos. Por mim, essa idade poderia ser 16 anos sem problemas. Mas, se continuar sendo 18, também não vejo motivo para revolta. O importante é que não se desvie o foco do âmago da questão, que é a prevenção e o combate ao crime. Já toquei de leve nesse assunto com outro enfoque em 2007 - leiam meu texto "Alguma coisa".