quinta-feira, novembro 27, 2008

Tanta tormenta

Quando o movimento musical gaúcho liderado pela Rádio Continental de Porto Alegre começou a se destacar em 75 e 76, criou-se uma expectativa no Rio Grande do Sul. Imaginava-se que poderia estar surgindo uma vertente com tanta força quanto havia sido a dos baianos, por exemplo. A música riograndense tinha uma identidade, mas ainda era muito atrelada ao folclore e o regionalismo. Faltava uma corrente com um apelo mais universal, mas que trouxesse elementos de identificação com o estado. Os Almôndegas chegaram muito perto disso e até incluíram um popurri (ou "medley") de canções gauchescas em seu segundo LP, "Aqui", de 1976 (não confundir com o CD que saiu com a mesma capa, mas é na verdade uma coletânea). Depois Hermes Aquino seguiu o exemplo e fez o mesmo em seu disco "Desencontro de Primavera", em 1977. Mas ainda não foi dessa vez.

Quem acabou representando o Rio Grande do Sul com uma MPB tipicamente gaúcha foram os ex-Almôndegas Kleiton e Kledir, nos anos 80. A dupla surgiu oficialmente em dezembro de 1979, ao concorrer com "Maria Fumaça" no Festival da saudosa Rede Tupi. Depois vieram as gírias de Porto Alegre em "Deu Pra Ti", um desafio gauchesco em "Trova" e uma homenagem ao mais famoso personagem de Luis Fernando Verissimo em "Analista de Bagé". Finalmente, existia uma música riograndense com cara de música riograndense fazendo sucesso com os jovens de todo o Brasil. A MPB agora também tinha sotaque gaúcho.

Logo Kleiton e Kledir perceberam que poderiam ir além e serem porta-vozes da Região Sul como um todo. E como era comum os músicos nordestinos cantarem os problemas do nordeste - a seca, o êxodo rural, bóias frias e "paus de arara" - por que não procurar um tema semelhante no sul? E assim, em 1985, no quarto LP da dupla, apareceu a composição "Por Água Abaixo", sobre as enchentes de Santa Catarina. Eis a letra:

Pela mão do destino
Vamos sendo marcados
Nossos sonhos, em vão
Foram por água abaixo

Nunca vi tanta chuva
Transbordando os rios
Destruindo paixões

Tudo por água abaixo

Fiz até uma promessa
Se São Pedro fechasse
As torneiras do céu
Mas foi por água abaixo

E será que vai dar pra recomeçar
Quando passar tanta tormenta?
Tanta tormenta!

Acontece que o homem
Mexe na natureza
E isso dá no que deu
Vamos por água abaixo

É impossível nadar
Contra a lei correnteza
Inocentes, culpados
Todos por água abaixo

Só nos resta a esperança
Na justiça divina
O que a alma plantou
Não vai por água abaixo

Lembro de uma viagem a trabalho que meu pai fez para Florianópolis no final dos anos 70. Acabou pegando alagamento. Por sorte, não sofreu maiores conseqüências, apenas chegou com uma divertida foto em que aparecia andando de canoa em plena cidade. No final do ano de 1995, eu, minha (hoje ex) esposa e meu filho fomos a Canasvieiras. Tivemos que pernoitar num hotel na metade do caminho, pois o acesso a Florianópolis estava interrompido em Palhoça. Conseguimos chegar no dia seguinte, mas prolongamos nossa estada antes de voltar para esperar que o trânsito na rodovia fosse normalizado.

Passados mais de 20 anos da música de Kleiton e Kledir, nada mudou. Santa Catarina continua assolada por chuvas torrenciais. Haverá algo que se possa fazer para salvar um dos melhores estados do Brasil? Muito se fala na qualidade de vida de Florianópolis e outras cidades catarinenses. Nós, brasileiros, somos abençoados por não sofrer com terremotos ou temperaturas abaixo de zero. Mas temos enchentes. No momento, a providência a tomar é fazer doações. Mas depois? Se a letra da música estiver correta ao dizer que "o homem mexe na natureza", será possível reverter o quadro? Já ouvi algumas teorias a respeito do que causaria essas chuvas, mas realmente não sei se procedem.

Curiosamente, Porto Alegre já foi uma cidade de enchentes. A maior de todas foi a de 1941. Conta-se inclusive que um dos flagelados foi entrevistado no rádio e disse que estava feliz com a mordomia com que o tratavam. Devia estar torcendo para que a situação se prolongasse, pois acrescentou: "Ouvi dizer que as águas estão baixando assustadoramente!" Eu tenho uma vaga lembrança de uma enchente na minha infância, até porque morávamos em frente ao Porto. Deve ter sido a de 1967, que é citada
neste site. O endereço indicado menciona mais três depois, mas não lembro que o Guaíba (rio, lago, estuário, vocês decidem) tenha chegado a transbordar.

Mas não há como conter a chuva. É preciso estar preparado para ela. E como diz a letra de Kleiton e Kledir, será que vai dar pra recomeçar? Tem que dar.

Googlada incauta

Já faz algum tempo que parei de publicar mensalmente as "googladas incautas" aqui no blog. São os argumentos de busca mais "sem noção" que fazem com que alguns internautas cheguem aqui. Algumas pessoas não entendem que o Google é apenas uma ferramenta de busca que procura na Internet as palavras digitadas, nada mais. Pensam que é uma espécie de "gênio da lâmpada virtual" capaz de responder a qualquer pergunta ou atender a qualquer pedido.

Mas isso não significa que a idéia tenha sido abandonada. Apenas a periodicidade é que não será mais observada. Breve devo publicar uma nova lista. Mas hoje apareceu uma que não dá pra esperar para publicar. Vejam só:

criei um perfil falso no orkut e fiz uma mulher se apaixonar por mim

E o Google com isso? Em todo o caso, cuidado, mulheres! Alguma de vocês está sendo enganada. E é por alguém do Rio de Janeiro.

Breve aqui, uma nova lista de "googladas incautas".

segunda-feira, novembro 24, 2008

O público de shows

Eu teria que conferir em minha coleção para ter certeza, mas acho que foi em 1979 que a revista Somtrês publicou uma matéria sobre Teca e Ricardo. Era um casal que já havia lançado vários LPs na França, mas era desconhecido no Brasil. Ricardo Villas era ex-guerrilheiro exilado e Teca Calazans era sua esposa. Fiquei fascinado com a matéria. Imaginem: músicos brasileiros anônimos em seu próprio país, mas fazendo sucesso no exterior. Na época era difícil de se conseguirem discos importados, ainda mais da Europa. Mas tive curiosidade de conhecer o trabalho da dupla.

Passou-se algum tempo, veio a anistia, Teca e Ricardo voltaram para o Brasil e reiniciaram sua carreira por aqui mesmo. Já tinham dois LPs lançados pela EMI e a música "Gabriel" tocava bastante nas rádios ("ele vinha da Guiné, Gabriel nasceu na África Equatorial, etc.") quando foi anunciado um show deles no Salão de Atos da PUC de Porto Alegre, em 1981. Nem pensei duas vezes: tratei de providenciar rápido o meu ingresso. Eu não quereria perder a apresentação deles por nada. Fui com meu amigo Paulo Brody, na época o meu único companheiro de fé para shows. Fomos no meu fuquinha (ou "fusquinha", pra quem não é gaúcho) e lembro que falei para ele que não deveríamos chegar muito tarde, ou teríamos dificuldade para estacionar.

Vocês conhecem o Salão de Atos da PUC? É tão grande quanto qualquer outro Salão de Atos ou Reitoria que vocês já tenham visto. Na dúvida, confiram no DVD "Kleiton e Kledir ao Vivo", que foi gravado lá. Agora imaginem aquele enorme teatro com menos de dez pessoas lá dentro! Foi esse vexame que o público de Porto Alegre deu diante da dupla que eu tanto queria conhecer. Mas eles se apresentaram normalmente e ainda deram bis. Algum tempo depois, tive chance de conversar rapidamente com um dos rapazes do Diretório Acadêmico, que promoveu o show. Ele não entendeu o que houve. Cerca de um mês antes, Diana Pequeno havia lotado o auditório. Desta vez, por duas noites, Teca e Ricardo tocaram para menos de dez pessoas.

Hoje leio no jornal que o show do Duran Duran em Porto Alegre foi cancelado por fraca venda de ingressos. Eu já desconfiava que esse mesmo motivo havia ocasionado o cancelamento da apresentação de Roberta Flack. O que está havendo com o público de Porto Alegre? Falta de dinheiro? Desinteresse por artistas nostálgicos? Às vezes eu me pergunto que tipo de público ainda sai de casa para ver um show. Sem ter feito nenhuma pesquisa, com base apenas na observação, eu diria: em primeiro lugar, os jovens. Se o artista veterano que vier se apresentar tiver uma legião significativa de fãs da novíssima geração (como é o caso de Elton John, por exemplo), o show já terá uma boa platéia. Em segundo lugar, os fãs incondicionais, independente de idade. Para ver David Bowie eu já saí do Rio Grande do Sul duas vezes. Mas não me motivei a fazer o mesmo por Paul McCartney, por exemplo. Mas se ele viesse a Porto Alegre é claro que eu iria.

Nem sempre é fácil saber o que tira alguém de casa para assistir a um show. Em 1981, quando Teca e Ricardo amargaram o público minguado, qualquer um dos quatro baianos que um dia formaram os Doces Bárbaros (Gil, Caetano, Gal e Bethânia) lotaria um ginásio na capital gaúcha. O problema do Duran Duran é que a imagem da banda ficou muito cristalizada nos anos 80. Se viessem os Bee Gees, por exemplo, seria sucesso garantido, pois é um grupo que se tornou eterno, uma paixão que passa de pai para filho. Mas depois da morte de Maurice, o futuro dos irmãos Gibb é incerto.


Eu até pensava em ir assistir ao Duran Duran, mas em minha idade, gosto de ver shows no conforto de uma cadeira. De pé, com espaço, também serve. Em arquibancada, jamais. Preciso de encosto. Já perdemos dois grandes shows, talvez outros de que nem ficamos sabendo. Quem sabe até o DVD, com suas comodidades e recursos, possa estar rivalizando com os shows "in loco". Eu lamento muito o cancelamento do Duran Duran. Houve uma época em que quase não vinham shows internacionais ao Brasil e os poucos que aqui chegavam movimentavam a imprensa no mínimo por um mês. Hoje, já estamos esnobando os grandes astros. Uma pena.

Plano fidelidade

Estou começando a achar que minha fama de impaciente procede. Por exemplo: agora são 3 e 20 da manhã de segunda-feira e meu acesso 3G está funcionando sem problemas aqui em São Leopoldo. Não sei por que fico tão furioso quando o sinal resolve falhar às 8 da noite, por exemplo. Será que é porque é quando eu mais preciso de acesso à Internet? Ou ainda porque o acesso contratado é 24 horas? Eu sou chato, mesmo!

Falando sério, fiquei estarrecido com o que vi no Orkut. Existe uma comunidade só para chorar as mágoas em relação a esse serviço. E existe, sim, um "plano fidelidade" que impõe uma multa pesada para quem resolver sair antes. Só que tem gente lá contando os meses numa agonia sem fim, como se estivesse cumprindo pena ou pagando uma dívida. Nem uma coisa, nem outra: somos contratantes de um serviço. Se estamos insatisfeitos, deveríamos ter o direito de cancelá-lo a qualquer momento, sem pagar multa, com ou sem "plano fidelidade". Afinal, empresa que trabalha bem não fica com medo de perder clientes, não é mesmo? No fim, a gente acaba desconfiando que o "plano fidelidade" é na verdade uma armadilha. Como eles sabem que você vai se decepcionar, dão um jeito de segurá-lo na marra. Eu nem lembro se existia "plano fidelidade" quando contratei meu primeiro acesso à Internet. Só sei que estou com o mesmo provedor de e-mail desde 1996 e não pretendo mudar. Nunca me deixei atrair pelo canto de sereia dos concorrentes, com suas criativas e onipresentes peças publicitárias. Mas o 3G, pelo que vejo, está decepcionando a todos.

Há que se tomar alguma providência. Se o serviço é ruim, não há "plano fidelidade" que nos segure. Afinal, "fidelidade" também deveria incluir a prestação de um bom serviço, como oferecido. E não é o que se constata.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Chega

Na semana que vem sem falta eu vou providenciar a substituição desta droga a que dão o nome pomposo de "3G" por Internet a cabo. Não entendo como uma empresa tem coragem de cobrar por um serviço tão tosco e instável. E isso que contratei o plano mais veloz, para evitar problemas. Cada vez mais eu me convenço: é impossível precaver-se contra a ruindade. Aliás, com exceção de controles remotos e geringonças bem básicas, eu ainda não conheci nada "sem fio" que funcionasse bem. Viva o fio, viva o cabo, viva qualquer coisa que funcione. Depois que eu substituir este sistema "sem fio e sem acesso", tão cedo eu não quero ouvir falar em nenhum tipo de acesso wireless. Vocês não imaginam o parto que foi postar este mísero parágrafo aqui no blog. Várias tentativas frustradas.

P.S.: Bem feito para mim por não ter feito uma pesquisa na Internet antes de contratar o serviço. Vejam aqui e aqui para constatar que não sou só eu que sou chato e não tenho paciência. Tem mais gente que também não se contenta com o maravilhoso acesso fornecido por essa empresa.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Texto do baú

Em 1999, um colega de trabalho criou um jornalzinho a que chamou "Kosovo do Povo". O jornal existe até hoje e é sempre publicado no setor em que o citado colega estiver trabalhando. Pelo que ouvi falar, continua bastante aguardado e não perdoa ninguém. Todos são devidamente esculachados. Inclusive, recentemente foi confeccionada e vendida uma camiseta com os dizeres "Kosovo do Povo - Eu leio e entendo".

Quando o jornal ainda estava em seus primeiros números, eu colaborei com algumas edições. Como em uma delas eu fui carinhosamente chamado de "Teletubby", minhas matérias eram assinadas "Emílio Tinky Winky". Quem colocou o "Tinky Winky" foi o editor, mas eu decidi assumir o apelido. Hoje tive chance de reler um de meus textos e decidi republicá-lo aqui. Explicando: fazia pouco tempo que tinha sido organizada uma festa do setor. Mas não era permitido levar cônjuge ou acompanhante. Duas colegas tiveram sérios problemas com seus maridos em função disso. Então o Kosovo do Povo de novembro de 1999 publicou o que segue:

- *-
Estreando hoje um novo serviço aos leitores:

“Tinky Winky Conselheiro Sentimental”

Caro Tinky Winky:

Desde que fui sozinha a um churrasco comemorativo do meu local de trabalho, meu marido não fala mais comigo. Expliquei pra ele várias vezes que era só para empregados do setor, que não era permitido levar marido nem filho nem irmão nem amigo nem cachorro, mas ele não acredita. Pensa que foi só uma desculpa para ir sozinha e fazer sei lá o quê. Mas não fiz nada de mais, só comi churrasco, dancei com os colegas (separada, não encostei em nenhum deles) e cantei no Karaokê. Não cantei ninguém nem ninguém me cantou. Mas a imaginação do meu marido é fértil e por causa disso corro o risco de perdê-lo. Que fazer?

Inocente Condenada

Cara Inocente Condenada:

Vocês, mulheres, não sabem fazer a coisa direito. Calma, não é “a coisa” que você está pensando. Ir a um churrasco com colegas de trabalho sem o marido não é problema nenhum. Problema é chegar em casa depois com um sorriso no rosto e um brilho no olhar do tipo “nunca me diverti tanto em minha vida”. Aí, o pobre marido se sente um inútil, um desnecessário, um mero pagador de contas e chofer de plantão. Da próxima vez (se houver próxima vez), chegue em casa com uma fisionomia desolada e vá logo dizendo: “ah, benzinho, que saudade, não via a hora de ir embora, festa sem você não tem graça nenhuma, vem cá, dá um beijinho...” Pronto! Mas já que você não fez isso, corre mesmo o risco de ficar sozinha. Se isso acontecer mesmo, entre em contato com a redação para marcarmos um encontro e eu poder lhe dar uns conselhos mais aprofundados pessoalmente. Quem sabe num restaurante...

Mais uma carta:
Caro Tinky Winky:

Estou preocupada. Meu marido foi sozinho a um churrasco comemorativo do local onde ele trabalha. Ele disse que não era permitido levar marido nem filho nem irmão nem amigo nem cachorro, mas não consigo acreditar. Acho que foi só uma desculpa para ir sozinho e fazer sei lá o quê. Ele diz que não fez nada de mais, não comeu ninguém, só churrasco, não encostou em ninguém e não cantou ninguém, só Karaokê. Talvez a minha imaginação seja fértil, mas o fato é que ele chegou em casa com um sorriso no rosto e um brilho no olhar do tipo “nunca me diverti tanto em minha vida”. Aí eu me senti uma inútil, uma desnecessária, uma mera lavadora de roupa e cozinheira de plantão. Que fazer?

Esposa Desconfiada


Cara Esposa Desconfiada:

Da próxima vez (se houver próxima vez), você recebe o seu maridinho com a maior festa e diz: “ah, benzinho, que saudade, não via a hora você chegar, ficar em casa sem você não tem graça nenhuma, vem cá, dá um beijinho...” Que remédio? Você só tem duas opções: confiar ou não confiar. Se a situação ficar caótica e você achar que não tem mesmo volta, entre em contato com a redação para marcarmos um encontro e eu poder lhe dar uns conselhos mais aprofundados pessoalmente. Mas avise com antecedência, que do jeito que vai a minha agenda vai estar bem cheia. A menos que você não se incomode em fazer uma sessão de aconselhamento coletivo. Quem sabe no meu apartamento...

Por fim, a última carta.

Caro Tinky Winky:

Deixei de ir a uma festa do meu local de trabalho porque não podia levar o meu marido. Na hora, pensei ter feito a coisa certa. Mas no dia seguinte, quando vi meus colegas com um sorriso no rosto e um brilho no olhar tipo “nunca me diverti tanto na minha vida”, lamentei o que perdi. E agora? Da próxima vez (se houver próxima vez) como devo agir? Vou ou não vou?

Madalena Arrependida (do que não fez)


Cara Madalena Arrependida (do que não fez):

Vocês, mulheres, não sabem mesmo o que querem, blá, blá, blá, etc, etc... Quem sabe num motel...

That’s all, folks. Tcha-au! Tcha-au!

sábado, novembro 15, 2008

Adendo

Fiz mais um adendo ao meu texto "Secos e Molhados e Kiss: fim de polêmica". E realmente a polêmica já deveria estar encerrada. E de preferência sem brigas entre fãs, embora seja difícil.

Não sei se é só no Brasil, mas aqui, com certeza, como o povo gosta de acreditar em histórias não confirmadas. Na biografia de João Havelange há uma passagem segundo a qual "os Beatles queriam tocar para Pelé" na Inglaterra em 1966 e não conseguiram. Encontrar-se com ele, até acho possível, mas tocar? E justo no ano em que decidiram parar de fazer shows? Pior é que essas histórias, depois de publicadas, passam a ser aceitas como verdade absoluta. Ninguém questiona, porque "o Fulano falou". Ninguém se preocupa em investigar o quanto o Fulano realmente sabe ou se está apenas tirando conclusões "viajantes".

Entrando no palco

Acho legal quando um vídeo mostra o instante em que a banda entra no palco para começar o show. Se parece um momento mágico para quem assiste, imagine para que está lá, com a adrenalina a mil. Sempre achei que a primeira música de uma apresentação deve ser escolhida com carinho, pois ela será recebida pelo público com um toque a mais de expectativa. Nesse vídeo de 1986 no Wembley Stadium, o Queen abre com "One Vision", num clima de grandiosidade. Na turnê de 1979, a primeira música era a versão rápida de "We Well Rock You", para entrar rachando.

As imagens que capturei abaixo são do DVD bônus. Eu já conhecia uma montagem do documentário "Magic Years", mas ali misturaram vários shows, para criar suspense. Aqui estão as imagens verdadeiras, com a câmera acompanhando o guitarrista Brian May. Vejam:

Aquecimento...
Está chegando o momento...


Uau! É essa multidão toda que nos espera?

Bem, vamos lá.
Aqui vamos nós...

Chegamos!

quinta-feira, novembro 13, 2008

De novo as falsas autorias

Nesta semana recebi uma crítica construtiva nos comentários do blog. Um visitante, que se mostrou bastante cordato e até me convidou para visitar o seu site, acha que sou muito ríspido com pessoas que se deixam enganar pelas falsas autorias. Ele concorda que é preciso fazer o esclarecimento, mas entende que nem todos são obrigados a conhecer a obra, por exemplo, de Luis Fernando Verissimo. E acredita que, "com um sorriso", consegue-se um resultado até melhor.

Admito que às vezes pego pesado. Mas talvez o nobre visitante não tenha idéia da dificuldade que é convencer os teimosos. Alguns, admita-se, aceitam bem as correções e até agradecem. Mas nem todos. Outros insistem e não é raro chamarem de "chato" a quem toma a iniciativa de esclarecer. Também existem aqueles que, aparentemente, são elucidados, até que logo repassam mais um texto com autoria falsa. Quando se pensa que o esforço de esclarecimento está surtindo efeito, surge um apócrifo onde menos se espera. Chega um momento em que se perde a paciência. Aí, sobra a ironia como último recurso.

Certa vez, nas comunidades do Orkut que combatem a atribuição incorreta de autorias a textos da Internet ("
Afinal, quem é o autor" e "Eu ABOMINO textos apócrifos"), compilei uma lista de "respostas mais freqüentes". Referia-me às diferentes formas com que as pessoas costumam reagir quando são alertadas de quem determinado texto não era de quem elas pensavam (geralmente Luis Fernando Verissimo, Mario Quintana e Arnaldo Jabor). A saber:

"Desculpe, é que recebi por e-mail com o nome dele."

Infelizmente alguns internautas ainda não aprenderam que "receber por e-mail" não é garantia nenhuma de que a informação é segura. Isso vale também para notícias. Por mais detalhes que elas tragam: nomes, números, datas, locais, não importa. Nada recebido por e-mail, em princípio, é confiável. A Internet já tem mais de dez anos e poucos se convenceram disso.

"Como você pode saber com tanta certeza? Você conhece de cor a obra toda dele?"

É difícil para quem tem pouca ou nenhuma vivência de literatura entender que, sim, existem pessoas que conhecem toda a obra de um escritor. Nas comunidades de Mario Quintana do Orkut eu sei de pelo menos três integrantes com essa característica. Nas de Verissimo, uns quatro. Devem existir muitos mais. Podem não conhecer a obra de cor, na ponta da língua, mas já a leram toda pelo menos uma vez. E reconhecem na hora se um texto é mesmo do autor citado ou não. Mas, para quem não tem familiaridade com livros, é mais fácil acreditar em disco voador do que em reconhecimento de estilo literário.

"É dele, sim, acabei de pesquisar no Google e achei milhares de ocorrências com o nome dele!"

A Internet é um campo aberto e o Google é um arrastão. Mas o grande número de ocorrências não transforma o errado em certo. Mais sobre isso adiante.

"Então de quem é?"

Aqui entra o fator "São Tomé". Não basta que alguém com conhecimento de causa afirme, sem o menor resquício de dúvida, que um determinado texto não é de Verissimo, Quintana ou Jabor. O verdadeiro autor tem que aparecer. Do contrário, o incauto vai continuar acreditando que é do escritor famoso a quem foi falsamente atribuído.

"Como vou saber se é mesmo dessa fulaninha aí?"


Ah, sim. Quando o texto chegou por e-mail com assinatura famosa, não foi preciso provar nada. Aceitou-se sem pestanejar que era mesmo do notável escritor. Por outro lado, bastou alguém dizer que não é de Mario Quintana e sim de Maria da Silva, que passou-se a exigir mil provas. Por que não usaram esse critério desde o começo? Por que se supõe que uma autoria está correta quando o autor apresentado é alguém conhecido? Dois pesos e duas medidas.

"Obrigado, eu estava mesmo achando que não era dele."

Então por que repassou?

"Pode não ser dele, mas é bonito!"

É claro que, se alguém repassou um texto, foi pelo conteúdo e não pela assinatura. Mas essa resposta, digamos, "contemporizadora", vem acompanhada de um certo descaso pela autoria. Como se não fosse importante. E, muitas vezes, o "repassador" acredita que, se o autor não é quem presumia ser, ao menos o estilo é o mesmo. Mas nem isso é verdade. Mario Quintana jamais discorreria de forma longa e repetitiva sobre amores e relacionamentos ("um dia descobrimos, blá blá blá..."). Luis Fernando Verissimo não escreve textos românticos ou de auto-ajuda. Logo, ao contrário do que pensam os incautos, os textos falsamente atribuídos a cada um deles não agradarão aos fãs dos verdadeiros escritores. Podem até ser "bonitos" na opinião de quem postou, mas não serão bem-vindos nas comunidades dos autores indevidamente creditados.

"Ninguém é obrigado a conhecer a fundo a obra de um escritor."

Concordo que nem todos são especialistas em literatura. Eu próprio não o sou. Mas então, que não se escreva sobre o que não se conhece. Que não se tente demonstrar um conhecimento que não se tem com observações do tipo "esse tem a cara dele", "só ele para escrever algo tão lindo" e similares. Ninguém precisa conhecer a obra de um escritor. Basta aprender, de uma vez por todas, que e-mails e blogs amadores não são fontes confiáveis para pesquisas literárias. Tem gente que chega a criar sites em homenagem a determinados autores simplesmente na base do "copia e cola". Esse tipo de iniciativa não acrescenta nada, pelo contrário: apenas recicla e dissemina a desinformação. Em conseqüência, aumenta o número de ocorrências do erro no Google, resultando na "falsa confirmação" mencionada antes ("é dele, sim, etc.").

"É impossível ficar conferindo e pesquisando a autoria de tudo o que se recebe."

Simples: se não tem como conferir, não repasse. Nem leia no ar no seu programa matinal da Globo. Realmente é difícil para quem não tem nenhuma referência fazer uma verificação confiável das autorias. Mas existem as duas comunidades do Orkut citadas acima. Tem também "
O verdadeiro Mario Quintana", especificamente sobre a obra do poeta gaúcho. Recomendo ainda a comunidade de Luis Fernando Verissimo moderada por Elson Barbosa. São fóruns onde é possível fazer esse tipo de esclarecimento. Muitas vezes a resposta já está lá, é só procurar. Lamentavelmente, nem todos aprenderam a usar o recurso de busca dentro dos tópicos. Já perdi a conta de quantas vezes vieram perguntar se aquele poema que começa com "não quero alguém que morra de amor por mim" é realmente de Quintana. Sua verdadeira autora chama-se Adriana Britto. Uma simples pesquisa dentro da comunidade tiraria a dúvida, mas a maioria entra estabanadamente só para perguntar e nada mais. Foi por uma atitude como essa que uma integrante foi criticada por outra e retrucou: "Você conhece toda a obra de Quintana e pesquisa tudo?" Ela provavelmente não iria acreditar na resposta, então decidi apagar as mensagens e encerrar o assunto, já que eu era o moderador.

Reiterando: não, ninguém é obrigado a ser especialista em autor nenhum. Mas então que não divulgue nem emita opinião sobre o que não conhece. A única fonte confiável para autorias de textos e poemas são os livros. Não é preciso ser nenhum profundo conhecedor de literatura para entender isso.

sexta-feira, novembro 07, 2008

A descoberta

Eu tinha 24 anos em 1985 quando escutei no rádio do carro o locutor anunciando uma música de um roqueiro argentino, um tal de Charly Garcia. Nunca tinha ouvido falar nele, mas o rock "Nos Siguen Pegando Abajo" me fisgou na hora. Fiquei intrigado. Rock argentino? Por que não? Depois disso, tanto a Atlântida FM quanto a Ipanema passaram a divulgar músicas de Charly. E o mais importante: os discos (ainda em vinil) começaram a aparecer nas lojas. A princípio, contentei-me com uma coletânea. Mas logo foi anunciado um show de Charly Garcia em Porto Alegre, no Teatro da Ospa.

No dia 19 de junho de 1986, eu estava lá, na primeira fila, com um de meus sobrinhos. Gostei tanto do que ouvi que tratei de voltar na noite seguinte, ainda que só conseguisse lugar no mezanino. Não importava. Eu já estava conquistado por esse ídolo portenho, que foi imediatamente para o alto do meu ranking logo abaixo de Beatles e David Bowie. E voltei às lojas de Porto Alegre para garimpar mais discos. Agora as coletâneas já não me bastavam. Eu queria tudo, não só da carreira solo como das bandas que ele integrou nos anos 70: Sui Generis, Porsuigieco, Maquina de Hacer Pájaros e Seru Giran. Não era a primeira vez que eu fazia um levantamento retroativo da obra de algum músico que não acompanhara na época. Mas, nos outros casos, no mínimo, eu tinha uma vaga lembrança de ver os discos nas lojas ou ler alguma nota nas revistas de música. Desta vez, não. O rock argentino até então havia sido totalmente ignorado pela mídia brasileira. Descobrir esse universo inteiramente novo era quase como investigar a música de outro planeta. Enquanto nossos telescópios estavam apontados para Estados Unidos e Inglaterra, uma verdadeira revolução musical acontecia logo ali, ao sul da fronteira.

Tentei imaginar como devia ter sido a repercussão do som folk com letras contestadoras do Sui Generis em 72 e 73 na Argentina, aquelas músicas todas tocando nas rádios de Buenos Aires e fazendo sucesso, "Cancion Para Mi Muerte", "Confesiones de Invierno", "Rasguña las Piedras"... Procurei me colocar no lugar dos fãs argentinos aguardando cada novo disco, comparecendo aos shows, curtindo a Máquina de Hacer Pájaros, o Seru Giran... Outro dado supercurioso é que Charly morou em Búzios por algum tempo nos anos 70 e o primeiro LP do Seru Giran foi gravado no estúdio Eldorado, em São Paulo, com produção de Billy Bond. Sim, ele mesmo, que nós conhecemos como o vocalista do Joelho de Porco que substituiu Próspero Albanese por algum tempo no final dos anos 70 (e participou do LP da Som Livre, além de lançar dois álbuns solo para o mercado brasileiro logo depois).

Mas nem só de Charly Garcia vive o rock argentino. Outro nome importante é o de Luis Alberto Spinetta, que começou em 1968 no Almendra, depois integrou várias outras bandas, como Pescado Rabioso, Invisible e Spinetta-Jade. Hoje todos sabemos quem é Fito Paez, mas no show de Charly Garcia no Teatro da Ospa em 1986 ele era apenas um tecladista convidado. Houve também Los Gatos, Manal e muitos outros. Agora que comprei o "Diccionário del Rock Argentino" na Feira do Livro, terei um bom ponto de partida para investigar a fundo todo esse tesouro musical.

Depois de tudo o que escrevi, é quase obrigatória a republicação de uma foto que tirei e já havia mostrado antes: Charly Garcia em 1987 no Teatro Presidente. O roqueiro estava em forma, com todo o pique. Não sei se voltará a ser o grande artista que foi um dia, depois de tantas internações. Espero que se recupere. Mas que bom que pude vê-lo em sua melhor fase. Três vezes, aliás (ou cinco, contando os dois shows a que assisti duas vezes). Ah, sim: observem o cameraman no fundo à esquerda. A RBS gravou todo o show em vídeo, sob a orientação de Marcelo Sirotsky (que estava sentado bem na minha frente, na primeira fila). Depois a TV mostrou somente a música "No Soy Un Extraño" (eu tinha isso gravado em VHS, com apresentação de Kleiton Ramil, mas ainda não consegui localizar). Cadê esse tape completo?

Rapidinha

Desculpem a falta de postagens, tenho estado realmente sem tempo. Hoje estive na Feira do Livro e fiz algumas compras bem interessantes. A que mais me entusiasmou foi o "Diccionário del Rock Argentino", que encontrei na banca da Calle Corrientes (a livraria). Se tudo der certo, quero comentar os livros com mais calma. E também postar uma foto minha na Feira (agora com a barba bem aparada).

domingo, novembro 02, 2008

Me passou

Agora há pouco fiquei frente a frente com o meu filho e acho que o inevitável finalmente se consumou. Ele está mais alto que eu. E o respeito, onde é que fica?

sábado, novembro 01, 2008

Leituras musicais

Estou terminando de ler o livro "A House on Fire: The Rise and Fall of Philadelphia Soul", de John A. Jackson. Conta a história da música negra americana dos anos 70 conhecida como o "Som da Filadélfia", que teve o seu núcleo nos produtores e compositores Kenny Gamble, Leon Huff e Thom Bell. Os dois primeiros criaram a gravadora Philadelphia International e o terceiro se lançou como produtor independente. Aqui no Brasil, muitos dos sucessos da Philadelphia International saíram na série "Black Beat", da CBS (que tinha um contrato de distribuição com Gamble e Huff). Uma curiosidade que eu já havia percebido em um grupo de discussão sobre música e o livro confirma é que, nos Estados Unidos, Billy Paul teve apenas um sucesso, que foi a música "Me and Mrs. Jones". No Brasil, como sabemos, ele teve vários outros hits, como "July, July, July", "Thanks for Saving My Life" e "Only The Strong Survive". Em compensação, o nome de Teddy Pendergrass não é tão conhecido por aqui. Ele era o principal vocalista de Harold Melvin & The Blue Notes. Inconformado com o pouco destaque que recebia (em geral o público achava que Harold Melvin era o solista, ou então ele próprio, Teddy, era chamado de "Harold" pelos fãs), saiu da banda para se lançar em carreira-solo. Tornou-se um ídolo e sex symbol da soul music. Até sofrer um acidente em 1982 que o confinou a uma cadeira de rodas.

Já faz alguns anos que eu tinha começado a ler o livro "The Sound of Philadelphia", de Tony Cummings, mas foi numa época desorganizada de minha vida e acabei interrompendo antes da metade. Mas o marcador continua na página em que o deixei, de forma que devo retomar a leitura em seguida. E como um livro puxa o outro, já comprei também "Truly Blessed", autobiografia de Teddy Pendergrass. Já "Philadelphia, City of Music", de James Rosin, é um volume fininho com pouco texto, quase uma revista, mas já que o encomendei, vou lê-lo também. A propósito, outros nomes de destaque da gravadora Philadelphia International foram O'Jays, Three Degrees e a orquestra MFSB, que nos legou os clássicos instrumentais "TSOP (The Sound of Philadelphia)" e a linda "Love is the Message". No livro de John A. Jackson, os músicos reclamam que não eram creditados como co-autores por suas colaborações. De fato, Leon Huff era pianista, mas Kenny Gamble não tocava nenhum instrumento, de forma que contribuía com letras e idéias musicais que outros colocavam em prática - ou simplesmente aprovava as sugestões dos instrumentistas. Quanto a Thom Bell, seus trabalhos mais marcantes como produtor foram com Stylistics e Spinners.

Já está a caminho a polêmica biografia de John Lennon escrita por Philip Norman. Dizem que o texto sugere que havia um "clima" entre John e Paul McCartney, por assim dizer. É estranho, pois Norman sempre foi um biógrafo respeitado. É dele o melhor livro já escrito sobre Elton John, além de "Shout", biografia dos Beatles que também é considerada obra de referência. Ele não quereria virar outro Albert Goldman. Talvez o livro não seja assim tão bombástico e tudo não passe de especulação da mídia. Vamos aguardar para conferir.