sábado, março 28, 2009

Ivéscio Pacheco, jornalista

Diário de Notícias de 17 de outubro de 1941. À direita, Ivéscio Pacheco.

Eu costumo brincar com meus irmãos, dizendo que fui o único que já nasceu filho de pai Juiz e mãe dentista. Como filho temporão, o começo de vida de meus pais era, para mim, uma história perdida no tempo. De vez em quando algum episódio era resgatado nas conversas à mesa. Muitas vezes meu pai contou de seus tempos de jornalista no Diário de Notícias, nos anos 40. E mesmo depois de toda a sua atividade exitosa no TRT e também no Clube do Comércio, eu percebia que o lado jornalista dele nunca havia morrido. Quando o Clube lançou um jornal mensal, em 1973, o primeiro número foi todo escrito por ele. Seu sonho, se não tivesse seguido o Direito e a Magistratura, era ser correspondente de guerra.


Diário de Notícias de 25 de setembro de 1941. Ivéscio Pacheco é o penúltimo da esquerda para a direita, de frente para a câmera.

Pois hoje dei início a um antigo plano, que é o de pesquisar exemplares do Diário de Notícias do tempo em que meu pai trabalhava lá. Comecei por setembro de 1941. Já ao folhear as primeiras páginas, senti uma emoção por estar tendo contato com o passado dele de que eu tanto ouvira falar. Ali, em meio àquelas linhas, estava um pouco dele. Até que, de repente, eu o reconheci numa foto. E noutra. E mais outra. Não tinha ninguém por perto para ver meus olhos marejados. Meu pai, jornalista. Aquele período longínquo da vida dele estava ali, na minha frente.

Diário de Notícias de 21 de outubro de 1941. Ivéscio Pacheco é o bem da esquerda, de perfil.

Pelo que observei, os jornais da época faziam o contrário dos atuais: não divulgavam o nome dos seus profissionais, mas tinham orgulho em mostrar suas imagens. Encontrei várias fotos como a bem de cima, em que o repórter aparecia tomando nota do depoimento de seu entrevistado. Como não havia a instantaneidade da reportagem fotográfica de tempos posteriores, publicavam-se muitas fotos posadas. Em algumas delas, os jornalistas se posicionavam ao lado de visitantes à redação do jornal. É uma dessas, especificamente, que estou procurando. Minha família sabe qual é. Não sei se vou encontrar, pois já percebi que o Museu Hipólito da Costa não tem o acervo completo. Mas a busca continua.

(Cliquem nas imagens para ampliá-las.)

Almofada voadora

Porto Alegre, Av. Borges de Medeiros, Centro, 8 da manhã de hoje. Como aquela almofada foi parar ali?

terça-feira, março 24, 2009

Homenagem

Hoje minha irmã Beatriz Pacheco está recebendo a Medalha Cidade de Porto Alegre juntamente com outras 19 pessoas ou entidades, por sua atuação em "Políticas públicas voltadas à saúde". Mais do que um exemplo para pessoas portadoras de HIV, ela é um símbolo de determinação, de vida, de felicidade. Conheço pessoas que, por problemas mínimos, vivem num muro de lamentações. Ela não só busca a superação como tem fibra para ajudar aos outros (também, filha da Dona Irene...). Parabéns, Neca!

É um bom momento para lembrar a participação dela na campanha do Dia Mundial de Luta contra a AIDS EM 2006:

sábado, março 14, 2009

Professores de inglês na berlinda

De certa forma é uma casualidade que, no momento em que se comenta a venda do Cultural para o Wizard e se cogita um possível declínio na qualidade do curso como uma das causas, surge este novo livro do inglês Michael Jacobs. Eu me pergunto se "Como Não Ensinar Inglês" causará alguma reação mais turbulenta junto aos professores de inglês do Brasil. Porque, mais do que orientar, a obra expõe sem misericórdia as deficiências de diversos mestres do idioma com quem o autor teve contato. As consultas enviadas por e-mail a Jacobs são transcritas sem qualquer alteração. No caso das mensagens que contêm erros grosseiros de inglês, apresentam-se as devidas correções. E assim, cada pergunta recebida serve de ponto de partida para um novo tópico. Nenhuma fica sem resposta, mas também não é poupada de uma generosa dose de sarcasmo.

Michael Jacobs critica a preguiça tanto de professores quanto de alunos em "fazer o tema de casa". Em outras palavras, buscar as respostas por esforço próprio. Ele não esconde a surpresa com a quantidade de consultas que recebe, muitas das quais poderiam ser resolvidas com um simples dicionário. Aliás, como bem sabemos, este é um problema generalizado da era da Internet. Houve uma época em que eu tive que colocar uma espécie de FAQ sobre Mario Quintana no meu perfil do Orkut, pois não aguentava mais receber perguntas sobre o poeta cujas respostas estavam na própria comunidade onde o consulente me encontrou. Sem contar aquelas indagações bem vagas, tipo: "Estou fazendo um trabalho sobre Mario Quintana, você poderia me dar algumas dicas?" Pois Jacobs também enfrenta esse problema em relação ao aprendizado de inglês.

O autor aborda ainda a questão do que ele define como "pensamento linear", ou a presunção de que tudo o que se diz num idioma tem equivalente no outro. Ou mesmo de que tudo o que se encontra num país estará disponível em outro. Ele cita como exemplo o "evaporated milk" - literalmente, "leite evaporado" - que ele adorava beber na Inglaterra, mas não existe no Brasil. Assim também, o creme de leite de que os brasileiros tanto gostam não se encontra em terras britânicas. Não existe uma gíria em inglês que corresponda a "pagar mico", mas também não há em português um insulto como "bastard". Sim, existe uma tradução literal, mas nunca se ouve ninguém gritando com agressividade: "Bastardo!" Aqui, permita-me fazer uma defesa: muitas vezes são tradutores que fazem essas consultas, pois encontraram essas expressões em seus trabalhos e precisam achar uma solução.

Jacobs é o autor de "Como Não Aprender Inglês" (que não li, pois após uma folheada rápida concluí que se destinava a estudantes em nível intermediário, o que não é o meu caso) e "Tirando Dúvidas de Inglês" (que está na minha estante). O foco deste último é exatamente as dúvidas específicas de tradução como as citadas acima. Outros livros semelhantes são "Como se diz chulé em inglês" do americano Ron Martinez, e "Break the Branch? Quebrar o Galho", do inglês Jack Scholes. A diferença é que a obra de Scholes se destina a nativos de língua inglesa vivendo no Brasil, enquanto as demais têm como público-alvo brasileiros estudantes de inglês como segundo idioma. Esse, aliás, é um filão que se tornou uma tendência no mercado editorial brasileiro e vem sendo abastecido por autores como Jacobs, Martinez, Scholes e o brasileiro Ulisses Wehby de Carvalho. Mas agora Michael Jacobs tocou num ponto sensível. Em "Como Não Ensinar Inglês", ele escancarou as fraquezas dos professores. Há uma frase em inglês que se encaixa perfeitamente nesse caso: It's a dirty job, but someone's gotta do it (é um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo).

sexta-feira, março 13, 2009

Desemprego à moda americana

Ontem vi de relance uma reportagem na TV sobre o desemprego nos Estados Unidos, em consequência da crise. Mas tive a impressão de que, num aspecto, eles continuam diferentes de nós: o que eles chamam de "desemprego" significa "falta de vagas na atividade pretendida". Não é o caso do Brasil, onde, numa situação de desespero, você abraça o que aparecer. Aliás, é o que costuma acontecer mesmo em condições normais. Claro que estou generalizando e cada caso é um caso, mas existe essa característica em nosso mercado de trabalho. Sem falar nos brasileiros com curso superior que vão para o Primeiro Mundo lavar pratos, entregar pizzas ou trabalhar como garçons.

Lembro minha mãe se queixando de que as moças (ou nem tão moças) que se candidatavam a uma vaga de empregada doméstica em nossa casa só queriam saber do salário, das férias e das folgas. Mas eu as entendia. Considerando que a atividade não seria das mais gratificantes, as vantagens se tornavam o único diferencial. Em outras palavras, dificilmente alguma delas levaria em consideração o tamanho do apartamento, quantidade de quartos, banheiros e moradores na hora de decidir. Chatice por chatice, escolha-se a que trará mais benefícios. Não é muito diferente de quem folheia um jornal de concursos examinando apenas a remuneração e a formação exigida. O que vai ter que fazer? Isso se vê depois. Importante é pagar as contas.

Mas, ao menos superficialmente, parece-me que os americanos ainda não abdicaram se suas aptidões. O especialista em computação entra na fila do desemprego buscando uma vaga em sua área, especificamente. E assim o fazem os demais profissionais, cada um querendo se colocar sem deixar de exercer a sua habilidade. Pensando bem, é melhor que não se quebre essa regra tácita. Enquanto o desemprego americano continuar atrelado às respectivas profissões, continuarão existindo vagas para os brasileiros que vão para lá lavar pratos, entregar pizzas ou trabalhar como garçons. Mas estou apenas conjecturando. Se alguém souber mais detalhes sobre o que acontece por lá, fique à vontade para postar seu testemunho nos comentários.

domingo, março 08, 2009

Cultural vendido para o Wizard

Há tempos venho procurando no Orkut uma comunidade sobre o Cultural – "Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano", de Porto Alegre. Foi onde eu aprendi inglês. Só hoje consegui encontrar uma boa comunidade sobre o tema. É que eu estava usando "Cultural Americano" como argumento de busca. Decidi procurar o nome de dois ex-professores meus e cheguei à comunidade "Cultural – POA". Essa, sim, parece relativamente ativa. E qual o primeiro tópico que aparece? "Falecimento do Cultural". Foi vendido para o Wizard. Vai funcionar por mais um semestre como Cultural, depois troca de nome. Mesmo que eles mudem de ideia e mantenham a marca tradicional, já se sabe que, por trás, não será a mesma coisa. O que era uma instituição binacional de 70 anos passa a ser um cursinho de inglês igual aos outros.

Estou chocado. Como deixaram acontecer isso?

Na minha infância e adolescência, em Porto Alegre, não se falava em "aprender inglês": dizia-se "fazer o Cultural". Lembro que uma prova de inglês do Vestibular da UFRGS, se não me engano de 1976, foi considerada tão difícil que um dos candidatos afirmou que ela "caiu do céu para quem fez o Cultural", conforme citado em matéria da Zero Hora. No colégio eu me destacava em inglês e todos os colegas me perguntavam se eu "fazia o Cultural". No início, não. Mas tinha vontade de começar. Até que um dia, no terceiro trimestre de 1975, ingressei. Lembro eu e minha mãe sentados lado a lado na cama dela enquanto ela contava o dinheiro para a minha matrícula. Depois me olhou e disse: "vais entrar para o Cultural, finalmente!"

A mesma facilidade para inglês que eu já tinha no colégio, continuei demonstrando no Cultural. Inclusive, o livro era o mesmo, de Robert Lado. A única diferença é que a matéria avançava mais rapidamente, mas sem dificuldade. E eu gostava das aulas. Ao contrário de meus colegas, que olhavam para o relógio para saber se "faltava muito pra terminar", eu conferia as horas para saber quanto tempo mais teria para desfrutar. Cheguei mesmo a voltar para o Cultural em 1984, já tendo todos os diplomas, apenas para fazer cursos avançados. Achei graça quando vi uma colega comentar para outra que só faltavam mais dois cursos especiais e aí ela estaria "livre", esticando os braços numa expressão de alívio. Se ela soubesse que eu já tinha terminado tudo e voltara apenas porque tive vontade, provavelmente me acharia louco.

Recentemente tentei localizar na Internet as músicas didáticas que ouvíamos no laboratório. Descobri que quase todas estavam no LP "
Sunday Afternoons", lançado em 1973 pela Longman. Aquelas músicas marcaram minha adolescência tanto quanto as que eu escutava na Rádio Continental ou nos meus discos: "Samantha's Picture Book", "Travelling in My Mind", "If I Were You" e "They Made Me". Perguntei para um colega do Pio XII que fazia laboratório em um nível abaixo se eles também ouviam músicas, e ele confirmou, citando inclusive um título: "Mr. Monday". Graças a esse nome que não saiu de minha memória, verifiquei que a Longman lançou mais dois LPs na mesma época: "Mr. Monday" e "Goodbye Rainbow". É possível que em um deles esteja a música de que eu mais gostava, "I'm Looking Forward to The Day". Se esses álbuns fossem relançados em CD, eu os compraria. Considerando a raridade, eu não recusaria se alguém me oferecesse cópia em mp3 tirada do vinil. Mas somente se não fossem relançados.

Mas nada me dá mais saudade em relação ao Cultural do que os encontros gratuitos para conversação que eram realizados terça-feira à tarde, chamados de "Getting Together". Eu os frequentei de 1979 a maio de 1981. Ali o nível era outro, pois ninguém comparecia para ganhar créditos ou fazer currículo. Quem estava lá, era porque gostava de falar inglês. De vez em quando apareciam americanos. Foi no "Getting Together" que conheci meu grande amigo Paulo Brody, que além de inglês tinha em comum comigo o gosto por música e quadrinhos. Tenho uma vaga lembrança de ter visto por lá uma vez Marcos Breda, ainda um desconhecido aspirante a professor de inglês – hoje um ator famoso. Minha maior perda quando comecei a trabalhar foi não poder mais participar daqueles encontros. No meu tempo, eles eram coordenados pela professora Marialva Dornelles.

Muitas vezes pensei em me associar ao Cultural, para poder tirar livros na biblioteca. Hoje não me faria mais falta, já que minha própria coleção de livros me abastece. No ano retrasado, voltei lá para tentar localizar um exemplar do informativo "Boletim" de 1976 que trazia uma matéria com os Almôndegas. No mesmo número, aparecia uma entrevista com Marcus Aurélio Wesendonk, locutor e diretor de programação da saudosa rádio Continental. Eu queria enviar a foto ilustrativa para ser usada no livro "Continental, a Rádio Rebelde de Roberto Marinho", de Lucio Haeser. Para minha decepção, eles não tinham mais os informativos. Achei um crime que a própria instituição não se preocupasse em preservar um pedaço de sua história. Pelo visto, não conseguiu preservar nem a si mesma.

Certa vez minha mãe, sem saber que eu estava ouvindo, descreveu o Cultural como "a única alegria" da minha vida. Exageros à parte, é mais um cenário de minha adolescência que desaparece.

sábado, março 07, 2009

Prêmio Dardos

Gostaria de agradecer sinceramente ao colega blogueiro que me indicou para o "Prêmio Dardos". No entanto, não vou seguir as instruções recebidas. Espero que minha atitude não seja interpretada como uma desfeita. Ocorre que eu sempre alerto, aqui e em outros canais, que a Internet é um campo aberto e não se pode confiar em tudo o que é divulgado por meio dela. Como pode ser este "um dos mais importantes prêmios destinados aos blogs da Internet brasileira" e nunca ter sido divulgado na imprensa? Além disso, que mérito existe em ser contemplado numa corrente que se alastra de forma exponencial? Cada indicado deve apontar mais 15 blogs. E assim por diante. Não há qualquer escolha posterior: a "indicação" em si já é o prêmio. Ou seja: é na verdade uma pirâmide.

Fiz uma investigação via Google. A imagem que os indicados são orientados a postar em seus sites contém um nome em inglês: "Best Blogs Dart Thinker". Logo, o prêmio não é brasileiro. Usei a expressão como argumento de busca e encontrei alguns comentários bem interessantes. Certo blogueiro americano cogita a possibilidade de que o "prêmio" tenha sido criado para promover alguma loja de dardos e acessórios pelo acionamento do "AdSense". Alguns também falam no "Prêmio Dardos Award", o que é um pleonasmo bilíngue, como "Irmãs Sisters" ou "Praia Beach".

De todos os textos que encontrei, o de Alexandre Inagaki encerrou a questão. Ele disse tudo o que eu pensava em dizer e muito mais. E conseguiu localizar a origem do "prêmio" e a forma com que provavelmente chegou ao Brasil. Então, não chovamos no molhado: cliquem
aqui e leiam o que ele escreveu. E ponto final.

quarta-feira, março 04, 2009

Desperdício

Já faz tempo que vejo um artista na Rua da Praia, em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal, vendendo pinturas feitas sobre LPs. Geralmente são rostos de músicos famosos, como Jimi Hendrix, Bob Marley, John Lennon e Raul Seixas. Muitas vezes eu me perguntei que discos estariam sob aquela tinta e se não poderia haver ali alguma raridade. No fundo, eu queria acreditar que não. Afinal, quem se dispõe a homenagear grandes artistas haveria de saber o valor de um item de coleção e não o desperdiçaria.

Pois hoje eu dei uma passada na Caixa no final da tarde para pegar talão na máquina e avistei novamente as obras em "óleo sobre vinil" (com certeza a tinta era outra...). Só que, desta vez, um dos LPs ainda não tinha sido pintado. E qual não foi minha surpresa quando o identifiquei como sendo o raríssimo "Música Popular do RGS" lançado pela Riocell no final dos anos 70 (acho que em 1978) exclusivamente para distribuição dirigida:

Foi uma edição promocional com gravações feitas especialmente para o projeto. Muita gente boa está ali: Fernando Ribeiro, Raul Ellwanger, Status 4, Toneco, Geraldo Flach e Loma, entre outros. É claro que, para ter valor, o pacote teria que estar completo, com capa, encarte e os dois LPs, já que se tratava de um álbum-duplo. Mas não resisti. Quando o artista se aproximou, vendo o meu interesse, falei na hora:

- Este disco aqui é uma raridade! Não pode ser desperdiçado assim!
- Não é tão raro, não. Tem mais.
- Este não é o LP da Riocell? Ele vale muito mais sem a pintura por cima!

E saí dali, indignado. Agora mesmo é que eu gostaria de saber o que está sob a tinta das demais "obras de arte". Pensando bem, é melhor continuar no desconhecimento.

Suporte a pirataria

Eu sei que a pirataria de software é amplamente disseminada, que software original é caro e que é relativamente fácil obter cópias ilegais. Mas alguns nativos da Terra Brasilis parecem não entender as implicações dessa prática e a extensão de suas consequências. Quem compra software pirata, além de ser conivente com o crime, não tem direito a qualquer espécie de assistência em relação ao produto. Nem suporte, nem atualizações, nada. O usuário de pirataria não tem amparo nenhum, nem mesmo da própria lei. Isso deveria ser óbvio para todos. Mas para alguns, aparentemente, não é.

Recebi hoje um arquivo em MP3 que é engraçadíssimo. Uma usuária de sistema operacional pirata aceitou instalar uma atualização que recebeu pela Internet. No momento da instalação, o software identificou que o computador rodava com uma cópia ilegal do sistema e efetuou uma espécie de bloqueio, sinalizado por uma estrela azul no canto inferior direito da tela. Apareceu ainda a informação de que ela foi "vítima de um software falsificado". Imediatamente, ela ligou para o suporte da Microsoft, como se tivesse direito a tal serviço. Recusou-se a fornecer os dados para cadastro e ainda encheu o pobre rapaz de palavrões. O moço não perdeu a linha em um só momento. Falou primeiro com a filha, depois com a mãe. A filha reclamou: "Eu não quero fazer cadastro, eu só quero tirar essa estrela azul que está me incomodando! Disseram que era uma atualização, não me avisaram que era um software!" O atendente, com calma, explicou: "Atualização também é um software." Já a mãe realmente baixou o nível. E lá pelas tantas soltou esta pérola: "Eu não fui vítima coisa nenhuma, eu pus um software falsificado e sabia disso!" Ah, sim, isso muda completamente a situação!

Há quem pense que o rapaz da Microsoft não deveria ter se mantido tão calmo. Já eu acho que ele agiu da forma correta, já prevendo que a ligação iria circular bastante, como realmente está acontecendo. Não havia necessidade de responder no mesmo tom. A usuária já estava se expondo ao ridículo sozinha. Depois de ouvi-la mandá-lo tomar naquele lugar várias vezes ele ainda perguntou: "Mais alguma informação?"

Certa vez eu quase cedi à tentação da pirataria. Queria comprar um software de edição de vídeo, mas todos me diziam para que não fosse trouxa, que nos camelôs eu iria pagar uma bagatela, coisa e tal. Decidi encarar. Cheguei na Praça XV (antes da operação Camelódromo) e perguntei para um ambulante se ele tinha software de edição de vídeo. "Sófti? O Fulano tem." E me indicou para o Fulano. "Sófti de vídeo? O Beltrano tem." E assim passei pelo Cicrano, pelo quarto, pelo quinto, e fui indo até que me levaram de volta para o Beltrano. No final do calvário eu estava rindo... de mim mesmo. Queria um produto importado, altamente sofisticado, e achava que iria encontrá-lo no meio daquele povo. Acabei comprando pela Internet, licenciado, e não me arrependi.

A história desse telefonema para a Microsoft lembra aquela piada do motorista que foi abordado por um guarda de trânsito. "Por que estava correndo tanto?" "É que atropelei um pedestre e tive que fugir para não ser identificado." "Cadê o cinto?" "Está no porta-malas segurando o botijão de gás que estou usando em vez da gasolina." E assim, a cada pergunta, um novo ilícito era ingenuamente confessado. Fazer o quê? Ela não foi vítima coisa nenhuma, instalou a pirataria porque quis. E, por isso, acha que tem direito a assistência técnica.