domingo, novembro 30, 2025

Para fechar o mês

No fim, novembro está terminando e não fiz qualquer comentário sobre o fato mais marcante do mês: a prisão de Bolsonaro. Mantenho o que já disse antes: quero justiça, não uma vingança doentia. Que ele tenha na prisão um tratamento digno como merece qualquer cidadão. Mas sem anistia ou impunidade.

quinta-feira, novembro 27, 2025

Meu segundo livro

 

A editora já está divulgando nas redes sociais, então aproveito para postar aqui, também. Aí está, finalmente, o meu segundo livro. Foi escrito sob encomenda. Fiquei pouco mais de um ano entrevistando médicos e pesquisando em documentos, publicações e sites da Internet. É gratificante constatar que também consigo escrever sobre outros assuntos que não apenas música ou temas do meu interesse. Aliás, agora já estou motivado e pretendo continuar atento a livros sobre hospitais de Porto Alegre. Tudo é História. 

terça-feira, novembro 25, 2025

O documentário sobre os Secos e Molhados

 Na última sexta-feira, o Canal Brasil exibiu o quarto e derradeiro episódio do documentário "Primavera nos Dentes", sobre os Secos e Molhados. A direção e o roteiro foram do jornalista Miguel de Almeida, autor da biografia do grupo, já comentada aqui. A produção começa prejudicada pelo fato de que o líder e principal compositor da banda, João Ricardo, não autorizou o uso de suas músicas. Ele nunca colabora com reportagens ou similares porque não concorda com as versões que normalmente se apresentam. A solução encontrada pelos músicos participantes foi fazer do limão uma limonada e criar temas instrumentais inéditos inspirados no estilo do conjunto. O baixista Willy Verdaguer compôs "Outono", "O Passeio", "Solaris" e "Cósmica". O tecladista Emílio Carrera assinou "Galope" e "Aurora". Ambos eram músicos de apoio dos Secos e Molhados na fase clássica (1973-74). 

A grande surpresa, guardada para o último episódio, foi a gravação da composição inédita "Ouvindo o Silêncio", com música de Gérson Conrad e letra de Paulinho Mendonça. Ambos já tiveram diversas parcerias, entre elas "Delírio", do segundo LP dos Secos e Molhados. Paulinho também é coautor de "Sangue Latino", do primeiro disco, com João Ricardo. A ideia era apresentar o que poderia ser uma nova música do grupo, com Ney Matogrosso no vocal, Gérson na segunda voz, Emílio nos teclados, Willy no baixo - até aqui, todos participantes dos dois primeiros LPs dos Secos e Molhados -, mais André Perine nas guitarra e violas e Gabriel Martini na bateria. O resultado ficou interessante, mas não necessariamente resgatou a sonoridade clássica que se esperaria.

Com isso, as cenas de arquivo dos Secos e Molhados perdem muito de seu valor por não poderem ser mostradas com o áudio original, no caso de execução de músicas. Ouvem-se apenas as duas composições que não tiveram participação de João Ricardo, no caso, "Rosa de Hiroshima", de Gérson sobre poema de Vinicius de Moraes, e a já citada "Delírio". Esta abre o primeiro capítulo em versão instrumental (a base sem os vocais) enquanto se vê o grupo no camarim, aplicando a maquiagem tradicional. 

Uma crítica pertinente que muitos já fizeram à edição é inclusão de imagens de arquivo não diretamente vinculadas à história do grupo. Aparecem cenas do tempo da ditadura nos anos 1970, com som distorcido e movimento reverso para dar uma conotação negativa. Também entram vários trechos da peça "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, numa tentativa de associar a maquiagem do ator Renato Borghi à adotada pelo grupo. São elementos visuais interessantes, mas supérfluos. Também é questionável o depoimento de artistas que não eram nem nascidos na época dos Secos e Molhados ou de músicos que acompanharam o grupo apenas à distância, como observadores e fãs.*

O ponto forte do documentário, como seria de se esperar, são os testemunhos dos protagonistas. Ney Matogrosso e Gérson Conrad contam várias passagens da história do grupo, muitas vezes juntos no mesmo ambiente, de forma que um pode corroborar ou complementar a versão do outro. Paulinho Mendonça também tem diversas falas, bem como o fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues, que fez a capa do primeiro LP, o empresário Moracy do Val e seu sucessor Henrique Suster, que pegou o grupo na reta final, já em vias de se separar. 

Um erro que não deve ter escapado aos fãs mais atentos é que Totô Braxil, cantor dos Secos e Molhados em 1988 (LP A Volta do Gato Preto), foi mostrado como se fosse Lili Rodrigues, da formação de 1978 (do sucesso "Quem fim levaram todas as flores"). Já a lenda de que o Kiss copiou a maquiagem dos Secos e Molhados não pode ser ignorada, pois já se tornou parte do folclore em torno do grupo. Mas é curioso que ela ainda persista, pois foi desmentida de forma definitiva pela biografia de Ney, escrita por Julio Maria (e por este Blog também, mas é claro que o livro sempre terá mais credibilidade). Até mesmo Gérson a endossou, embora tivesse admitido que não passa de um equívoco em vídeo recente do YouTube. E, no documentário, ainda mencionou ter visto o Kiss na capa de uma revista "Rolling Stones" (sic) em 1974. Com certeza um engano, pois o quarteto americano só adornou a fachada da Rolling Stone pela primeira vez em 2014. O boicote à banda de Gene Simmons e Paul Stanley era quase uma questão de honra para o editor Jann Wenner. 

Nenhuma surpresa que tenham sobrado algumas críticas à postura de João Ricardo. A recusa do criador dos Secos e Molhados em colaborar com a produção propicia e até incentiva esses comentários. Mas, sem ele, ouve-se apenas um lado da história. Recomenda-se assistir à série de vídeos "Ouvido Nu", que o compositor postou no YouTube, para saber a versão dele. Também seria interessante que a produção da Interface Filmes lançada em 2021 no festival In-Edit Brasil fosse disponibilizada em streaming, pois ali temos um longo depoimento de João Ricardo contando a história do grupo. 

Enfim, "Primavera nos Dentes" é um ótimo documentário, mas merecia uma edição mais enxuta, focando apenas nos testemunhos relevantes. 

*Aqui, talvez alguns lembrem que, em 2018, eu apareci no Canal Brasil falando sobre os Secos e Molhados e apontem um "telhado de vidro". Mas ali o objetivo era outro. A série "MPB 73 - o Ano da Reinvenção" teve como ponto de partida o livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB". A ideia era de que todos os autores que haviam participado da obra dessem seus depoimentos. Como eu escrevi sobre o primeiro LP dos Secos e Molhados, fui escalado para falar sobre eles. 

quarta-feira, novembro 19, 2025

Adivinhando questões de provas

Já comentei aqui no Blog sobre um diário que fiz dos 16 aos 20 anos. Acumulei vários cadernos com registros não só do que acontecia, mas também de opiniões minhas, desabafos, de tudo um pouco. Até que, em 2019, finalmente, coloquei em prática um antigo plano: reler todas as minhas anotações, transcrever em um arquivo Word as datas e eventos que desejasse preservar e, por fim, fragmentar os cadernos. 

Então tenho hoje comigo um arquivo chamado "Diário Consolidado 1977-1981" onde constam os fatos que fiz questão de guardar para a posteridade. De vez em quando eu o consulto. No primeiro semestre de 1979 eu estava me preparando para fazer o Vestibular de meio do ano da PUCRGS. Já tinha um bom conhecimento de inglês, uma matéria que sempre me atraiu e na qual tenho facilidade. Com essas preocupações em mente, no dia 25 de junho, escrevi no diário:

Em julho do ano passado, caiu na [prova de inglês do Vestibular da] PUC a expressão "be used to ...ing". No último vestibular, caiu "object to ...ing". Este ano poderia cair "looking forward to ...ing".

Esses são os casos mais comuns em que "to" antecede um verbo na função de preposição e não como parte do infinitivo. Por isso mesmo, podem confundir alunos de inglês como segunda língua, pois normalmente estamos acostumados com "to be", "to do", "to have", etc. Mas, se o "to" é preposição, observa-se a regra de que o verbo a seguir tem que estar no gerúndio ou "forma -ing". 

No dia 11 de julho, lá estava eu para fazer a prova de inglês da PUC. Naquele tempo, "Língua Estrangeira Moderna" era a única matéria que ocupava todas as 50 questões de um exame, o que facilitava bastante para mim. Bingo! Apareceu a questão que eu previra, com a expressão "looking forward to"! 

Mas minha saga de antever questões de inglês do Vestibular estava apenas começando. No segundo semestre, um amigo que almejava o curso de Odontologia me conseguiu três ou quatro provas de anos anteriores consecutivos. Analisei com calma as perguntas de inglês, inclusive fazendo anotações em um caderno, e fiquei com uma visão muito clara do padrão que era seguido. Eram variações sobre o mesmo tema. Dei aulas particulares para meu amigo, com ênfase nos assuntos que eu tinha certeza que constariam no teste. E acertei várias previsões. Frustrante foi constatar que ele errou questões que eu tinha avisado que cairiam. Mas, no ano seguinte, ele foi aprovado. E depois me mostrou que havia escrito meu nome junto a cada uma de minhas "adivinhações" certeiras.

Na verdade, prever questões de exames é algo que os cursinhos preparatórios fazem corriqueiramente. Lembro que, em seu primeiro semestre de existência, o Curso Pré-Universitário, de Porto Alegre, anteviu duas questões de Física que apareceram no Vestibular da PUCRGS. E isso foi amplamente divulgado junto aos alunos que compareciam às chamadas aulas pré-exame. Recordo-me também de um professor de Biologia vangloriando-se de que, no Vestibular anterior, diversas dicas dadas por ele e outros colegas tinham sido, na expressão dele, "um tiro na mosca". 

Por tudo isso, acho temerária essa condenação antecipada que a mídia está impondo ao estudante que "adivinhou" questões do ENEM em uma live. Com certeza as pessoas que o "denunciaram" não estão familiarizadas com o caráter repetitivo desses exames em geral. Para que seja evitada uma grande injustiça, um perito deveria analisar as questões de provas anteriores para verificar se elas eram previsíveis ou não. Seria interessante saber também o que pensam a respeito os professores de cursinhos, que a imprensa poderia ouvir. A priori, não vejo nada fora do comum no fato de o rapaz ter previsto perguntas que caíram. Se até eu consegui fazer isso no final da adolescência, imagine um geniozinho como ele. 

P.S.: Aliás, a moda agora é alegar fraude por qualquer motivo. Nunca ninguém que eu conheça ganhou na Mega Sena? Fraude! O meu candidato não se elegeu? Fraude! Um atento observador de testes e concursos conseguiu prever três questões do ENEM? Fraude! Acusações sem provas deveriam morrer no nascedouro, mas algumas acabam tendo consequências bem desagradáveis.

terça-feira, novembro 11, 2025

Preparando a sessão de autógrafos

Na foto, Juarez Fonseca, eu e Márcio Pinheiro. Estivemos hoje na Livraria Bamboletras, em Porto Alegre, para conversar com o Milton Ribeiro e acertar os detalhes de uma sessão de autógrafos do livro "1985, o Ano que Repaginou a Música Brasileira". Vai ser no dia 15 de dezembro, a partir das 18 horas. Há quem diga que vai começar às 17 e 30, mas nesse horário dificilmente eu conseguirei chegar. Também participarão o Zeca Azevedo e, vindo especialmente do Rio de Janeiro, o Célio Albuquerque.