Perfil de Fughetti no Jornal do Comércio

O Jornal do Comércio de hoje, em seu caderno Viver, traz um perfil de Fughetti Luz, o lendário vocalista do Liverpool e do Bixo da Seda, escrito pelo jornalista Cristiano Bastos. A foto acima, tirada por mim no dia 8 de maio de 1998 no show "Heróis do Rock", no Auditório Araújo Vianna, é uma das que ilustram a matéria. Também podem ler aqui.

Fernando Vieira (1941 - 2020)

Vi Fernando Vieira na TV pela primeira vez, possivelmente, no dia 20 de outubro de 1975, segunda-feira. Se não foi nesse dia, foi pouco depois, já que ele mostrou um trecho do show do grupo Lee Jackson abrindo para Bill Haley em Porto Alegre, no Gigantinho, e a apresentação tinha acontecido no sábado, dia 18. Não tínhamos antena externa em nosso apartamento naquela época, então o canal que pegava melhor era o 10, a TV Difusora. E eu passei a acompanhar o quadro musical do Portovisão, ao meio-dia, sob o comando de Fernando. Ele não parecia ser exatamente um profundo conhecedor de música. Recentemente fui informado de que ele entrou no programa para falar de clubes, o assunto que ele dominava melhor, mas assumiu também os clipes com a saída de Cascalho.

Lembro bem de vários tapes de números musicais que Fernando apresentava: Carpenters, Osmonds, Wizzard, Captain and Tenille, Rubettes, Supertramp, Elton John, David Bowie, Dionne Warwick e muitos outros. Ele também divulgava artistas gaúchos. Enquanto seu concorrente Pedrinho Sirotsky caprichava com sofisticadas produções em 16 milímetros na TV Gaúcha (no Transasom), Fernando simplesmente colocava os músicos no estúdio e os gravava em vídeo-tape. Com isso ele fez vários registros importantes como, por exemplo, Gilberto Travi e o Cálculo IV, Nélson Coelho de Castro, João Schu e Fernando Ribeiro (este acompanhado por Toneco no violão e Ayres Potthoff na flauta). No caso dos que já tinham disco, como Almôndegas, Hermes Aquino e Inconsciente Coletivo, rodavam-se as respectivas gravações e eles dublavam. Os outros tocavam de verdade. Eu ganhei quatro LPs nas promoções que ele fazia. Em uma dessas ocasiões, apareci rapidamente no programa, como já contei aqui e aqui.

A título de curiosidade, vou transcrever algumas anotações do diário que fiz nos anos 1977 e 1978 sobre Fernando Vieira:

2/7/1977 - Nesse dia, assisti ao "Fernando Vieira aos Domingos", o programa que, como ele sempre dizia, "é exclusivamente de som e tem uma hora de duração".

7/8/1977 - No "Fernando Vieira aos Domingos", houve um debate entre Fernando, Claudinho Pereira e um grupo de quatro discotecários que haviam colocado som no "Gran Baile Del Fanáticos", no Clube do Comércio no dia 29 de julho (desse detalhe eu me recordava, não foi citado). Lembro que Fernando anunciou um show de Ray Conniff para breve e um dos discotecários convidados desdenhou do trabalho do maestro. Seguiu-se uma incômoda discussão sobre os méritos e deméritos do artista internacional. Claudinho perguntou: "Quem nunca dançou Ray Conniff?" Dois ou três discotecários responderam: "Eu não dancei!"

3/9/1977 - Nesse dia, no Portovisão, Fernando entrevistou o automobilista Alfredo Guaraná. O carro do piloto estava do lado de fora do prédio da emissora, então, antes dos comerciais, Fernando avisou que iria sair, não sem dizer que "lá fora está frio e eu vou colocar o meu casaquinho". Depois reapareceu vestindo um casaco de couro preto e conversou com Guaraná ao ar livre.  

4/9/1977 - O "Fernando Vieira aos Domingos" mostrou "seis musicais do grupo Mensagem, mais João Schu, Nélson Coelho de Castro e Gilberto Travi". Todos gaúchos. 

8/9/1977 - No Portovisão, Fernando mostrou "Machu Picchu" com Hermes Aquino e o grupo Stretch cantando "Why Did You Do It".

14/10/1977 - Fernando, no Portovisão, mostrou a capa do primeiro LP do grupo Impacto, de Porto Alegre, lançamento da WEA, com o título "Impacto Faz a Sua Festa". 

16/10/1977 - "Fernando Vieira aos Domingos" teve transmissão externa da Expotur. 

8/12/1977 - "Pedágio do Carinho" na Avenida João Pessoa, com apresentação de Fernando Vieira e de meu irmão Júlio César, que ainda estava na TV Gaúcha. Deve ter sido uma transmissão conjunta com a TV Difusora. 

6/3/1978 - Nesse dia, à noite, vi um comercial de TV do curso de inglês Anglo-Americano com a participação de Fernando Vieira e Pedrinho Sirotsky, os dois concorrentes que apresentavam programas musicais na televisão de Porto Alegre. 

Em 1979, Fernando Vieira, Juarez Fonseca, Claudinho Pereira e o cantor Hermes do Impacto passaram a apresentar um programa semanal chamado Discoteca 79, que depois mudou de nome para o Som da Discoteca. Em 1981, Fernando criou a Festa Nacional do Disco, em Canela, uma evolução do antigo Troféu Portovisão, que passou a se chamar Discovisão. A primeira edição foi muito batalhada, mas, na do ano seguinte, o empresário teve que fugir dos telefonemas, segundo publicou na época a revista Veja. Em 2002, voltou à televisão na TV Pampa com o programa Zoom, de entrevistas externas. Foi então que decidiu retomar seu antigo evento que havia cessado por vários anos, agora com o nome de Festa Nacional da Música. Essas foram apenas algumas das muitas realizações do empreendedor Fernando Derivi Vieira, que faleceu hoje, aos 79 anos.

Por fim, uma curiosidade: um conhecido site de notícias informou que ele teria 72 anos. É preciso dar um desconto a quem preparou a matéria, pois Fernando "flexibilizou" seu ano de nascimento por diversas vezes em sua fase áurea diante da TV. No dia 4 de maio de 1977, seu aniversário foi comemorado ao vivo no Portovisão e ele afirmou ter 26 anos - tinha, na verdade, 36. Na citada matéria de Veja em 1982, ele foi apresentado como tendo 29 anos e já estava com 41. Diminuir a idade é uma prática comum de pessoas públicas, mas no caso de Fernando, pode ter havido um motivo adicional: seu público-alvo na TV eram os jovens e seu concorrente Pedrinho, com quase 15 anos a menos, usava o slogan "de jovem para jovem". Mas, justiça se faça, nos últimos tempos, Fernando assumia tranquilamente seus mais de 70 anos.

P.S.: O ano de nascimento de Fernando (1941) consta na Wikipedia, mas a matéria que realmente resolveu a questão para mim foi esta aqui, publicada em 2011, que fala nos "70 anos recém realizados no dia 4 de maio" a partir de uma entrevista com ele.

Nova maratona de "MPB-73, o Ano da Reinvenção"

Os 13 episódios de "MPB 73, o Ano da Reinvenção", documentário em série produzido por Célio Albuquerque, Roberto Faissal Jr. e João W. Faissal, terão mais uma reprise especial no Canal Brasil, iniciando às 7 da manhã, como segue:

Dia 6 de setembro – Episódios de 1 ao 7

Dia 13 de setembro – Episódios do 8 ao 13

O programa foi inspirado no livro "1973, o Ano que Reinventou a MPB", organizado por Célio e lançado em 2014. É mais uma chance para quem perdeu as exibições anteriores.

Pensamento da hora

Quarentena é como dieta: se não está dando resultado, é porque não está sendo seguida como deveria.

Setembro

No dia 19 de abril, com mais ou menos um mês de quarentena, minha amiga Cristina, que me recebeu no ano passado com seu marido na casa deles em Pelotas, conversava comigo via Whatsapp sobre como cada um estava se virando no isolamento. Comentei que às vezes batia um desânimo e ela citou o primeiro verso de "Sol de Primavera", de Beto Guedes e Ronaldo Bastos: "Quando entrar setembro..." Era uma expectativa para o final de tudo. Eu lembro que achei muito tempo. Setembro? Mais cinco meses? Não, não pode ser tudo isso.

Pois aí está setembro e continuamos sem previsão para o fim desta pandemia. Algumas pessoas perderam o medo de sair tomando as devidas precauções. Outras, numa atitude de total irresponsabilidade, decretaram por conta própria o fim da quarentena. Fico surpreso de ver que tem gente desdenhando do uso de máscara e até dizendo que não vai tomar a vacina, quando chegar. Então vai fazer o quê? Jogar-se ao sacrifício?

Minha mãe, quando queria dizer que alguém era ateu, falava: "Fulano não acredita num micróbio!" Agora entendo bem o que essa frase significa - literalmente! Mas espero que Deus continue nos protegendo.

Bom setembro a todos.