sexta-feira, setembro 20, 2024

Aviso prévio da Audible americana

Em 1988, ainda não existiam cartões de crédito internacionais no Brasil e as importações eram bastante restritas. Certo vendedor de discos raros tinha também vários livros importados sobre música em sua loja e eu ia lá dar uma examinada de tempos em tempos. Comprei alguns. Um dia ele me falou que não iria mais trabalhar com livros, pois as vendas eram mínimas, "o pessoal não sabe inglês", concluiu. Por isso, me ensinou como fazer para importá-los. Eu teria que pedir uma fatura pró forma (pro forma invoice) para a editora. De posse desse documento, poderia remeter o valor por algum banco que operasse com câmbio. Eu teria que pagar 30 dólares só por essa operação, fora o preço do livro e da remessa. E a mercadoria ainda levava uns três meses para chegar, pois vinha por superfície (surface mail). Era caro e demorado, mas eu queria muito comprar livros importados sem depender daquelas livrarias que só diziam "podemos encomendar" e depois respondiam "não tinha em São Paulo", como se o mundo acabasse lá.

Minha primeira aquisição por esse esquema foi a biografia "Alias David Bowie", de Peter e Leni Gillmann. Ainda lembro da minha emoção quando o livro chegou. Uau! Consegui o título que eu queria sem precisar eu mesmo trazê-lo do exterior, sem depender de atravessadores mal informados e sem ter que pedi-lo a algum amigo que fosse viajar (e geralmente não encontrava ou nem procurava, mas hoje eu já entendo que não se deve solicitar esse tipo de favor, como escrevi aqui). Usando o mesmo processo, fiz assinatura de um ano da revista inglesa Record Collector. E consegui mais alguns livros, também.

Em 1989, vi na saudosa revista Byte um anúncio de dois livros técnicos que talvez fossem úteis para a atividade que eu estava exercendo, na época. Escrevi para a editora McGraw-Hill, em Nova York, solicitando a fatura para realizar a importação. Algum tempo depois, recebi uma correspondência da McGraw-Hill do Brasil, em São Paulo, para onde minha carta havia sido redirecionada. Não lembro dos detalhes exatos, mas eu deveria fazer a encomenda por eles e a demora seria bem maior do que eu imaginava. Cheguei a ligar para lá para saber mais detalhes e lembro bem da moça me dizendo que eles tinham o monopólio de revenda de livros da editora americana para o Brasil. Fiquei indignado, pois esse foi um caso em que a existência de um escritório local, ao menos para mim, mais atrapalhou do que ajudou. No ano seguinte, quando eu nem estava mais trabalhando no mesmo setor, chegou um aviso de que, se eu ainda quisesse, os livros estavam disponíveis. Nem respondi.

Felizmente, aos poucos, a importação de livros foi ficando mais fácil. Primeiro, o cartão de crédito internacional me permitiu fazer encomendas diretamente de livrarias no exterior. Eu via anúncios em revistas como a inglesa Vox e fazia meus pedidos. Com a Internet, então, facilitou mais ainda. Esses dias encontrei um marcador de livros de um revendedor on-line da Inglaterra que foi o primeiro que usei. Mas "me achei", mesmo, na Amazon. Segundo meu cadastro no site, sou cliente deles desde 1997. No início minhas compras eram tão assíduas que cheguei a ganhar brindes de fim de ano, como copos térmicos (dois) e um magneto de geladeira. Em 2011, passei a comprar audiobooks da Audible, que é ligada à Amazon.

Nesse ínterim, surgiram a Amazon brasileira e, mais recentemente, a Audible brasileira. Como minhas compras mais frequentes eram da Amazon americana (e ocasionalmente da inglesa, com o mesmo código de usuário), não vi vantagem para mim em usar os sites do Brasil. Só criei um cadastro para a Amazon.com.br quando me interessei em adquirir edições Kindle que não estavam disponíveis na loja on-line dos Estados Unidos. Para não precisar migrar de uma para outra, me inscrevi na representante nacional usando outro e-mail e fiquei com dois perfis distintos, como se fossem clientes diferentes. E com esse outro registro, testei a Audible brasileira e não gostei, como já descrevi aqui.

Só que agora recebi um "aviso prévio" de que deverei abrir mão da Audible americana e migrar para a brasileira. Ainda não informaram o prazo, mas terei de fazer isso em algum momento. Além dos contratempos que já tive, a Audible Brasil não tem o sistema de assinatura com base em créditos, que me permite comprar um ou dois audiobooks por mês (conforme o plano) por preço fixo. Imagino que encontrarei uma forma de resolver os problemas de habilitação do meu iTunes na Audible brasileira e poder continuar usando o velho e bom iPod Shuffle para ouvir meus audiobooks. Mas não aproveitarei mais as ofertas periódicas, os preços combinados das edições Kindle e audiobook que alguns títulos oferecem, os créditos... Sei que a intenção é boa, mas é desagradável não mais me sentir bem-vindo em uma loja que sempre me atendeu bem em 13 anos. É como se a empresa Disney abrisse uma filial de Disney World no Brasil e com isso não aceitasse mais visitantes brasileiros em Orlando ou Anaheim.

Por isso lembrei do caso da McGraw-Hill em 1989. Eu queria importar diretamente da matriz e não pude. O fato de existir uma unidade da editora no Brasil, que deveria facilitar, acabou dificultando. Como a Audible agora. E pressinto que, mais cedo ou mais tarde, a Amazon americana também irá me despejar, após 27 anos. Imagino que, num e noutro caso, eu poderei manter minhas bibliotecas Audible e Kindle respectivamente. Mas, novas compras, só das filiais brasileiras.

segunda-feira, setembro 16, 2024

A volta da cadeira

O incidente de ontem entre Datena e Pablo Marçal não foi a primeira vez em que uma cadeira teve protagonismo em um debate político. Em 28 de setembro de 2006 eu postei o seguinte parágrafo aqui no Blog:

Fernando Collor não compareceu a nenhum debate do primeiro turno em 1989. Que eu lembre, a Globo não colocou cadeira vazia nem armou esse circo patético de induzir os participantes a fazer perguntas ao candidato ausente. E depois a câmera ainda mostra a cadeira num corte rápido, como se dessa a Lula uma última chance de aparecer ali num passe de mágica. Ridículo. Mas tudo bem, chega a ser divertido. Eu me pergunto quantos candidatos ainda irão dirigir a palavra à cadeira vazia. E quantas vezes a câmera vai mostrar, para que todos vejam, que a cadeira se nega a responder.

Pois a cadeira está de volta. E dizem que já tem intenções de voto!

quinta-feira, setembro 05, 2024

O mercado de vídeo 20 anos depois

Em setembro de 2004, no segundo mês de existência do blog, postei um comentário intitulado "A evolução do mercado de vídeo". Observei que, quando comprei meu primeiro videocassete, minha intenção era "ter" minhas próprias fitas de vídeo e não apenas alugar. Mas, ao menos em Porto Alegre, isso era difícil. E as poucas pessoas a quem eu perguntava onde adquirir lançamentos em vídeo invariavelmente respondiam questionando por que eu fazia questão disso, se ia assistir uma vez só, blá blá blá... Foi preciso surgir o DVD para que se cultivasse o hábito de formar a própria videoteca. Inclusive, algumas locadoras também vendiam alguns títulos. Eu adorava comprar na Espaço Vídeo do Menino Deus, por exemplo.

Hoje, infelizmente, a realidade é outra. Não sou contra o streaming, pelo contrário. Adoro a Netflix e a Globoplay. Mas não imaginava que esse novo recurso iria acabar com as mídias físicas, no caso, DVD e Blu-ray. No Brasil, pelo menos, é o que parece ter acontecido. Nos Estados Unidos já surgiu até uma tecnologia superior, que é o 4K. Estão saindo lançamentos nesse formato no exterior.
Até há bem pouco tempo, se eu perdesse algum filme a que queria assistir no cinema, ficava tranquilo, pois sabia que teria chance de vê-lo ou até, se gostasse muito, comprá-lo em DVD ou Blu-ray. Pois isso acabou. No caso de produções estrangeiras, ainda tenho a chance de importar o Blu-ray. Mas como fazer com filmes nacionais? Deixei de ver "O Sequestro do Voo 375" na tela grande e agora só assinando o Disney+. É inviável eu me inscrever em todos os serviços de streaming. Estou me sentindo como nos velhos tempos em que, se a gente não visse um filme no cinema, tinha que esperar alguma reprise ou se contentar com versão dublada com comerciais quando passasse na TV. 
Em suma, se nos primeiros 20 anos no Brasil o mercado de vídeo teve uma boa evolução, o que se viu nos 20 anos seguintes foi uma involução. Lembro que, quando assisti a "O Filme da Minha Vida" em 2017, pensei que iria adorar tê-lo em Blu-ray, para desfrutar da beleza das imagens do interior do Rio Grande do Sul na tela da minha TV. Mas tive que me contentar com um DVD, pois logo pararam de lançar Blu-rays nacionais. "Aquarius", do ano anterior, ainda saiu nesse formato (e eu comprei). Pois hoje nem DVDs lançam mais.
Existem alguns poucos fabricantes heroicos abastecendo o mercado nacional com clássicos do cinema em mídia física. Esses eu aplaudo de pé. Mas lamento o fim de DVDs e Blu-rays em larga escala no Brasil.

segunda-feira, setembro 02, 2024

Pery Souza

E hoje perdemos Pery Souza, após um longo período hospitalizado em razão do Alzheimer. Primo de Kleiton e Kledir, foi um dos membros fundadores dos Almôndegas, embora tenha participado apenas do primeiro LP. É uma pena que nenhum dos dois álbuns solo que ele lançou esteja nas plataformas digitais. Tem coisa boa ali.